CINEMA: ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES, NOVO ÉPICO DE SCORSESE COM DE NIRO E DICAPRIO

O filme “Assassinos da Lua das Flores” é daquelas obras que é quase que obrigatória para quem curte cinema. Estrelado pela dupla de ouro de Martin Scorsese, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, o filme é inspirado no best-seller homônimo do escritor David Grann e também baseado em uma história real. A trama acompanha a jornada do povo Osage, na região de Oklahoma, que vê vários de seus membros assassinados após a descoberta de petróleo sob o solo de sua reserva, na década de 1920.

Nos livros de história que serviram de pesquisa para o filme relatam sobre como a chegada dos europeus na América foi um verdadeiro massacre contra os indígenas. Além da invasão violenta do território, eles desembarcaram com diversas doenças que chegaram a quase dizimar toda uma população. Infelizmente as injustiças contra os nativos foram muito além. No começo do século XX, 400 anos depois do começo de tudo, um dos casos mais sinistros aconteceu em Oklahoma, no sul dos Estados Unidos. 

Quando os homicídios tomam grandes proporções, o caso passa a ser investigado pelo FBI, a agência que tinha acabado de ser criada na época. Os agentes se infiltraram na região para expor uma grande conspiração envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, considerado o primeiro diretor do FBI.

Ao longo dos anos a literatura fez seu melhor para não deixar essas mortes caírem no esquecimento. O premiado escritor Fred Grove, descendente de Osage pelo lado da mãe, tinha 10 anos quando foi uma “testemunha” de um desses crimes e baseou diversos de seus romances no ocorrido. Anos depois, o jornalista David Grann investigou o caso em seu livro reportagem publicado no Brasil pela Editora Companhia das Letras como “Assassinos da Lua das Flores”, a obra homônima que inspirou o longa.

NOS BASTIDORES…

Como nem tudo são flores, os bastidores sempre curiosidades que interessam, como o fato do improviso excessivo de DiCaprio. Em entrevista ao The Wall Street Journal, o diretor vencedor do Oscar, Martin Scorsese, revelou que o excesso de improviso de DiCaprio em algumas cenas irritou tanto ele quanto De Niro.

“De vez em quando, Bob e eu olhávamos um para o outro e revirávamos os olhos um pouco. Nós dizíamos a ele: ‘’Você não precisa desse diálogo’. Scorsese descreveu a verbosidade de DiCaprio como “infinita, interminável, interminável”, acrescentando que De Niro “não queria conversar” após a irritação.

A declaração de Scorsese vai de encontro a comentários feitos pelo próprio diretor sobre as diferenças de estilo dos dois astros em entrevistas anteriores. Para ele, DiCaprio é mais expressivo, enquanto De Niro é mais recatado.

“Seu método [DiCaprio] para mim é um método de conversa constante, exploração constante. Com De Niro, é um pouco diferente. Sim, há conversa, mas depois há silêncio. Os dois juntos jogaram um com o outro de forma tão bonita”, completou Scorsese.

Para o jornalista Peter Debruge, da Variety, a obra cinematográfica é digna de elogios, apesar de seu extenso tempo de execução. Segundo ele, o longa “é envolvente desde o início e a tensão palpável é ecoada metodicamente pela trilha sonora constante de Robbie Robertson”.

Já Peter Bradshaw, do The Guardian, também segue nessa análise positiva, elogiando a performance e o “desempenho de força trágica” de Lily Gladstone. Além disso, o crítico descreve o filme como um “épico de terror existencial e arrepiante sobre o nascimento do século americano, como um conto macabro de assassinatos em série quase genocidas”.

DE OLHO NELA

Mas um dos grandes destaques é a relativamente desconhecida Lily Gladstone, que interpreta a indígena Mollie Burkhart, que, com poucos diálogos, expressa tudo o que precisa de ser dito com a força do seu rosto. Atualmente com 37 anos, a atriz é filha de mãe branca e pai indígena, com ascendência das etnias Siksikaitsitapi e NiMíiPuu. Ela contou ao The Guardian que cresceu na reserva indígena Blackfeet, em Montana, onde viveu até os 11 anos. Formou-se na Universidade de Montana com um bacharelato em Belas Artes em Teatro com foco em Representação e especialização em Estudos Nativos Americanos. Segundo Lily, sua vida na reserva a impactou no desejo de ser atriz. “Eu sou moldada pela minha comunidade – e eu fui apoiada na minha ambição de ser uma atriz e uma contadora de histórias”.

A atriz também acredita que como passou muito tempo com os mais velhos, “acostumei-me a estar numa posição em que se está aberto e pronto para aprender e ouvir. Alguém que está a ouvir está muito interessado. Acho que é isso que é interessante para uma câmara, mas quem sabe?”.

Scorsese, um dos maiores realizadores em atividade, parece saber… “Ela tinha uma noção muito aguçada da sua própria presença diante da câmara e uma confiança extremamente incomum na simplicidade” e “Isso é uma coisa rara. Não dá para tirar os olhos dela”. Por sua atuação/fenômeno de Lily Gladstone, muitos já apostam que ela deve ganhar o mundo e o Oscar como coadjuvante em 2024.

PARCERIA DE SUCESSO

Trata-se do 26º filme da carreira de Martin Scorsese, que marca uma reedição da parceria de sucesso com Leonardo DiCaprio, após Gangues de Nova York, O Aviador, Os Infiltrados, Ilha do Medo, e O Lobo de Wall Street. E uma das coincidências do filme é que em 2023 completam 50 anos desde a primeira parceria entre o diretor Martin Scorsese e o ator Robert De Niro no filme Caminhos Perigosos (1973), atualmente disponível no HBO Max.  Outra curiosidade é que há 30 anos Leonardo DiCaprio estreou em Hollywood no filme O Despertar de Um Homem (1993), ao lado de De Niro. Vale lembrar que a produção está disponível nos catálogos do Star+ e Mubi.

Robert De Niro já apareceu em 10 filmes de Martin Scorsese: Caminhos Perigosos (1973), Taxi Driver (1976), New York, New York (1977), Touro Indomável (1980), O Rei da Comédia (1983), Os Bons Companheiros (1990), Cabo do Medo (1991), Cassino (1995), O Irlandês (2019) e Assassinos da Lua das Flores.

Enquanto isso, Leonardo DiCaprio estrelou 6 filmes comandados pelo Scorsese: Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), Ilha do Medo (2010), O Lobo de Wall Street (2013) e agora, Assassinos da Lua das Flores.

Uma curiosidade é que não é a primeira vez que Leonardo DiCaprio e Robert De Niro atuam juntos em um filme, eles já haviam estrelado O Despertar de um Homem (1993).

Assista trailer: