Esqueça as corridas no parque ou na praia, as ultramaratonas vão além do desejo de uma atividade física ao ar livre, elas são uma grande prova de resistência, de perseverança e de desejo de superação.
As Ultramaratonas são assim chamadas por superarem as maratonas tradicionais em distância e tempo. Maratona comum vai até 42, 195 m, acima disso já se considera ultramaratona e o tempo varia entre 6, 8, 12 e até mesmo 48 h de prova. Nos EUA a coisa fica mais difícil, já que por lá pra ser considerada ultramaratona a prova tem de ser acima de 100 km. Antes desconhecidas, as ultramaratonas vêm ganhando mais adeptos e mais provas ao redor do mundo, entre as consideradas mais difíceis estão:
DESAFIO DOS CAMPEÕES (CHALLENGE OF CHAMPIONS) – Vale da Morte – Califórnia, com 217 km e ascensões verticais que incluem três cadeias de montanhas no percurso. Além disso, a temperatura pode chegar aos 50º em determinados trechos da rota.
BEAST OF BURDEN WINTER 100 MILER – 160 km de desafios incluindo correr na neve, já que a prova se dá no rigoroso inverno de Buffalo, nos Estados Unidos.
SPARTATLON / Grécia |
SPARTATHLON – Distância de 246 km percorridos entre Atenas e Esparta, na Grécia. Uma curiosidade sobre esta prova: ela tem o objetivo de traçar os passos de um mensageiro ateniense enviado a Esparta no ano 490 A.C. para buscar ajuda contra os persas na Batalha de Maratona.
ULTRAMARATONAS DA ÁFRICA DO SUL – A terra dos corredores natos tem mais de uma ultramaratona. Entre as principais estão a Two Oceans, tida como a mais bela maratona do planeta, na Cidade do Cabo. O percurso é de 56km, com várias oscilações de percurso e a mais famosa de toda, a Comrades. O trajeto inclui muito sobe e desce por estradas asfaltadas e altitudes elevadas. É também uma das provas mais longas, o tempo-limite é de 12 horas.
E por falar em Comrades, a MENSCH encontrou um ultramaratonista pelas bandas de Recife que compete nesta prova e tem uma trajetória bem bacana quando se trata de corridas. Eduardo Neves, o Crácrá, tem 46 anos é casado, pai de 3 filhos, professor universitário e gerente de vendas. A primeira vista um homem comum não fosse sua paixão pelas corridas e o fato de ser um ultramaratonista.
Amante dos esportes desde cedo, Eduardo não faz a linha sedentário que resolveu praticar esportes, ela já praticou várias modalidades, mas nunca foi muito de correr, irônico, não? Uma corrida aqui, outra ali e ele chegou as maratonas convencionais de 21 km até que atendendo o convite de um amigo em agosto de 2012 entrou pro ACORJA – Amigos Corredores da Jaqueira, grupo de corrida que frequenta o Parque da Jaqueira no bairro de mesmo nome na cidade de Recife.
Participar do grupo fez com que as corridas entrassem de vez na vida do Crácrá que começou a levar a brincadeira mais à sério com o objetivo de correr maratonas. Ele sabia que não seria fácil e que as dificuldades seriam muitas, mas virou um vício bom e as maratonas passaram a não mais satisfazer nosso corredor que foi em busca de mais: as ultramaratonas.
Família e amigos são grandes torcedores de Eduardo, mas quando o assunto é correr com ele aí já não se tem tantos adeptos, “sou um entusiasta das corridas, a bronca é que quando convido alguém para correr eles se assustam pensando que é para as mesmas distâncias que faço” (risos). Desde setembro deste ano Eduardo está incentivando um grupo de corrida de torcedores do Náutico, todas as quintas em um percurso leve de 6,5K e o número de participantes só vem aumentando.
DESAFIOS
Correr é sem dúvida um desafio, e em grandes distâncias então, mais ainda. “Em termos de distância foram as duas provas de 100 quilômetros do Desafio do Frio, em 2013 – Garanhuns-Caruaru e agora em agosto 2014-Caruaru-Garanhuns, fazendo o Back to Back” Mas sem dúvida para o Eduardo o maior de todos os desafios foi o que chamou de Projeto Comrades que dividiu em dois trechos – Disputar a Maratona de Santiago no Chile em pleno terremoto para me qualificar para a Comrades Marathon e ter ido sozinho para a África do Sul, “falando um inglês “macarrônico” para disputar a Comrades Marathon de 89 quilômetros, o detalhe é que até então eu nunca havia saído do Brasil.”
COMRADES MARATHON – ÁFRICA DO SUL
Quando começou a praticar corridas de longas distâncias Eduardo não sabia da Comrades, uma das mais antigas ultramaratonas do mundo, que acontece na África do Sul, mas foi só ficar sabendo que ele se colocou no desafio de participar. Em 2015 a Comrades estará na sua 90ª edição com uma expectativa de mais de 23 mil inscritos do mundo todo, mas já em 2014 Eduardo fez sua estreia competindo com mais de 20 mil atletas, entre eles 161 brasileiros. Segundo ele foram 89 km de pura emoção e uma organização perfeita. “Já estou inscrito para a prova de 2015, vou lançar um projeto para conseguir patrocínio para financiar os custos como fiz agora em 2014”.
A Comrades é conhecida como a Rainha das Ultramaratonas e a cada ano ela alterna o sentido do percurso, em um ano do interior para o litoral, como foi neste ano de 2014, e no outro do litoral para o interior, como será em 2015. Quem faz estes dois percursos nos dois primeiros anos de participação da Comrades é condecorado com a medalha Back to Back e recebe um destaque e Eduardo será o primeiro do nordeste a realizar este feito. Guardando as devidas proporções, a Comrades, em termos de importância para a África do Sul, é como a São Silvestre para nós brasileiros. São mais de 20.000 corredores onde mais de 70% consegue completar dentro do limite de tempo de 12 horas. Após as 12 horas os portões são fechados e se você tiver a um passo de completar e não passar, para a organização, é o mesmo de não ter corrido. Há vídeos das chegadas que são muito tensos, com as pessoas caindo de cansaço e não conseguindo completar a poucos metros ou menos que isso.
Em termos de distância ainda existem provas maiores, o Desafio do Frio em Pernambuco por exemplo tem 100 Km, mas uma das grandes dificuldade da Comrades é que a prova ocorre em dois sentidos o denominado Down, que é do interior para o litoral onde você sai de uma altimetria de 680 metros, vai até 870 e depois desce até o nível do mar, este tem 89K e o percurso Up que vai ao contrário com uma diferença ao invés de 89 Km são 87 Km. No interior a cidade é a PIETERMARITZBURG e no litoral a cidade portuária de DURBAN, onde o Brasil jogou na Copa do Mundo FIFA de 2010.
Para participar da Comrades 2015 o Crácrá tem treinado muito, aumentou a rodagem semanal para 60Km e depois da Maratona de Florença, que escolheu omo qualificação para a Comrades, passará a fazer treinos de altimetria mais elevados, usando a BR 423 na chegada a Garanhuns, como também a Serra das Russas e a BR 408. Devido ao trabalho Eduardo não pode viajar com a antecedência ideal para a corrida, chegará quase que na véspera da corrida, isto é ruim, pois o cansaço da viagem e o fuso horário de 5h a mais terminam confundindo o atleta, mas persistência é seu o forte.
CORRIDAS E MUDANÇAS
“A satisfação cada vez que eu fazia um percurso maior foi o principal fator de motivação. Superar os próprios limites dá a Eduardo cada vez mais incentivo para continuar a prática desportiva e a encarar os desafios de forma diferente. “Sempre utilizando o lema de fazer com alegria. Eu corro feliz e o grupo tem ajudado bastante nisso.” Ter o apoio da família é fundamental. Como não é um velocista a performance é nas distâncias e ser reconhecido por isso faz Eduardo se sentir como exemplo e motivação para os outros.