Quem assiste Natascha Stransky em Terra e Paixão, pode imaginar de se tratar de uma estreante em novelas, mas Natascha já tem uma longa trajetória no audiovisual. Além de atriz, Natascha Stransky é assistente de produção executiva (“Faroeste Caboclo” e “Eduardo e Mônica”) e atuou na distribuição de filmes nas entressafras dos trabalhos de atuação, e aprendeu muito com isso. Estudou na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), onde entrou com 17 anos, e se formou em artes cênicas. Logo depois assumiu uma personagem em “Duas Caras”, também na Globo. E não parou mais. Fez inúmeras participações na TV, em diferentes emissoras. Neste ano ela ainda deve levar aos palcos a peça “O Abuso”, que apresenta cenas de relacionamento tóxico e que foi escrito por ela e pela colega Bela Rodrigues.
Além de atriz, você é produtora cultural e cursa psicologia. No que tudo se interliga? Comecei a atuar como produtora cultural em uma época em que não estavam aparecendo trabalhos como atriz. Meu primeiro filme por trás das câmeras foi “Faroeste Caboclo”. Resolvi fazer a faculdade de Psicologia exatamente por achar que se comunica bem com a atuação, entender da mente humana ajuda a pensar em personagens de uma forma mais ampla. Pra mim, tanto a produção quanto a psicologia caminham junto com minha carreira de atriz, já que temos sempre que estar nos reinventando, produzindo nossos próprios trabalhos. Além do que, entrar em um set e saber a função de cada pessoa ali ajuda muito para que a gente entenda o que está acontecendo como um todo.
O que surgiu primeiro em sua vida? Sou atriz desde que me entendo como Natascha. Da atriz surgiram outras possibilidades.
Como foi o convite para a novela? O convite para a novela surgiu como um grande presente pra mim. Eu estava tentando entender por onde seguir depois do falecimento da minha mãe, ela sempre foi e segue sendo meu amor maior e quando ela partiu desse plano, tive que colocar os pés no chão para que eu pudesse entender meus próximos passos. Conversei muito com Deus e um mês após sua partida, quando eu estava voltando da missa de um mês dela, o Fábio Zambroni (produtor de elenco da novela) me ligou fazendo o convite para a Sílvia. De todas as possibilidades que eu conseguia enxergar para um recomeço, essa, sem dúvida nenhuma era a que mais ressoava com o meu coração, não tinha como ter um recomeço mais bonito.
Como está sendo contracenar com grandes nomes da televisão brasileira, como Tony Ramos e Gloria Pires? Tá sendo a realização de um sonho. Minha avó tinha uma foto minha com o Tony Ramos na parede do quarto dela, do tamanho de um pôster. Não costumo tirar fotos com artistas, mas como minha avó era fã dele, pedi uma foto na estreia de uma peça em que ele também estava e dei de presente pra minha avó. Ela, por sua vez, ampliou e colou no quarto (risos). Quando começaram as preparações para a novela, eu estava muito nervosa com o fato de que Tony Ramos seria meu parceiro de trabalho. O legal nisso, é que tanto ele quanto a Glória (Pires) são tão humanos, tão entendedores de suas funções como artistas, que eles, além de servirem como grandes inspirações, conseguem deixar todos muito tranquilos com suas presenças.
Em algum momento da sua carreira como atriz, você pensou em desistir? Não só pensei como tentei desistir algumas vezes, mas a arte em mim sempre teve um efeito curador, ou seja, desistia, entrava de cabeça na equipe de produção em projetos, mas aí (risos), minha alma, depois de algum tempo começava a ficar triste e eu começava a procurar textos para encenar e com isso, vinha a necessidade de mais e mais e aí, eu voltava a procurar meu lugarzinho no mundo como atriz.
O que te fez seguir? Como falei na outra pergunta, pra mim, a arte salva e ficar sem ela (a atuação especificamente), me deixa triste, mal humorada e por isso, sempre corri de volta para a atuação.
Já vimos que sua personagem Silvia, gosta de uma fofoca. O que podemos esperar dela daqui pra frente? A Sílvia foi um grande presente pra mim. Uma novela escrita por Walcyr Carrasco, com uma equipe e elenco de estrelas, é um sonho que se realiza. Em um texto aberto como é o caso de uma novela, é muito difícil imaginar o que esperar de cada personagem, a não ser os que já vem com um desfecho definido, como foi o caso da Cândida (personagem a quem Susana Vieira deu voz lindamente, como de costume). Em uma novela, assim como na vida, as tramas vão sempre se modificando e não temos como saber como as personagens agirão conforme as situações forem se apresentando. Será que a Sílvia esconde algum segredo? Acho que só o Walcyr saberia responder.
Lemos que você passou por um relacionamento abusivo e que em seguida, idealizou e encenou uma peça teatral chamada ABUSO. Dessas duas experiências, o que ficou pra você? Quando consegui sair desse relacionamento abusivo, entrei de cabeça na pesquisa para a minha peça. Li muitos relatos, além de termos (a equipe da peça e eu) feito dezenas de entrevistas com o apoio do CEAM (Centro Especializado em Atendimento à Mulher) a mulheres vítimas de abusos. Nessas pesquisas, verifiquei um comportamento um pouco generalizado por parte dos abusadores, tentam manipular a vítima para que essas sempre acreditem estar erradas, tentam diminuir a vítima colocando-as em uma caixinha que não necessariamente condiz com a realidade, fazendo com que elas se sintam culpadas e ajam da forma que o(a) abusador(a) acha “certo”, além de tentar afastar a/o abusada(o) do seu ciclo de amizades. Depois da minha vivência e dessas pesquisas, fiquei mais atenta aos sinais e no primeiro deles, mesmo que me doa, me afasto completamente da relação. Em casos de relacionamentos abusivos, a vítima dificilmente consegue mudar a conduta do(a) abusador(a)já que essa conduta só será de fato mudada se o(a)abusador(a) assim quiser, assumindo sua responsabilidade e fazendo um movimento forte de cura. Além disso, tento, se me vejo em uma nova possível relação assim (seja uma relação romântica ou não), entender dentro de mim, quais as inseguranças e/ou crenças que me ligam a pessoas abusivas e me curar.
No momento você tá namorando? No momento estou solteira.
Quando chega o momento de você com você mesma, o que procura? Eu me dou muito bem com a minha solitude, gosto de sair sozinha e de ficar sozinha em casa. Me divirto bastante comigo, tomo um vinho, leio, vejo filmes, brinco com meu cachorro, cuido das minhas plantas, fico olhando pro teto… Procuro sempre por paz e autoconhecimento, acho inclusive que a paz está ligada diretamente ao autoconhecimento, tento cada vez mais me entender e me aceitar e acredito que isso me ajude a aceitar o outro também.
Você se considera uma mulher vaidosa? Sou vaidosa mas não exageradamente. Gosto de me sentir bem comigo, colocar uma roupa que se comunique com minha personalidade, o que não significa necessariamente estar o mais bonita que eu possa estar, mas não abro mão de me olhar no espelho e falar, “ok, gosto!”.
Quais os cuidados com a beleza que você não abre mão? Eu bebo muita água, passo protetor solar (com base), coloco sempre um blush e um rímel para sair, não abro mão de um perfume que se comunique com meu momento e faço terapia (risos), o que com certeza faz com que eu me sinta mais potente, inclusive em relação a minha aparência.
Para conquistar Natascha, basta… Ser sincero e não tentar me mudar. Tenho tatuado uma frase de Hilda Hilst “Tu não te moves de ti” e levo isso como um mantra. Acredito que para estarmos em um relacionamento, precisamos abrir mão de algumas coisas, mas existem “coisas” que fazem parte de quem a gente é, não é uma escolha. E quando encontramos pessoas que tentam nos mudar, o relacionamento (seja romântico ou não) começa a ficar pesado e penoso pra ambas as partes.
Fotos Priscila Nicheli
Styling Samantha Szczerb
Beleza Yago Maia
Assistente Lais Regia
Agradecimentos LSH Hotel Natascha usou Gutê, Nayane, Carmen Steffens e Silvio Cruz