ARTE: EDUARDO KOBRA ENTRE CORES E TRAÇOS QUE EMOCIONAM PESSOAS AO REDOR DO MUNDO

Com um estilo marcante que já virou sua marca registrada, o paulista Carlos Eduardo Fernandes Leo, mais conhecido como Kobra, desde de criança onde seus desenhos nos cadernos já davam sinais que seu lado artístico ainda iria transformar sua vida definitivamente. Inquieto e sempre precisando de mais espaço para expor sua arte, descobriu em muros e prédios sua tela ideal para se expressar. O que muitos viam como grafitagem de rua, o mundo descobriu como uma nova forma de expressão da chamada street art. Conversamos com o Kobra, para conhecer e entender um pouco desse processo todo até ganhar o mundo.

Você, e tantos outros artistas, já despontavam talento na infância e por vezes foram incompreendidos por não seguirem a cartilha convencional da escola, como desenhar no caderno ao invés de fazer as tarefas (risos). O que deveria mudar nas escolas para que artistas como você pudessem ser estimulados desde cedo e dentro da própria sala de aula? Acredito que isso ocorre devido a tendência a padronizar tudo. Por um lado isso pode ser positivo, porque mantem tudo como sempre foi, mas se observarmos o outro lado, perdemos ou não valorizamos adequadamente muitos talentos, que passam desapercebidos. Acho complicado colocar todas as pessoas dentro do mesmo pacote, e nos obrigar a fazer exatamente como manda o roteiro, algumas pessoas são realmente diferentes, e criar mecanismos para identificar essas diferenças nos dias atuais e fundamental, muitos talentos e dons, aparecem justamente enquanto somos crianças.

Kobra, vem da expressão “fulano é cobra nisso”, ou seja, é muito bom. É isso mesmo? Comecei a desenhar antes mesmo da pichação, isso já aos 8 anos de idade creio, e isso foi muito diferente entre meus amigos, que se dedicavam a fazer algumas atividades que não me despertavam muito interesse, como por exemplo, jogar Futebol. Mas eles gostavam muito das reproduções de Super-Heróis que eu fazia, então começaram a me chamar de Cobra, justamente porque me achavam bom no desenho, e só depois de alguns anos, já nas ruas resolvi utilizar o apelido que me foi dado na sala de aula.

Os espaços urbanos estão sendo cada vez mais tomados pela street art, isso ajuda contra o preconceito? Grande parte dos preconceitos acontecem por falta de conhecimento, eu acompanhei todo este processo nas ruas, é logico que a mudança é visível, da fase em que tanto a polícia, quanto transeuntes comuns, nos rotulavam como vagabundos, maloqueiros, até o momento atual, em que a street art ocupa desde comunidades carentes até avenidas e galerias de arte nos bairros mais nobres de cidades no mundo todo. Percebendo isso por um ângulo mais geral, os artistas de rua são totalmente dedicados, e se esforçaram muito para quebrar alguns tabus, e os que resistiram ao tempo e ao preconceito durante vários anos. Hoje podem vivenciar experiências que não passavam nem no melhor sonho de um artista de rua.

Como surgiu isso de pintar grandes espaços? Você pinta antes em escala menor como teste ou vai direto no local? Dificilmente faço grandes mudanças quando já estou no local, pintando, todas as alterações, e criações são feitas anteriormente, no meu bloco de anotações, depois no meu caderno de desenho, na sequência em uma tela, que inclusive para todos os murais sempre tenho uma tela original. E é justamente sobre este suporte que faço todos os testes necessários, resolvo todas as questões, só depois de tudo resolvido e preparado, passo isso para os murais, independentemente da escala.

Qual das suas obras até hoje deu mais trabalho e qual deu maior realização? Pintar nas ruas é interessante justamente por isso, você tem todos os dias, desafios diferentes, que muitas vezes se colocam como intransponíveis, mas que me desafiam a criar novos métodos e pensar em formas de resolver questões, muitas vezes inexploradas. Pessoalmente já tive muitas dificuldades, e é isso que me motiva, pintar prédios, ou pinturas com giz diretamente no asfalto, podem servir de exemplos. Minha satisfação não depende do local onde o trabalho esteja, ele pode ser feito em Manhattan, Londres ou em uma favela de São Paulo ou Rio de Janeiro, meu prazer está em atravessar a rua e ver o resultado de mais um trabalho resolvido.

Você causou sensação em Recife ao pintar o “rei do baião”. Conta pra gente um pouco desse trabalho. Vale comentar que com 90 metros de altura, este é o segundo maior mural do mundo, em altura, ficando atrás apenas de um trabalho feito na Europa, com 108 metros de altura. Esse painel não fala apenas de uma homenagem, mas principalmente na valorização de grandes ícones da nossa cultura popular brasileira, a exemplo de outros painéis que já realizei com Chico Buarque e Ariano Suassuna, Oscar Niemeyer e em breve Airton Senna. Espero ter a oportunidade de retornar a Recife, pois o que mais gostei na cidade foi a simpatia das pessoas, isso ficou gravado na minha memória, e sempre vou falar bem das pessoas de Recife.

Da pichação pro grafite, depois street art, arte muralista…Começa como transgressão (não seria qualquer foram de arte uma transgressão natural em si?), rebeldia, depois vira arte, depois vira profissão…Tendo passado por essas fases todas, como reagiria tendo uma obra sua pichada? Intervenções públicas de qualquer natureza são muito bem vindas, as cidades precisam disso, nós descobrimos isso, nos fazem bem, refrigera nosso dia, mas não vejo motivos para um artista de rua, seja ele grafiteiro, pichador, muralista, destruir a obra de outro artista, não importa, pode ser uma escultura, pintura, mural, pois a conduta ética, nos mostra que ninguém e melhor nem mais importante que ninguém que está nas ruas. Para se colocar no direito de sobrepor, por exemplo uma escultura publica, quando alguém toma este tipo de atitude, está atacando pessoalmente todos os habitantes da cidade, pois obras públicas, são patrimônio comum, e não tem mais dono.

Que artistas você admira e serviu de inspiração? Banksy, Siqueros, Portinari, Diego Rivera, Eric Grohe, são tantos…

Como foi seu processo de desenvolvimento como artista? Como você foi se especializando? Passo a passo, lentamente, estou neste processo neste exato momento, respondendo esta entrevista, são 27 anos pintando nas ruas, então a cada dia, me dedico mais no aperfeiçoamento. Não apenas dos meus desenhos, mas o meu aperfeiçoamento como ser humano, no compartilhar, em conhecer a Deus.

Onde ainda não colocou suas ideias e tintas, mas gostaria muito de fazê-lo? Nas colunas vermelhas do Masp na Avenida Paulista.

SAIBA MAIS: www.eduardokobra.com