Altamente zen, até por ser budista, amante de um belo por de sol ou do contato direto com a natureza, Giselle Tigre respira e inspira arte. Seja atuando, cantando ou servindo de musa inspiradora para as pinturas de seu marido. A arte sempre fez parte da vida de Giselle desde a época em que morava em Recife e amava o simples fato de ouvir bons compositores ou assistir grandes artistas da terra. O glamour da vida de modelo e os flashes da vida de atriz nos estúdios em pleno Rio de Janeiro não apagaram essa sua paixão pelo simples. A mulher de belos olhos azuis e sorriso largo encanta além de seus atributos físico. De voz doce e suave, Giselle é daquelas mulheres que passam pelo tempo como senhoras do seu destino. Da última vez que conversamos com ela em 2012 até hoje muita coisa aconteceu, algumas delas você vai descobrir aqui nessa entrevista. Giselle está de volta!
Por onde esses famosos olhos azuis tem andando nesses últimos tempos? (risos) Saudações a todos! Passei os últimos tempos fazendo uma grande mudança com a família, depois de 18 anos morando no Rio de Janeiro onde trabalhei, estudei, casei, fui mãe, mudamos para São Paulo no começo de 2019. Eu, meu marido, Marcelo Gemmal, nossa filha Maria de 14 anos e um casal de gatinhos Kimi e Neco.
Nossa última entrevista foi em 2012. De lá pra cá muita coisa aconteceu. O que te marcou mais nesses últimos anos? Ahhh, o que mais marcou nesses últimos oito anos foi ter realizado o trabalho mais importante da minha vida até hoje, o musical infantil “Agora é Tempo”. Lembro que falei desse espetáculo na última entrevista que dei para a MENSCH. Estreamos em 2010 no Rio, mas em 2013 fizemos uma turnê por 20 cidades do Nordeste em quatro Estados diferentes, incluindo Pernambuco. Esse foi um trabalho inesquecível. Realizei o sonho de sair pela estrada com uma trupe de 11 pessoas com o musical que escrevi em parceria com meu marido. Ele assinou toda a direção de arte também e eu atuei ao lado de atores queridos e minha filha, que na época tinha seis anos. Recebemos o patrocínio através da Lei de incentivo à Cultura e visitamos as cidades onde o Folclore do Pastoril é ativo. Nesta viagem, que durou 30 dias, conhecemos os grupos que mantém a cultura viva e exibimos o espetáculo em parceria com as prefeituras gratuitamente para a população.
Algumas das cidades nunca tinham recebido um grupo teatral, como Congo, na Paraíba, no Sertão do Cariri. Esta cidade tem um Festival de Cinema e nenhuma sala de projeção. Os filmes são exibidos a céu aberto. Lá e na maioria das cidades tivemos que improvisar na montagem do cenário. Montamos na rua, como na cidade de Pão de Açúcar, em Alagoas, na beira do São Francisco ou em Palanques como em Pipa, no Rio Grande do Norte. Em Coqueiro Seco, em Alagoas o cenário, impossível de montar por conta do vento forte, a Igreja centenária compôs a cena muito bem. Em Pernambuco, na cidade de Triunfo, no entanto, fizemos nossa mais perfeita montagem, no sentido estrutural. Lá existe o Cine-Teatro Guarany, construído em 1922. Lá, tivemos um público já acostumado com exibições teatrais, onde fomos ovacionados. Toda a equipe se sentiu tocada por conhecer as várias realidades de cidades Nordestinas. Esse trabalho me conectou com a legítima identidade brasileira.
Sua ligação com as artes é muito forte, até por conta do seu marido que é artista plástico. Como ela te toca? O que te provoca? A arte é a linguagem da sensibilidade. É tarefa do artista exercitar essa qualidade interna a partir dos estímulos que recebe do mundo e do seu relacionar-se com ele. Conviver com alguém com essa mesma compreensão e perspectiva é falar a mesma língua, é estar na mesma vibração. Nossa filha chegou pra integrar essa força na nossa família. Ela é artística também.
Seu papel recente personagem na TV foi na novela “Jesus” (Record) em 2018. Como foi essa participação? Pareceu ter sido bem intensa. Foi intenso mesmo. Eu cheguei a fazer teste para o personagem de Maria de Nazaré. O diretor geral da novela, Edgar Miranda, me chamou para fazer uma passagem muito conhecida da história de Jesus, O ÓBULO DA VIÚVA, que narra um importante ensinamento do mestre sobre a verdadeira caridade ao usar como exemplo a doação da viúva no Templo, duas moedas de pouco valor. A cena foi fantástica. Jesus ensina, que apesar de pouco, a viúva doou tudo que tinha, enquanto que os ricos doavam os que lhes sobravam com arrogância. Eu e o Dudu Azevedo, que interpretou Jesus, nos emocionamos muito no momento em que os personagens cruzam os olhares. Não tem como não se emocionar com esse tema. Você consegue ver toda a sequência de cenas nos destaques do meu instagram @giselletigreoficial, novela “Jesus”.
Há um tempo fora da TV, já estamos com saudades. Algum projeto ou convite para um novo trabalho? Estou envolvida no momento com teatro e música. Mas quero em breve fazer áudio visual, também estou com saudades.
E como anda o lado cantora? Como a música tem aflorado? A música é o meu lado mais aflorado. Desde sempre o som é uma força que vibra muito forte em mim. Música é vida. Amo cantar. Canto desde menina. Seguirei cantando sempre e pra sempre. Dei-me o título de “cantriz”. Já tem bastante tempo também que meus trabalhos envolvem a música, desde a novela “Amor & Revolução”, quando cantei a canção tema da minha personagem, “Em Silêncio”, a série Gaby Estrella, onde também cantei e atuei. Como nos últimos três espetáculos musicais, “Agora é Tempo”, “Enlace” e “Além do Ar”, este último já na fase paulistana em 2019.
Sabemos que Recife é um berço cultural muito forte aqui no Brasil. O quanto isso te influenciou na artista que você é hoje? Influenciou demais. Até os 16 anos ouvia basicamente música brasileira e especialmente a nordestina. Pernambuco é um manancial cultural de diversas artes e eu amo demais. É um privilégio ter nascido nesse berço. Depois de um tempo pesquisando, viajando, conhecendo o mundo acabei compreendendo que a música é universal, não gosto de usar o termo ‘música regional’ por isso. Tem um som lá no oriente muito parecido com o do Nordeste. Muda o contexto, mas no fundo a humanidade vibra num som muito parecido. Parece que os anseios e as angústias são as mesmas.
Que referências você guarda? Algum “ídolo” da cultura pernambucana? Alguns, Ariano Suassuna, apesar de ser natural da Paraíba. Antônio Nóbrega, Antônio Madureira, Dona Lia de Itamaracá, Alceu Valença, Nação Zumbi, Manuel Bandeira, Francisco Brennand. Só pra citar alguns.
Já faz 20 anos que você se mudou de Recife para o Rio de Janeiro. Já se considera meio carioca? O que guarda de bom das duas cidades? Ahhh o Rio de Janeiro… tenho uma história de amor com o Rio muito linda. Demorei a me adaptar a morar lá. Tinha um cordão umbilical muito forte com Recife por causa da minha mãe, Glícia. Foram muitas idas a Recife, desde que mudei em 2000. Minha mãe é minha rainha e minha guia. Ela faleceu em 2008 e desde de então costumo ir menos. Mas o Rio me conquistou e eu a ele. Temos uma relação de amor que é
só fechar os olhos que está estampada na minha alma suas montanhas, seu cheiro e o mar. Cada dia que morei no Rio contemplei a beleza da cidade e essas imagens me nutrem até hoje. Fui naturalizada pelo mar gelado, pelo mate da praia com biscoito Globo, pelas pedaladas na Lagoa Rodrigo de Freitas onde morei e pelo Cristo Redentor, meu crush até hoje (risos). Quem me conhece sabe que eu AMO o Cristo. Tenho fotos dele de muitos ângulos e sempre descubro um diferente. Agora estou “in love” por São Paulo mais uma vez, já morei na cidade na época que fui modelo da Ford aos 18 anos. Reatei o namoro. (risos)
Sabemos que a beleza abra portas, mas no seu caso já fechou? Como lida com isso? Já foi julgada pela beleza? Somos julgados por tudo nesse mundo. O julgamento é inevitável e o preconceito também, não é verdade? A gente faz, a gente sofre preconceitos e julgamentos. Por isso é importante manter a mente e o coração abertos e ter compaixão pelos outros e si mesmo. A beleza abre e fecha portas. A beleza gera preconceitos infinitos. Cada um tem uma história pra contar. Sempre me esforcei para contribuir no mundo artístico com algo a mais para além de minha própria aparência. Trabalho como artista há 34 anos. Comecei aos 14 anos cantando e atuando no teatro, trabalhei como modelo, gravei disco, atuei na TV, fiz duas faculdades, escrevi e produzi um espetáculo de teatro, vou gravar em breve um álbum em homenagem ao compositor cearense Ednardo. Sou uma artista realizadora. Por tudo isso, não quero ser lembrada apenas por minha aparência, seria uma lástima.
O tempo tem sido seu parceiro e você continua linda. Algum segredo ou cuidado especial para enfrentar o tempo assim? Eu vou fazer 48 anos em 2020, isso é maravilhoso. Cada época da vida traz maravilhas e também desafios. Há cobranças internas e externas? Há. Normal. O importante é ter sensatez, equilíbrio emocional, felicidade interior. Essas coisas de dentro refletem na nossa aparência. Gostar-se também é essencial. Nem todo mundo que é bonito se gosta necessariamente. É uma prática diária. A mesma relação que construímos com o mundo e com os outros, desenvolvemos com a gente mesmo. Vivo uma relação eterna de autoconhecimento. Esse é o caminho da beleza que eu sigo. E, é claro, yoga, alimentação mais saudável possível, sorrir, cantar, admirar o belo, essas coisas boas que nutrem de fato a alma. As primeiras rugas já chegaram e eu as amo. São parte de mim agora. Espero posar para a MENSCH daqui há alguns
anos de cabelos brancos e mais rugas amadas.
Falando nisso, como você lida com o espelho? A vaidade vai até que ponto? Tenho uma relação até equilibrada hoje em dia. Coisa que conquistei com a maturidade. Gosto de me olhar no espelho, mas sei de suas armadilhas, então, as vezes o ignoro por protesto. Ficar sem olhar-se no espelho pode ser um bom exercício. Aparência não é tão importante assim, repito sempre para mim mesma. Elegância, harmonia e autoestima são atributos mais preciosos para se perseguir. Em 2016 passei máquina três nos cabelos como um desafio a minha vaidade. Foi libertador!! Farei novamente algum dia. As mulheres mais bonitas que conheço são carecas. No caso, me refiro as monjas budistas. Sou praticante há 20 anos.
Nesse momento de isolamento social o que tem ocupado seu tempo? Basicamente cozinhar, estar com minha filha, meu marido e meus gatinhos. Fazer posturas de yoga, ouvir música, ver filmes e séries, cuidar das plantas, falar com amigos pelo telefone e redes sociais e, de vez em quando, ver notícias da pandemia no mundo e da política no Brasil. Tenho tido pouca concentração para ler livros, embora tenha meia dúzia separada na minha cabeceira. São tempos muito difíceis esses. Medito também com um grupo, virtualmente, uma vez por semana e sozinha sempre quando acordo, pelo menos 10 minutos todos os dias. Fico só sentada respirando em plena atenção em minha almofada de meditação. Meditar é parar tudo e respirar conscientemente. É uma prática muito boa. Recomendo.
Para ler, ver e ouvir, quais as escolhas nesse momento? Duda Beat, Martins e Almério têm tocado bastante na minha playlist nos últimos tempos, além de Ednardo, meu compositor favorito. Acompanho também alguns canais no youtube como o “Tempero Drag”, da Rita Von Hunty, o da Monha Coen e o da Alana Rox de receitas naturais. Super recomendo!
Onde busca inspiração? Na natureza em primeiro lugar, passo bastante tempo contemplando. Sou uma buscadora de belezas. Adoro abraçar árvores. No Recife tem um baobá centenário nas Graças digno de ser abraçado. No Rio, tem o Corcovado com o Cristo, e em São Paulo tem os pores de sol mais lindos que já vi. Amo fazer registros fotográficos dessas maravilhas. Minha filha é uma grande inspiração. Ela é uma buscadora de belezas também. Trocamos muitas impressões do mundo. Meu marido e sua arte tão brasileira, iluminada, alegre, profunda e trivial me enchem os olhos e o coração. Mencionei que moro em um atelier de pintura com mais dois artistas?
O que te coloca um sorriso no rosto? Estar com minha filha e meu marido agarrados no sofá vendo filme ou em volta da mesa no momento da refeição. Estar com amigos queridos presencialmente ou virtualmente. Cantar. Admirar o belo. Receber gestos de carinho e afeto de quem menos espero.
E o que faz colocar as garras de fora? Fico indignada com ignorância, intolerância e arrogância. Todos somos corresponsáveis com o que acontece no mundo. Nossa postura diante das injustiças são fundamentais para garantir a mudança para uma vida social mais equânime. E devemos nos posicionar firmemente. Não compactuar com o que é errado e que fere o direito dos outros. Buda deu três ensinamentos: não faça o mal, gere benefícios aos demais e dirija sua própria mente.
Se tivesse que escolher um pecado, qual seria o seu fraco? Adivinha? A gula. Queijo coalho e bolo de noiva estariam no topo da lista, seguido de comida italiana e vinho.
Para conquistar Giselle basta… Essa é fácil, SIMPLICIDADE. Axé!