CAPA: FILIPE BRAGANÇA DANDO O QUE FALA COMO MAGAL E EM “ELAS POR ELAS”

Talento para atuar, cantar e criar. Seja por onde for, Filipe Bragança, de 22 anos e 10 anos de carreira, sabe muito bem como conduzir tudo que foi aprendendo ao longo de sua vida. A soma da influência positiva dos pais com as experiências que teve ao longo de sua trajetória profissional o levou a viver esse momento singular de sua carreira. São diversos projetos acontecendo, com destaque para o filme Meu Sangue Ferve por Você, que conta a história de vida de Sidney Magal, e será exibido neste domingo (22), na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Filipe Bragança está no ar ainda com o personagem Giovanni, da novela Elas Por Elas, que tem repercutido bastante e bombado o trending toppics. No próximo dia 8 de novembro, o ator estreia Últimas Férias (Star+), e, para 2024, Filipe já tem projetos que darão o que falar, como por exemplo a série Justiça 2 (Globoplay), onde vive um antagonista bem distante do que já interpretou até o momento. Ou seja, ele é o cara do momento. Não à toa está aqui na capa da MENSCH.

Filipe, aos 22 anos e 10 anos de carreira (!!!) você vive um momento bem especial na sua carreira com estreia no cinema com o filme Meu Sangue Ferve Por Você, na novela Elas Por Elas (Globo) e com as séries Últimas Férias, da Star+, e Betinho: no fio da navalha, da Globoplay. Como está sendo isso para você? Sem dúvida, é o melhor momento da minha carreira até agora. Sou muito jovem, mas neste ano completo 10 anos de profissão. Foram anos de muito comprometimento e dedicação ao ofício, priorizando o trabalho quase sempre. Durante todo esse tempo, eu tive o privilégio de estar em projetos que me ensinaram muito e me ajudaram a construir esse clímax de forma muito natural, especialmente nos últimos dois anos, quando comecei a trabalhar em projetos maiores e mais complexos, que exigiram mais de mim como ator e, assim, me ajudaram a crescer artisticamente. Tenho muito orgulho de cada um desses projetos que estão sendo lançado esse ano. Mas não estou satisfeito, esse é o auge somente por enquanto. Quero muito mais pro futuro.

Pois é, pode não parecer, mas já se vão 10 anos de carreira… Indo para o início, como foi o começo de tudo? Já sabia que essa era sua escolha profissional? Nasci em Goiânia, filho de artistas. Pai bailarino e mãe atriz que se conheceram no teatro. Naturalmente, fui conduzido para o meio artístico, acompanhando meus pais em seus respectivos ensaios e sempre consumindo muito teatro, cinema e música. A sensação que tenho é de que sempre quis ser ator, desde que me entendo por gente. Como se fosse de fábrica. Aos cinco anos de idade comecei a atuar em comerciais, fazer aulas de teatro e balé, e construir lentamente uma persona artística. Em 2013, fui aprovado pra fazer Chiquititas no SBT, com 12 anos de idade. E a partir daí não parei mais.

Ser filho de uma atriz e de um bailarino de certa forma serviu de referência e influência nisso tudo? Claro. Como eu disse, a influência artística era enorme. Mas não só isso, meus pais sempre me incentivaram muito, e me apoiaram e apoiam em cada passo que eu dou. Quando fui aprovado para Chiquititas, por exemplo, e tive que me mudar para São Paulo, isso não foi um problema. Fizeram sacrifícios enormes para que isso fosse possível, e fomos todos juntos, inclusive minha irmã que, ironicamente, é hoje a bailarina da família. São sobretudo artistas inteligentes que me ajudam a tomar boas decisões profissionais. Então,  até hoje, a presença deles é essencial para o meu trabalho.

O resultado dessa dedicação toda é que já se vão 13 projetos até o momento no audiovisual, sete no teatro e o Prêmio Bibi Ferreira na categoria de Melhor Ator Revelação. Sinal de que você está no caminho certo. Como você avalia sua trajetória até aqui? Como eu disse me parece um processo muito natural. A minha profissão não é uma profissão simples, é preciso ter muito comprometimento, paixão, empenho. Mas é necessária muita sorte também. Eu tenho tido essa sorte, e todo o resto também. Apesar disso, a sorte que eu tive não me colocou nos holofotes de uma vez, eu não me sinto como um ator que “estourou” rapidamente a partir de um papel marcante, mas sim um ator que aos poucos coloca um tijolo de cada vez para construir o que eu espero um dia ser uma muralha.

Olhando para trás, qual foi sua maior superação até agora? E onde/como espera ser mais desafiado? Eu sempre penso em Os Miseráveis quando se trata de superação. Foi um espetáculo que exigiu muito de mim. Era uma papel grande, o processo de audição foi longo e exaustivo e a temporada de apresentações durou um ano inteiro com sete sessões por semana, três horas de espetáculo, cantando. Cantando muito, canções difíceis, e tendo que cumprir com a expectativa de um público enorme que buscava assistir a um dos maiores musicais da história, com uma produção da Broadway. Além de ter sido meu primeiro musical, quando eu tinha apenas 16 anos e sequer cantava tão bem quanto o resto do elenco. Mas fui pegando o jeito durante a temporada e… me superei. Na prática, essa foi uma das maiores superações. Mas em qualquer trabalho, qualquer personagem é uma superação constante, uma batalha particular, com novos caminhos e desafios específicos. Cada projeto traz consigo suas superações e é sobretudo isso que eu quero enquanto artista: novos desafios.

E no meio de tudo isso veio sua relação com a música… Me fala sobre esse encontro? Eu cresci em contato constante com a música, em casa, aulas de dança, aulas de música na escola, aulas de canto. Mas só fui me dedicar à prática quando me mudei pra São Paulo. Entendi que minha carreira na atuação, havia começado e com uns 14 anos resolvi começar a tocar violão porque sabia que isso poderia ser uma ferramenta importante na profissão. Mais ou menos na mesma época, inicei aulas de canto com a professora Maria Diniz e, eventualmente, com Amélia Gumes, que foi a grande responsável por me preparar para Os Miseráveis e para o desenvolvimento da habilidade que tenho hoje. Depois, descobri o piano, que hoje talvez seja meu instrumento preferido, minha terapia. Não vivo sem.

Falando em música… No cinema você irá interpretar Sidney Magal em Meu Sangue Ferve Por Você. Como foi interpretar um ícone brasileiro da música e que está vivo? Qual foi o maior desafio? Interpretá-lo é uma honra. Magal é pra mim um dos maiores e mais autênticos artistas brasileiros da história. Um artista completo e um cantor que não era somente para ser ouvido, mas ser assistido. Sua performance é riquíssima, uma voz potente e um corpo imponente, elétrico e intenso. Justamente por isso, as pessoas têm na cabeça uma imagem própria de quem é Sidney Magal. Meu grande desafio foi reproduzir sua presença de forma fiel, no palco e fora dele. Mas principalmente encontrar o equilíbrio entre essa performance e uma criação de um Magal que sirva à linguagem do filme, que não se trata de uma cinebiografia realista, mas sim de um musical fabuloso.

E na prática, tudo isso exigiu muito de mim fisicamente, vocalmente e emocionalmente, por que não? Eram dias inteiros de ensaio de dança e de canto. Afinal, a direção optou por usar a minha própria voz e corpo no filme, portanto eu canto e danço tentando reproduzir fielmente a “persona magalesca” do início ao fim. Foi um desafio enorme, um passo importantíssimo na minha carreira e me sinto realizado com o resultado.

Soubemos que Magal assistiu ao filme. Qual a reação dele e como isso te tocou? Magal é um homem muito sensível, muito emocionado. Afinal, em uma de suas canções ele diz “dentro de mim mantenho acesa uma chama que se inflama se ela está perto de mim”. Tem algo mais emocionado que isso?

Portanto, quando visitou o set pela primeira vez, ele veio até mim, visivelmente emocionado, com lágrimas nos olhos, e me parabenizou com empolgação dizendo que se viu em mim. Não havia coisa melhor que ele poderia ter me dito. E, quando viu o filme inteiro pela primeira vez, ele elogiou o filme e ressaltou o meu trabalho dizendo que eu interpretei “um Magal honesto, completo, mas sem nenhum tipo de exagero ou caricatice”. E, pra mim, isso é ótimo. Eu sempre acho que uma boa atuação pode ser rica e complexa, mas também econômica na sua apresentação.

Na sequência, no audiovisual, vem a série Betinho: no fio da navalha onde você interpreta Daniel, filho de Betinho. Como foi participar desse projeto que tem uma bela causa por trás? Betinho foi uma série muito especial por se tratar da história de um homem que se sacrificou enormemente por justiça e igualdade no Brasil, e isso trouxe pra mim um sentimento de missão e responsabilidade em ajudar a contar essa história ao lado de artistas brilhantes que eu tanto admiro. Eu interpreto Daniel, filho de Betinho e hoje presidente da Ação da Cidadania, uma instituição inspiradora e importantíssima na busca pelo desenvolvimento social do país. Conheci Daniel. É um homem admirável, doce, sensível e, sobretudo empenhado em mudar o Brasil e  dar continuidade ao legado do pai. Julio Andrade dirige a série e interpreta o Betinho. Julinho já era o meu ator brasileiro preferido, uma referência pra mim. Quando fui aprovado para o papel, não pensei duas vezes, não precisava ler o roteiro nem negociar nada, só queria trabalhar com ele. Dividir cenas tão lindas e bem escritas com Julio foi artística e pessoalmente revigorante pra mim.

Atualmente você interpreta o romântico e divertido Giovanni em Elas Por Elas. Sua segunda novela na Globo, isso? Como está sendo a experiência? Tem sido excelente. Giovanni é um ótimo personagem, me divirto muito com ele. Começo e termino meu dia sorrindo. Tenho sido muito feliz dividindo cenas com Rayssa Bratillieri, Valentina Herzage, Mateus Solano, Isabel Teixeira e Marcos Caruso, meu elenco mais próximo. Definitivamente, trata-se de um processo cansativo. Muitas horas de trabalho e muito material pra estudar toda semana, e isso é novo pra mim já que eu nunca havia interpretado um personagem tão grande em novelas. Mas eu também amo essa rotina, viciado em trabalho que sou. Gosto de acordar cedo com pouco tempo pra fazer qualquer outra coisa além de passar quase o dia todo no set filmando e me divertindo em cena, e chegar em casa à noite cansado, cheio de cenas pra estudar para o dia seguinte, o que toma bastante tempo já que eu gosto de ensaiar e estudar com calma. Estou satisfeito com a repercussão da novela e orgulhoso do resultado. É uma excelente novela, muito bem escrita e brilhantemente dirigida por Amora Mautner com quem estou tendo a honra de trabalhar.

Ainda na telinha, em breve teremos você em outras duas produções no streaming. Um bad boy na série Justiça 2 e o antagonista em Últimas Férias, da Star Plus. O que podemos esperar desses trabalhos que trazem personagens nada bonzinhos? Sem dúvida podem esperar algo totalmente diferente do que eu já fiz até hoje. Afinal, eu sempre interpretei o mocinho, o romântico, o virtuoso. Bons personagens, complexos e bem escritos. E eu adoro. Mas nessas duas séries, trata-se de personagens de caráter totalmente questionável e presença perturbadora. Além de serem antagonistas em suas respectivas tramas. Me diverti muito atuando em cada um desses projetos e pretendo continuar buscando papéis desse tipo, onde eu possa explorar personagens com tons mais vilanescos e sombrios.

Sobra tempo para relaxar e recarregar as baterias? (risos) E o que procura nessas horas? Tem sobrado pouco tempo pra descansar, confesso. Mas como disse, eu gosto dessa rotina e me sinto jovem e cheio de energia pra encarar isso. No tempo livre, eu priorizo minha rotina de atividades físicas, algo essencial pra que eu me sinta com disposição para o trabalho, além de me fazer muito bem. Feito isso, ir ao cinema, ao teatro, sair pra conversar e dançar com amigos ou fazer uma boa trilha. Mas, às vezes, eu me sinto tão cansado que prefiro ficar em casa, assistindo uma série, lendo um livro, jogando vídeo game e, claro, eu me exijo praticar um pouco de piano e violão sempre que possível. Como disse, os instrumentos são um tipo de terapia pra mim, não posso ficar sem.

Onde mora a sua vaidade (como homem e como ator)? Um ator não pode ser muito apegado à sua própria vaidade e ao mesmo tempo é uma das criaturas mais vaidosas do mundo.  Me sinto muito vaidoso em relação ao meu corpo, sempre me senti. Nosso corpo é uma manifestação física da nossa mente. Portanto,  eu me cobro pra sempre estar satisfeito com isso, mas tendo em mente que a qualquer momento pode surgir um personagem que exija uma transformação física grande e me interesso muito por isso.

Mas, pra além da estética, eu percebo minha vaidade presente na forma como me preocupo mais do que o necessário com o que os outros pensam de mim. Não sou aquele homem seguro que não se importa se vão gostar de mim e do que faço. Me importo e faço de tudo para que gostem.

Para conquistar Felipe basta… Não sei exatamente, ainda estou procurando uma resposta pra essa pergunta. Mas acredito que basta que me gere admiração. Preciso admirar me sentir inspirado de alguma forma por essa pessoa. E, claro, tem que gostar de cinema.

Fotos Jorge Bispo