Anderson Birman, fundador da Arezzo&Co, de 69 anos, o livro “A Cada Passo” que conta de forma inédita os momentos marcantes de sua trajetória até se tornar um dos maiores empreendedores do Brasil, destacando a construção da Arezzo&Co. O livro também aborda a compra da Gypsy, primeira loja conceito em Belo Horizonte, a inauguração de fábricas, a implementação de franquias, o desenvolvimento de novas marcas, a aquisição de outras, a abertura de capital, sua saída da empresa em 2013 e a doação das ações para os filhos. Anderson destaca a importância de compartilhar suas motivações, sucessos, falhas e aprendizados ao longo dos 50 anos da Arezzo.
Com curadoria de Giovanni Bianco, o livro de 276 páginas está disponível na livraria da Travessa e no site da Amazon. Toda a renda das vendas será destinada à Casa Transitória, instituição espírita em São Paulo, onde Anderson colabora oferecendo consultoria estratégica voluntária.
“Talvez houvesse uma razão para falar abertamente sobre as minhas motivações ao longo da vida, sobre as experiências que construíram nos primeiros 30 anos da Arezzo, as novas ideias que tenho em mente, agora com um distanciamento saudável do negócio e os cabelos mais brancos”, reflete o empresário. “Vaidade seria guardar tudo isso e não compartilhar sucessos, admitir falhas, assumir aprendizados”, complementa sobre a decisão de contar e compartilhar sua história.
Confira um trecho do livro:
O SAPATO É UMA ARTE
Sabia que o salto não pode ser maior que 9,8 centímetros? Por quê? Não há mulher que aguente. Isso é a arte de criar um sapato. Conseguir que um mesmo modelo se encaixe perfeitamente em diferentes formatos de pé. Sapato tem alma, é tridimensional. Por isso é tão difícil fazê-lo.
Tenho alguns conceitos sobre como se deve fazer um par de sapatos. É mais ou menos o seguinte: tudo que perturba o hábito dificilmente irá vender; em contrapartida, se for confortável, fará fama entre as clientes. Para mim, não existe o meio feio e o meio bonito, existe o sapato confortável. Mas, ainda assim, não quer dizer ter um sapato de qualidade. Para isso, é preciso construir os três pilares: look, conforto e segurança.
Todo sapato que está no mercado necessita ter look, isto é, não pode ter cola ou quaisquer defeitos aparecendo, além de precisar estar dentro da tendência. A cliente tem que se sentir segura, ou seja, não quebrar o salto ou arrebentar uma fivela, e precisa estar confortável; ela não pode lembrar a noite toda que está calçando o sapato. Sempre pensei na satisfação da consumidora final depois de dois, três meses que fez a compra. Acredito ser importante que ela não se sinta traída na moda nem tenha sua confiança quebrada devido a problemas de qualidade.
Entretanto, conquistar a verdadeira qualidade é um trabalho árduo se pensarmos que são 150 materiais para formar um modelo único. Basta refletir que existem a linha, taxa, agulha, couro, forro, cola e uma gama de outros produtos para se juntarem perfeitamente em harmonia. Não é à toa que dizem que o bom sapateiro é alguém que tenha algum sentimento de arte.
Mas antes de o sapato chegar à linha de produção, foi imprescindível entender as diferentes escalas e medidas dos pés das consumidoras. Ao longo da vida como sapateiro, entendi que o formato do sapato muda de etnia para etnia. O oriental tem pé curto, pequeno e com pouco volume. O americano tem pouco volume, mas é comprido. O nosso país tem um molde bem específico, por ser a mistura de diversas etnias, portanto, o sapato brasileiro é largo e avolumado. Inclusive, há as numerações grandes, as pequenas; são diferentes nichos de formatos e modelos para se pensar. Até o comprimento do dedo deve ser levado em conta para se fazer os bicos e não machucar o pé da cliente. Não aprendi o ofício de sapateiro em escolas – adquiri esses princípios ao longo da vivência. As matérias de cunho cultural, como História e Artes, ajudavam, mas o que realmente mudou a minha cabeça foi aprender Física no curso de Engenharia Civil. Com o conhecimento de matérias de Humanas e de Exatas, apreendi cultura e dom.
Eu era muito sentimental e me faltava a técnica, algo que meus conhecimentos acadêmicos me ajudaram bastante a resolver. Isso me fez caminhar na objetividade e me ajudou a compreender ainda mais o que é o sapato. Por isso, hoje meu raciocínio sobre o assunto é mais rápido que o da maioria das pessoas. Não apenas isso, mas as viagens que fiz para fora do país também me ajudaram a entender as consumidoras.
No início dos anos 1980, passamos a ir para a Europa estudar modas e tendências, e isso foi dando charme e construindo a marca. Por essa razão, hoje temos uma empresa com produto autêntico e de verdadeira qualidade.