É sempre bom ter Eli Ferreira por aqui, e quando ela vem junto com uma personagem marcante é ainda melhor. Eli está no ar com a clássica professorinha Lu da novela Renascer, e tem dado o que falar por conta das pautas levantadas pela personagem ao longo da trama. Falando sobre educação e inclusão para todos, Eli faz do seu ofício de atriz um caminho para gerar discussões positivas sobre assuntos que precisam cada vez mais de espaço. Além disso, Eli ainda chega em breve com outro trabalho marcante, Cidade de Deus. Mas sobre tudo isso deixa que nossa estrela lhe conta tudo ao longo dessa ótima entrevista exclusiva para a MENSCH.
Eli, atualmente você está interpretando uma personagem que marcou na dramaturgia por conta das questões sobre educação e o poder dos mais fortes. Sua personagem, a professora Lu tem um papel transformador na vida das pessoas na trama de Renascer. Como isso tem te tocado? É uma personagem muito acolhedora, que propõe sempre o diálogo e a reflexão. E ela me lembra muito os educadores que passaram pela minha vida. Tenho muito carinho e respeito pelos professores. Tenho figuras importantíssimas para a minha vida, que assim como a Lu, eles me trouxeram ensinamentos para levar para além da sala de aula. Fico feliz de representar essa classe tão importante, que estão em sala de aula por vocação. É isso que mantém um professor atuando: sua vocação, sua paixão pela educação. Recebo mensagens carinhosas, trocas muito afetuosas nas ruas. Isso me deixa muito feliz. Sinto que a Lu está cumprindo a missão dela.
Você chegou a assistir a primeira versão na qual a personagem coube à atriz Leila Lopes? Como procurou se diferenciar dessa primeira versão da Lu? Teve alguma liberdade para criar? Eu entrei na novela e comecei a gravar seis dias depois. Eu não tive muito tempo para fazer pesquisa. E eu mesma quis conhecer a Lu que o nosso autor Bruno Luperi estava escrevendo. Fui conhecendo ela e me permitindo vivenciá-la cena a cena. Vez ou outro, vejo cenas da trama original nas redes sociais, mas eu não quis assistir a novela toda. Busquei essa liberdade criativa para ser essa Lu de agora.
Essa versão de Renascer trouxe um elenco mais “real” para uma trama que se passa no interior da Bahia com pessoas. Sinal da mudança de visão na escalação de um elenco por pessoas de tons de pele mais democrático. Como você enxerga isso? Acredito que o que vemos hoje na TV, no cinema e no streaming é o resultado de anos e anos de muita luta por espaço. A representatividade é algo muito poderosa. É lindo ligar a TV e se ver nela, poder se reconhecer nos traços e cores que aparecem ali. E isso é o Brasil, é o nosso povo. É muito importante perceber e exigir essa visibilidade. Eu fico muito feliz de ver homens e mulheres pretos no protagonismo, cada vez com mais destaque.
Em Renascer temos uma diversidade não só racial, mas de gênero. O quão importante é trazer isso hoje em dia em um horário nobre? A TV tem uma força muito grande. Muito potente. E a arte precisa estar atenta ao seu tempo. Estamos contando história de pessoas. De pessoas que amam, que lutam, que vivem por aí todos os dias. E essas pessoas precisam ter voz, precisam ser respeitadas, vistas. Eu fico feliz de ver uma obra no horário nobre trazendo temas tão valiosos. É muito emocionante se reconhecer na TV, ver outros e outras como nós – isso nos dá força, nos faz sonhar, nos faz lutar por dias melhores e mais justos.
Tem aprendido algo com a professora Lu? Como foi seu processo de criação da personagem? Eu fui criando a Lu conforme ia gravando. Tenho muitas lembranças dos meus professores e, de alguma forma, eles estão nela. Eu gosto muito de ver como a Lu valoriza o diálogo: ela sabe ouvir. E sabe falar. Vejo que estamos perdendo essa capacidade de ouvir o outro, estamos sempre vivendo dentro de nós, voltamos para nossos pensamentos e perdemos boas trocas, boas oportunidades de dialogar.
Sua personagem representa uma classe desvalorizada e desmotivada no país, e não só pelos governantes, mas pela sociedade mesmo. No caso você se sente prestando um serviço de conscientização pública através da personagem? Eu não diria que é uma prestação de serviço, mas sim uma homenagem a esses educadores, uma forma de eles se verem representados de uma maneira afetuosa e muito respeitosa. A Lu segue a vocação dela. Acho muito bonito essa profissão. É muita entrega e eles merecem todas as homenagens. E mereciam o reconhecimento financeiro também. Os professores merecem isso.
Pouca gente deve saber, mas você também é dubladora. E seu trabalho mais recente nessa área foi em DivertidaMente 2, onde você dubla o Tédio. Como começou esse tipo de trabalho e como foi fazer o Tédio? Eu sempre ouvi as pessoas falarem sobre a minha voz. Falarem que é uma voz marcante, que chama a atenção. E eu me apropriei disso. Teve uma vez que uma preparadora quis que eu mudasse o jeito de falar, que anulasse algo que é uma característica minha – no lugar disso, sigo sendo eu. E dublando também. Fiquei muito honrada de fazer a personagem Tédio em Divertida Mente 2. Foi um trabalho que me deixou feliz duplamente: na hora de dublar e depois com a resposta do público. Foi lindo ver os cinemas cheios. Recebi muitas mensagens, muitas pessoas surpresas com a minha dublagem.
Além de “Renascer”, você aguarda sua estreia no streaming com a série “Cidade de Deus”, Max. Com seis episódios, a história se passa duas décadas depois da história do filme homônimo premiado internacionalmente. O que podemos esperar desse trabalho e como anda sua expectativa? Primeiro episódio já está disponível. É uma série muito bem contada, muito bem construída… Figurino, texto, direção, elenco, é uma equipe incrível. Fiquei muito feliz de estar nesse trabalho, de mostrar uma outra personagem da Lu. E estar na TV aberta, no streaming e no cinema quase que ao mesmo tempo. Acredito que quem viu o filme no início dos anos 2000 vai gostar muito da série.
Voltando a Renascer… parece que nessa reta final o elenco está mais próximo do que nunca. Uma grande e divertida família. Como é isso nos bastidores? Já tinha sentido uma sintonia assim em outros trabalhos? É um elenco muito legal, uma equipe muito afinada. Foram muitos meses de trabalho, muitas vivências juntas e criamos laços muito legais. Eu sei que não é todo trabalho que isso acontece, mas aconteceu em Renascer. É uma turma que já estou com saudade de não ter o contato diário.
E algum plano após a novela? Tenho algumas coisas andando, mas o foco é fim de Renascer e a estreia de Cidade de Deus. Quero que as pessoas assistam esses trabalhos que são muito importantes para mim. E, muito em breve, terei novidades.
E para relaxar um pouco… Pretendo descansar um pouco, porque é importante também esse tempo para recarregar as energias e criativamente também é bom.
Quem é Eli Ferreira fora dos holofotes? É uma mulher transparente, verdadeira, que luta pelos seus sonhos diariamente. E que gosta de estar perto dos seus.
Fotos Guilherme Lima
Assistente Felipe Costa
produção executiva e styling Samantha Szczerb
Beleza Titto Vidal
Agradecimentos Àrsie e Casa Vista Joá