Com uma trajetória repleta de personagens marcantes, Leona Cavalli tem dado o que falar com sua personagem atual, a fogosa e astuta Gladys da novela Terra e Paixão. Versátil, Leona é daquelas atrizes que são capazes de encarar muito bem qualquer personagem. Da Zarolha de Gabriela à Dra. Glauce de Amor à Vida, só para citar dois de seus trabalhos na TV. Mas essa gaúcha de Rosário do Sul (RS), sabe muito bem transitar pela TV, cinema e teatro, não é à toa que coleciona prêmios e indicações por onde passa. Com ela nenhuma personagem é secundária, seja qual for a personagem, todas carregam a dramaticidade impecável dessa atriz encantadora.
Leona, se divertindo muito com a fogosa Gladys? Sim, é muito divertido fazer a Gladys, brincar com as loucuras, desejos e incoerências de sua vida de aparências.
O que essa personagem tem que mais te desafia? O desafio maior é fazer uma personagem tão diferente de mim. E, ao mesmo tempo, é o que mais me instiga!
Acredita que existem muitas Gladys pelo Brasil, em especial nas altas rodas? Alguma inspiração (real ou fictícia)? Com certeza existem muitas. Até porque, em geral, a nossa sociedade atual ainda é muito preconceituosa e moralista; o que faz com que a distância entre pregar uma coisa e fazer outra, como é o caso dela, seja aceita como normal. Acho que a novela acaba fazendo uma denúncia, de forma leve, dessa hipocrisia, que é comum em todos os meios e na maioria das famílias. Inspirações são muitas, basta andar na rua ou entrar na internet!
Como e em que você espera ser desafiada em um novo personagem? O que te move a ele? Um novo personagem é sempre uma surpresa, é isso que é bom! Adoro os que misturam muitas camadas de personalidade, e possibilitam misturar drama e humor, são os melhores. O que me move é conhecer mais o ser humano através da interpretação, e somos muito complexos, temos um pouco de tudo.
Algum papel que te marcou e ficou inesquecível ao longo da carreira? São muitos; mas vou citar um no teatro: Blanche Dubois, de “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennesse Willians; um no cinema: Lígia, de “Amarelo Manga”, de Claudio Assis; e um na TV: Zarolha, de “Gabriela”, de Walcyr Carrasco.
O que a maturidade te trouxe de mais significativo na profissão e na vida? Na profissão a constância da disciplina; na vida mais compaixão com os outros e comigo. E em ambas, não me levar tão a sério…
Como você enxerga o mercado para atrizes mais maduras? Existe o etarismo? Existe etarismo, tanto para homens como para mulheres, em todas as profissões. Na atuação é até um pouco menor, porque existem papeis para todas as idades, ainda que com o tempo possam diminuir. Mas na maioria das profissões é estipulado um prazo de validade extremamente curto, e isso tem ficado mais claro agora, com o nível de longevidade aumentando no mundo. Pessoalmente não tenho sentido; estou numa das melhores fases da minha vida, inclusive profissional. Mas é obvio que essa é uma realidade, e que é necessário combatê-la, porque a nossa melhor opção, para todos, ainda é envelhecer, e, se não valorizarmos a maior idade, nos tornamos uma sociedade suicida.
Você sempre passou a imagem de ser uma mulher alto astral, forte e disposta a sair da sua zona de conforto. É isso mesmo? Sim, faço o possível para manter a energia alta, tenho muita alegria de viver. Acho que isso possibilita uma certa coragem de sair da zona de conforto, o prazer de estar sempre aprendendo, buscando a auto superação.
Aliás, sair da zona de conforto é algo que muitos atores tiveram que fazer com a extinção de longos contratos de exclusividade. Como você encara isso? Encaro a não exclusividade como algo positivo, que amplia as possibilidades. Tanto na profissão como na vida…
O que essa gaúcha de Rosário do Sul ainda guarda em sua essência? A paixão pela liberdade, o amor pela natureza e pelos animais.
Sua ligação com a natureza é um bom exemplo disso? É onde recarrega as baterias? Tenho uma ligação profunda com a natureza; realmente me sinto parte dela; até numa rua cheia de trânsito, fico ligada nas arvores dos canteiros. É o que nos une a todos, desde o ar que respiramos, à água que tomamos, à terra que pisamos, ao sol que nos ilumina.
O que curte ler, ver e ouvir no momento? Tenho relido as poesias de Sophia de Mello Breyner, que adoro; e estou lendo “A telenovela e o futuro da televisão brasileira” de Rosane Svartman. Recentemente vi o ótimo filme “A Máquina do Desejo”, que está em cartaz no Rio e São Paulo, sobre a vida do diretor Zé Celso Martinez Correia, com quem trabalhei muito; dirigido por Joaquim Castro Lucas Weglinski; que recomendo. E ouvido Baco Exu do Blues, Crioulo e, sempre, o “Floresta Amazônica” do Villa Lobos.
Como lida com o espelho e a idade? Com amor próprio e humor.
O que te faz colocar um sorriso no rosto? Uma roda de samba. E viajar, sempre!
E para conquistar Leona basta… Ter caráter, amor e humor.
Fotos Juliana Coutinho
Produção executiva e styling Samantha Szczerb
Beleza Zuh Ribeiro
Agradecimentos Hotel Pestana Rio
Leona usou Nayane, TVZ, Noêmia Jóias, Gutê