CAPA: FÁBIO PORCHAT – O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Se tem um cara que foi notícia em 2020 é Fábio Porchat! Ele foi um dos grandes destaques nas redes sociais com suas badaladas lives, seu programa “Que História é Essa Porchat” ficou tão popular que foi parar na Globo, foi destaque na mídia de diversas formas e veio para aqui na nossa capa. Cheio de histórias para contar, Porchat inicia o ano inspiradíssimo e ainda mais cheio de histórias. Um comunicador em sua essência, Porchat vai da literatura, política, religião até as coisas simples do cotidiano com um texto afiado e um sorrisão que conquista em cheio. Ame-o ou deixe-o, você não passa despercebido pelo charme desse simpático contador de histórias.

Fábio, você diria que, meio sem querer, sua carreira começou no dia em que foi com sua turma da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) assistir o Programa do Jô e você terminou apresentando uma esquete de sua autoria? Ali percebeu que palco, TV e plateia era seu habitat? Aquele dia no Programa do Jô, eu descobri que eu queria fazer as pessoas darem risada. Ali eu vi que era isso que queria para minha vida, era o que eu sabia fazer. Logo depois eu larguei a faculdade de administração e vim morar no Rio. Ali, no palco, vendo as pessoas darem risada, senti que aquele era meu mundo, meu habitat natural mesmo.

O quanto seus pais, especialmente seu pai como roteirista, influenciaram no profissional que você é hoje? Os meus pais foram sempre muito envolvidos com cultura. Meu pai organiza exposição, já escreveu livro, minha mãe escrevia poesia. Então eu sempre tive muito envolto em livros, me lembro das estantes lá em casa cheias de livros. Então, eu sempre li muito, sempre vi muito filme, sempre consumi muita cultura. Eu acho que isso influenciou sim no profissional que sou hoje, em estar o tempo todo mergulhado em cultura e me inspirando em tantas coisas vindas de fora.

Escrever roteiros, atuar ou apresentar, onde se sente mais à vontade? Ou tudo isso um pouco já se misturou em você? Eu sou, um pouco, tudo junto e misturado. Não consigo me separar de apresentar, atuar, escrever. Eu faço tudo isso em todos os meus trabalhos, mas eu acho que a coisa mais mágica é escrever porque é você tirar a ideia do zero, do nada. Ao inventar uma coisa e colocar no papel, ela passa a existir, eu acho isso tudo muito mágico.

A impressão que dá é que 2020 revelou um Fábio comunicador (seja nas lives ou na TV) melhor que antes? Esse foi o SEU ANO?! Quando começou 2020 e deu a pandemia, imediatamente, eu pensei: “Este ano eu não vou trabalhar” e para a minha surpresa, foi exatamente o contrário – eu comecei a trabalhar e muito. Eu resolvi ir atrás de novos desafios, fazer as lives, falar de política nelas, criar entretenimento para o público poder ficar em casa e tentar fazer de alguma forma a minha parte também. Então, eu sinto que 2020 foi um ano em que eu trabalhei e aprendi muito. Corri atrás de coisas novas, fiquei muito feliz de tudo ter dado certo, dos programas terem funcionado. O “Que história é essa Porchat?” ter ido para Globo, é um sinal de que estou no caminho certo.

Falando em pandemia… Para muitos pode ter sido um momento complicado de trabalho, mas para você não! Ai que a coisa ficou melhor! Você não parou mais e agora é o cara da vez. Como foi para você encarar essa pandemia com tanto trabalho? Eu não paro de ter ideias! Eu fico pensando e tendo ideias o tempo todo, tento dar vazão a isso. Então, na pandemia não foi diferente, eu continuei tendo ideias, criando, me inspirando, assistindo, ouvindo. Eu acho que a pandemia também me preencheu de alguma forma.  

Desde o surgimento do Porta dos Fundos diria que este momento atual é o seu momento mais ativo e marcante profissionalmente? Pensando desde do surgimento do Porta dos Fundos, acho que este é o momento em que consigo trabalhar com mais calma. Eu consegui me estabelecer e criar um ponto de confiança com o público, com meu conteúdo, com aquilo que estou pensando para o futuro. Então, eu consigo fazer as coisas com mais conhecimento de causa, com mais certezas, respaldo não só da empresa, mas de meu também, das pessoas que estão ao meu redor. Acho que isso ajuda muito a criar materiais de qualidade.

Falando do “Porta”, por que até hoje o programa causa tanta polêmica? “Porta dos Fundos” faz piada com tudo, com todos os assuntos, pessoas e temas. Então, por isso, as vezes consideram o “Porta” polêmico, mas ele não é polêmico, é engraçado. A gente fala sobre racismo, religião, palavrão, torta na cara (risos). Abordamos e falamos sobre tudo e todos, até da gente mesmo. Acho que por isso de vez em quando, as pessoas acham polêmico.

Ficou mais chato fazer humor no Brasil hoje em dia com esses radicalismos e falso pudor todo? Aliás, seria o radicalismo e o falso pudor o que potencializa tudo? No Brasil tem uma democracia recente né!? Estamos aprendendo a lidar com o diferente, com o outro com as opiniões contrárias. Até pouco tempo atrás, não se podia fazer piada com futebol, religião e política. Eu acho que temos que fazer piada com tudo, poder rir de tudo. Claro que você pode não gostar de uma piada! Isso não é um problema. O problema é você querer impedir a pessoa de fazer uma piada, dizer que não pode. O que não pode é ir contra a lei, não incentivar ódio, violência, mas fazer piadas com o tema que alguém não goste, isto não tem problema nenhum. Democracia é você defender o diferente, defender quem você não concorda e não só aquele que é seu amiguinho que você concorda. Hoje em dia, as pessoas estão muito radicais no Brasil e no mundo, mas eu acho que é só uma fase, e que vai passar. O que a gente não pode é parar de fazer piada, é fazer piada com todo mundo, pois no humor não existe o sagrado porque uma vez que você diz que não pode fazer piada com aquilo, vira uma regra, que vira lei, que vira um monstro e a gente não consegue mais combater! E o humor precisa combater todos esses monstros.

Sendo filho de político te faz mais familiarizado em falar e debater política? Em especial nas suas lives. Quando eu nasci o meu pai já não era mais político. Ele foi político antes de eu nascer, então não peguei este lado político dele, não me lembro. Eu acho que o que me interessa em política, na verdade, é porque tudo é política né? O futebol é política, o que a gente come é política, o jeito que andamos na rua é política. Então, acho que nisso tudo, o que é muito importante, é que o Brasileiro passe a gostar de política, que vá votar e não achar que é “tudo igual”, que quando o discurso do “tudo igual” ganha, quem perde é a gente.

Falando nas suas lives… parece que, para você, é pura diversão, uma conversa entre amigos, mesmo quando o convidado traz uma postura mais séria. Acredita que seu jeito mais à vontade deixa as pessoas mais relaxadas e por consequência, se soltem para falar sobre qualquer assunto mais à vontade? No fim das contas a live tem que ser um bate papo, risada, divertido, todo mundo se sentindo à vontade, leve. Eu tento fazer isso! Não ter só entrevistas, ser um lugar onde as pessoas possam falar o que estão sentindo. E acaba atraindo de tudo né!? Tem gente que ama e gente que odeia. Mas assim que é bom, não é bom ter só gente que goste, é bom ter gente que critique também que aí a gente vê onde tem que melhorar. É claro que existe gente que só xinga, mas isso é um número muito pequeno, não podemos nos apegar a haters que são haters por profissão. Temos que nos apegar às pessoas que, gostando ou não é o porquê delas estarem fazendo aqueles comentários. Então, nesse sentido, tem gente que me acha chatíssimo, muito legal, que me ama ou odeia e tá tudo bem. Vamos nessa!

Falando nisso, o que te tira do sério e o que te faz abrir um sorrisão? O que me tira do sério é trânsito, quando algo sai diferente do que eu planejei e gente que engasga (risos). E algo que me faz sorrir é risada de criança! Risada de criança me deixa radiante.

No Que História é Essa Porchat? você parece sempre disposto a contar uma história vivida por você. Isso já fazia parte do roteiro ou surgiu decorrente do programa? O programa “Que história é essa, Porchat”? foi, exatamente, um programa que eu criei para poder contar as minhas histórias. Eu tenho um monte de história, adoro contar história, é algo que sei fazer. Desde do início, eu falei que teria de ter um espaço para eu poder contar as minhas histórias. Nunca seria uma disputa de história com os convidados. Afinal, quem tem que brilhar ali, é ele. Mas eu pedi um espaço para eu poder contar as minhas maluquices.

Depois de um período de dois anos na Record você voltou para a Globo. Como foi essa transição? Artisticamente, para você, te dá mais possibilidades nesse momento em comparação ao antes (em 2012-2013), em que você esteve na Globo)? Eu fiquei dois anos e meio na Record. Foi ótimo, adorei! O programa foi muito bom, aprendi muito, criei laços lá, foi o máximo. E agora estou de volto na Globo, onde tudo começou também, né!? Eu fico muito feliz por ter sido recebido de braços abertos, com tantas possibilidades e disponibilidade de todo mundo. O GNT é uma parceria muito grande. Então foi excelente! Eu me sinto muito em casa dentro da Globo.

O humor é a melhor arma para se falar de assuntos sérios como preconceito e injustiça? O humor é a melhor arma pra tudo. É a melhor arma para abordar assuntos, chamar atenção, para jogar luz em determinadas mazelas. As pessoas gostam, se divertem. O humor é potente, o humor faz a gente transar. Se isso não é o suficiente, eu já não sei mais o que é. 

Você já declarou várias vezes que tem medo de colocar um filho no mundo. É isso mesmo? Existe um medinho de ser pai no meio disso tudo? Eu morro de medo de ser pai porque é tão difícil educar, criar. É tão difícil este mundo em que a gente vive. Eu tenho uma relação ótima com minha mulher, mas fico com medo da gente desvirtuar o que a gente tem. Racionalmente falando de filho, não tem justificativa, mas todo mundo que tem, fala que é a coisa mais incrível da vida. Mas o meu medo, realmente, é conseguir educar, criar, fazer com que ele seja feliz.

E para encerrar… Como gostaria que fosse o fim do mundo? O que teria escrito na sua lápide? O fim do mundo eu gostaria que fosse com invasão alienígena, iria ser o máximo! Eu queria ficar vivo por um mês lutando com os aliens, iria ser muito divertido. E na lápide eu queria escrito “Morri, cheguei, e não tem nada aqui! Se tivesse, eu teria voltado para falar com vocês”.

Por André Porto

Fotos Vinícius Mochizuki

Styling Milton Castanheiras