DIÁRIO DE BORDO: Kathmandu, Nepal – Entre templos de fé, um povo simpático e feliz

O que esperar de um país tão pequeno, espremido entre os gigantes China e Índia? Resolvi dessa vez me aventurar no destino sem referências, sem olhar fotos, me deixar descobrir, descobrindo pessoalmente. A primeira impressão não foi nada boa. A polícia federal do aeroporto era muito intimidante e antipática e passamos, desde a saída do avião até a saída do aeroporto, por quatro aparelhos de Raios-X. 

Mas a primeira má impressão foi rapidamente desfeita, logo que chegamos a nosso Albergue, bem no coração de Kathmandu, ao sermos recebidos por Purna Dangol. Era o gerente, um nepalês extremamente simpático e muito solícito, sempre com um brilho no olhar e um sorriso no rosto. Depois de ter feito um tour pelo albergue, fiquei quase uma hora conversando com ele e trocando informações e curiosidades sobre Brasil x Nepal. Pronto, Já estava preparado para desbravar a cidade no dia seguinte!

Começamos nossa visita conhecendo os mais importantes templos budistas de Kathmandu. E rapidamente percebemos que a simpatia de Purna era presente nos rostos da maioria dos nepaleses. Uma surpresa, eram ainda mais simpáticos que os indianos! Talvez a junção no mesmo país, das religiões hindu e budista, contribui muito pra esse povo ser assim tão especial e carismático. Os ensinamentos de Dalai Lama são muito presentes e praticados espontâneamente por esses amigáveis habitantes: “Desde o momento do nosso nascimento, ficamos sob o cuidado e a bondade dos nossos pais e depois, mais tarde em nossa vida, quando nos sentimos oprimidos por uma doença ou pela velhice, nós novamente ficamos dependentes da bondade dos outros. Já que no início e no fim de nossas vidas, somos tão dependentes da bondade dos outros, como pode ser possível, no meio dela, negligenciarmos bondade para os outros?”. 

Assim, os templos espalhados pela cidade são enormes e definitivamente propiciam essa atmosfera de olhar interior e sempre com o típico olho nepalês do Buddha, muitos sinos, cilindros rotatórios e bandeiras coloridas. Eles acreditam que o movimento circular e dos ventos, mandam suas energias, orações, mantras e pedidos para circularem pelo universo.

No terceiro dia, fomos a um tradicional mosteiro budista para experimentar a rotina dos monges. Ali todo mundo é igual, todos vestidos com trajes vermelho carmim e cabeças raspadas, homens e mulheres, sem distinção exterior, pois estão todos em busca de algo comum. Estavam por lá também várias crianças já monges, aprendendo os ensinamentos desde o início da vida. A alegria delas me contagiou e fiquei um tempo com um grupo que jogava, muito concentrado, uma espécie de jogo de botão de mesa. O mosteiro ficava no alto de uma montanha, com vista panorâmica de 360 graus da cidade. Em seguida, chegou a hora da cerimônia budista e fomos convidados a participar dentro do templo. Dois monges anciãos lideravam as orações e ensinametos no altar, que eram acompanhados pela entoação budista de outros monges, com vozes muito graves que davam a sensação de reverberar no corpo de todo mundo. Alguns monges jovens se alternavam entre muita concentração e olhares cúmplices e curiosos pra gente. Houve um momento muito bonito, quando monges adolescentes em fila entraram no templo com caçarolas imensas cheias de tchai (típico chá misturado com leite) e iam até cada pessoa servindo um a um. Ao chegarem próximos de nós, ficaram numa felicidade enorme, certamente por termos aceitado e bebido com eles.  E fiquei ali, tentando acompanhar o canto deles, emocionado e agradecendo pelo valor das coisas simples da vida e que tantas vezes passam despercebidas em nosso cotidiano.

No quarto dia, acordamos ainda no escuro para ir, a pouco mais de uma hora de carro, numa típica região dos Himalayas, pra ver e filmar o nascer do Sol entre as montanhas nevadas. Infelizmente, foi uma manhã de muita neblina e conseguimos apreciar muito pouco desse momento. Mas, no caminho de volta, fomos brindados ao atravessar uma pequena e humilde vila de agricultores de arroz nepaleses. Paramos e ficamos um bom tempo obervando e interagindo. Passaram com frequência algumas camponesas carregando nas costas balaios completamente cheios e com certeza muito pesados. Uma delas parou para conversar e, traduzida pelo nosso motorista, nos convidou pra entrar em sua casa e tomar um tchai. Conhecemos também, logo mais adiante, um grupo de crianças que estavam todas arrumadas pra irem estudar, caminhando sozinhas pra escola. Um deles ficou pra trás, brincou comigo um tempo, mas depois quando olhou para o relógio, saiu correndo em disparada, desesperado pelo atraso (risos).

No último dia, fomos a Patan, uma cidade da região do Vale de Kathmandu, para visitar o Durbar Square, uma grande área cheia de templos e palácios, fundada há 300 anos A.C., atualmente tombada e considerada patrimônio mundial pela UNESCO. Os templos são realmente impactantes, com muitos entalhes de madeira decorando toda a fachada, assim como o palácio onde mora a Kumari, uma deusa viva menina obrigada a permanecer dentro dele até a sua primeira menstruação, quando então perde a divindade e uma outra criança é rigorosamente selecionada para substituí-la.

Por fim, nossa despedida não poderia ser menos emocionante. Quando levamos todas as malas para o carro, Purna chega para nos dizer: “até breve”, colocando um cachecol leve de seda branca em cada um de nós, seguindo um tradicional ritual Nepalês: “É para que os bons ventos o levem pra casa e que os mesmos bons ventos te tragam de volta”. E assim deixamos esse lugar mais que especial, um país pequeno, mas enorme na pureza de coração.

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