No dia 1º de fevereiro de 2015, poucos minutos depois do New England Patriots vencerem o Super Bowl pela quarta vez, em plena euforia da vitória, o presidente do time Robert Kraft lê a palavra “Brasil” no microfone do repórter da ESPN André Kifouri e começa a falar da ligação de seu time com o país do futebol com os pés. Não é pouca coisa: o astro do time Tom Brady é o marido de Gisele Bündchen, uma das top models da atualidade. Mas não é só isso, e ele emenda “os Patriots deveriam fazer um jogo no Brasil”. Delírio? Não, a realidade que um businessman de um dos esportes mais ricos do planeta antevê algo com a qual uma infinidade de fãs do futebol americano no país, sonha.
Antes, um esporte doméstico dos Estados Unidos, de difícil entendimento para o brasileiro comum, o Football profissional cresce no Brasil a uma velocidade estonteante. Praticantes, times e ligas surgem em diversas capitais de país e até uma Seleção Brasileira foi montada. A Confederação Brasileira de Futebol Americano é a responsável por unir as ligas e federações estaduais e divulgar o esporte e difundir sua cultura. Recentemente, o time brasileiro conquistou a vaga para o Campeonato Mundial que acontece nos Estados Unidos, em julho. Um verdadeiro fenômeno que, organizado, ganha força e impulsiona o esporte da bola oval pelo país.
Talvez, para os menos desavisados, possa parecer estranho tanta atenção a um esporte tão longe de nossa realidade, mas as primeiras experiências veem dos anos 1990, quando Luciano do Valle e a Bandeirantes transmitiram as primeiras partidas de futebol americano na TV aberta brasileira. Certamente um marco, mas não os grandes responsáveis pela história atual, porém, são importantes por impulsionar os primeiros jogos nas praias do Rio de Janeiro, de maneira improvisada e sem os equipamentos necessários para a boa prática do jogo. Hoje, os Recife Mariners, João Pessoa Espectros, Coritiba Crocodiles, Joinvelle Gladiators, Manaus Cavaliers e tantos outros são a prova de que o futebol americano veio para ficar.
Mas, falando em televisão, esta sim é a grande responsável pela nova “paixão nacional”. As transmissões da temporada regular, dos playoffs e do Super Bowl ano a ano só atraem mais expectadores, que são cada vez mais conscientes das regras e conhecedores de equipes e jogadores. Essa aposta da NFL, a liga americana de futebol, parece que foi acertada, pois não só no Brasil, mas no mundo inteiro, o interesse pelo jogo só tem aumentado. Mark Walter, presidente internacional do NFL, em entrevista, revelou a intenção de realizar partidas fora dos Estados Unidos – atualmente, há jogos no Reino Unido e o grande desejo de realizá-los no México. Contudo, as arenas mexicanas são obsoletas o que impede efetivar os jogos por lá. Essa não é a realidade do Brasil com suas arenas modernas construídas para a Copa do Mundo Fifa em 2014 e pedindo por eventos de grande porte. Fala-se nos bastidores em um jogo no Allianz Parque, do Palmeiras, e recentemente o administrador da Itaipava Arena Pernambuco, em entrevista ao Jornal do Commercio, revelou conversas com a liga americana para a realização de uma partida no estádio, mas não antes de 2018. Com certeza, muita gente está no aguardo.
Difundir uma cultura esportiva em um país estranho a ela não é nada fácil. Nos anos 1970, os americanos, reis do marketing, falharam ao tentar levar o nosso futebol para lá, mesmo com Pelé, Beckenbauer e Cruyff no elenco dos times. O mesmo desafio têm os brasileiros na tentativa de consolidar o futebol americano por aqui. Impossível? Certamente não. Diversos times têm surgidos por todos os estados do país, e cada vez mais organizados começam a atrair interesses de mais e mais pessoas.
Um bom exemplo é o Recife Mariners, da capital pernambucana. Fundada em 2006 por um grupo de amigos, a equipe tem uma organização com cara de profissional, muito embora cada jogador do time seja responsável por bancar sua própria carreira. O sucesso veio com dedicação, e o time já foi finalista de diversos campeonatos e conta com atletas na seleção brasileira. Seu mais recente sucesso foi colocar sete mil pessoas na Arena Pernambuco, em jogo válido pela final do Liga Nordeste. O título não veio, mas o sucesso de público foi a prova da rápida difusão e aceitação do futebol americano pelos torcedores locais. Os Mariners sabem que sem estratégias de marketing, o esporte não prospera, algo que também trazem de inspiração dos americanos.
Outras iniciativas de fãs também ajudam a difundir a cultura do futebol americano por aqui. As comunidades de torcedores se multiplicam e a Internet funciona como local virtual para os aficciona dos assistirem aos jogos, comentarem e viverem as emoções que só o esporte pode proporcionar. Um bom exemplo é o site www.patriots.com.br, que reúne fãs do time da Nova Inglaterra, mas que não tem relação direta com a franquia. Notícias, calendário de jogos, material de divulgação, tudo produzido e difundido por torcedores de forma voluntária. O que será do futebol americano no Brasil daqui para frente não se sabe, mas com certeza ainda há muito a ser explorado.
UM CAPÍTULO À PARTE
Difícil falar do Futebol Americano e não lembrar do Super Bowl, a final do campeonato e um dos eventos mais disputados do mundo. Se há alguma coisa que os americanos sabem fazer é espetáculo, e o Super Bowl é um legítimo representante desses megaeventos que atraem a atenção de pessoas no mundo inteiro. Dentre as 32 equipes que iniciam o campeonato, os vencedores das conferências Americana e Nacional ganham o direito de se enfrentarem pela coroa da liga, em um estádio que é definido pelo menos três anos antes e que na maioria das vezes, é campo neutro. Contudo, pessoas de todo o país batalham por seus ingressos junto com os torcedores de cada equipe finalista e se aglomeram nas arquibancadas para fazer parte do espetáculo.
Mas não são apenas os meros mortais que querem participar, entram nessa lista, também os artistas que são convidados, sem cachê, para tocar seus sucessos no intervalo para o público no estádio e, claro, aqueles que estão acompanhando pela televisão. Nomes como Paul McCartney, Madonna, Rolling Stones, Red Hot Chilli Peppers e U2 passaram pelo palco montado pela NFL recentemente.
Totalmente controlado e concebido para ser um evento midiático, o Super Bowl é hoje o espaço publicitário mais valorizado da televisão americana. São nada menos que 110 milhões de pessoas, audiência que gera um valor de US$ 4,5 milhões por cada inserção publicitária de 30 segundos, segundo dados da NBC, emissora que detém os direitos de transmissão. Esse número assombroso, mostra a valorização do futebol americano perante a população americana e a disposição das empresas em lançar suas melhores e maiores campanhas publicitárias durante o evento. Aliás, os comerciais não são algo que aborreça os telespectadores, eles são tão aguardados pela audiência quanto o show e o próprio jogo, a prova viva de que o Super Bowl é mesmo um dos grandes espetáculos do planeta.
AQUI E LÁ
Engana-se quem acha que brasileiros só jogam futebol americano no Brasil, já estamos fazendo sucesso nos Estados Unidos também. Em 2014 Breno Giacomini, nascido em Massachussets e de pais brasileiros, foi campeão da NFL pelo Seattle Seahawks, vencendo no Super Bowl o Denver Broncos. Com 2,02 metros e 140 kg, Giacomini joga na posição de tackle, pela direita, e sua principal função é defender o quaterback, o cérebro do time. Outro que fez história nesse mesmo ano foi Cairo Santos, o primeiro brasileiro nascido no país a integrar um time da NFL. Cairo é kicker do Kansas City Chiefs, e sua função é chutar a bola nos field goals e nos extra points do touch down. Sem dúvida, esses dois jogadores são referências para jovens brasileiros que querem um dia romper a barreira dos países e sonham em ser jogador de futebol americano.