“Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.”
Sêneca, filósofo romano e mestre da arte da retórica, antes de Cristo, eternizou, em suas palavras, o conceito de belo com todas suas nuances e particularidades. Para se contemplar, é preciso observar o todo, e quando esse gera uma completude, não há o que discutir, o ciclo se formou e para isso, não há discordância. É o caso da nossa estrela dessa edição Ana Hickmann. Dona de um sorriso encantador, de um corpo escultural, de um olhar cor de mar e de uma simpatia em flor, é pura poesia em conformidade com as leis mais sublimes e conceituais do que vem a ser belo, ou melhor, bela, belíssima.
Com 1,86 de altura, e 1,20 cm só de pernas, a modelo, apresentadora e empresária, coloca paixão em tudo que faz. E prova, ao longo dos anos, que seu talento ultrapassa a beleza que a projetou nas passarelas. Em reportagem exclusiva para a MENSCH, a bela esbanjou alegria e falou sobre carreira, sucesso e empreendedorismo, além de posar para as lentes e olhar apurado de Angelo Pastorello. Confira!
Era uma vez… – “Minha real vontade, no começo, não era ser modelo, queria sim, ter uma profissão. Desde muito cedo, já queria ser independente. Tinha 12 anos quando minha mãe se divorciou e isso me despertou a vontade de querer ajudar em casa (apesar dela recusar a ideia, alegando que eu era muito nova). Foi então que uma amiga organizou uma excursão para São Paulo e eu fui, curtindo no oba oba daquela história. Nunca tinha viajado e, de cara, encarei 18 horas em um ônibus. Meu estilo era tipo atleta, com uma nuca raspada, tênis de cano alto. Não tinha nenhum costume com salto ou sequer tinha feito a sobrancelha, totalmente o oposto do que sou hoje (risos). Já em Sampa, fomos conhecer uma agência. Lá, as meninas apresentaram um book bonitinho e organizado, quando pediram o meu e eu respondi que eu não era modelo. Fui orientada então a colocar um biquíni e fazer umas “polaroids”. Essas fotos foram para a revista Capricho e para Paulo Borges. De cara, pediram pra eu ficar, uma vez que era véspera da semana do Morumbi Fashion. Quando falaram que o meu cachê era de mil reais, aceitei na hora. Liguei pra minha mãe e avisei que não regressaria, ia trabalhar e ajudá-la. No começo ela se assustou e me questionou se era isso que eu queria, e, se eu mudasse de ideia, ficasse sabendo que eu tinha uma casa pra voltar. Nunca mais voltei.”
De atleta para modelo – “Na adolescência, minha vontade era ou estudar arquitetura ou ser atleta (jogadora de basquete). Sempre tive muito gosto pelo desenho, pela criação, mas, a moda em si, só descobri depois que vim pra SP. Antes, eu nem sabia sequer que existia revista Capricho. Eu não tinha referência nenhuma. A primeira vez que me vi maquiada, foi no estúdio do Paulo Vainer, e me achei uma palhaça. Botaram “bob” no meu cabelo, quando me olhei pensei: gente, essa não sou eu. Eu não sei fazer isso, não vou conseguir. Essa insegurança durou apenas algumas semaninhas. Tempo necessário para a gente ir se olhando mais, observando o que fica melhor. Aos poucos, a autoconfiança chegou.”
Mundo – “No primeiro ano de trabalho com moda eu já fui morar em Paris. Lá passei mais um ano, depois segui para Nova Iorque. Isso como residência, porque por temporadas, passei algumas na Itália, Alemanha, entre outros lugares do leste europeu. Trabalhei com nomes e marcas que fizeram a diferença na minha vida como Mugler, Kenzo, Armani, Saint Laurent, Victoria’s Secret, e outros.”
Concorrência – “Na época que comecei, estava em voga o tipo de modelo andrógena. Beldade como Shirley Mallmann era a grande referência da moda no Brasil e no mundo. Então, eu, juntamente com Gisele e Fernanda Ambrósio, comecei apresentando um novo estilo que foi denominado como a turma do corpo. Foi uma geração muito unida e isso nos fortalecia. Estávamos sempre em sintonia e assim ganhávamos o mundo. Depois de um certo tempo, cada uma foi tomando um rumo, e a gente foi se distanciando um pouco. Hoje, percebo que isso não é tão forte entre as meninas, tenho a impressão que elas não unem nem se protegem tanto como na minha época.”
Medo – “Eu sempre fui muito segura de minhas decisões, sou muito rápida. Senti medo sim, mas não no começo, mais pra frente da carreira. Quando você vai mudando de país, de cultura e sofre com as oscilações do mercado. Teve épocas em que estava tudo muito bem, cheia de trabalho e eu só pensava só em descansar. De repente, a temporada acabava e eu ficava dois meses parada. Nessa hora senti medo e insegurança sim. Chegava a questionar se tinha acontecido algo, se eu estava errada. Com o tempo, aprendi que fazia parte do ciclo.”
TV – “Voltei para o Brasil em 2004 quando comecei a parceria com Paulo Henrique Amorim trabalhando como colunista de moda no seu programa na TV. Nesse período, eu ainda ficava entre São Paulo e Estados Unidos, foi quando em 2005, começou o programa Hoje em Dia e tive que voltar, em definitivo, pra cá. Fiquei durante quase seis anos. Em 2010, fui convidada a substituir a Eliana num programa dominical. Fiquei fazendo ao vivo na semana e gravando para domingo. Era muito puxado e eu não estava dando conta. Em 2010, fiquei somente com o dominical. Depois disso, veio o programa da tarde e ano passado, voltei para o Hoje em Dia.”
Nova profissão – “Essa mudança, de modelo pra apresentadora, foi bem tranquila. Quando Paulo Henrique Amorim me fez o convite, me senti confortável, uma vez que eu ia falar de algo que sempre gostei que é a moda. Tive a oportunidade de trabalhar com diversos estilistas de renome e vivenciar o melhor do mundo fashion. Isso só acrescentava e endossava o que eu falava. O Paulo dizia que gostava da maneira como eu falava e como me expressava e isso me serviu de apoio pra seguir. No Brasil, estava começando um interesse por informação de moda, surgia uma necessidade por parte do público de entender o que estava na internet, na passarela, o que vinha pra rua. Fácil por um lado e difícil por outro. Havia preconceito porque eu estava vindo da moda, não tinha experiência na TV. Carinha bonitinha, cabeça vazia. Quebrei esse paradigma. Mas, foi no Hoje em Dia que comecei minha carreira como apresentadora. A melhor escola para esse ofício é quando se tem a oportunidade de ir pra rua. É ali, no lado a lado, que está o aprendizado. Cada programa que se faz é um público, logo, é preciso entender diversas necessidades e falar de vários assuntos. No começo, foi só moda, mas depois, o quesito variedade chegou e a ele me dediquei.”
Marca – “A história da marca começou bem antes da TV, em 2002. Eu era garota propaganda de uma marca de sapato no Sul, a Beira Rio. Ela lançou uma coleção Vizano Design e quem fazia toda a produção e parte de imagem era Giovani Frasson, amigo meu da Vogue. Ele me questionou por que eu não fazia a minha coleção já que eu curtia tanto tudo aquilo. Ele vendeu a ideia pra empresa e, juntos, fizemos uma pequena coleção, que fez muito sucesso. Viajei o Brasil inteiro fazendo lançamentos, apresentando o produto que eu assinava.”
Sucesso – “Final de 2002 veio a parceria com a GO (General Optical), com quem eu faço os meus óculos até hoje. O produto teve uma aceitação incrível e hoje, já disponibilizo em mais de 18 países. Assim, a marca foi crescendo. Fomos procurando outras empresas para parcerias na área de licenciamento, sempre para o público feminino, moda, beleza e lifestyle. Dentre os licenciados, tenho sapato, bolsa, cintos, relógios, semi-jóias, roupa de cama, produtos de beauty care – que vão desde chapinha, secador, aplicador de maquiagem, pinça, lixa. Imagine uma mulher vestida e o que ela precisa na bolsa Eu tenho. (risos). São 13 empresas parceiras. Já produtos licenciados, são mais de 3500 itens.”
Novos voos – “Sempre digo: novos projetos fazem parte da evolução da marca. Eu sentia falta de alguma coisa na parte de moda. Notava também que para algumas empresas não era interessante usar certos tecidos, fazer cortes e apostar em algumas ousadias. A gente, como parceiro, também tem que entender essas decisões. Então, com o foco no pensamento de inovar, eu decidi experimentar algo novo e lancei um projeto de confecção autoral. Sempre licenciei lingerie e moda praia, mas agora, incorporei na minha coleção. Busco sempre um diferencial. Na linha Resort, por exemplo, a peça íntima surge como complemento, pra aparecer. Atualmente, na moda existe muita transparência, renda e a dúvida da mulher de como usar. Elas combinam sendo incorporadas uma com a outra. Não são peças de vestuário pra ficar por baixo da roupa. São peças que podem e devem ser mostradas. É preciso inovar, mostrar o que é bonito e ressaltar a beleza natural e das diferenças.”
Diferenças – “Eu sou uma pessoa completamente fora do padrão. A maioria das mulheres ‘normais’ têm em média 1,70m. Eu tenho 1,86m, logo, sou muito fora do padrão. Acho que é por isso que eu compreendo tanto as pessoas que se acham diferentes por ter um busto maior, ou por serem pequenas, ou por tantos outros conceitos que nos são impostos. Eu faço parte do grupo dos diferentes, gosto disso e amo trabalhar para esse público. A ideia é sair do padrão e atender desde a menina com o pé 34 até aquela com o pé 41, é muito engrandecedor, e é isso que faço. É importante trabalhar essas diferenças. Tudo que é diferente sempre tem algo que se pode ressaltar de bonito. É bom ser diferente, é bom ser você mesma. Cada individuo é uma joia que tem que se cuidar. É assim que enxergo o mundo e a vida.”
Fotos Angelo Pastorello / Realização Ju Hirschmann / Estilo Fernanda Hickmann / Beleza Marcelo Gomes / Agradecimento especial Index assessoria
Agradecimentos de Moda: Louboutin 11 3032-0233 / Letage 11 2476-7186 / Victor Dzenk 031 25159850 / Alphorria 31 3304-0500 / Rommanel 0800-11-4990 / Rodrigo Naves 11 99567- 2511 / Ana Hickmann Colection 11 3803-7020 / Riachuelo 11 2739-1960 / Recco 11 3083-4053 / C.Club! 21 2511-1141