Chamaram Vera Fischer de feia. Sim, Vera Fisher, aquela de “Riacho Doce”, a Helena do Leblon de Manoel Carlos, que em 1969 foi Miss Brasil. Duas vezes capa da Playboy, sendo a última aos 48 anos, dois prêmios de melhor atriz no cinema. Pois é, fim dos tempos. Vera foi chamada de feia.
Penso que foi assim. Um dia Vera acordou atrasada para uma viagem. Levantou correndo, tomou um banho rápido e pensou: seco o cabelo ou tomo um café? Preferiu o café. Pegou sua bolsa e correu para o aeroporto. Chegando lá, uma pessoa que provavelmente não teve uma noite muito boa, fez uma foto da mulher atrasada para seu voo, sem escova e sem se preocupar com isso e postou nas redes sociais. Aí, outra pessoa que deveria ser muito amarga e que não tinha nada de interessante para fazer na vida, pegou essa foto e juntou com outra de 40 anos atrás e postou na internet querendo fazer acreditar que beleza e juventude deveriam ser para sempre. Não é fácil a vida de miss…
Mas Vera não está feia, ela está envelhecendo. Ela, eu, você, Alain Delon e Robert Redford também, menos Bruna Lombardi por razões nunca relatadas na literatura médica desse mundo. Por que se tem uma coisa justa nesse mundo, se chama tempo. Passa igualzinho para todo mundo e eu acredito que na vida, envelhecer é sempre a melhor opção.
Ela saiu para pegar um avião, não para ir a uma festa ou para um compromisso de trabalho. Não para ser fotografada. Vamos parar com esse bullying, meu povo! Mais respeito com o mito que permeou devaneios febris em uma nação!
Vera era linda aos 20 anos, aos 30, aos 40 e aos cinquenta, mas como tudo na vida muda, Vera também mudou seus valores. Agora, no auge dos seus 64 anos, já não tem memória para lembrar tantos nomes complicados.
Lipocavicação, criolipóse, trusculpt, liposonixk, magic touch detox… Tudo muito difícil, né? Aos 64 é melhor deixar para lá. E além do mais, ninguém consegue levar uma vida inteira de glamour, bronzeamento artificial e peito de frango com alface.
Mulher de dois grandes amores e tantas polêmicas, um dos maiores símbolos sexuais do Brasil se deu ao direito de relaxar, curtir um pouco sua menopausa e um bom prato de massa. Depois de toda uma vida de sedução, quanta sedução, meu Deus! Cansou. Trocou o espumante pelo delicioso milk shake de Ovomaltine, do grande. Hoje come pão. Branco sim, francês e está pouco se importando com o glúten. Vera trocou o príncipe encantado pela Netflix. Descobriu que pode ser feliz com coca-cola, pipoca, “Orange is the new black” e “Black Mirror”. Sabida, a senhora. Demorou, mas amadureceu.
Vera engordou, e daí? Quem aguenta tanto cottage e rúcula? É isso aí, Vera! A vida é aqui e agora! Você foi miss e nunca vai perder a coroa. Hoje você pode aposentar O Pequeno Príncipe e mandar se danar essas pessoas que exigem que você esteja impecável aos 64, quando nunca tiveram 60 de cintura ou 90 de quadril. Tenho muita pena dessas pessoas que passam o dia tomando whey e acreditam que uma barriga chapada e uma bunda empinada seja o maior atrativo de uma mulher. Viva Vera, que aprendeu que uma xícara de café quentinho e um pão na chapa valem muito mais que uma chapinha.