ENTREVISTA: ALEXANDRE HERCHCOVITCH: OLHOS À FRENTE DO TEMPO

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ESTILISTA BRASILEIRO FALA SOBRE SEU MOMENTO DA CARREIRA, SUAS REFERÊNCIAS DE ESTILO E NO QUE ACREDITA PARA O FUTURO DA MODA EM ENTREVISTA EXCLUSIVA.

Por Ivan Reis

Um dos maiores e representativos nomes da moda brasileira está comemorando 30 anos de carreira neste ano. Com criações e itens de acervo expostos em uma mostra inédita no Museu Judaico em São Paulo e protagonizando um documentário em que revela os bastidores de um de seus desfiles mais aguardados, Alexandre Herchcovitch mostra que entende os caminhos que trilhou e segue seu radar criativo e surpreendente. Abrindo a 54ª edição da Casa de Criadores, Alexandre Herchcovitch marcou presença com peças sóbrias, em produções que enfatizavam o corte, o caimento e as proporções de uma alfaiataria sofisticada na companhia de acessórios marcantes. Em conversa à MENSCH, o designer brasileiro fala sobre o que pensa acerca da evolução da moda masculina desde o início da carreira e ainda revela suas apostas para os próximos tempos de criação. Confira!

Depois da venda da Herchcovitch; Alexandre, você ficou afastado da direção criativa da marca por um período. Como foi a sensação de voltar a assinar o seu nome nas criações? A sensação de voltar a assinar minhas criações foi extremamente gratificante, e foi uma decisão amadurecida com o tempo. A possibilidade de recomeçar trouxe uma mistura de nostalgia e renovação. Estamos também em um novo cenário da moda brasileira, podendo manter a identidade do que eu construí e ter a liberdade para novas criações. 

Em seu desfile de retorno, você selecionou e expôs algumas peças que marcaram o auge da sua marca, como os desfiles da São Paulo Fashion Week. A nostalgia faz parte da sua visão criativa ou você acredita que a moda tem os olhos no futuro? A nostalgia definitivamente faz parte da minha visão criativa, mas sempre com um olhar no futuro. No meu desfile de retorno, quis homenagear minhas criações passadas, mas também mostrar como podem ser reinterpretadas para os tempos atuais. A moda é cíclica, e acredito que é possível equilibrar o respeito pelo passado com a inovação necessária para o futuro.

No documentário Herchcovitch; Exposto, você declarou que o cantor Boy George foi uma inspiração muito significativa na sua trajetória. Nos dias de hoje, quem poderia ser uma referência de estilo? Boy George sempre será uma grande inspiração para mim devido a sua coragem e autenticidade. Atualmente, vejo referências de estilo em figuras que continuam a desafiar normas e a inspirar com sua individualidade, como Harry Styles e Billy Porter. Eles trazem uma mistura de ousadia e elegância que ressoam muito com a minha visão de moda.

Ao longo da sua experiência de 30 anos de carreira em design e estilo, quais são as principais transformações que você observa na moda masculina? A moda masculina passou por transformações significativas, especialmente em termos de aceitação e expressão de identidade. Hoje, há uma maior liberdade para experimentar com estilos, cores e silhuetas que antes eram considerados não convencionais para homens. Essa evolução reflete uma mudança cultural mais ampla em direção à inclusão e à diversidade e isso sempre esteve presente nas minhas criações.

Em várias coleções, você inovou em peças de alfaiataria, como calças, paletós e peças mais sóbrias. Com o tempo, o streetwear ganhou espaço em suas criações. Como os dois estilos se complementam hoje? A alfaiataria e o streetwear se complementam perfeitamente porque ambos podem coexistir e se enriquecer mutuamente. A alfaiataria traz estrutura e sofisticação, enquanto o streetwear adiciona um elemento de conforto e irreverência. Essa combinação permite criar peças que são tanto elegantes quanto acessíveis, refletindo a vida moderna e as necessidades dos consumidores.

O upcycling também é uma realidade na sua concepção criativa, como na À la Garçonne. Você acredita que o reaproveitamento de matéria-prima é um caminho possível para a moda? Absolutamente. O upcycling é uma abordagem crucial para a sustentabilidade na moda. Reutilizar e reaproveitar materiais não só reduz o desperdício, mas também desafia os designers a serem mais criativos. Na À la Garçonne, exploramos muito essa prática junto do diretor criativo Fábio Souza, e acredito que ela será cada vez mais importante no futuro da moda.

No que você acredita para o futuro da moda? O futuro da moda está na sustentabilidade e na inovação. As marcas precisarão ser mais responsáveis com o meio ambiente e ao mesmo tempo continuar a surpreender e a encantar os consumidores com novas ideias e tecnologias. Vejo um futuro em que a moda é mais inclusiva, diversificada e conscientemente criativa.