CAPA: ROBERTO BIRINDELLI NAS TELAS E TELINHAS

Se tem um cara que não pode reclamar de trabalho, esse cara é Roberto Birindelli, que atualmente está na reprise de “Império”, como Josué, o braço direito do comendador Zé Alfredo, e em breve volta ao ar em “Nos Tempos do Imperador”. Paralelo a isso ele estava participando de um filme no Paraguai, filmando uma coprodução de um longa no Panamá baseado na vida de Paul Gauguin e agora dia 23 estreia o longa “Águas Selvagens”. Mas o ritmo ainda vai esquentar ainda mais, pois em breve Birindelli volta a gravar seu General Solano em “Nos Tempos do Imperador”, que volta à trama no capítulo 75 para liderar a Guerra do Paraguai. Uruguaio de nascença, Birindelli se mostrou versátil ao longo de sua carreira interpretando tipos diversos e de nacionalidades diversas. Do herói ao bandido, Birindelli imprime sua identidade e faz qualquer personagem brilhar seja ele quem for. Um velho parceiro nosso, Birindelli está de volta a todo vapor.

Roberto, pelo que andamos vendo em sua agenda de compromissos, esse é o ano de viver intensamente com tantos trabalhos em andamento. Muito bom isso! Como está sendo essa fase com filmes, série, novela…? Realmente tenho trabalhado direto. Estou gravando uma série em Montevidéu, a novela no Rio e um longa no Panamá. Às vezes, embola. Estar em mais de um projeto ao mesmo tempo, mas a gente vai organizando a agenda e acaba dando certo. 

Falando em novela, temos a volta de Josué em Império, e a estreia do General Solano López em Nos Tempos do Imperador. Tem conseguido acompanhar algo das duas novelas? Fiquei muito feliz com a reprise de Império. Sempre recebia mensagens nas redes sociais perguntando quando essa novela voltaria à telinha. Está sendo legal rever essa história nesse momento tão diferente em que estamos. Império tem a complexidade e detalhamento do texto maravilhoso do Aguinaldo e o cuidado visual e de acabamento do Papinha. Nos Tempos do Imperador, eu vi o primeiro capítulo. Meu personagem volta do capítulo 75 em diante, quero muito ver de novo Solano em cena.

E como está sendo reencontrar seu parceiro de Império, Alexandre Nero, alguns anos depois? Super legal pensar que a gente convivia diariamente durante horas, passando pelo cansaço, risos, frustrações, dificuldades e de vez em quando, alguma cervejinha também. E agora este nova parceria em “Nos tempos do Imperador”. Boa parte de minhas cenas são com Nero. Muito divertido! 

As gravações de Nos Tempos do Imperador começaram no ano passado, tiveram que ser interrompidas por conta da pandemia, e retornaram neste ano. Pegou o ritmo agora? Como está sendo gravar depois de tanto tempo?

Uma loucura mesmo. No final de 2019, eu tinha terminado de filmar “La Teoria dos Vidrios Rotos”no Uruguai e vim para o Rio para as gravações de Nos Tempos do Imperador. Tinha um intervalo. O personagem ia entrar no primeiro capítulo e depois ia ter um intervalo de dois meses. Gravei as primeiras cenas e fui para os festivais de cinema da Europa. Voltei direto pra quarentena e somente um ano e meio depois, retomei as gravações. As gravações são feitas com planejamento. Estão tomando todos os cuidados possíveis em relação à COVID. Finalmente, a novela estreou depois dessas dificuldades!! 

E que cuidados e estudos você teve para poder compor o General Solano López? Que novos desafios ele te trouxe? O General Solano López é filho do então Presidente do Paraguai, e entrará em conflito com D. Pedro II o que desencadeará A guerra da Tríplice Aliança, ou a Guerra do Paraguai. Solano aparece no primeiro capítulo, quando os conflitos são apresentados, e depois, entra efetivamente, a partir do capítulo 75. A primeira parte da novela é centrada no período escravagista, depois a história vai focar na Guerra do Paraguai, e haverá batalhas. Fiz vários longas de época, mas nunca tinha feito uma novela com essa temática. Em relação à preparação, fiz treino de montaria. Já gravei as cenas a cavalo, mas certamente haverá mais ao longo da novela. Mais adiante, haverá batalhas. Tem treino de armas. Pratiquei esgrima por vários anos, isso não vai ser complicado. Estou tomando cuidados semelhantes ao da composição do Pepe em relação à linguagem. Buscamos palavras que possam ser compreendidas tanto em espanhol quanto em português. O texto de Thereza Falcão e Alessandro Marson é delicado e preciso. Gosto do desafio de apresentar a história e suas versões, tendo em vista, que cada país tem sua própria narrativa. 

Ainda na TV, dessa vez no streaming, você está no elenco da elogiada série DOM, da Amazon Prime. Como foi vivenciar essa realidade de tráfico de drogas nos morros do Rio? Como foi dar vida ao seu personagem Paulo? Na série Dom, sou Paulo, o pai do Victor Dantas, personagem de Flávio Tolezani. O ambiente de trabalho com o diretor Breno Silveira é sempre uma delícia. Breno faz questão de acompanhar tanto a preparação quanto todas as etapas de caracterização, figurino, etc. E ele super escuta sugestões. Olhando depois, o trabalho pronto a gente nota a diferença. 

Com cerca de 50 filmes no currículo, recentemente você participou de duas produções internacionais, Human Persons, uma coprodução Canada- Colômbia-Brasil, e a produção uruguaia La Teoria de los Vidrios Rotos. Conta um pouco desses dois trabalhos. Que desafios trouxeram? “Human Persons é uma coprodução Espanha-Panamá-Brasil que teve um longo tour em festivais internacionais como Chicago, Rio de Janeiro e Trieste. No filme, James, um criminoso americano, retorna à sua cidade natal na América Latina após 35 anos em uma missão – roubar um fígado e salvar a vida de seu filho. Trata do tráfico de órgãos, uma realidade muito menos distante do que a gente imagina. O desafio nesse filme, além do ritmo alucinado de gravações, era que eu tinha cenas em espanhol, inglês e português. E tinha que manter a organicidade no meio disso tudo.

A Teoria dos Vidros Quebrados é uma copodução Uruguai-Argentina-Brasil. Com direção de Diego “Parker” Fernández. O filme fez a estreia mundial no Brasil, no Festival de Gramado. O elenco é um time de talentos de diversos países da América Latina, como o argentino Martín Slipak (A Noiva do Deserto), os uruguaios César Troncoso (BenzinhoO Banheiro do Papa) e Verónica Perrota (Mulher do pai

Ainda sobre cinema internacional, você também está atuando numa coprodução de um longa no Panamá baseado na vida de Paul Gauguin. Co produzir era um desejo antigo? Como surgiu isso? De fato tenho feito um longa internacional quase todo ano. É um baita aprendizado. Lógicas diferentes de trabalho, de roteiro, de organização do set. É maravilhoso conhecer o cinema de outros países.

Para você que é um cara hiper ativo, como foi ficar em casa durante o isolamento social? Como ocupou o tempo e que lições tirou disso tudo? O que esse isolamento mais mostrou é que o que mais sinto falta é das pessoas. Acho que na volta desse confinamento, as pessoas vão valorizar mais umas às outras. Assisto séries e filmes, leio livros, arrumo a casa, troco tomadas, fiação, lavo e passo roupa – descobri que sou um desastre passando roupa. A grande mudança, pelo que posso perceber agora, foi minha relação com o tempo. Entendo todas as necessidades, compromissos, expectativas, mas também entendo que meu tempo… é meu. 

Suas lives com o tema #tododiaumpoucomenosmachista no Instagram surgiu desse período? E por que falar do homem menos machista? A estratégia é chamar as pessoas – se possível, homens – para trilhar um caminho de compreensão. A hashtag #tododiaumpoucomenosmachista diz respeito a que não nascemos desconstruídos. Fomos criados num meio machista, portanto, nosso default, nosso automático é machista. Em vez de tentarmos negar, coisa que homens fazemos direto, e bolar mil teorias e justificativas mirabolantes, proponho caminhos de entendimento e colaboração nessa mudança, sem inculpação. Tipo – sim, hoje fiz quatro bobagens machistas, amanhã só 3, depois uma… É um trabalho de percepção, entendimento e compromisso.

E essa paixão por vinhos, veio de onde? Pelo jeito você anda cada vez mais se aprofundando no assunto. No Uruguai tem uma tradição vinífera bem grande. Morei muitos anos em Porto Alegre, onde aprendi a gostar de vinhos e assar churrascos. Antes da pandemia fazia saraus em minha casa, onde juntava os amigos de várias tribos para apreciar boa música, vinhos e aquela picanha… Fiz lives sobre o tema todas as quartas de 2020 e passei a saber mais.

Nosso último papo foi em 2015, na época de Império. De lá pra cá muita coisa aconteceu na sua trajetória. O que você destacaria nesses últimos 6 anos? Envelheci. Aprendi a dar mais importância às pessoas, aos relacionamentos. A cuidar do essencial. Fico mais tempo em casa, e em contato com os do peito.

E na hora de relaxar, o que faz sua cabeça? Onde recarrega suas energias? Gosto de ler, meditar e andar de bike com meu filho. Ele é rato de praia. Então, tenho ido muito com ele. Malho seguido também, e isso equilibra minhas dinâmicas.

Qual seu pecado favorito? A que não resiste? O que é pecado?

E o que mais vem por aí neste ano? Um monte de coisa, uia! General Solano López retorna à novela “Nos Tempos do Imperador” em breve. A produção nacional “A Garota da Moto”, de Luis Pinheiro, estreia dia 23 de setembro e ainda neste ano também será o lançado do longa “Águas Selvagens”, de Roly Santos, uma coprodução Brasil-Argentina. Nesse filme eu interpreto Lucio Gualtieri, um ex-policial investigador argentino, protagonista da trama. Também devem ser lançados os longas “Human Persons”, de Frank Spano e a produção uruguaia “A Teoria dos Vidros Quebrados”, de Diego Fernández. No momento, como falei, estou filmando uma coprodução de um longa no Panamá baseado na vida de Paul Gauguin. 

Para conquistar Roberto, basta… Adoro ser surpreendido, gosto da perspicácia, de boas sensações. Também gosto de vinho e de carinho

Fotos Ricardo Veloso

Styling e produção Bruna Franklin

Agradecimentos Hermes Inocêncio