MUSA: CARLA ELGERT GANHANDO PROJEÇÃO INTERNACIONAL COM SÉRIE

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Carla Elgert iniciou sua carreira em Porto Alegre no reconhecido TEPA (Teatro Escola de Porto Alegre). Onde a gaúcha se destacou em diversas peças de teatro e séries locais, Carla ainda acumula outros trabalhos para o cinema. Ela foi a antagonista Bianca na série “Proibido para Maiores”, da Amazon Prime. Este ano tem mais dois projetos que serão lançados, o longa-metragem “O mundo que eu conheço lá não existe mais” com direção de Thiago Luciano e produção da Zero Grau Filmes + Trupe Filmes. Um thriller psicológico com um toque futurista. O elenco também conta com Eduardo Moscovis, Lucy Ramos e Emílio Farias. Carla da vida à Francisca, a “melhor amiga” da protagonista Liz (Lucy Ramos). Além disso, poderemos vê-la em breve no longa-metragem uruguaio “Variaciones de Koch”, com direção de Julián Goyoaga, produzido por RainDogs Cine e inspirado no livro de Manuel Soriano. Carla aqui dá vida à sua achará Carla, casada com o protagonista (Bruno Pereyra). Foi seu primeiro longa-metragem atuando em espanhol. Ano passado, começou a se destacar através de uma carreira internacional, na Europa, sendo dirigida por nomes como Martin Werner, Reynald Gresset, Edgar Wright, entre outros, destacando-se como protagonista do projeto Magnum – The Fraud, que vem ganhando diversos prêmios pelo mundo.

Como esta sendo vivenciar sua primeira protagonista em série? Uma sensação muito boa em perceber uma trajetória bonita, consistente, sem pressa. Um mix de conforto e inquietude. E sinto que a evolução são as duas coisas. Mais conforto e mais inquietação. Foi um processo árduo, encantador, complexo, intenso e que, ao mesmo tempo, me trouxe muita paz e satisfação. Rachel é um presente.

Houve alguma preparação especial, algum desafio para esse papel? Tive que trazer um leve sotaque alemão ao português e deixa-lo orgânico e fluido, me apropriar dessa linguagem. Outro desafio foi o corpo e tom de voz. Eu sou muito solta na vida, muito leve. Tive que trazer o peso necessário para a Rachel, um corpo mais rígido e a voz mais grave. E, por último e não menos importante, tive que aprender muito sobre o mundo da enfermagem para realizar os procedimentos médicos em cena com verdade.

O que podemos esperar do longa “O mundo que eu conheço lá não existe mais”? Acima de tudo um profundo mergulho na mente humana. Sem spoiler, mas no filme, uma misteriosa síndrome inibe completamente um dos sentimentos humanos mais potentes e universais: o amor. A Francisca, minha personagem, foi um presente. E, assim como a Rachel, ela me exigiu um trabalho de voz e de corpo bem diferenciados e precisos. Acho que atraio esses personagens. E atuar junto com Lucy Ramos, Edu Moscovis e meu querido amigo de anos Emílio Farias foi um abraço na alma.

Como é para você essa ponte Brasil-Espanha? Você sente diferença atuando em diferentes idiomas? Me sinto privilegiada em poder estar nestes dois mercados, é enriquecedor. Aprendo com duas culturas bem distintas, me traz um background e experiência de set muito interessantes. E sim, sinto MUITA diferença atuando em outro idioma. O espanhol me traz outra persona, uma Carla que eu adorei descobrir. A Carla espanhola é mais sedutora, extrovertida. Em contraponto, a Carla brasileira é mais introspectiva e misteriosa. Gosto das duas. E aprendo com as duas.

Como surgiu a oportunidade de fazer “Cidade Invisível”? A série foi sucesso mundial, como foi para você? Surgiu pelo caminho mais conhecido. Fiz o teste e fui aprovada. Quando li o roteiro da série me encantei e ao mesmo tempo pensei: como elas vão colocar em prática tudo isso? A verdade é que o resultado, na minha opinião, ficou sublime e a gente pode levar a cultura e folclore brasileiros para o mundo (e para o próprio Brasil) de uma maneira subvertida, envolvente e muito bem feita.

O fato de também ser cantora acrescenta na “Carla atriz”? Sem sombra de dúvida. Já fiz alguns personagens que precisavam dessa habilidade. E como também toco alguns instrumentos isso se potencializa. Sinto que acrescenta também no sentido de ter mais consciência das possibilidades da minha voz, e usar ela como uma potente ferramenta em cena.

Qual o seu maior objetivo de carreira? E de vida? De carreira, a constância. É poder estar sempre na ativa, em trabalhos consistentes e que eu me enxergue neles. Tenho muita vontade de gravar uma série espanhola e de continuar traçando uma carreira cada vez mais sólida no Brasil também, sem pressa e com muita dedicação e coragem. E de vida? Uou, tantas coisas. O que sempre vêm no meu coração quando escuto essa pergunta é: morar em um condomínio envolto de natureza onde meus vizinhos sejam minha família e melhores amigos e que a gente possa ter essa proximidade diária, uma troca genuína. Vida e carreira agitadas, mas em clima de interior.

O que é o papel da arte para você? É de nos fazer seres humanos mais preenchidos e conscientes. É o que nos transforma e nos ajuda em nosso processo de cura. Quando fazemos arte, conseguimos a expressão, a fluidez, a vitalidade. A arte é um olhar fresco. E acho linda uma frase da Matilde Campilho. “A arte não salva o mundo. Mas salva o minuto e isso é suficiente.”

Se você encontrasse a Carlinha de 7 anos hoje, o que você diria a ela? Mais fácil ela me dizer alguma coisa, tipo: -“Carla grande, busque viver a maior parte do tempo com o olhar da Carlinha descobrindo algo novo, tá? Busque, cada vez mais, desligar o cérebro questionador e analítico e deixa o corpo e a intuição te guiar”. Afinal, ninguém aprende mais do que uma criança feliz.

Você acredita que a rede social é uma ferramenta importante para o ator? Inevitavelmente, é um lugar onde podemos expor nosso trabalho para mais pessoas e gerar conexões super interessantes. Eu não gosto das métricas, me incomoda a obrigação de ter que postar, de ter um horário específico, de ter que entrar em “trends”. Acredito que tudo que tem que ser feito para entrar em um padrão pode soar falso, perde autoralidade, verdade. Tenho muito cuidado para não mergulhar nesse vício real que é a rede social. O trabalho de atriz acima de tudo me pede presentificação, estar imersa no que estou vivendo, perceber as sutilezas. E, para mim, isso é um grande problemas das redes sociais, ela tira o nosso poder de estar imerso nas coisas reais.

Quais são as suas inspirações? Me inspiro muito na psicologia, na filosofia e na espiritualidade. Adoro Steven Pressfield. Acompanho sempre a professora Lucia Helena Galvão. Ela me ensina muito sobre humanidade, que é o trabalho do ator. Atrizes que me identifico muito são Gena Rowlands, adoro sua intensidade, Juliette Binoche me encanta! Uma atriz brasileira que me inspiro bastante é a Marjorie Estiano, acho ela extremamente talentosa e gosto muito da postura dela na vida. Na música, Jorge Drexler tem me inspirado bastante, acho ele tão profundo e sagaz. E, acima de tudo, me inspiro na natureza. Gosto de observar a natureza e aprender com ela. Ela é minha religião e minha fonte. 

Você já teve que se transformar para fazer algum personagem? Com ascendente e lua em gêmeos, a transformação para mim é um grande barato. Já cortei cabelo, emagreci, aprendi idiomas. Uma vez, gravei uma série para o GNT bem no início da minha carreira. Minha personagem se chamava Celeste, uma excêntrica que morava com outras meninas em uma mina de cobre desativada. Tive que deixar meus pelos do corpo (todos) crescerem por 8 meses e precisei me libertar de algumas vaidades e pudores. Inclusive me apaixonei pelo naturismo e até hoje frequento lugares com essa filosofia.

O que você acha do cenário mais descentralizado de produções brasileiras atualmente? Ajudar o comerciante do bairro tá fazendo sentido, né? Sinto que é um movimento global. E sinto que essa descentralização está aumentando a possibilidade da gente se relacionar com os nossos assuntos, nossa história, nos relacionar com nossa cultura em todos os aspectos Acho lindo poder dar voz a produtos locais. É trabalho, espaço pra mais gente. Mostrar o Brasil para o brasil, sabe? Não conhecemos tudo do nosso país. E é importante incentivar isso, dar vazão. Isso traz autoralidade, identidade.

Como você cuida da sua saúde? Depois dos 30 venho criando uma maturidade também neste sentido. Eu me alimento super bem, me baseio muito na medicina ayurvédica. Sou vegetariana e amo cozinhar. Tenho o hábito da meditação há muito tempo, todos os dias. Também pratico esportes como musculação, pilates, surf e vôlei de praia. Adoro ter um tempo comigo mesma. Uma vez por semana faço “la noche de la diosa”. Uma noite só pra mim (e minha cachorrinha Querubim). Uma noite com banho de ervas, vinho, música e, se possível, um foguinho de chão.

Você segue alguma tendência de moda? Não, vou criando minhas próprias trends. Sou bem eclética nas minhas roupas, unhas e cabelo. Gosto de me vestir de maneira mais descolada e inventar looks. Meu cabelo já passou por mil fases e eu não tenho medo de mudar. Sinto que ele acompanha as fases da minha vida. Agora tá bem curtinho, acompanhando uma fase mais madura, empoderada.

Fotos Fred Luz