ENTREVISTA: Fernando Deluqui, a trajetória do guitarrista do RPM até o sucesso

 

Texto: André Porto e Nadezhda Bezerra / Fotos: Divulgação

Afinal o que é o sucesso? Para muitos é ser reconhecido na rua e ter seu nome estampado nas capas de revista. Para o músico e guitarrista da extinta banda RPM, Fernando Deluqui, sucesso é se descobrir feliz e completo com a vida que conquistou com a maturidade da vida. Sucesso para Fernando Deluqui é sua família e seus amigos. Sucesso para Deluqui foi ter passado pelo furação RPM, com altos e baixos e sobreviver a tudo isso de pé, honrado e pronto pra encarar uma nova fase. Conheça um pouco mais desse grande músico e uma grata pessoa.

Como você se descobriu guitarrista? Como foi seu início até chegar no RPM?
Com amigos tocando no Colégio São Luiz. Havia uma turma de músicos e fundamos um trio para tocar músicas de Jimi Hendrix e Johnny Winter. Mas lá eu ainda tocava o contra baixo elétrico. Com o tempo pude comprar uma Fender Stratocaster que é o modelo pelo qual me apaixonei e uso até hoje.
Proveta Negra. Esse nome tem a ver com as aulas de química do ginásio?
Sim, era o nome de uma pré-banda…rs…era mais uma tiração de sarro que fiz para um festival do mesmo colégio. Fomos expulsos do festival.
Qual cena foi inesquecível (positivamente) da época do RPM?
Há os mega show da Praça da Apoteose e Estádio do Palmeiras em São Paulo. Há outras imagens mas não sei o que aconteceu a onde, pois foram muitos momentos passados em pouco tempo. Você não conecta o acontecimento ao lugar verdadeiro onde aconteceu.
RPM. Uma banda que chegou a ser comparada com os Beatles tamanho o sucesso no Brasil. Como foi ou é ter feito parte dessa história? O que ficou disso tudo?

Ficou um grande aprendizado e uma plataforma para o meu trabalho solo, pois sempre se lembram de mim no RPM.

Como você vê o rock brasileiro atual? Mais comercial? Mais comprometimento com lucro do que com a idéia de revolucionar algo?

O rock, como outros estilos, vai evoluindo e criando novas ondas que seguem estéticas e maneirismos próprios. Acho que as novas bandas hap, emo ou sei lá o que, estão evoluindo e começando a apresentar bons frutos. Escutei uma boa música do NX Zero, conheci a rapaziada do Strike de quem eu gostava anteriormente e vi uma entrevista com a banda Restart que achei interessante. Creio que com trabalho vão crescer…
Nasi, Schiavon e Paulo Ricardo, quem são eles na sua vida?
O Nasi nunca mais vi, o Paulo Ricardo e Luiz Schiavon estão sempre na minha vida. É como uma ex mulher mãe de seus filhos. Quer queira ou não você vai ter um relacionamento até o fim da vida….rs…

 

Surf e música, qual o melhor de cada um?
O bem estar que os dois trazem, isso sem contar a grana do segundo…rs…

Eu estava lendo um texto que dizia que ser homem implica na capacidade de se reinventar, por determinação própria ou do destino. Como foi pra você o recomeçar?
Foi acontecendo tudo junto pois as contas não param. Quando a banda acabou fui para frente e aprendi a cantar rapidamente. Logo estava fazendo shows com repertório de Chuck Berry, The Rolling Stones e Jimi Hendrix. Essa coisa do rock´n roll. Depois me exilei num estúdio em Sampa para gravar o que seria o meu primeiro CD individual. Depois, para apresentar ao vivo esse CD foi muito difícil… percebi que o povo gosta mesmo é de músicas conhecidas. Acabei me especializando em reinventar clássicos do pop rock de Raul Seixas (toca Raul), Legião Urbana, Kiko Zambianchi e outros que estão à disposição em DOWNLOAD no site www.fernandodeluqui.com.br.

Rock, ondas, fãs, viagens como é viver isso tudo no auge da juventude?
É o sonho da tríade “sexo, drogas e rock´n roll” se realizando. Depois com o tempo você percebe que essa tríade não é perfeita… rs… Eu diria que o bem estar é o caminho para a felicidade.

Quem é Virgínia Carvalho para Fernando Deluqui?
A Vi, minha mulher, é um doce. Me colocou nos eixos da vida agradável. Quando a conheci eu estava buscando uma estabilidade da qual o tal bem estar de que estou falando fazia parte e ela me ensinou isso. Foi um redirecionamento que tornou minha vida muito, mas muito mais produtiva. Tudo em termos de gerenciamento de carreira, financeiro e documentos eu aprendi com ela. A mulher é dura nas contas pois é filha de seu Geraldo Carvalho que foi fiscal de rendas da Fazenda.  Não tente enganá-la em contratos…rs

Roqueiro faz mesmo muito sucesso entre a mulherada?

É como jogador de futebol ou qualquer outra pessoa que tenha alguma visibilidade… Tem mulher que não se agüenta na frente de famoso… é descarado mesmo…parece que se encostar no famoso vai ficar famosa também…rs…Se der então… rs
Como foi a experiência de tocar com os engenheiros?
Também foi muito agitado pois o CD “Simples de Coração” foi um sucesso e saímos em turnê pelo Brasil por mais de um ano. Além disso a banda estava em reformulação e as disputas por espaço dentro da mesma geraram episódios memoráveis. Mas eu estava cansando daquele modus operandi competitivo e logo, em 1996, abandonei o projeto para tentar conquistar minha liberdade através de uma banda própria. Deu certo.

Música nova, banda própria… como está a vida e a carreira hoje?

Acabo de lançar meu novo single “Eu só te quero do meu lado” que acaba de entrar no FM (Mitsubishi FM e 107,3 FM) em São Paulo. É o início de uma parceria com Ray Z, um dos responsáveis pelo atual pop e rock gaúcho, tendo emplacado nas rádios de lá os últimos singles das bandas Bidê ou Balde e Nenhum de Nós. Todo mundo está gostando e quem quiser escutar é só acessar www.fernandodeluqui.com.br. A banda própria que é conhecida pelo meu nome mesmo (o show é anunciado assim: SHOW COM FERNANDO DELUQUI, GUITARRISTA DA BANDA RPM) vai bem obrigado.
Estamos tocando quase toda semana, com shows cheios e receptividade invariavelmente boa. Esse ano de 2010 foi o melhor para nós com a melhor média no que diz respeito ao número de shows. Misturo os sucessos da minha carreira solo (escute no www.fernandodeluqui.com.br) às inspiradas releituras do pop e do rock que faço com tanto carinho. Quem vai ao show percebe na hora que está assistindo uma apresentação bem cuidada. No dia 3 de dezembro faço show em São Paulo no Acústica SP (http://www.acusticasp.com/) que é uma casa muito bacana. Esse show promete pois estou num momento bom graças a todo o trabalho que agora vem sendo reconhecido. Também estou chamando meus amigos dos anos 80 e músicos da nova geração para tornar o show do dia 3 de dezembro mais rico.
Passado o furacão RPM, as desavenças, agora no comando da sua carreira, discos gravados e sua vida nos trilhos como sempre desejou… Agora você se sente feliz, realizado? Ainda falta algo?
Parece que sempre falta algo se você não se policia nesse sentido. Eu tento ser feliz com o que tenho e viver cada dia como se fosse o último pois é isso mesmo que está acontecendo. Logo não estaremos mais aqui na terra. Mas estou com quase 50 anos de idade e sinto muita energia comigo. Energia para continuar tocando por muitos anos ainda. Enquanto eu tiver saúde e família por perto estarei bem.
Hoje, que valores você cultiva? Que qualidades você persegue? O que você quer do futuro?
Tento me relacionar com pessoas que me dão valor. Pessoas que gostam de mim como eu sou. Esse negócio de ir trabalhar e aguentar pití e conversa mole de gente autoritária não está com nada. Descobri que o stress é a principal causa de doenças graves com o câncer. Sei que tudo tem preço nessa vida, mas tento escolher caminhos que não vão me agredir. Caminhos dos quais não vou me arrepender de ter escolhido. Sempre que posso tento pegar as minhas ondinhas e aloçar com amigos e familiares que é o que me traz prazer. E a música sempre é bem vinda… rs…