DESIGN: O LUXO QUE ABRAÇA CULTURAS E SENTIDOS NA MILANO DESIGN WEEK 2025

Na Milano Design Week 2025, o luxo apareceu mais silencioso, mais maduro — e mais verdadeiro. O que se viu nas apresentações das grandes maisons foi um design com afeto, matéria e memória. Luxo que não grita, mas sussurra. Que não se exibe, mas se revela no tempo do toque e da contemplação.

Visitamos de perto os espaços da Etro, Louis Vuitton, Armani Casa, Fendi Casa, Roberto Cavalli Home e Giobagnara. Em comum, todas essas marcas souberam dizer muito sem palavras: com tecidos que aquecem, madeiras que respiram, pedras que sustentam. E couro — muito couro — usado não apenas como símbolo de sofisticação, mas como gesto artesanal. O luxo de 2025 é sensorial, é cultural, é íntimo.

ETRO: TEATRALIDADE AFETIVA E EXUBERÂNCIA CULTURAL

A Etro foi, sem dúvida, uma das experiências mais envolventes da semana. Celebrando os 40 anos do tecido Arnica com a instalação “5 Threads, 40 Years”, a marca criou ambientes que pareciam cenários de um romance antigo — dramáticos, exuberantes e profundamente pessoais.

Entre tapeçarias florais, almofadas de veludo, camas com dossel e volumes generosos, o design têxtil tornou-se protagonista. Tudo ali parecia falar de memórias: de viagens, de casas cheias, de vidas vividas com intensidade estética. É o luxo maximalista com alma — uma casa que não precisa seguir regras, porque segue sentimentos.

LOUIS VUITTON: ARTE, BRASILIDADE E NOMADISMO CRIATIVO

Na Louis Vuitton, o design virou narrativa — e com sotaque brasileiro. A instalação Objets Nomades, com os balanços dos Irmãos Campana dedicados a personagens do folclore, foi um dos momentos mais emocionantes da feira. Cada peça contava uma história ancestral com materialidade contemporânea.

Mas a Vuitton foi além: com o lançamento da sua primeira coleção completa para o lar — mobiliário, iluminação, objetos —, reafirmou o desejo de levar sua visão estética para a intimidade das casas. Tudo era escultural, tátil, cheio de pequenas surpresas. Um luxo nômade, que carrega cultura no bolso e poesia na bagagem.

ARMANI CASA: ELEGÂNCIA ORIENTAL E SILÊNCIO ACOLHEDOR

O espaço da Armani Casa era um respiro. Um lugar onde o tempo parecia desacelerar. Comemorando 25 anos da marca, a coleção se inspirou no Oriente — e isso ficou claro nas formas arredondadas, nas tramas de seda bordada e nos detalhes que lembram bambu.

A poltrona Vivace, por exemplo, parece flutuar entre a sofisticação italiana e a leveza asiática. E tudo era envolto em tons de areia, cinza e prata, como se cada ambiente tivesse sido pensado para acolher o corpo e acalmar a mente. É o luxo que sussurra, que se insinua devagar — e que fica.

FENDI CASA: ESCULTURAS SILENCIOSAS EM ESTREIA IMPECÁVEL

Estrear oficialmente no Salone del Mobile e parecer veterana: esse foi o feito da Fendi Casa. A curadoria estética foi precisa — cada peça tinha presença sem precisar competir com as outras. Tudo parecia feito para durar, para tocar, para conviver.

Chaise longues com mantas que mais pareciam capas de editorial, mesas que se encaixam como origamis sólidos, e o monograma presente com discrição cirúrgica. É a casa de quem entende que o luxo não está só no objeto, mas no gesto que ele propõe.

ROBERTO CAVALLI HOME: UMA PAUSA NO EXCESSO

A Roberto Cavalli Home trouxe seu DNA maximalista, sim — mas também surpreendeu com peças mais contidas. O espelho ondulado, com reflexos distorcidos, foi um dos poucos momentos em que o excesso parecia meditativo. A poltrona escura de couro texturizado oferecia respiro dentro do barulho visual. É como se até a exuberância precisasse, de vez em quando, de silêncio para continuar brilhando.

GIOBAGNARA: O LUXO NOS PEQUENOS RITUAIS

Na Giobagnara, o luxo se servia em bandejas. Literalmente. Cafeteiras Nespresso revestidas em couro, organizadores como caixas de joias e bandejas com tampo em mármore tornaram o café da manhã um ato de design.

Essas peças não são apenas bonitas — elas fazem você desacelerar. Te obrigam a notar. A viver melhor. Porque o luxo verdadeiro talvez more justamente nisso: em transformar o hábito em celebração.

DIRETO DE MILÃO – os arquitetos Liesid Neto e Felipe Valadares, do @fvarquitetos,  mergulharam nos espaços das grandes maisons para capturar a essência do novo morar.