Para começar bem o ano, estávamos atrás de uma estrela que representasse um pouco nossa trajetória nesses 10 anos de MENSCH. Uma mulher que representasse essa nova mulher, mais decidida, segura de si e consciente do seu papel como artista e cidadã. Daí chegamos até Paloma Bernardi, que foi nossa capa impressa em 2015 e marcou nossa trajetória. Quase 7 anos depois, cá está nossa estrela de volta e celebrando seus 25 anos de carreira. E um detalhe, ainda mais bela! Para o novo ano nascer feliz, nossa estrela da sorte para abrir esse novo ciclo.
Paloma, de 1996 até hoje já vão mais de 25 anos de carreira. Como você avalia essa trajetória até aqui? Quais os momentos mais marcantes para você? Não tinha parado para pensar que são 25 anos de carreira! Eu posso dizer que estou em fase de comemoração, agora que estou me atentando às datas e ao tempo [risos]. Eu sou muito grata por cada trabalho que realizei. Sou muito feliz pelo apoio que eu tenho da minha família desde criança. A sementinha da arte tocou meu coração lá atrás, mas ela só se manteve viva porque tive o apoio de meus pais diante de tudo que surgia para mim como oportunidade. Um dos momentos marcantes dessa trajetória foi o meu início, com os meus 11 anos, quando fiz a minha primeira novela – Colégio Brasil. Lá, me vendo em um estúdio pela primeira vez, vivendo uma personagem em uma novela… Com certeza foi um grande start. Depois, quando eu fiz a minha primeira novela na Globo – Viver a Vida, junto com Lilian Cabral, Aline Moraes e outros grandes nomes. Ali, foi o meu primeiro reconhecimento nacional. Rosângela, de Salve Jorge, foi a minha primeira personagem com uma pitadinha de maldade e de sensualidade. Então, isso virou a chavinha na classe artística para o olhar que tinham diante do meu trabalho – da menina para a mulher. São tantos momentos marcantes que é difícil escolher. Também teve Terra Prometida, na Record, que me deu a oportunidade de viver a minha primeira antagonista em novela de época. Foi uma experiência ótima e eu tenho reconhecimento do público por isso até hoje. Há 2 ou 3 anos atrás, também fiz a minha primeira protagonista da Netflix. Ter múltiplos personagens, com as mais diferentes essências, é o que pontua minha carreira como atriz. Sou feliz por isso.
Ao longo desse tempo, o que você aprendeu e lhe marcou mais na profissão? Não podemos deixar os “nãos” da vida nos intimidarem e nos amedrontarem. Muito pelo contrário, temos que usá-los como degraus para subir, crescer e evoluir, para assim irmos atrás dos nossos sonhos e nos fortalecermos. É claro que nós temos coração e somos movidos a emoções. Então, algumas vezes a gente pode chorar no meio do caminho, mas a gente não pode deixar esse sentimento tomar conta, porque os sonhos estão ali para serem vividos. Precisamos fazer a nossa parte e plantar a sementinha hoje, acreditando naquilo que a gente deseja, seja profissionalmente ou não, para podermos colher bons frutos e agradecer, lá na frente. Eu acredito que o que é nosso está guardado e ninguém nos tira, mas a gente não pode ficar esperando. Temos que persistir, fazer a nossa parte e deixar que Deus faça parte dele. Sempre devemos estar com os pés no chão e ser realistas, mas ir atrás de nossos sonhos. Acho que isso foi o que me marcou na profissão. Viver da arte é algo muito difícil, ainda mais em tempos em que a cultura não está sendo valorizada. Dessa forma, poder viver de arte é um privilégio e é uma maneira de se comunicar com o mundo, com o próximo e consigo mesmo. A arte transforma, é terapêutica, faz refletir, emocionar e debater. A arte é impactante e ela te cura. Eu me sinto muito realizada porque a minha profissão me dá essa oportunidade de poder transformar não só a mim, mas também as pessoas e o mundo de alguma maneira.
Nosso último papo foi em julho de 2015. Você está de volta aqui, abrindo 2022 conosco. Praticamente 7 anos depois, quem é a Paloma hoje em dia prestes a completar 37 anos? “Prestes” entre aspas, porque é só em abril [risos]. Eu acho que, hoje, eu sou uma mulher que está em busca de estabilidade em todas as áreas da minha vida. Estou em busca de fazer com que os meus sonhos se tornem mais concretos. Quando a gente conversou lá em 2015, eu era uma mulher mais sonhadora e hoje eu já sou grata por muitos desses sonhos que foram realizados. Agora, eu quero trazer estabilidade para a minha vida. Eu quero tornar esses sonhos mais concretos e eternos para que tudo que eu conquistar dia a dia posse a se firmar na minha vida, ao ponto de ser reconhecido e vivido de geração para geração. Eu digo isso porque eu busco uma realização concreta na minha vida afetiva, familiar, profissional, pessoal… Eu entro nesses 37 anos, buscando deixar a minha marca registrada nessa vida. Um legado.
O que a maturidade tem te trazido de mais importante? Eu acredito que, desde minha infância e adolescência, eu já era mais à frente do meu próprio tempo, sabe? Eu sou a filha mais velha, então acho que eu sempre trouxe essa maturidade, mesmo que inconscientemente. Hoje, vivendo essa maturidade dentro da idade na qual ela prevalece, eu encontrei, principalmente diante desses tempos pandêmicos, o autoconhecimento. O maior aprendizado para mim, nesse momento, é o autoconhecimento, a necessidade de olhar para dentro, me conectar comigo mesma, para me tornar uma pessoa melhor internamente e poder externalizar, dividir e trocar isso com o mundo, com as pessoas, com a sociedade e com Deus.
Foi essa maturidade e maior clareza sobre as coisas que lhe fez provocar debates sobre a liberdade da mulher? Você se sente mais livre para expor o que pensa e sente hoje em dia? Com certeza! Esse autoconhecimento me fez ter mais clareza sobre quem eu sou e o meu olhar para as outras mulheres. Esse movimento que nós estamos vivendo dentro da sociedade hoje, de levantar bandeiras em busca dos nossos direitos como mulher, me fez ter mais vontade de dialogar, estudar os recortes dentro do universo do feminismo, debater e despertar esse autoconhecimento que eu adquiri em mim, mas também de outras mulheres. Eu acho importante a gente despertar no nosso semelhante aquilo que estamos encontrando de positivo em nós mesmos. Temos a liberdade de sermos mulheres como somos; diferentes com as nossas particularidades e intimidades, porém com olhar pra sororidade. Tem uma oração do ator que é assim – “Eu seguro sua mão na minha para que juntos possamos fazer aquilo que eu não quero, não posso e não vou fazer sozinho”, e eu acho que é esse o movimento hoje, da sociedade.
E uma de suas questões é levar mais informação e novas medidas para as jovens mulheres. Trazer à tona a triste realidade da falta de conhecimento sobre os ciclos de seu corpo e falta de apoio do governo. Como tem sido isso? Nós temos que reconhecer que o ciclo do corpo da mulher é algo sagrado, assim como tudo na vida. Ele merece atenção e respeito para que a mulher possa viver seus pequenos e grandes momentos, para viver em contato com o mundo. Falar sobre a pobreza menstrual e o conhecimento do ciclo do corpo feminino é muito importante. Eu tenho, cada vez mais, voltado o meu olhar para essa questão e estudado sobre isso, conversado com mulheres… Tem alguns projetos sociais que eu abraço, onde eu encontro com mulheres que sofrem por não ter um absorvente, por não conseguirem lidar com a própria menstruação de forma digna. Isso faz elas não irem trabalhar, faz adolescentes não irem à escola por medo de manchar a roupa, faz com que as questões psicológicas e emocionais daquelas mulheres sejam abaladas, faz com que doenças venham à tona porque elas acabam usando, ao invés de absorvente, miolo de pão, papelão, jornal… Isso é uma falta de dignidade e de humanidade enorme. Quando eu percebo que não existe um apoio social do governo para essa realidade, eu vou ser uma das que vou levantar bandeira para ajudar essas mulheres. O autoconhecimento me fez externalizar isso para poder acudir outras mulheres a se entenderem, assim como eu, e me deu mais força para apoiar quem não tem essas oportunidades.
A pressão em cima da mulher ser mãe ainda é um tabu a ser superado? Isso lhe fez congelar óvulos? Como enxerga isso? Sempre existiu uma pressão na mulher para que ela fosse aquilo que a sociedade patriarcal impusesse. Desde épocas passadas, a mulher é vista como alguém para casar, procriar e ser dona de casa. Hoje, a gente entende que a mulher pode ser isso sim, se for de seu desejo, mas ela pode ser muito mais. Ela pode ser multifacetada, ser além. Eu quero ser mãe, ser uma dona de casa, casar, mas eu quero ser muito mais do que isso. No ano passado, eu congelei os óvulos para quando eu quiser ser mãe, que é um sonho na minha vida, porém não é para o meu presente, e sim para o meu futuro, e que eu tenho certeza que eu vou realizar. Ter a liberdade de decidir quando, para mim, faz eu me sentir uma mulher mais independente, segura e livre.
Onde e como se sente mais pressionada hoje em dia? Acredito que quando o assunto é casamento e ter filhos, o falatório é maior (risos). Mas eu vou viver esses sonhos que fazem parte de meus planos, porém vou viver isso quando eu me sentir confortável e segura. Culturalmente falando, essa pressão de casar e ter filhos já está impregnada no subconsciente do ser humano. É um fator histórico e sistêmico, mas que eu não deixo isso tomar conta de mim. O autoconhecimento me faz amenizar essa ansiedade e viver os planos que eu tenho para minha vida na hora que eu me sentir mais segura e confortável.
A mulher independente e decidida ainda assusta os homens? Com certeza. As mulheres são grandes, sagradas e multifacetadas, como eu disse anteriormente. Isso abala muitos homens de uma certa maneira. Tem aquela frase que diz “atrás de um grande homem, há uma grande mulher”, e eles se assustam com isso. Tem homens que ficam acomodados e fazem da mulher uma eterna mãe, tem aqueles que batem de frente porque se acham superiores e tem os que se assustam porque não sabem lidar com essa grandeza que é a mulher. Voltando para aquela frase, eu gostaria que ela fosse transformada em “ao lado de um grande homem existe, caminhando junto, uma grande mulher”, nem atrás e nem na frente, mas ao lado. Se eles tiverem esse olhar para a mulher, vão ver que não há competição ou guerra, mas sim a busca pela igualdade. Devemos olhar nos olhos do outro e caminhar juntos. Essa é a minha maneira de pensar. Então, homens, não se assustem. Façam com que a gente some na vida de vocês, porque a gente também quer que vocês somem na nossa vida.
Uma dessas pressões é por se manter jovem e bela sempre? Sim. Dentro da nossa sociedade, foi imposto um padrão de beleza e, juntamente com ele, veio o medo de se viver cada fase da vida e envelhecer. Dentro do meio artístico, isso é algo pautado muitas vezes, mas não me abala. Eu busco me amar do jeito que eu sou, agradecer a Deus pela maneira como ele me fez e viver cada fase da minha vida de forma muito natural.
Onde está a real beleza? Como falei na resposta anterior, eu procuro viver de maneira natural cada fase da minha vida. Então, para mim, a real beleza é quando você consegue estar bem consigo mesma e externalizar isso, cuidando do corpo com práticas saudáveis, sem esquecer da alma também. Manter corpo, mente e alma saudáveis é o que verdadeiramente nos torna jovens e belas.
Onde procura recarregar as baterias? Primeiramente, em Deus. Todos os dias, a cada despertar e a cada momento antes se adormecer, as minhas orações se fazem presentes na minha vida e é através delas que eu me renovo diariamente. Eu também me recarrego quando estou com a minha família, viajo, medito, estou em contato com a natureza… Até mesmo ficar sem fazer nada é uma forma importante de me recarregar, ainda mais para mim que sou bem ansiosa e quero sempre estar à frente das coisas para resolver elas o mais rápido possível. Às vezes, fazer nada pode ser tudo.
O ano de 2022 promete ser bem agitado para você no cinema com dois longas e um curta em andamento. O que podemos esperar desses projetos? Eu me sinto feliz, honrada e privilegiada por poder continuar trabalhando no meio artístico, mesmo em tempos tão difíceis de pandemia. Eu nunca deixei de respirar arte. Em 2021, eu tive a oportunidade de viver dois longas-metragens. Um deles eu protagonizei, o TPM, Meu Amor, uma comédia romântica sobre o universo feminino e que traz um olhar muito voltado para a mulher lidando consigo mesma. É um filme muito divertido. O outro longa do qual eu participei nesse ano, se chama Ninguém é de Ninguém, um filme espírita baseado no livro da Zibia Gasparetto e que fala sobre relações abusivas e o quanto a nossa mente pode ser a nossa pior inimiga. Nesse ano, eu tive a oportunidade de viver da comédia ao drama no cinema e foram experiências maravilhosas para mim. Com certeza vocês vão ter a oportunidade de assistir esses filmes agora em 2022. O curta que eu fiz se chama A Senhora do Andador, com direção de Rogério Boo. Nele, a minha personagem é uma punk, designer de sapatos e usuária de drogas. Foi algo diferente para mim, porque é bem distante da minha realidade. Esse curta que está sendo finalizado vem com o intuito de rodar no circuito Underground do cinema, pelo mundo afora. Estou muito feliz porque vou estar nas telonas em 2022.
Neste início de ano também teremos sua volta aos palcos com a peça Terremotos de Mike Bartlett. Como andam os preparativos e o que aguarda o público? Eu me sinto muito honrada e privilegiada por poder pisar nesse palco sagrado novamente. Vai ser no SESI da Paulista, com a direção de Marco Antônio Pâmio, diretor super conceituado. Terremotos fala sobre as questões climáticas que estamos vivendo atualmente, a forma como o homem fere o planeta Terra e acaba se autodestruindo. O mundo pode acabar em um piscar de olhos, é o que a peça aborda. É uma história apocalíptica, onde tudo está em caos, não só por conta dos terremotos em si, mas também dentro do coração e da mente dos personagens. A peça é protagonizada por mim, Virgínia Cavendish e Carol Duarte. É um grande elenco, com mais de trinta pessoas no palco, então é uma experiência teatral incrível. Para as preparações, eu comecei fazendo leitura de texto e estudo de personagem, um trabalho mais intimista e individual. Agora, em janeiro, vamos começar a ensaiar freneticamente até o dia da estreia.
Falando especificamente sobre a minha personagem, esse caos apocalíptico que está acontecendo na peça, está acontecendo também no coração e na mente da minha personagem. Ela está grávida e tem que lidar com uma depressão pré-parto, o que torna sua saúde mental extremamente abalada e lhe causa uma série de alucinações. Falando como atriz, essa personagem é um prato cheio, porque tem todas essas questões psicológicas e mentais, além de abordar aqueles conflitos internos da mulher que eu pontuei anteriormente. Na peça, a depressão pré-parto é representada pelo medo da mãe de colocar uma criança nesse mundo caótico, e isso é algo muito real e importante de ser discutido. Tem vários assuntos que a minha personagem traz como pauta para o meu material de pesquisa. Para os meus estudos, eu venho assistindo obras que abordam delírios e alucinações, como O Bebê de Rosemary, Alice no País das Maravilhas, ou até mesmo Não Olhe Para Cima, onde o personagem do Leonardo DiCaprio vive uma neurose em que ele precisa avisar às pessoas que o mundo vai acabar. Então, ele está vivendo aquele mundo caótico dentro de sua cabeça. Também tenho conversado com mulheres grávidas para entender esse universo das mulheres que passaram por depressão pré-parto e pós-parto. Está sendo um trabalho minucioso, de muita pesquisa e observação. Eu espero que essa peça seja sucesso nos palcos e que todos possam assistir, porque é um tema realmente atual e necessário. Ele é um chacoalhão no que a gente está vivendo hoje, não só na questão climática, mas também social, econômica e política.
Para conquistar Paloma basta… Basta viver na simplicidade, ser família, ter um apreço pela arte, uma conexão com Deus e me fazer sorrir. Que seja responsável, me faça sorrir e que leve a vida de forma surpreendente, assim como eu.
Fotos Adri Lima
Beleza Aline Oliveira
Assistente Karla Lima
Locação Cliffside Hotel (RJ)