CARREIRA: LUCIANO CARIBÉ – LIDERAR COMO UM CAPOERISTA

ADVOGADO E EMPRESÁRIO, LUCIANO CARIBÉ RESGATA DAS RODAS DE CAPOEIRA, QUE FREQUENTA HÁ ANOS, VALORES FUNDAMENTAIS PARA FAZER PESSOAS E NEGÓCIOS PROSPERAREM AO SEU REDOR

Por Larissa Lins  /  Fotos Newman Homrich

Disciplina, humildade e criatividade estão entre as principais lições aprendidas pelo advogado e empresário Luciano Caribé nas rodas de capoeira que frequenta desde a adolescência. É a partir delas que lidera pessoas e negócios como sócio do Caribé Advogados (@caribeadvogados), na capital pernambucana, e CEO dos hotéis Pedras do Patacho (@pedrasdopatacho) e Casa Brasileira (@casabrasileirahotel) em Porto de Pedras, Alagoas. Casado com a advogada criminalista Talita Caribé e pai de três filhos, o baiano radicado em Pernambuco tem rotina movimentada e currículo extenso, incluindo um mestrado em Direito Tributário e um MBA em Hotelaria de Luxo, que soma às experiências como capoeirista para fazer prosperar ideias e projetos ao seu redor.

“Quando era criança, me chamavam de ingênuo. Hoje, vejo que o que parecia ingenuidade fez toda a diferença na minha história – é a base do estilo de liderança em que acredito, aquele que conecta pessoas, que empodera o outro. É altruísmo, empatia, humildade. E vem sobretudo da capoeira”, avalia Caribé, que rompeu as próprias bolhas de convivência através da prática esportiva na efervescente cena cultural recifense das décadas de 1980 e 1990. O interesse genuíno por outras realidades além da sua, surge nessa fase. O olhar de horizontalidade que lança sobre suas equipes como líder e empreendedor, também.

Pós-graduado em Direito Processual Civil, Direito Tributário, Gestão Financeira e Controladoria, ele atribui à determinação implacável de sua mãe pela educação dos filhos e à própria sede de conhecimento, mais do que à inteligência, a obsessão pelos estudos e os diplomas e projetos que acumulou nas últimas décadas. “Entendi cedo que precisava transitar entre dois mundos – o da intelectualidade e o da minha juventude como capoeirista”, reflete, recordando a convivência do início da carreira com juristas de grande relevância, como Heleno Torres, como gênese desse equilíbrio entre universos distintos, mas, para ele, complementares. Foi preciso, para esse trânsito, construir pontes entre cenários e pessoas. Como as que sustentam, hoje, a rotina dividida entre o Caribé Advogados e o Grupo Pedras. “Sempre quis formar minha equipe com profissionais que fossem melhores do que eu. Quando comecei o projeto do Pedras do Patacho, isso fez toda diferença – ter um time no escritório que me desse suporte para que eu pudesse estar lá e estruturar o hotel”, recorda o empresário, listando nomes como Gabriela Uchôa, Pedro Moura, Luciana Bastos, entre outros. E, entre todas as pessoas que influenciaram sua trajetória, uma merece destaque especial – seu irmão e sócio no escritório de advocacia, Paulo Caribé. Paulo foi uma presença fundamental na formação de Luciano, tanto pessoal quanto profissionalmente. Além de Paulo Caribé, a união dos irmãos Caribé (Paulo, Leonardo e Christiana) é um exemplo de parceria incondicional e fortalecimento mútuo.

Inquieto por autodefinição, Luciano Caribé se preparou para que hoje, sentado à mesa do escritório, parecesse estar em dois ou mais lugares simultaneamente – empoderou equipes na advocacia e na hotelaria, emparelhou agendas, desenvolveu protocolos de organização pessoal. “Criei uma plataforma de gestão da minha vida, que chamo de second brain. Registro compromissos e pensamentos, transformo livros em arquivos de áudio, me analiso semanalmente como CEO, como pai, como filho, como esposo, como atleta… respondo a uma série de perguntas que me levam a um dashboard da minha própria performance. Acredito muito no planejamento, na organização e na força do hábito, isso é que faz com que as coisas se concretizem”, revela, se desdobrando entre negócios e vida pessoal e, para isso, compartilhando protagonismo com cada membro dos times que estruturou.

“Não se gerencia o que não se mede. Não se mede o que não se define. Não se define o que não se entende. E não se gerencia o que não se entende”, defende Caribé, que implementou um modelo híbrido de gestão de seus empreendimentos antes mesmo da pandemia impulsionar essa prática. Se apoia em dados para tomar decisões. Mas, mais ainda em pessoas. “Administro conflitos para não desempoderar outros líderes que trabalham comigo. Sei qual é minha base, quais são minhas características mais fortes – recursos humanos, tecnologia, gestão de processos, agilidade, inovação. Com a adição da hotelaria à minha carreira, passei a estudar o segmento, me especializar, acessar os melhores materiais disponíveis, que falavam daquilo em que eu já acreditava – criar espaços de confiança, transparência, empoderamento”, explica o advogado. Antes mesmo da inauguração do Pedras do Patacho, implementou metodologias ágeis como o Scrum – conjunto de boas práticas empregado no gerenciamento ágil de projetos complexos – nos bastidores da operação. Buscava desenvolver uma administração inovadora e impactar socialmente a comunidade de Porto de Pedras. E conseguiu.

“Queremos criar um ambiente de felicidade, de dignidade. Esse é o modelo de gestão em que eu acredito – uma equipe formada por pessoas simples, preparadas, empoderadas, convivendo numa relação de transparência, credibilidade, confiança”, reforça, vendo a tecnologia como um de seus melhores recursos para levar essa dinâmica adiante. “Na pandemia, já estávamos todos conectados. No dia 1º de março de 2020, fizemos uma reunião remota sobre fluxo de caixa e continuidade dos negócios. Fomos uma das primeiras empresas a interromper as atividades naquele momento, quando muitos ainda subestimavam o impacto que a Covid-19 poderia causar. Reabrimos em junho, preparados e sem ter demitido ninguém”, lembra. O episódio foi um dos marcos em sua relação com os alagoanos que atuam no Pedras do Patacho. Hoje, reúne cerca de 100 funcionários no complexo, sendo 80% do time composto por moradores locais.

Com mais de 30 anos de experiência como advogado, Luciano Caribé se surpreendeu com o potencial da hotelaria como ferramenta de transformação social. E abraçou a surpresa. “Criamos um time empoderado na comunidade Porto de Pedras, e são eles que fazem a coisa acontecer, do jardineiro ao gerente-geral. Em paralelo, fortalecemos uma comunidade que está integrada ao nosso negócio, estimulando a formalização de pequenas empresas locais, trabalhando a economia circular, participando da criação da Associação de Artesãos”, avalia, consciente do impacto de sua articulação social e política na região. Atual presidente do Conselho de Turismo de Porto de Pedras, formado por pescadores, jangadeiros e outros trabalhadores locais, quer transferir protagonismo aos parceiros que fez pelo caminho. “Porto de Pedras tem cerca de 8 mil habitantes e, até há poucos anos atrás, era muito pouco acessada. Lançamos as sementes. E eles se capacitaram, se desenvolveram. Sou um incentivador. Quero estar nos bastidores, de forma discreta, e deixar que eles brilhem”, defende. “Às vezes, não me manifesto nas reuniões para incentivar que o time se manifeste. É como uma roda de capoeira em que você não joga sozinho, mas conversa. Alguém te lança um movimento e, a partir dele, você cria um movimento novo. E o jogo segue.”

No Caribé Advogados ou no Pedras do Patacho – cuja operação-irmã, o hotel galeria Casa Brasileira, deve ser ampliada ainda este ano – o empresário é mentor, executor e facilitador de planos. “Em cinco anos, quem sabe, teremos desenvolvido uma rede hoteleira. Não o Luciano, mas o time. Meu papel é ser o inquieto”, declara. É assim que, entre Alagoas e Pernambuco, Caribé segue desenvolvendo projetos e pessoas com um estilo de liderança de que o adolescente capoeirista que ele foi um dia certamente poderia se orgulhar.

PEDRAS DO PATACHO E CASA BRASILEIRA: PARAÍSOS À BEIRA-MAR

Concebidos para gerar encantamento e produzir memórias inesquecíveis para seus hóspedes, o Pedras do Patacho e a Casa Brasileira se destacam no Litoral Norte de Alagoas. O primeiro, erguido em localização privilegiada na região de Porto de Pedras, conta com 23 luxuosas acomodações que combinam natureza, modernidade e arquitetura arrojada, com gastronomia do restaurante Corten assinada pelo chef Pedro Godoy. O segundo – que pertence aos mesmos proprietários, Luciano Caribé e Thiago Monteiro – tem sete suítes e oferece proposta de hotel-galeria, sendo ainda mais intimista, com gastronomia do restaurante Na Kasa assinada pela chef Dani Britto. 

O Pedras do Patacho, integrante da BLTA – Brazilian Luxury Travel Association conquistou prêmios internacionais importantes nos últimos anos, como Best New Small Hotel Construction & Design, Americas, categoria International Property Awards, e o Travellers Choice 2020, pelo Trip Advisor. “Nosso propósito é proporcionar experiências únicas baseadas no bem-estar do corpo, mente e alma, na hospitalidade feita com carinho, leveza e cordialidade, e vivências associadas a tudo que o Brasil tem de mais encantador: a cultura, as pessoas, a gastronomia, o design e, claro, a natureza”, comentam os sócios.

ENTREVISTA MENSCH: LUCIANO CARIBÉ

Quais os planos para o segundo semestre deste ano? Continuar desenvolvendo essa metodologia de gestão, seja no Pedras do Patacho, na Casa Brasileira ou no Caribé Advogados, com foco em inovação, metodologias ágeis e empoderamento de pessoas. Vamos ampliar a Casa Brasileira, com projeto arquitetônico com curadoria de Thiago Monteiro e um arquiteto português. Mais adiante, planejamos criar uma empresa gestora de hotéis boutique, um selo de qualidade. Formar, quem sabe, uma rede hoteleira.

Como se prepara fisicamente para administrar a rotina entre as demandas como advogado e empresário? Durmo por volta das 22h, acordo por volta das 6h. Faço jejum intermitente, acredito que a longevidade tem relação com comer pouco. Medito diariamente e pratico atividade física regular. Tênis, musculação, capoeira, surf… às vezes, chego a treinar três vezes por dia. Começo o dia utilizando uma plataforma de AI para filtrar artigos de assuntos do meu interesse. Não me contamino com fake news e big data.

Seu currículo é extenso e diverso, com seis especializações e um mestrado. Qual sua principal motivação para acumular diferentes conhecimentos? Não me considero inteligente, nem com QI excepcionalmente elevado. Na verdade, eu tenho uma obsessão por estudo, por adquirir novos conhecimentos, colocando-os em prática.

O que tem estudado recentemente? Há um tempo estou obcecado por estudar inteligência artificial e direito digital. Eu gosto da soma de conhecimentos, de estudar tudo que me interessa e conectar esses campos. Direito, hotelaria, tecnologia, marketing, cultura, valores, recursos humanos, finanças…

Como nasceu o Pedras do Patacho em meio à carreira na advocacia?
Surgiu a oportunidade de adquirir um terreno naquela região, e questionei se Thiago [Monteiro], meu cunhado, teria interesse em desenvolver uma pousada, um complexo que serviria também como casa de praia para a família. Em 2016, juntamente com Thiago, visitam os países nórdicos e começam a desenvolver o projeto do complexo Pedras do Patacho, que consistia em sete bangalôs e um restaurante. Tivemos apoio de muitas pessoas para desenvolver o hotel, como o empresário João Marinho, que chegou a ser nosso sócio por um tempo, e o chef Biba Fernandes, mas principalmente de sua equipe incondicionalmente comprometida com o projeto. Eu não entendia nada de hotelaria, e o Pedras do Patacho nasceu de um trabalho de conclusão de curso da minha pós-graduação em Gestão Financeira e Controladoria.

Como lidaram com a pandemia no início das operações do Pedras do Patacho? Nos reunimos no dia 1º de março de 2020 e fechamos as portas no dia 16, fomos uma das primeiras empresas a interromper as atividades. Os funcionários receberam férias, foram para casa, nós fomos para o Pedras do Patacho com nossas famílias. O hotel ainda tinha poucos quartos. Durante o isolamento, toda a equipe foi treinada com protocolos sanitários e se preparou para a reabertura, que aconteceu em junho daquele ano e teve uma resposta extremamente positiva do público.



Sente que a gestão remota e a tecnologia prepararam vocês para isso?
Sim. Em 2017, todos do time já estavam com o Trello na mão, seguindo metodologias ágeis para desenvolver nossas operações. Estávamos nessa relação híbrida antes mesmo da pandemia. Eu ia à comunidade de Porto de Pedras a cada duas semanas, uma vez por mês. Conforme a equipe foi sendo formada e os líderes de cada setor foram se consolidando, passei a comparecer ainda menos. Mas, para isso, criamos uma base de compartilhamento de dados forte e segura desde o princípio. A privacidade e o compliance sempre foram uma obsessão do grupo. A tecnologia também foi parte fundamental do processo. Além da liderança motivacional, que é uma das minhas favoritas, e que empodera lideranças para terem autonomia sem que eu precise estar presente. Criamos uma cultura e, assim, compartilhamos valores também a distância. Nossos valores são inegociáveis! Na gestão horizontal, nos despimos de ego, vaidade. E ganhamos agilidade e capacidade de adaptação.

Como manter a gestão horizontal quando imprevistos acontecem e é preciso controlar a situação? Quando o inesperado vem, você traz a equipe para que todos trabalhem juntos. Eu tenho uma resposta muito rápida para o problema, consigo me preparar minimamente para o que vai acontecer no futuro, porque estou sempre estudando futurismo, buscando tendências, planejando e analisando riscos, assim como foi na pandemia. Diante de um imprevisto, é necessário entender o que está acontecendo, aceitar o desafio com humildade.

O que gostaria que os hóspedes falassem/sentissem ao fim de uma experiência no Pedras do Patacho e na Casa Brasileira? Que se sentissem completamente impactados por um olhar humano, carinhoso, atencioso. Um olhar verdadeiramente apaixonado por querer o bem-estar desses hóspedes. Porque o mais importante é o lado humano. Todo o restante vem por consequência. Nosso colaborador tem que estar apaixonado pelo que faz. Entregar, personalizar, servir de maneira criativa. Encantar o hóspede, isto é o principal.

Qual propósito de vida está por trás de seus projetos? Meu propósito de vida é ser feliz. A coisa mais importante na vida é ser feliz. A gente tem que sofrer por uma perda, uma doença. A gente não tem que sofrer em transações materiais do dia a dia. A melhor defesa para as derrotas da vida é a preparação. A postura de enfrentamento. Isso envolve disciplina, saúde. A ansiedade, se houver, tem que ser positiva: suficiente apenas para te levar a agir, sem te consumir ou paralisar.

Você é um líder que treinou outros líderes. O que considera fundamental para a liderança? Defender a cultura e os valores corporativos. Saber controlar o ego, a vaidade. Autoconhecimento, empatia e compaixão com as outras pessoas. Se colocar no lugar do outro. Tratar com carinho os outros. Olhar para os outros com a mesma importância com que olha para si mesmo. Ter uma obsessão pela capacitação e desenvolvimento profissional e pessoal dos nossos profissionais. Se apagar para deixar o outro brilhar.