ESTRELA: LETÍCIA SPILLER – FORÇA DA NATUREZA

Letícia Spiller está de volta à MENSCH e num momento bem especial de sua vida quando completa 50 anos. Um momento em que a maturidade leva embora inseguranças e com a liberdade para experimentar o novo sem medo de errar. Foi assim, de mente aberta e focada em seu papel, que encarou dois trabalhos recentes e bem distintos – A Matinta Perera da série Cidade Invisível (Netflix) e uma delegada na séria Veronika (Globoplay). Uma verdadeira força da natureza, Letícia passa pelo tempo numa eterna evolução, ciente de seu papel como artista e  sua função no planeta.

Letícia, antes de mais nada ficamos muito felizes em tê-la mais uma vez aqui conosco, em uma edição impressa. E para começar, uma provocação… Quem é a Letícia hoje em dia? Como avalia sua evolução como mulher e artista? É uma mulher feliz pelo caminho que percorreu até aqui, feliz com as escolhas e conquistas… E, ao mesmo tempo, com muita vontade de viver tudo o que tem pela frente, todas essas possibilidades que o futuro reserva. Como artista, eu me percebo cada vez mais múltipla mais potente também. Aos 20, eu achava que não dava conta de fazer mais de um trabalho ao mesmo tempo. Nos meus 40, estava fazendo TV, cinema e teatro. Agora, aos 50, estou no ultimo ano emendando o meu quarto trabalho seguido, com personagens desafiadoras e instigantes.  

No geral, já são 35 anos de carreira. Que personagens e trabalhos marcaram sua carreira? Difícil escolher um trabalho só, porque foram muitos trabalhos especiais ao longo desse tempo. Mas tem alguns que se destacam por alguns motivos. Babalu, de Quatro por Quatro, que me deu projeção e reconhecimento como atriz. No teatro, O Falcão e o Imperador, no qual atuei e que co-dirigi e produzi. E teve esse marco no cinema – O Casamento de Gorete, que foi minha primeira produção para as telonas. Mas tem tantos trabalhos que eu guardo com carinho. Citei esses porque, de alguma forma, eles deram um start em certos momentos de minha vida. 

Neste ano você completa 50 anos e parece estar mais segura sobre seu corpo e seu propósito de vida. Como percebe isso? Eu sempre vivi cada fase da minha vida de forma muito presente. No entanto, eu tenho uma rotina de vida em  que prezo sempre o auto-cuidado. Não falo somente sobre o corpo, mas de mim como um todo – saúde, energia e espiritualmente. Eu sempre fui muito ligada à natureza. E acho que tudo o que eu vivo hoje é um reflexo desse caminho que eu percorri. E o amadurecimento leva embora algumas inseguranças, isso é também maravilhoso. Estou num momento feliz.

Falando em idade… Como lida com ela? Em algum momento isso já foi um peso? O que é mais libertador com o passar do tempo? Acho que vivemos em um momento em que temos cada vez mais referências de mulheres incríveis e fazendo coisas incríveis aos 40, 50, 60, 70, 80… Eu acho isso maravilhoso e muito inspirador, porque sinto que sempre tentaram (e ainda tentam) podar as mulheres, colocá-las em caixas, mas somos seres tão potentes que subvertemos isso e estamos a toda hora mostrando do que somos capazes. Eu acho que vivo um momento em que conquistei muitas coisas na minha vida pessoal e profissional, que eram sonhos e eu queria muito, e agora eu tenho uma certa liberdade para dizer que posso experimentar o novo sem medo de errar ou com aquela pressão de que precisa dar certo. 

A idade lhe libertou da responsabilidade de ser uma mulher bonita ou ainda percebe ser vista assim? Eu fico muito lisonjeada com os elogios. Quem não gosta de um elogio, não é? Mas eu nunca fiquei presa a eles. E sinto que isso também não foi uma questão que permeou a minha carreira, porque pude fazer e experimentar muitas personagens diferentes e desafiadoras.

Qual o segredo, se é que ele existe, dessa juventude e bem-estar? Acredito que não tem um segredo. Não tem uma fórmula. Acredito que é algo muito pessoal, que está dentro da gente. Mas é fato que precisamos nos amar, cuidar de nós como cuidamos também de nossos filhos. 

Você sempre pareceu ser uma mulher muito livre e bem resolvida. É isso mesmo? Às vezes se surpreende consigo mesma? Ah, acho que sempre temos questões. Nós vamos trabalhando internamente o que nos incomoda – o tempo faz a gente se conhecer mais também, e vamos nos libertando das pequenezas. 

Recentemente você esteve na Índia. É em lugares assim que você procura se reconectar? Onde recarrega suas energias? Eu estou respondendo essas perguntas e tem poucas horas que eu deixei a Índia. Foi uma viagem muito especial e desejada. Amo viajar, conhecer lugares novos e essa foi uma viagem que me ressignificou. Com certeza, volto energizada e com o coração pleno dos dias que estive lá. 

Você  costuma postar fotos em cachoeiras, matas, praias.. Como é sua conexão com a natureza? Como isso lhe completa? Eu amo estar na natureza. Tenho o meu sítio e é um lugar em que, sempre que eu posso, eu estou lá. É um local que faz a diferença na minha vida, é onde eu busco o meu equilíbrio e o contato com essa divindade que vem através da natureza. 

E já que estamos falando em natureza, como foi sua preparação para interpretar a Matinta Perera? Que é uma guardiã das matas. O que ela lhe trouxe de positivo? Foi uma experiência linda. Eu queria muito fazer essa personagem. Quando eu soube da existência dela na história, eu queria fazer de cara. E fiquei muito honrada de fazer essa personagem ancestral, que tem toda essa força, que vem da nossa história. Cidade Invisível foi um trabalho especial e muito simbólico para mim. Foi um desafio encontrar e traduzir a fisicalidade dessa entidade. Dar corpo e voz a ela. Uma voz e um corpo que não são meus, mas que estão em mim. Poder, nesse momento, fazer um trabalho no audiovisual, que me permitiu uma desconstrução maior, algo que faço muito no teatro. A desconstrução é essa participação junto com a direção e com os meus colegas de trabalho – isso foi muito gratificante. É um trabalho muito especial, que retrata e vem com a  força de mulheres fortes vindas de povos originários. A história da série, todos os temas que a envolvem de alguma forma. Gravar nos lugares em que gravamos, que, para mim, são sagrados – tudo estava alinhado com as minhas buscas e lutas como artista e indivíduo. A floresta é um lugar em que eu amo estar e que eu luto para que seja preservada. Foi muito emocionante estar gravando ali. É um trabalho que o público precisa assistir.

Sempre disposta a um novo desafio, em breve veremos você no papel de uma delegada na série (Globoplay) Verônika. Já tinha feito algo parecido, onde precisasse pegar em arma e trouxesse muita ação? Como foi a experiência? Veronika é um trabalho diferente também, assim como foi Cidade Invisível. Tive uma preparação diferenciada e foi um trabalho que me exigiu descobrir sentimentos e uma força diferentes. Ansiosa para dividir esse trabalho com o público.

Trabalhar por obra dá mais liberdade ou frio na barriga? Quais as grandes mudanças que você destacaria na evolução das linguagens artísticas que estão acontecendo no Brasil e no mundo em relação aos novos formatos digitais que estão surgindo? Acredito que é um novo momento que estamos vivendo e eu busco olhar por um prisma positivo. Estou a pouco mais de um ano vivendo nesse novo modelo, mantendo uma relação maravilhosa com a Globo, que me permitiu fazer outras coisas. Nesse tempo, foram quatro trabalhos. E foi muito enriquecedor artisticamente para mim. Eu amo novela, estou com saudade. Inclusive, tenho certeza de que é um gênero que seguirá firme, só que, convivendo com os outros formatos e linguagens. 

Indo para o lado mais espiritual, em que acredita? Como alimenta e fortalece o espírito e a mente? Tudo é energia… a própria natureza é uma divindade, tudo está conectado. Acredito nisso – neste vasto universo que nos abriga e que é algo maior, que está para além do ego. Busco muito essa conexão com o divino e com a natureza. Faço minhas orações e meditações diariamente. 

Você é uma pessoa do agora ou do futuro, para onde foca  seu olhar e energia? E ainda, é mais regida pela razão ou pela sensibilidade? Eu vivo muito o presente, sem esquecer de que temos um futuro pela frente, um planeta para cuidar, um meio ambiente para olhar e zelar. Sou mais emoção, mas a razão também está muito presente na minha vida. 

Para você o que é felicidade e o que lhe faz feliz? Felicidade é estar com os meus filhos, com as pessoas que eu amo e fazendo meu trabalho, minha arte, que é uma paixão.

Fotos Priscila Nicheli 

Produção executiva e styling Samantha Szczerb

Beleza Yago Maia

Assistente Lais Régia

Agradecimentos Hotel LSH

Leticia usou Nayane, TVZ, Manot, Chopper, Dona Mocinha, Gutê