Na mitologia grega as grandes deusas sempre povoaram nosso imaginário, fosse por sua força, fosse por sua beleza. Na vida real grandes mulheres nos encantam, grandes mulheres livres e seguras de quem são e do que querem transformam o seu redor. No nossa estrela não é diferente. No momento, atuando como a protagonista, Vênus da novela das 19h, Rede Globo, Nathalia Dill nos arrebatou de vez. Indo para o início, Nathalia começou a se tornar mais conhecida quando entrou para o elenco de Malhação, em 2007, nessa mesma emissora. De lá para cá, ela tem conquistado a audiência com os mais diversos personagens ao longo dessa carreira que já soma 17 anos. Antes de estrear na TV, Nathalia já tinha atuado no teatro e participado de filmes de grande impacto, como Tropa de Elite. Nessa trajetória, a atriz tem enfrentado os mais impactantes desafios, incluindo aqui papéis duplos – até mesmo triplo, o que para ela representa oportunidades de reflexão sobre os mais diversos temas de nossa vida quotidiana. Na entrevista a seguir, Nathalia compartilha conosco seu pensamento sobre aquilo que de fato é importante em sua vida, também falando de momentos importantes de sua carreira como atriz.
Nathalia sua estreia como atriz aconteceu nos palcos com uma obra baseada em Nelson Rodrigues. Isso significou muito para você? Como é recordar esse momento? É verdade, minha primeira peça se chama Glória, que era um compilado de cenas de peças de Nelson Rodrigues. Eu fazia o curso do Daniel Hertz e ele tem um estudo muito profundo sobre o Nelson e fizemos essa peça e outras. Então, eu fiz um estudo muito profundo. Eu gosto muito do Nelson, ele é um recorte muito profundo e bruto da sociedade, toca em pontos muito polêmicos e duros de se encarar, ele tem uma verdade muito nua e crua. Também fiz uma assistência de direção pro Michel Bercovith em O Beijo no Asfalto, tenho uma história e um estudo longo com o Nelson.
Já na TV, seu primeiro grande destaque foi na 15ª temporada de Malhação, em 2007. De lá pra cá, você não parou mais. Como avalia sua trajetória até aqui? Antes de entrar na TV eu já tinha feito algumas coisas, estava cursando direção teatral, fiz umas participações no audiovisual em alguns filmes, como o Tropa de Elite, e me sinto muito feliz e honrada com a minha trajetória. Ela é muito plural, é uma trajetória que tem um diálogo muito profundo com o publico brasileiro. A novela tem um alcance muito grande, fico muito feliz com a minha trajetória e com a pluralidade de personagens.
Entre mocinhas e vilãs, mais mocinhas diga-se de passagem, quais foram mais marcantes e inesquecíveis para você? Eu fiz trabalhos muito diversos. Então, se for contabilizar, acho que está bem equilibrado. Tem personagens duplos que também são muito interessantes. A Doralice, por exemplo, era uma heroína e se transformava em uma cangaceira, em Rock History, quando fiz as gêmeas. Em Escrito nas Estrelas, também teve a Viviane que se disfarçava de Vitória e tinha uns flashbacks de outra vida. Então, teve esses personagens duplos e até triplos. Gosto muito da Branca, de Liberdade Liberdade, que tinha uma vilania cômica, da Fabiana de A Dona do Pedaço, que tinha um bordão e eu nunca tinha feito uma personagem com bordão. Tenho um carinho por toda minha trajetória. Acho que eu teria vontade de reviver todos os personagens.
Você é aquela que se apega à personagem ou rapidamente parte para outra, de boa? Deixa ou leva algo delas pra vida? Os personagens não deixam de ser um pedaço da gente – o ator coloca um pouco da essência dele e mistura com a essência do personagem. Inevitavelmente, reflexões e temas e a energia do personagem influenciam no nosso dia a dia, inclusive, a estética. Constantemente, a gente muda o cabelo para o personagem e isso afeta a nossa aparência na vida pessoal, na maneira como a gente se veste – as coisas vão se afetando mutuamente, mas existe, sim, um tempo para se desenlaçar do personagem.
E como Vênus Mancini chegou até você? Ela é a mais centrada dos irmãos, mas é bem divertida também. A Venus é a continuidade de uma parceria da qual eu gosto muito, tanto com o Fred quanto com o Daniel Ortiz. Já é meu terceiro projeto com o Fred e o segundo com o Daniel. Tenho um carinho muito grande e eles conseguem se conectar com um range muito grande de pública, de faixa etária, de classe social, de região. Eles dialogam realmente com a grande parte do nosso país, que é um país continental. Essa característica que eles têm, pra mim, é a essência das telenovelas brasileiras, que é se conectar com a nossa pluralidade, na nossa diversidade.
Esse trabalho atual em Família é Tudo, é sua volta às novelas depois da maternidade. Como foi para você encarar essa volta à rotina de gravação? Na verdade, não é a minha volta. Eu voltei a trabalhar em 2022, no teatro. Até achei que seria mais leve, mas não foi. Foi super intenso, fiquei em cartaz no Rio, quatro dias por semana, de quinta a domingo, o que é raríssimo. Depois, a gente viajou, fiz uma temporada longa em São Paulo e mais uma turnê. Então, foi uma rotina bem pesada e complexa para eu me adaptar com a nova rotina. Em 2023, eu ainda gravei uma série – Guerreiros do Sol, que não foi ao ar ainda. Foi uma rotina diferente, um pouco mais leve, gravava um pouco menos, no Rio. Então, acho que já estava mais preparada quando chegou Família é Tudo – uma protagonista, grava muito. Nossa família já estava mais preparada, adaptada para essa volta ao trabalho, que tem essa característica de horários muito diferentes, fora do padrão. Esse é que é o grande desafio, entender essa rotina fora do padrão com uma família agora nova, com criança e que precisa de uma rotina. Mas, conforme ela for crescendo, vai ficando mais palatável.
Já que família é tudo, como é a Nathalia como mãe? É bem complexo definir como sou eu mãe, mas eu acho que é um conjunto de todos os clichês, na atualidade que a gente vive. Não sei se consigo me definir, mas com certeza faço coro com muitos clichês em um lugar muito comum da maternidade.
Você é muito ligada à família? Quais ensinamentos você levou pra sua vida e tem levado para sua filha? Eu acredito que a maior parte das coisas se resolve com conversa – falar e reconhecer o que deu errado e o que deu certo. Então, a gente sempre tenta deixar a conexão aberta, pra gente falar e ela se sentir validada também. O respeito e o amor estão sempre no primeiro plano.
Mesmo afastada da TV, você ficou muito ativa nas redes sociais. O quanto hoje, o ator, deve depender disso, até porque o número de seguidores não se traduz em talento. As redes sociais têm seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom, é termos um diálogo mais direto com o público, conseguir se colocar, colocar suas ideias, seus pensamentos. É mais direto e conseguimos ter essa conexão mais transparente. A parte difícil, é que ela se tornou uma outra coisa, uma moeda de troca, virou uma importância e um parâmetro. Ainda está confuso para as pessoas entenderem. Eu tenho as redes como forma de me colocar e colocar meus pensamentos e de trabalhar ali também, mas é bem complexo quando ela vira o balizador. Tem que ser um braço, como outro qualquer (outras profissões também estão usando), mas o perigo é quando vira um balizador mesmo.
Como separar o que é público do que é privado? Hoje em dia, o público e o privado estão bem entrelaçados. Na minha rede social tem o meu trabalho, mas também tem a minha vida. Esse é meu grande desafio na verdade – respeitar o meu privado e ao mesmo tempo ser uma pessoa pública. Ainda me questiono muito sobre isso – posso não ter uma resposta fechada ainda. A minha medida é o quanto a exposição afeta as pessoas que estão a minha volta. O que eu faço no público e como isso vai afetar as pessoas que estão a minha volta. O que eu falo no público que vai expor quem está a minha volta. Acho que essa é a minha medida.
Quais as suas grandes vaidades como atriz e mulher? Talvez a minha grande vaidade seja tentar trabalhar a minha vaidade (risos). Para que a minha vaidade não passe à frente, não ultrapasse o personagem. Fazer com que minha vaidade permita que o personagem venha da forma mais pura e crua.
Falando em vaidade e redes sociais, existe uma grande campanha nas redes contra o corpo, dito perfeito, para as mulheres e muitas se baseiam no que vêem nas redes sociais. Como você vê isso? Acho que esse é um grande avanço, quando as pessoas começam a respeitar, admirar e enaltecer os seus próprios corpos, os corpos reais, de pessoas reais. Ninguém tem um corpo de photoshop, todo mundo tem um corpo real. Então, acho um grande avanço conseguirmos tratar isso de forma natural. Ver na tela, no filme, na revista e na rede social, algo que está mais perto do real. Isso ajuda muito na auto aceitação.
O mercado do audiovisual hoje em dia é bem mais diverso e muitos artistas nem precisam mais estar na TV, em uma novela, para conquistar grandes projetos. Ao mesmo tempo, os longos contratos são cada vez mais raros. Percebe esse mercado mais democrático? Ou dá um frio maior na barriga não ter longos contratos? O mercado está mais democrático, a Internet também é muito democrática. É importante conseguirmos sair desses grandes polos, do eixo Rio-São Paulo. O Brasil é muito grande, é um pais continental. A Internet permite essa democracia da pluralidade de temas, de gente, de artistas. Isso é muito bom.
A proximidade dos 40 te deixa mais cuidadosa com o corpo ou reflexiva como que é Nathalia de agora? Ou as duas coisas andam juntas? Quanto mais o tempo passa, mais eu vejo necessidade de me cuidar. Sempre busquei um autocuidado, um cuidado com o corpo, mas o exercício é uma coisa difícil pra mim, não tenho esse prazer. Então, pra mim é sempre quase como um remédio. Mas é algo que faço há muito tempo, não tem uma virada de chave de agora. Eu gostaria que os exercícios fossem mais prazerosos para mim do que eles realmente são. Tem coisas que eu até gosto de fazer, mas rapidamente penso em desistir. Desistir da ideia de me exercitar é muito mais fácil do que uma urgência de me exercitar. Mas há muito tempo eu entendo essa necessidade e cuido do meu corpo.
O que faz sua cabeça na hora de relaxar? Pra relaxar, eu gosto de estar em contato com a natureza, praia. Geralmente, o contato com a natureza me relaxa muito, me conecto muito. São os momentos em que eu realmente consigo relaxar mais profundamente.
Quem é Nathalia hoje e o que deseja para o futuro? Que a arte no Brasil seja mais valorizada.
FOTO LÚCIO LUNA
STYLING MARCO ANTÔNIO FERRAZ E ALINE SANSON
BEAUTY CAROL RIBEIRO MAKE
VÍDEO ANDRÉ IVO
Nathalia veste vestido vermelho Adriano Martins Estilista, casaco de pele fake Zara
Assista o making ok do ensaio de Nathalia Dill para a MENSCH: