CAPA: SÓ LOVE COM BUCHECHA

Donos de hits que colavam que nem chiclete, tais como “Só Love”, “Quero Te Encontrar” e “Nosso Sonho”, da inesquecível Claudinho & Buchecha que marcou uma fase de muita no final da década dos anos 1990 para início dos anos 2000. O que era o sonho de dois garotos do subúrbio se tornou uma doce realidade para muitos garotos que como eles sonhavam com o sucesso. Dos bailes da Furacão 2000 para as festas de todo o Brasil, só dava eles. Um pouco dessa trajetória de sucesso de dois amigos está sendo contada nas telonas com o filme Nosso Sonho. E para relembrar um pouco disso tudo, no início até hoje, a MENSCH conversou com Buchecha. E o resultado desse papo é uma gostosa (e nostálgica) matéria de capa que vocês podem conferir logo abaixo. Entrevista essa para ler ouvindo Claudinho & Buchecha.

Indo para o início como Claucirlei Jovêncio de Souza virou Buchecha? De onde veio o apelido que virou sua marca registrada? Ah! Olha, esse apelido de Buchecha, é um apelido de infância. Eu tinha alguns, Fofão, Donatello (tartaruga ninja), Bochechudo e Buchecha também tava ali inserido entre eles. Eu achei o menos pior – o Buchecha mesmo, aí ficou. Eu sempre fui muito bochechudo, só tinha bochecha mesmo, bochecha, cabeça e barriga. Aí ficou esse apelido, um apelido que eu defendo até hoje.

Para quem não conhece a história de vocês (ou não viu o filme ainda), como surgiu essa parceria entre você e Claudinho? A minha parceria com o Claudinho, musicalmente falando, iniciou-se em 1992. Ele inscreveu a gente num festival de rap no Mauá de São Gonçalo, um clube muito conhecido no Rio de Janeiro e lá, na região. E todo final de semana a Furacão 2000 fazia esses festivais. Esse festival tinha várias etapas – tinha a etapa do maior pezão. Aí, cada comunidade levava um representante com o pé grandão e o maior pé ganhava. Isso valia pontos para a comunidade, além do dinheiro. Tinha a etapa da menina mais bonita, aí tinha que levar uma representante da comunidade mais bonita, aquela coisa toda. Cada final de semana, tinha uma etapa e por último tinha a etapa do rap, onde ou um grupo ou uma dupla ou um cantor solo, representava sua comunidade. A gente foi representar a nossa comunidade do Salgueiro Força e Mutuapira e tiramos em primeiro lugar em 1992. Assim, começou a nossa trajetória profissional.

Ou seja, a dupla se iniciou em 1992 no baile da Furacão, mas a gente não teve êxito. Ganhamos, mas não tivemos êxito com a Furacão que não assinou nada com a gente e aí não tocou a música. Aí 1995, a equipe Duda’s fez um outro festival e aí a gente fez o rap do Salgueiro – eu inscrevi o Rap do Salgueiro, aí ganhamos de novo. Nessa época, eu tava trabalhando de Office-boy. Ganhamos  de novo e, aí sim, a carreira começou a deslanchar, a gente começou a fazer show, começou a pintar uma grana legal. Eu acabei largando o meu trabalho pra viver só da música, a partir de 1995. Foi assim!

E como é rever tudo isso retratado no filme? Pois é, essa pergunta é curiosa porque a gente tem uma música chamada Coisa de Cinema que a gente fala isso no refrão “Nossa história vai virar cinema e a gente vai passar em Hollywood”. A gente passou em Hollywood através do filme, gravamos o clipe lá também. Então, já tínhamos ido a Hollywood e a história da gente virou cinema de fato. Uma das profecias de tantas que a gente já falou,  essa se cumpriu também. Agora ver a nossa história toda retratada num filme, numa cinebiografia é muito legal. Eu acho que tem tantos outros artistas maravilhosos e tão maiores que nós e que ainda não tiveram a oportunidade dessa homenagem e nós já tivemos.  E foi uma carreira tão curta. Se você olhar bem, de 1992 até 2002 quando ele nos deixou, quando houve o acidente, é uma carreira curta, relativamente. No entanto, a gente conseguiu um legado maravilhoso, estrondoso, para a história da nossa música. Eu vejo com muita gratidão, muita satisfação, eu tô vivendo um ano mágico, muito feliz, a falta que faz, ele não está aqui. Ele merecia estar aqui, porque como eu falei, foi ele quem iniciou, ele que projetou essa coisa, por mais que as músicas sejam minhas. A maioria das músicas são minhas. As primeiras quatro músicas eu coloquei o nome dele, ele não compôs, mas deve ter umas duas ou três, de fato, que ele compôs, entre elas A Deusa negra e Meu Compromisso, que é uma música que ele realmente iniciou. Enfim, eu acho que ele tem uma importância muito grande, porque foi ele que começou essa ideia de inscrever a gente no festival. Ele já via essa minha veia artística, essa questão de compor e tal. Então, ele merecia estar aí, ele merecia.

O que mais lhe tocou ao longo da produção do filme? O que mais lhe marcou? Pois é. Eu tava muito curioso para assistir às cenas do filme porque não acompanhei as gravações. Eu só fui no último set de gravação, mas não tinha nada, era só um baile, não tinha nenhuma cena, não tinha os atores atuando, foi só apenas um baile. E eu tava muito curioso para assistir, mas tava muito tenso, porque eu não sabia o teor do filme, eu não sabia o que eles iriam contar, como iriam contar as coisas, né?! Mas o filme é lindo, lindo, lindo, lindo… As pessoas saíram chorando na pré-estreia, todo mundo ficou impactado, eu chorei muito também. Eu acho que eles foram (o pessoal da Urca Filmes, da produtora) foram muito bem-aventurados em retratar dessa forma, porque eles captaram de mim algumas falas, captaram da família, dos familiares do Claudinho também algumas outras falas, falando sobre ele, é claro. Eu falei mais sobre mim e sobre a minha visão sobre o Claudinho – do que ele representava para mim. Eu acho que o pessoal da produtora captou isso de uma maneira muito boa e retrataram isso de uma forma melhor ainda. Acho que fidedignamente como o Claudinho merecia ser retratado, como um anjo.

Como a música surgiu na sua vida? Alguma influência ou referência musical? A música já tava inserida na minha vida desde criança, né, desde garotinho. Eu nunca imaginei que eu ia, um dia, me tornar um profissional da música, mas a música já tava lá. Meu pai era compositor de samba, de algumas escolas de samba. Então,  acho que eu herdei isso dele, né?! Na verdade, ele já havia feito algum sucesso entre os seus – seus amigos, seus grupos, porque ele era compositor. Então, acho que isso tava na minha veia, mas não era nada profissional. Quando a gente foi participar da primeira vez no Mauá de São Gonçalo, no festival e já ganhamos, aí aquilo ficou muito mais forte para mim, de que de fato a gente havia nascido para brilhar e para viver da música. Tanto é que meus filhos seguem essa trilha também. A minha filha é dubladora, é atriz, é cantora. O meu filho, primogênito, CeeJay também é cantor, dublador, ator, toca instrumentos musicais. Então,  acho que isso é da família mesmo, todo mundo – meus irmãos cantam também. Acho que a família herdou isso do “velho” lá, do meu pai. Meu pai, velho Souza, Claudino Souza.

Músicas como  Só Love, Nosso Sonho e Quero te encontrar viraram hit e até hoje estão na memória das pessoas. Qual ou quais as mais marcantes para vocês? E por que? Ih! Aí você mexeu no formigueiro. É muito difícil perguntar para qualquer cantor ou compositor qual é a música mais importante da sua vida porque todas elas têm a sua importância no seu devido momento. Eu penso assim, é como um filho, todos eles têm a sua importância no seu devido momento, no seu devido lugar e para um pai, para uma mãe filho nenhum tem mais amor do que o outro. Você  empenha mais amor em um do que no outro. Você  dá o mesmo tipo de amor, o mesmo tipo de atenção. A exceção é quando está no seu momento especial, né? Quando tá pequenininho, por exemplo, o maiorzinho vai ficando um pouquinho mais de lado e aí você tem que dar atenção para aquele que é menorzinho, que ainda não sabe se virar e é normal, né?! Então, acho que é isso. Acho  que a relação com cada música, tem o momento, de você dar a sua atenção, de você considerar mais importante, mas eu não consigo enxergar uma mais importante que a outra. Por exemplo, Carrossel de Emoções era a música da dupla porque era a música que a gente mais ouvia na van, mais ouvia nos ônibus, nas viagens que a gente fazia e porque a gente sempre falava que era uma música que trazia paz para a gente, mas não é a música mais importante, né?! Repito, todas elas têm a sua importância no seu devido momento.

Vocês esperavam chegar tão longe naquela época? Bom, sinceramente eu não esperava chegar tão longe na carreira e eu acredito que o Claudinho também não porque, ele mais do que eu até, levava muito na brincadeira. Eu me lembro várias vezes que a gente chegava lá, na hora do show, a gente fazia 15 shows, 14 shows por noite, porque a gente cantava um show menor, fazia um show muito reduzido e havia muitos bailes no Rio de Janeiro. Eu lembro que a gente fazia Pavão, Pavãozinho e Galo, depois ia pra Rocinha, da Rocinha ia pro Vidigal, do Vidigal. Às vezes, ia pro Cerro Corá e assim a gente ia rodando. Então, era um lugar perto do outro. Tinha muitos bailes dentro das comunidades. Então,  a gente fazia inúmeros bailes e a gente saía de casa às vezes de tardinha ou anoitecendo e eu lembro que, várias vezes, eu ia lá com a van pra buscar o Claudinho no campo de futebol – ele tava jogando bola. Então,  ele também levava muito como uma brincadeira e eu também. Acredito que nem eu, nem ele, imaginávamos chegar tão longe na carreira. Eu acho que a carreira da gente foi uma carreira meteórica, mas de muito sucesso sim. Eu acho que a gente chegou no patamar, sem desmerecer os demais, claro. Sempre acho que a gente chegou num patamar muito além do que a maioria dos funkeiros imaginavam também. Eu acho que nem eles projetavam uma carreira assim para eles e nunca imaginaram que alguém do funk iria chegar tão longe, sabe? Nem a gente, nem a gente. Porque eu acho que todas as duplas de funk na época, eram muito parelhas. Eram muito semelhantes, inclusive Claudinho e Buchecha e foi uma surpresa para a gente, uma agradável surpresa. Eu sou muito grato a Deus por isso e grato aos fãs.

Acredita que esse sucesso fosse possível hoje em dia? Como você enxerga o cenário musical de hoje em relação ao da época de vocês? Ah é difícil falar como que seria hoje. Se a gente tivesse iniciando hoje com aquele tipo de trabalho, daquela forma, talvez, a gente alcançasse algum sucesso, não sei se desse tamanho, dessa proporção, mas é difícil falar de qualquer forma porque a gente está falando de um futuro que já é presente e de algum momento a gente também acha, algumas pessoas acham que Claudinho e Buchecha estavam muito à frente do seu tempo naquela época. Então, como fazer uma projeção dessa forma, né? É difícil. Acredito que pelas dancinhas a gente se tornaria atual porque a gente vê tem Tik Tok hoje, tem vários streamings hoje que conversam, que dialogam com “música + dancinha”. Então, isso a gente já tinha no nosso trabalho, ao longo da nossa carreira. Músicas repetitivas, com refrãos fáceis de cantar, isso também a gente já tinha e aí eu não sei. Talvez, a gente era moderno, ao mesmo tempo também a gente tem um Q de nostalgia, enfim… É difícil fazer uma projeção dessa forma, mas eu acredito que sim, que talvez a gente conseguisse algum sucesso se tivéssemos iniciando e projetando uma carreira na era atual.

E quem é Buchecha hoje em dia aos 48 anos? Ainda guarda o mulecão daquela época? Ah cara, eu sou um cara maduro, na verdade eu sempre fui um “jovem velho”, que era o apelido que o Claudinho me chamava, porque naquela época eu já era meio querer cumprir o horário, tudo certinho, de querer fazer as coisas tudo certinho. Eu continuo dessa forma, mas um pouco mais relaxado, um pouco mais compreendido ou compreendendo que a vida passa. Então,  eu não acho que a gente precisa levar tudo no 8 ou no 80. Então,  eu sou um cara mais tranquilo hoje, mais maduro, mas eu continuo mantendo aquele garoto puro, aquele “mulecão”, sem maldade no coração, procurando sempre manter os mesmos valores que a minha mãe me ensinou e que eu aprendi ao longo da vida – levar a vida com alegria e com verdade, sem pisar em ninguém. Eu acredito que sim, que eu mantenho aquele mulecão vivo dentro de mim.

O filme está fazendo tanto sucesso que é o maior sucesso nacional nos cinemas neste ano. Esperava uma aceitação tão grande? Essa é mais uma surpresa que a gente tá tendo, que eu tô tendo. Não imaginei que o filme fosse fazer tanto sucesso, ia emocionar tantas vidas, impactar tantas vidas, mas é a verdade de Claudinho e Buchecha – o que aconteceu com a gente como dupla e tem acontecido também na minha carreira solo. O filme retrata um pouco disso. Eu tô muito feliz, tô muito feliz, não esperava mesmo esse sucesso. É a maior bilheteria do cinema nacional neste ano. A gente tá vivendo um ano difícil também né, financeiramente falando, socialmente falando, e no entanto, a gente conseguiu levar muitas pessoas. Eu tô falando isso, tô afirmando isso porque eu recebo muitas DMS. Eu até postei algumas no stories, de pessoas que já tinham perdido o hábito de ir para o cinema e agora voltaram por causa do filme, para dar uma força, prestar uma homenagem, um carinho para a dupla e estão voltando… Pessoas que estavam 20 anos, 5 anos, 7 anos, 10 anos sem ir numa sala de cinema, voltaram a frequentar. Então, acho que Nosso Sonho, de fato, tá impactando muitas vidas e fazendo muita gente sonhar junto com a dupla e isso é muito legal. Tô feliz!

O que te diverte e inspira? Meu Deus, tanta coisa… Eu gosto de música, eu gosto de futebol, inclusive o Claudinho também. Eu tô respondendo por mim, mas tô quase respondendo por ele porque a gente era meio como uma alma gêmea, sabe?! Comida… Ô churrasco, futebol, música, família… ah! Todas essas coisas. Eu sou um cara muito simples. Eu não sou muito de sair, eu gosto muito de ficar em casa com a família. Quando eu não tô trabalhando, né?! É claro que quando eu tô trabalhando, cantar, subir ao palco, interagir com o público é a coisa que eu mais gosto. Mas, quando eu não tô trabalhando, a coisa que mais me alegra é ficar em casa, assistindo filme, séries, comendo uma pipoca com a família ou então fazendo um churrasco, ouvindo música e junto dos meus, acho que é isso.

Foto @marciofariasfoto 

Beleza @daianneemartins 

Styling @rg_barros 

Produção  @thekevin____

Vídeo @euandreivo