ESTRELA: NO ALTO ASTRAL DE JULIANA ALVES

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A simpatia e a versatilidade de Juliana Alves tem conquistado o público ao longo de sua trajetória como atriz. Trajetória essa que começou meio que por acaso quando acabou de sair do BBB e já caiu direto em uma novela das 18h e daí em diante não parou mais. Foram novelas, seriados e filmes ao longo de 10 anos de carreira. Do samba à capoeira, Juliana é alto astral e disposição para novos desafios.

Juliana, olhando para trás já foram 12 novelas, 11 séries e especiais, oito filmes e um espetáculo musical. Como você avalia sua trajetória até aqui? O que mais lhe marcou? Eu hoje avalio como uma trajetória de sucesso. Uma trajetória que não foi fácil, não, não teve os caminhos todos abertos como eu gostaria, nem todas as oportunidades que eu gostaria, mas que me trouxe muitas oportunidades maravilhosas e muitas experiências incríveis, e com as quais eu aprendi muito. Evoluí muito desde o início. É na realidade que a gente vive aqui no Brasil – eu, realmente, tenho que agradecer por tudo que eu vivi. E vivo isso com muita a consciência de que ainda podemos melhorar muito mais, e que eu faço parte dessa transformação, pra que, cada vez, tenhamos mais oportunidades pra todas as pessoas. Na verdade, vou citar uma coisa que mais me marcou, que foi justamente durante tantos anos ter uma constância de trabalhos. Minha carreira começou em 2003 e eu, desde 2007, trabalho bem todos os anos. E isso é fruto de muita perseverança, muita paciência e dedicação, também. Tive meus momentos de desanimar com a carreira por conta de perceber algumas coisas difíceis dessa carreira, de bastidores e das estruturas, né? Mas, de uma maneira geral, sou muito feliz com meu trabalho. Sou muito realizada na minha carreira.

É verdade que o desejo de ser atriz surgiu aos 4 anos de idade? Como foi isso? É, na verdade, não foi com uma idade muito bem definida. Mas, sim, desde pequena, na convivência com minha família, que sempre teve uma veia artística muito pulsante e, ao longo da minha infância, sempre fazíamos apresentações nas festas de família. A primeira vez que eu fiz uma oficina de teatro eu tinha 10 anos, mas, por aquelas apresentações nas festas de família com minha irmã e minhas primas eu já me sentia, de alguma forma, artista. Eu tenho uma prima que é atriz, também, faz até novela – a Noêmia Oliveira. E a gente sempre teve essa veia, mesmo, e sempre trabalhou isso desde a época que era ‘sem compromisso’, podemos dizer.

Participar do BBB foi um divisor de águas na sua trajetória. Você saiu do programa e tempo depois, estreou numa novela. Como foi isso para você? Nossa, essa possibilidade de participar do Big Brother Brasil foi uma surpresa, porque eu não me inscrevi. Eu participei de toda a seleção, de todo o processo seletivo. Porém, não foi uma iniciativa minha. Foram produtoras olheiras que me chamaram a participar de todo o processo seletivo e participar da novela, também. Naquele período, foi uma surpresa, porque eu não tinha essa pretensão. Eu pensava no teatro, até porque eu era uma estudante, eu dizia que eu ainda estudava e não era profissional. Fazia parte de um grupo de teatro amador e, pra mim, isso era uma parte da minha formação. Então, foi um pouco assustador e, ao mesmo tempo, incrível. Uma oportunidade única e que me deixou bastante empolgada. E, depois da primeira novela, eu passei realmente, a acreditar que era essa a minha carreira, que eu poderia ter uma carreira como atriz, uma carreira mais sólida. E me dediquei ainda mais para fazer o meu melhor nos trabalhos seguintes.

Lembramos de Grazi que quando saiu do BBB e foi para as novelas sofreu preconceito da classe artística. Você chegou a passar por isso? Se sim, como superou? Comigo foi um pouco diferente, até porque você pode imaginar que para uma atriz negra existem mais algumas outras dificuldades. Então, eu tive muita dedicação e muita perseverança, sabedoria… Mas eu sempre fiz questão de identificar e nunca ignorar isso que eu estava vivendo. É importante identificar pra conseguir transformar, de alguma maneira, essa realidade. Já vivo essas questões de preconceito desde nova, quando eu observava a luta dos meus pais nos movimentos sociais – e eu sabia que não estaria isenta disso. É uma busca que a gente tem até hoje e vamos superando cada vez mais, mas ainda temos uma longa jornada pela frente, galgando melhorias.

Aliás, essa palavra preconceito é algo ainda tão forte hoje em dia. Seja lá de que forma seja empregada. Você já sofreu algum? Como lidou/lida com isso? É claro que eu já sofri alguns preconceitos e discriminações. No Brasil, a pessoa negra que diz que nunca sofreu isso, possivelmente não esteve atenta em alguns momentos. Ou ela se protegeu de alguma forma mentalmente, porque essa é a realidade do nosso país. E, às vezes, o preconceito vem de formas diferentes, se manifesta de maneiras diferentes. E as pessoas mais atentas, como eu, como eu citei na resposta anterior, percebem muito. E tem que ter muito equilíbrio para seguir em frente e continuar buscando e fazendo o seu trabalho, apesar disso. Então, essa é a forma que lido com isso, enfrentando de frente, mesmo, buscando transformar, questionando, fazendo ações no meu meio para que outras pessoas não vivam as coisas que eu vivi. Dialogando, dizendo alguns “nãos”. E não viver isso ao longo da minha trajetória, seria praticamente impossível. Hoje, já lutamos por ambientes mais saudáveis para as próximas gerações.

Você percebe, de fato, um audiovisual mais democrático hoje em dia? Modismo ou mudança de comportamento, de fato? Acho que esse audiovisual mais democrático tem a ver com a luta de muitas pessoas ao longo de muitos anos. Pessoas que há um tempo, eram até consideradas chatas, exageradas, pessoas que perturbavam a paz. Eu lembro bem que essa luta contra o racismo, contra o preconceito, contra o machismo, não era bem vista em todos os meios… O que estamos conquistando hoje é fruto da luta de vários movimentos sociais, de atores e atrizes conscientes e antenados com esses movimentos, assim como produtores, diretores e outros profissionais do meio que realmente se comprometem com ações e comportamentos em prol dessa melhoria. Acho que tem um pouco de modismo, sim, mas, como o modismo é uma coisa passageira, acredito que temos que aproveitar o momento para construir mudanças consistentes. E precisamos estar atentos, e identificar o que é uma empresa ou uma pessoa simplesmente querendo se inserir, ou não se excluir, ou até com medo de um cancelamento. E, mesmo entendendo e identificando isso, a gente tem que aproveitar. É como uma janela de oportunidade de ocupar espaços de maneira mais consciente, responsável, e de não deixar mais que certas coisas aconteçam. Como eu costumo dizer, nenhum passo para trás. As nossas conquistas são um caminho sem volta. Estamos cada vez mais fortalecidas e unidas pelas mudanças que acreditamos serem necessárias. E vamos, ano após ano, nos dedicando mais ao que sabemos que é possível transformar e, entendendo também que não vai ser na nossa geração que veremos essa mudança em sua totalidade, mas, seguindo sempre em frente, acreditando, mudando e compartilhando ideias.

Muito se cobra do corpo feminino que está na TV, hoje mais do que nunca. Os inquisidores das redes sociais estão piores do que antes? Como tenta não entrar nessa paranoia e se blindar contra isso? Eu não acho que os inquisidores estão piores do que antes. Acho que a Internet está abrindo um espaço de maior reverberação e encorajando as pessoas a falarem coisas que já falavam antes, de maneira bastante perversa. Já os comportamentos e as atitudes, as portas que se abriam e se fechavam, têm a ver também com esse tipo de pensamento. Acho que a gente evoluiu muito pouco em relação a essa questão do corpo feminino, por exemplo. Infelizmente, temos campanhas falando de diversidade e de corpos reais, mas a gente percebe que as pessoas que ganham mais dinheiro e que conseguem mais trabalhos são pessoas que ainda estão dentro de um padrão magro, branco, dentro de alguns rótulos específicos. Por exemplo, nas produções de moda você vê as modelos Plus Size nos desfiles, nas campanhas, a marca com o discurso de “sou uma marca inclusiva, sou uma marca que tem diversidade”, mas quando você vai produzir um ensaio e vai procurar essas roupas, elas não estão lá. Você tem uma dificuldade enorme de achar os looks que gostaria de usar. Quando você não está dentro de um padrão, algumas oportunidades de trabalho também não acontecem. E você percebe que, no final das contas, o motivo é um padrão de corpo específico. Então, eu procuro me sentir bem com meu corpo, e saber até onde eu vou em relação a essa questão, porque se eu tiver que transformar meu corpo para um personagem eu tenho total perseverança, condição e saúde para o que o personagem exigir. Mas eu procuro me sentir bem com a minha natureza, e isso é uma coisa que eu já vivi de formas diferentes. Já me senti muito mal, já me senti inferior e com a autoestima baixa em certos ambientes. Mas hoje, com a maturidade, eu percebo que não precisa ser por aí. Você pode ser amada, respeitada e ser uma pessoa maravilhosa fazendo o seu trabalho com muito talento sem precisar entrar no padrão. Mas, de fato, se for falar em mercado, tem portas que não vão estar tão abertas pra você, se você não estiver dentro do padrão.

Desde sua estreia na TV você não parou mais. Personagens de época ou contemporâneos, mocinhas ou vilãs. Tem de tudo um pouco. Onde e como se sente mais desafiada como atriz? Eu já vivi muitas experiências diferentes ao longo desse tempo todo. Fiz muitos personagens sob formas diferentes de trabalhar, com direções e produções diferentes, mas o maior desafio é quando você não está numa produção muito bem organizada, quando as pessoas não sabem bem o que vão fazer ou mudam de ideia com muita frequência, isso traz uma insegurança de construção do nosso trabalho. Não tem um tipo de atuação que eu possa dizer que me desafie mais do que a outra. Porque, às vezes, a gente está numa zona de conforto achando que está muito bem fazendo uma coisa, mas aquela coisa que causa um certo desconforto, você pode até estar fazendo melhor. É muito doido isso tudo (risos)! Eu me sinto desafiada quando eu estou numa situação em que eu não consiga fazer um planejamento do meu trabalho. E quando eu fico pensand “Poxa, eu podia ter feito diferente seu eu tivesse entendido melhor essa circunstância que não me foi passada”. Quando não existe uma harmonia tão grande no processo criativo, o trabalho me desafia mais.

Hoje em dia o streaming abriu diversas oportunidades para atores buscarem novos projetos. Ainda mais com o fim dos longos contratos fixos. Você acompanhou esse momento de mudanças. Como enxerga o mercado atual e suas possibilidades? Eu tive contrato longo durante muitos anos, desde o final de 2006, comecinho de 2007, até abril de 2021. Bastante tempo. Isso me trouxe possibilidade de construir minha carreira. Mas eu sempre tive consciência de que eu estava num grupo bastante seleto, entendendo que isso não é muito bom para o mercado de atores. Porque, não havendo contratos longos, mais atores e atrizes têm oportunidades iguais numa escalação. E a grande vantagem dese modelo é a possibilidade de fazer trabalhos diversos. No streaming você tem a oportunidade de fazer trabalhos diferentes, ser vista de maneira diferente. Eu trabalhei bastante depois que meu contrato se encerrou, e, desde então, também trabalho na TV Globo eventualmente, fruto de uma relação boa construída durante muitos anos. E continuo percebendo que a tendência é ter um mercado mais democrático, mais diverso e com oportunidades mais igualitárias, vamos dizer. Agora, como a verba de investimento oscila muito, a estabilidade financeira é uma das coisas mais difíceis na carreira artística. Mas hoje, além do mercado estar se ampliando e cada vez mais termos produções em formatos diferentes, descentralizados, a gente precisa estar atento também aos direitos dos atores para que eles sejam remunerados de maneira justa.

Saindo da TV para a avenida, como foi o carnaval pra você neste ano? Esse ano eu curti o Carnaval de uma maneira que eu não curtia há muito tempo por conta de compromissos, que é curtir o Carnaval de Rua, também. No ano passado, por exemplo, eu participei de uma Comissão de Frente. Então, eu precisava me preservar, ensaiar e estar com energia para os ensaios. Nos outros anos. Havia compromisso com desfile e, mesmo depois que deixei de ser Rainha de Bateria, passei a dividir melhor o tempo de atenção com a minha filha. Agora, eu me sinto bastante disposta e com tempo de curtir o Carnaval. Então, curti tanto a Sapucaí, torcendo pelas escolas e me emocionando com as escolas da minha região, especialmente a Unidos da Tijuca, como curti o Carnaval de Rua, bailes, festas e shows. Curti bastante essa temporada porque é justamente o período em que eu tenho umas férias. Então, eu consegui ter uma rede de apoio nesse período, coisa que nem sempre a gente tem, pra poder voltar a trabalhar e acalmar um pouco os ânimos depois. E cuidei também de uma ala na escola mirim Tijuquinha do Borel, que possibilita que mais crianças estejam convivendo na Escola de Samba, trazendo uma experiência nova para vivenciarem a nossa cultura e amarem desde já as escolas de samba.

Você é uma mulher do samba? Como ele mexe com você? O samba mexe comigo desde pequena, é uma relação de vida, mesmo, assim como o Carnaval em si. Quando estou fazendo um trabalho importante que eu preciso me concentrar, inclusive, a emoção que eu tenho com os desfiles das escolas de samba, com essa festa do samba é tão grande que eu deixo até de ouvir os sambas para conseguir me concentrar, porque quando eu entro mesmo na vibração dos desfiles, eu realmente fico muito emocionada. Fico bastante envolvida com tudo e pensando muito. Mesmo já sendo algo da minha vida, é um momento de paixão muito grande. Eu passei o pré-Carnaval todo trabalhando muito, e por isso que em 2024 eu não fiquei tão envolvida com desfile, porque eu não queria chegar e cair de paraquedas no meio de uma situação. Então, eu prefiro me preservar nesse lugar, mas percebo que sempre mexe completamente comigo e com as minhas emoções. Porque o samba é, pra mim, uma raiz cultural muito forte, que remete à ancestralidade, à preservação da cultura, à resistência, à exaltação das qualidades do nosso povo, do talento do nosso povo. E, além de tudo, sou uma ativista da causa negra. Então, acredito que a valorização do povo negro no carnaval também é algo que precisa ser respeitado e precisamos ter um pouco mais de atenção pra isso. 

Dando uma pausa nisso tudo, onde recarrega suas baterias? O que curte para relaxar? Olha, eu recarrego as minhas energias tendo um tempo de qualidade com a minha família, quando estou com a minha família reunida. Quando estou na casa da minha mãe, no meio do mato, quando brinco com a minha filha. Recarrego na troca, no afeto. É a coisa que mais me fortalece.

Para conquistar Juliana basta… Nossa essa pergunta nem eu sei responder! Porque não acho que seja uma ciência exata, né? Mas autenticidade, honestidade, coragem, integridade, generosidade, humildade e bom humor são qualidades que realmente me conquistam e me cativam em todos os tipos de relação. Seja relação de amizade, relação afetiva, enfim, de uma maneira geral. 

Planos daqui pra frente… 2024 vai ser um ano de muito trabalho. Alguns vão ser lançados em pouco tempo, como Capoeiras (título provisório), mas será a primeira série sobre Capoeira, que foi produzida pela Star + e Disney +, onde eu fiz a personagem Glória. Foi um trabalho maravilhoso, que eu gostei muito de fazer. E alguns que eu não posso falar ainda, que possivelmente sejam lançados antes, até, mas vamos aguardar com carinho.

Fotos Guilherme Lima @guilhermelima

Vídeomaker – @felicostta

Stylist Carla Garan e Thiago Gandra – @garandrastyle

Locação e agradecimentos – Quiosque do Russo – @quiosquedorusso9

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