Dando o que falar no streaming com sua série “Acesso Total”, que conta um pouco a história do Botafogo, Antonio Bento Ferraz que já era craque em webséries (inclusive premiado no Rio WebFest) mostra que veio para deixar sua marca nesse vasto novo universo do digital. Ao longo da sua trajetória foram 11 prêmios internacionais, em festivais na Coreia do Sul, em Cannes, Florença… E nessa caminhada levou ainda 2 prêmios de melhor roteiro e duas indicações como Melhor Diretor. Somando tudo, são quase 10 anos produzindo pra web. Com sua criatividade e talento herdados do pai, o ator Buza Ferraz, Antonio início do ano estreia como ator nas telonas em um longa-metragem. A MENSCH bateu um papo com Antonio e o resultado você confere logo abaixo.
Plataformas de streaming já estão “antenadas” para esse mundo do futebol. Sua inspiração para gravar “Acesso Total – Botafogo” veio daí? A ideia da série sobre os bastidores do Botafogo começou lá em 2019. Eu planejava fazer um documentário sobre a transformação do Botafogo em um clube-empresa, mas o projeto acabou não evoluindo. Depois disso eu fiquei louco com a série do “Sunderland Até Morrer” da Netflix e me inspirei pra fazer uma série sobre os bastidores do meu clube, o Botafogo. Essas séries que entram no dia-a-dia de um clube de futebol são sucesso em todas as plataformas de streaming; Além do Sunderland, temos a franquia “All or Nothing” da Amazon, além das séries sobre o Barcelona, Juventus, Dortmund… E temos aqui no Brasil o “Acesso Total”. Acho que vieram pra ficar e cada vez mais clubes vão entrar nessa onda. Fico feliz em ter podido colocar o Botafogo neste cardápio.
Como foi o processo para gravar essa série? Foi um processo delicado do ponto de vista da produção. Não é fácil entrar nesse meio do futebol. Existe muita blindagem e muita desconfiança. Foi preciso muita paciência para conquistar a confiança de todos no dia-a-dia e, principalmente, foi preciso ter conversas claras sobre que tipo de série gostaríamos de fazer. O combinado não pode sair caro. Mas foi ao mesmo tempo muito prazeroso. É claro que existem momentos em que até mesmo o diretor se sente constrangido de ter que filmar alguma situação mais delicada, como numa derrota ou uma briga de vestiário. Mas faz parte do jogo. O Botafogo foi um parceiro nessa caminhada, desde o primeiro encontro com o presidente Durcésio Mello, que abraçou o projeto logo de cara, até meu papo com o diretor de futebol Eduardo Freeland, onde ele expôs suas preocupações, mas também embarcou na ideia e abriu as portas do seu departamento. Agradeço muito pela confiança que depositaram no meu trabalho e na minha equipe.
Sua paixão pelo Botafogo começou com você ainda criança? Quem é botafoguense sabe que não escolhemos torcer pelo Botafogo; O Botafogo é quem nos escolhe. Eu sou filho de um botafoguense roxo, mas que já tinha 4 filhos e nenhum torcia para o Botafogo. Minha primeira experiência em estádio foi numa derrota sofrida onde eu poderia também ter desertado. Mas quando você é um escolhido, não tem jeito. Eu sou um botafoguense doente desde o dia em que nasci.
Você tá tinha convivido com dirigentes e jogadores do clube? Eu já tinha trabalhado por um tempo na Botafogo TV como um colaborador. Mas era outra gestão, outra diretoria… A maioria dos jogadores também mudou. Mas já sabia mais ou menos como as coisas funcionavam em um vestiário. Obviamente que todas as séries que eu citei anteriormente já tinham me dado uma bagagem e um preparo pro que eu iria encontrar pela frente, mas nada se compara ao nível de imersão que foi viver esse ano lá dentro. Mais de mil horas de material gravado, 11 câmeras de segurança gravando 24h por dia e eu tive que assistir todo esse material. Foi uma experiência diferente de tudo que já tinha feito.
Sua experiência com webseries já é conhecida, inclusive por vários prêmios que você já conquistou como roteirista e diretor. Fale-nos um pouco sobre essa trajetória. Eu descobri esse universo de webséries em 2015, no Rio WebFest. Eu tinha um canal de humor no youtube junto com outros amigos atores e inscrevemos nossa série no primeiro ano deste festival. Acabamos levando o maior prêmio da noite que era dado pelo patrocinador. Além do troféu de Melhor Webserie Brasileira, levamos também um cheque de mil dólares que foi o que nos incentivou a produzir uma segunda série que também acabou sendo premiada no ano seguinte, dessa vez em Miami. E daí não paramos mais. Foram 11 prêmios internacionais, vencemos em festivais na Coreia do Sul, em Cannes, Florença… E nessa caminhada eu levei 2 prêmios de melhor roteiro e duas indicações como Melhor Diretor. Foram quase 10 anos produzindo pra web que me deram muita bagagem.
No seu currículo também está o ator “Antonio Bento Ferraz”. Algum projeto de audiovisual para 2022 em que você vai atuar? Eu tenho feito tantos trabalhos como diretor e roteirista nos últimos anos que as pessoas esqueceram um pouco que a minha formação é de ator. Em 2020 eu gravei uma participação como ator em uma série ainda inédita que fui convidado também para dirigir. E também estou no elenco de um longa-metragem de suspense, gravado no começo desse ano e que estreia em 2022.
Você é filho do ator e diretor Buza Ferraz falecido em 2010. Ele foi um sucesso nas telenovelas com mais de 20 títulos na carreira e também no cinema brasileiro. Sua veia artística veio dessa convivência? Como era a relação com seu pai? As maiores paixões da minha vida eu herdei do meu pai: O Botafogo e a arte. Não necessariamente nessa ordem. Meu pai era o cara mais importante da minha vida. Meu amigo de todos os momentos. Íamos a todos os jogos do Botafogo juntos, cinema, viagens… Tudo que tenho e sou artisticamente eu devo ao meu pai. Me ensinou a ser profissional, a respeitar minha profissão, a me valorizar dentro dela e a correr atrás dos meus sonhos. Ele era um grande incentivador dos meus projetos. Com certeza seria o fã número 1 de “Acesso Total”. Agradeço muito ao SPORTV por ter colocado o nome dele IN MEMORIAN nos créditos finais dos episódios. Então, quando ele parte, eu não perco só meu pai, mas perdi também meu ídolo e meu melhor amigo.
Depois de “Acesso Total”, você já tem algum projeto como diretor? Sim. Em fevereiro vou tirar do papel um projeto antigo que é um curta-metragem de comédia, escrito pelo meu amigo Emilio Boechat, em preto e branco sobre um detetive noir. Vou dar continuidade ao documentário sobre a carreira do meu pai chamado “Buza para todos”, que teve uma pausa por conta da pandemia, também vou estrear uma série que gravamos em 2021 chamada “Marilyn O Ensaio”, escrita por Karin Roepke. Além disso, tenho conversas para dirigir um longa de terror e outra série sobre futebol.
O planeta está passando por uma grande transformação por conta da pandemia. Como você avalia o seguimento da arte de uma forma geral? Foi um momento muito duro pra nossa produção artística. Vi muitos colegas passarem por dificuldade durante a pandemia, pois o nosso trabalho parou totalmente por um longo período. Mas se teve uma coisa que podemos tirar como lição e esperança é que, no momento em que todos foram obrigados a ficar trancados em suas casas, a arte foi um escape essencial no mundo todo. A música, o cinema, as séries, a arte no geral nos salvou e nos ajudou a passar por esse momento terrível de uma forma um pouco menos solitária e sombria. E agora, com as coisas voltando aos poucos ao normal, a roda está voltando a girar a todo vapor. A produção audiovisual voltou com tudo, muitas oportunidades de mercado foram abertas e temos que saber aproveitar o momento. Vivemos na Era dos Streamings. O cinema está mudando, a TV está mudando, a forma como consumimos arte está mudando. Precisamos saber caminhar nesse mundo novo.
Todos nós temos sonhos, mas sempre existe um maior do que todos. Qual o seu? Meus sonhos eles vão entrando numa espécie de lista. Eu tinha um sonho de lançar um livro e consegui em 2016, mas apenas em formato digital. Portanto, ainda segue firme o sonho de lançar um livro físico. Também estou em busca de dirigir meu primeiro longa-metragem, que tudo indica que vai se realizar em 2022. No geral, meu sonho é ter sempre muitos projetos acontecendo. Sou ator, diretor, roteirista e escritor. Quero que esses 4 “Antonios” estejam sempre trabalhando e realizando.
Fotos @marciorangel
Stylist @ronaldorobim