Poderíamos dizer que Dani Winits é quase que um “patrimônio” dos musicais de teatro e da dramaturgia na TV. Ela canta, dança, interpreta e seduz que é uma beleza. Seja por sua sensualidade natural, sua gargalhada divertida ou por seu talento em interpretar personagens tão distintos e cheios de vigor. Lembrar de Dani Winits na TV é lembrar da mocinha Marisol de “Kubanakan”, da atrapalhada Alicinha de “Corpo Dourado” ou a Doutora Sandra de “Páginas da Vida”. Aliás, são tantos personagens que fica difícil dizer qual o melhor, mais marcante ou divertido de ver. Na dúvida, ficamos com todos – ficamos com Dani. E para essa segunda capa da MENSCH, nossa estrela posou no Hotel Nacional Rio, e o resultado é a cara dela – um espetáculo!
Dani, olhando nossos arquivos, nosso primeiro papo foi em 2013, época de “Amor à Vida”. De lá pra cá muita coisa aconteceu, muitos personagens e projetos. Que momentos destacaria nesses últimos oito anos? Nossa, tanta coisa aconteceu nesses últimos anos – eu destaco o crescimento de meus filhos, que é algo que me assusta (risos). Parece que foi ontem que eles eram bebês, e já estão enormes, o que me deixa muito feliz. No trabalho, fiz tantas coisas legais e das quais me orgulho na TV, no cinema e no teatro, e a criação do IDW (Instituto Danielle Winits). O IDW é um projeto que foi pensado e construído em plena pandemia, o qual lancei a princípio como um infoproduto para a internet. A primeira empreitada do IDW é inspirada nas master classes mais modernas do mercado! Um curso de interpretação bem completo para iniciantes. Já tenho alunos espalhados pelo Brasil inteiro, o que muito me orgulha e criamos um laço pra lá de especial, mesmo que distanciados!
Nesse período, personagens hilários, aventuras na cozinha do super chef, performances no Show dos Famosos e a vice-liderança no Dança dos Famosos. Diversidade total que mostra uma artista ampla que você é. Desses trabalhos, o que foi mais desafiador para você? Algo que você achou que não daria conta? O mais desafiador foi sem dúvida o do Show dos Famosos. A Dança faz parte de minha vida, de minha trajetória como bailarina e como atriz em musicais desde menina. Então, foi muito mais um prazer do que um desafio gigante… Mas, no Show, ter que se transformar em alguém e cantar como a pessoa foi de enlouquecer (risos). Mas eu amei ter feitos os dois, ainda mais no Domingão. Tenho um carinho enorme pelo Fausto.
Uma marca forte em sua trajetória é justamente isso, o desafio. Existe algum limite para você, quando se trata de arte? Não, se eu embarco em um projeto, é porque eu acredito. E eu costumo me entregar por inteira. Eu sou visceral mesmo nesse processo.
Hoje em dia está muito instável a vida artística, ainda mais com esse momento de pandemia. Como você enxerga esse momento e como tem lidado com isso? É um momento delicado e complicado. Para mim, eu tenho uma casa, estabilidade financeira, mas e quem não tem? Muitos artistas e equipe técnica estão em situação complicada. Eu fico muito triste com nosso cenário cultural. Tenho feito o que posso para ajudar pessoas próximas que trabalham no backstage e que estão sem perspectivas a curto prazo e, muitas vezes, sem ter até como se alimentarem em suas rotinas. Tive alguns trabalhos no cinema e no teatro já em andamento remanejados, mas ok. Não é nada diante da realidade que se apresenta de forma cruel e insustentável para uma grande parte dos profissionais do meio.
Trabalhar por obra deu mais liberdade, mais uma certa insegurança. Como isso te toca? Estive contratada pela TV Globo por quase 30 anos da minha vida. É quase toda minha história de vida. E de uma vida muito feliz! A menina Danielle, que já trabalhava desde o fim da adolescência na Globo, ela se tornou a mulher, a mãe e a profissional que sou hoje graças a essa parceria linda, que ainda permanece, mas em outros moldes, assim como também em outras bases para muitos de meus colegas de profissão que fiz lá dentro, ao longo de tantos anos. Graças a Deus, a minha história, claro, e a minha natureza inquieta e desbravadora, eu estou sempre em movimento! Trabalho é a mola propulsora de uma grande parte de minha sanidade (risos). Tenho construído relações com novos parceiros e essa liberdade faz parte também da necessidade de quem vive não apenas de TV, mas de teatro, de cinema, e, no meu caso, de projetos extras que tenho me permitido investir enquanto produtora como o IDW. Não me vejo mais apenas como uma atriz e sim como uma mulher que tem muitos projetos pessoais em paralelo e que além de tudo ama trabalhar como atriz!
Já se desiludiu com a fama conquistada? O que a “vida de celebridade” te ensinou até aqui? Já tenho uma estrada, né?! Não me iludo mais com essas coisas. Tenho o meu pé bem cravado no chão. O que eu aprendi é que tudo é fruto de trabalho. E é no trabalho que eu acredito. É preciso construir a sua vida sob pilares firmes e é isso o que eu faço.
Se manter no topo é muito mais difícil do que chegar nele? Não existe “topo”, já parto daí. O que existe é trabalho. É a vontade de fazer dar certo. Costumo dizer que o caminho a gente só faz caminhando. É o meu lema pra vida pessoal e profissional. E se manter, é uma escolha diária, a meu ver. É o que faço porque é o que amo, então procuro me reinventar e me estimular todos os dias para que eu esteja pronta para as oportunidades que surgem e principalmente para as que crio!
Desde sua estreia na TV com Sex Appeal em 1993 até hoje, já se vão quase 30 anos de carreira. Acreditamos que sua percepção sobre muita coisa mudou, até por conta da maturidade. Mas o que foi mais forte e digamos, essencial, nesse amadurecimento de carreira? Ali eu era uma adolescente, né. Ainda estava naquela fase de querer provar o meu talento, de conquistar o meu espaço. Hoje, eu não vivo mais isso. Já tenho o reconhecimento das pessoas. Tenho uma tranquilidade para decidir sobre os meus trabalhos e o meu futuro. Isso é uma das melhores coisas da maturidade.
Fama e sucesso são coisas bem diferentes, e você já conhece bem os dois. O que diria de cada um pela experiência que teve? Quem adquire a fama, muitas vezes, não tem nem história pessoal pra ser famoso. Vive da fama alheia, das conquistas alheias… Tem muita gente vampiro por aí! Já me livrei de algumas, graças a Deus! Mas quem tem sucesso, quem é bem-sucedido em sua trajetória, tenha certeza de que tem muito trabalho, amor, foco e esforço envolvido.
Aos 47 anos você continua gata e vive um dos seus momentos mais plenos. É duro manter isso? Sente uma cobrança por se manter bela? Não me cobro por causa dos outros não (gargalhadas). Eu cuido de mim porque gosto de me olhar no espelho e estar bem comigo. Eu faço as coisas por mim. Tem dias que é chato malhar, sim, é, mas eu vou. Acho que eu vivo uma fase bem resolvida comigo, sem querer provar nada para ninguém.
Como anda sua vaidade hoje em dia? Do que não abre mão e o que descartou ao longo do tempo? Não abro mão de me exercitar porque é algo para a minha saúde e, claro, para meu corpo. Gosto de cuidar do cabelo, da pele. Eu descartei fazer algo para agradar o outro. Não faço mais.
Dani você sempre passou uma imagem de mulher sexy e sensual e ao mesmo tempo, divertida. É algo inerente a sua personalidade ou foi sendo construído ao longo do tempo? Eu gosto de dar risadas, gosto de levar a vida com leveza. Sempre fui assim. Faz parte de quem eu sou. Adoro o som de uma risada, de uma boa conversa. O humor é algo que me atrai. Sempre gostei de fazer as pessoas rirem. Desde menina! Apostei em levar isso pro trabalho e deu certo porque na real, eu sou uma palhaça que sabe ser também um vulcão quando preciso! Mas minha natureza mesmo é clown. Não levar a vida sempre tão a sério faz rir, e muito bem para a saúde! Eu procuro viver sorrindo!
Na vida amorosa, a maturidade fez você mudar valores? Quais que hoje são as bases do seu relacionamento com André? Sim, a gente muda os valores e passa a dar atenção a outras coisas – companheirismo, parceria… Essas são as bases de nosso relacionamento. Somos amantes, mas amigos, sabe? Eu sei que posso contar com ele. E ele, comigo.
Vocês parecem ter uma ótima sintonia. Onde combinam e onde divergem, mas se completam? A gente é bastante diferente um do outro, mas sem dúvida isso faz com que sejamos complementares em muitas coisas. Somos viciados em cinema, em literatura, em tudo o que cerca arte e conhecimento em geral, nós consumimos com gosto e juntos. Mas minha rotina em me exercitar diariamente, por exemplo, ele passa batido… Já tentei trazer ele pra esse lado, mas não rola e tudo bem! Cada um tem uma necessidade corporal. Ele gosta de andar bastante, de bicicleta, de fazer trilhas… Ele é mais quieto. Cultiva um silêncio interno que é bacana pra ele. Sou mais barulhenta. Sou mais tipo mil coisas ao mesmo tempo, sabe?! Em contrapartida, também tenho um lado mais individualista, digamos um pouco mais autocentrado, que me é necessário pois me permite focar em meus objetivos.
Antes de viver esse relacionamento de conexão e afinidade, você já declarou ter tido a experiência de um relacionamento abusivo. Chegou a declarar que “o príncipe que eu pensei ser, virou sapo lá na frente”. Como encontrou forças para sair disso? Qual a maior dificuldade e o que foi primordial para mudar? Primeiramente é necessário reconhecer que você está num relacionamento assim. E não é fácil sair, aviso isso porque existem todos os julgadores de plantão. Temos que acolher as mulheres que passam por algo assim. Você vai acumulando forças para conseguir virar esse jogo e, às vezes, leva um tempo. Mas, mulheres, a vida pode ser muito melhor. Não aceite menos do que você merece. Lembra da questão que respondi que existem muitos vampiros por aí? Sugadores do sucesso alheio. É bem isso. Vampiros que são também assaltantes emocionais. Stalkeadores de vulnerabilidades. Psicopatas narcísicos. Infelizmente não tem cura para esses doentes de corpo e de alma. Nascem com uma deformação fisiológica mesmo. Sou pós-graduada no tipo. Sem qualquer traço de empatia pelo outro, morrerão sem provar dela, mas antes, vão fazer você acreditar que são as melhores pessoas do mundo! Os “salvadores de tua pátria”! Expulsar literalmente a pessoa de sua vida e cortar tudo e a todos que dizem respeito a ela, é apenas o primeiro passo. É preciso recuperar depois o que eles mais amam roubar – seu amor próprio.
Hoje em dia, o que um relacionamento precisa ter para te completar? Precisa de empatia acima de tudo, hoje, em dia pra mim! De acolhimento e entendimento da bagagem de vida que vem com o outro e tentar fazê-la ser mais leve, sabe? Todos temos nossas alegrias pelo percurso, mas também temos nossas cicatrizes que precisam ser acarinhadas e bem-vindas!
O que foi mais difícil de enfrentar durante essa pandemia? Que lições tem tirado? A incerteza sobre o nosso futuro, digo sobre o nosso país. Preocupação com meus filhos, porque eu sei que não foi fácil para eles. E ainda não está sendo. Eu quero acreditar que estamos com um olhar mais solidário, mais preocupados com o próximo. E acho isso importante demais.
Cantar, dançar e atuar, o que mais te toca hoje em dia? Não posso escolher um. Eu amo todos. Sou uma atriz que canta e dança. Apaixonada por musicais. Amo fazer musicais e estou morrendo de saudades de estar em um, no palco.
O que te traz inspiração? Tudo me inspira. Desde o meu dia a dia com meus filhos, a minha convivência com meu marido, as pessoas… Eu sou muito observadora.
O que espera do futuro e do futuro próximo? Eu espero que essa pandemia acabe. Que as pessoas fiquem livres e seguras desse vírus. Espero que a gente possa se abraçar e beijar sem medo. E quero muito voltar ao teatro, ao cinema… Voltar a fazer arte para as pessoas poderem assistir. Voltar a fazer uma das coisas que mais amo, que é trabalhar aglomerada no teatro, no cinema… com as pessoas por perto.
Fotos Guilherme Lima
Styling Samantha Szczerb
Beleza Walter Lobato
Agradecimentos ao Hotel Nacional Danielle usou: Atelier Silvio Cruz, Powerlook, Louboutin, Personal Brechó e By Segetho