Estava eu como de costume “caçando” novidades numa grande livraria no departamento de cd/dvd quando passo na frente da tv que fica passando alguns vídeos… rapidamente minha atenção se voltou para o que estava tocando naquele momento, as pessoas ao redor nem piscavam os olhos… a música era inebriante e as imagens enchiam os olhos de emoção diante de várias pessoas cantando músicas como “Stand By Me” e “One Love“. Mas o que era aquilo? Quem cantores tão diferente eram aqueles? Não sabia de nada, só sabia que eu tinha gostado e pelo balando da música e a emoção prontamente peguei o último cd/dvd do “Playing For Change” e corri pro caixa pra pagar.
“Playing For Change” é uma delícia de ouvir. É daquele tipo de música que te leva ao nirvana pela simplicidade. E acima de tudo, por tudo que está por trás desse encantador projeto criado pelo engenheiro de som Mark Johnson, que num determinado momento andava por uma estação de metrô nova-iorquina, a caminho do trabalho, quando viu – e ouviu – dois monges vestindo túnicas brancas, um deles tocando violão com cordas de nylon, e o outro cantando. Quem já viajou pros EUA, por exemplo, sabe o quanto é comum encontrar ótimo artistas de rua tocando em lugares como estação de metrô ou simplesmente numa calçada movimentada. Mark então percebeu que envolta uma pequena multidão de pessoa atentas estavam alí paradas extasiadas com a música, algumas chorando, outras rindo. Dez anos depois, Johnson lançou o CD/DVD “Playing for Change: Songs around the world” – um projeto, que une músicos de rua de diversos lugares do mundo, resultado da idéia que nasceu naquela estação, com os monges.
É emocionante ver pessoas tão diferentes, de pessoas tão diferentes unidos simplesmente pela música. São artistas de rua – negros e brancos, árabes e muçulmanos, violoncelistas europeus e percussionistas indígenas – em seus locais de origem interpretando hinos pop que falam de paz, tolerância, amor e apelos por um mundo melhor. Todas essas gravações renderam um documentário em 2003, “Playing for Change”, que mostrava músicos de três cidades americanas em ação. Mas, Johnson foi percebendo que o projeto poderia ser maior: “Poucos entendiam as letras ou mesmo a língua, mas todos sentiam o poder da música. Então percebi que uma boa parte da melhor música que eu ouvia se encontrava na rua.”
“Stand by me” abre o CD/DVD, e Ridley e seu violão são os primeiros a serem ouvidos. Mas a gravação ainda inclui, entre outros, a voz e a gaita do americano Grandpa Elliott, as congas do espanhol Django “Bambolino” Degen, o violoncelo do russo Dimitri Dolgonov, o coral sul-africano Sinamuva e o cavaquinho do brasileiro – o único brasileiro do projeto em meio aos mais de cem músicos participantes – Cesar Pope, que gravou nos Arcos da Lapa. “Encontramos Cesar Pope em Barcelona. Sua energia era tão positiva que nos tornamos amigos instantaneamente – conta. – Amamos música brasileira, e esse foi o primeiro passo para aprendermos mais sobre ela.”
O repertório que se ouve e vê – os clipes do DVD potencializam a força dos encontros, ao mostrar as diferentes roupas, feições e cenários dos artistas – em “Playing for change: Songs around the world” inclui canções como “One love“, “War” e “No more trouble” (as três de Bob Marley), “Talkin’ bout a revolution” (Tracy Chapman), “A change is gonna come” (Sam Cooke) e “Stand by me” (também de Cooke, sucesso com John Lennon). As letras que falam de revolução, mudança e pacifismo, aliadas ao discurso de Johnson, remetem a antigas utopias dos anos 1960/70 – hippies, flower power, “faça amor, não faça guerra” e similares. Tecnologia à parte – afinal, o projeto só é possível graças a ela -, a impressão que se tem é que, no conceito, “Playing for Change” pertence a uma época passada e não aos dias atuais, aparentemente mais cínicos e pragmáticos.
A Fundação Playing For Change tem como objetivo conectar o mundo através da música, providenciando um local, instrumentos, programas educacionais, entre outros, para músicos em diferentes partes do mundo, além de apoiar projetos inspirados nas comunidades apresentadas no documentário Playing For Change. A Fundação está construindo uma escola em Gugulethu na África do Sul, um gueto onde os jovens terão acesso a música, informação e tecnologia podendo assim transformar suas vidas através da música. Em Dharamsala na Índia e em Kathmandu no Nepal, a Fundação está reconstruindo os centros para refugiados Tibetanos. Em conjunto com o poeta sul africano Lesego Rampolokeng e Bobby Rodwell, a Fundação trabalha na construção do Mehlo Arts Center em Johannesburgo na África do Sul. O centro de artes será uma escola para futuros escritores da área de Johannesburgo e Soweto. A comunidade do The Playing For Change é formada por artistas e pessoas que resolveram unir-se através da música e assim tem a oportunidade de colaborar com pessoas da sua vizinhança e de outros pontos no mundo.
O projeto “Playing For Change”, foi lançado em abril de 2009. Mas como música e solidariedade nunca são demais e são atemporais, vamos fazer nossa parte em incentivar esse maravilhoso projeto. Qualquer informação em como contribuir é só acessar o site oficial do projeto e fundação: http://playingforchange.com/ e http://playingforchange.org/