MUSA: A INQUIETA E CRIATIVA LOUISE CLÓS

A atriz, diretora teatral e produtora Louise Clós é natural de Santa Maria/RS e bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Morando no Rio de Janeiro há 10 anos no Rio de Janeiro, atualmente faz parte do elenco do longa “Jorge da Capadócia” com estreia para dia 18/04 nos cinemas e com distribuição da Paris Filmes. No longa atuou como atriz e produtora no Brasil e na Turquia. Além disso, é a protagonista Bárbara da série “Até onde ela vai” da Seriella Produções com a Record, – baseado em uma história real com 10 episódios que estreou início do mês. Com mais de 15 espetáculos teatrais no currículo, nos quais participa como atriz e/ou diretora, Louise foi aluna especial do mestrado em Artes Cênicas da UNIRIO, atuou e dirigiu esquetes da escola O Tablado, também no Rio de Janeiro. Entre 2009 e 2023, atuou como produtora master de mais de 50 shows nacionais. Atualmente segue produzindo eventos corporativos e artísticos, como o Prêmio APTR de Teatro, no qual atuou como assistente de produção em 2021.

O que o público pode esperar da série? “Até onde ela vai” é uma proposta totalmente diferente do que estamos acostumados a ver na Record. Primeira produção da Seriella, baseada em fatos reais e contemporânea, a história de Bárbara é comum à muita gente. O público pode esperar uma história intensa e emocionante.

Qual a principal mensagem da série? Costumo parafrasear Sartre quando diz que “somos o que fazemos com o que fizeram de nós”. Começando pela história da infância de Bárbara, vemos os traumas e cicatrizes que essa fase da vida pode deixar em nós. O amor que recebemos e a forma que aprendemos a amar quando crianças podem determinar uma vida baseada nestes padrões. Em um turbilhão de acontecimentos é uma história de dor, abusos, agressões, sofrimentos e perdas, mas principalmente sobre o poder do amor, do perdão, da redenção e da fé.

Quais cenas mais te marcaram ou desafiaram? Por quê? Nesse roteiro quase não temos cenas de passagem, leves ou despretensiosas. Todas elas vem acompanhadas de angústia ou reflexo de algum evento traumático. Apesar disso, posso destacar as inúmeras cenas de violência doméstica pois, me imaginar naquelas situações, pensando que de fato existiram, é muito forte. Saber que isso acontece o tempo todo com alguma mulher é insustentável. 

Como foi mudar o visual pra essa fase da personagem e como a caracterização te ajudou? Foi mais um dos desafios propostos pelo diretor e parceiro Felipe Cunha. Eu, na minha intensidade, nem pensei e disse: “bora, vamos lá!”. Não imaginava como ficaria, pois a personagem corta o cabelo em cena e de fato ver ela nessa nossa fase fez eu me ver diferente também. Bárbara queria uma mudança radical e isso se reflete nas atitudes dela. Estou feliz. É como se personificasse a transformação que Bárbara trouxe pra Louise. 

Na sua opinião, quais os principais pontos de virada da Bárbara e como isso desenvolveu a personalidade da personagem? “Até onde ela vai” é um dos roteiros mais humanos que eu já li. Bárbara tem muitos pontos de virada mas, pra mim, os principais vieram da infância. Ela não consegue superar os episódios traumáticos da dessa época e na vida adulta reage de acordo com isso. Com um desejo inconsciente enorme ser amada e acolhida, ela faz coisas improváveis pra isso. 

Como se prepara para as cenas intensas da série? Requer uma concentração diferenciada? Estive focada nesse projeto emocionalmente e fisicamente desde outubro. Me fechei para concentrar no projeto, emagreci 6 quilos, mudei o sotaque, treinei minha resistência pois fui avisada do que estaria por vir. A série toda foi pesada, mas as cenas mais intensas e de ação exigiram muito de mim, da direção e da equipe que me ajudou com respeito e concentração. Eu funciono muito com respiração, aquecimento corporal e música. Isso me ajudou a estar mais presente, além de claro, muita fé cênica. 

De que forma enxerga o protagonismo e como influencia no dia a dia com a equipe? Foi um lugar novo pra mim, pois só havia feito protagonista em projetos menores. Acho que existe um glamour equivocado no lugar do protagonismo na nossa profissão. É superestimado e por isso existe uma linha muito tênue, pois a demanda de trabalho é imensa, você é extremamente exigido e precisa estar sempre bem. Como humanos e como artistas que somos, – veículos dessa história e dessas emoções -, é preciso estar sempre atento. Sempre ouvi dizer que o protagonista e o diretor são os marinheiros do barco, quem rege a energia do projeto. Eu trabalho em equipe desde os 17 anos, liderei grandes grupos como produtora e conheço quase todas as linhas de produção do audiovisual. Isso faz com que eu entenda, valorize o papel de cada profissional que faz essa engrenagem girar e me identifique com eles. 

Como a Louise sai desse projeto? E qual a análise que você faz de si nesse período? Dirigida pelo Felipe Cunha, fui provocada desde o inicio a estar entregue de corpo e alma pra esse processo. Adentrei muitas camadas pessoais para dar vida à Bárbara. Meus traumas e vivências, claro que não nessa gravidade, também foram impulso pra criação. Pra mim é impossível separar totalmente o personagem do intérprete. A gente se mescla, se mistura, vê o que temos em comum e o que podemos aprender com o outro. Foi uma forma de rever e acessar minhas dores dentro da minha arte. Acho isso significativo e muito bonito. Acho que ainda vou entender muitas coisas sobre a Louise pós Bárbara, mas sei que ela fará sempre parte de mim.

Quais suas principais lembranças dos anos 90/2000? Eu nasci em 91 né no interior do Rio Grande do Sul. Sempre quis ser atriz e sempre falei disso abertamente pra todos. “Vou ser atriz e morar no Rio de Janeiro.” E não é que se concretizou? Minha avó e minha madrinha são as principais figuras da minha infância, ambas apoiavam meu sonho além dos meus pais e tios. Elas já partiram mas as levo em todas as lembranças comigo de momentos alegres e principalmente de ensinamentos. Sou o que sou graças à elas e a minha família. 

Como está se sentido com esse novo visual? Você tem algum ritual de beleza? Confesso que apesar de ser vaidosa, não tenho paciência, até me questiono sobre isso. Eu faço o básico e tento entender o que me faz bem em cada momento da vida. Agora com esse cabelo descolorido o cuidado é redobrado e tem me exigido mais atenção. 

Está namorando? Para conquistar seu coração é preciso… Falo que estou em um relacionamento sério comigo mesma. Depois de 12 anos namorando estou me reconhecendo cada vez mais como ser humano e mulher, entendendo meu papel no mundo e como posso me melhorar e evoluir pra ser melhor pra mim mesma e pro outro. Sou uma pessoa intensa, que gosta de viver, viajar, sair. Tenho muitos amigos e adoro estar com eles, a pessoa para estar comigo precisa gostar disso e ser parceira, isso é o que eu mais valorizo.

Como foi atuar e produzir o filme “Jorge da Capadócia”? Foi fazer parte de um momento histórico no Brasil e no mundo. O primeiro filme a retratar a história do santo guerreiro mais popular de todos me trouxe inúmeros desafios e presentes. A história de São Jorge é inspiração pra músicas, danças, livros e agora o público brasileiro poderá vê-lo nas telas de cinema a partir do dia 18/04. Dirigido por Alexandre Machafer e gravado em 2019 no Rio e na Turquia, “Jorge da Capadócia” retrata a vida e os obstáculos enfrentados pelo soldado romano antes de virar santo. Com mais de 250 profissionais envolvidos direta e indiretamente, participei da pré, gravação e pós-produção. Sou atriz e produtora há 15 anos e nesse projeto vivi os dois lados que mais me realizam. Como Rita, dei vida à esposa de Jorge em cena. Como Louise, fiz parte da equipe de produção de logística, atuando incansavelmente nos bastidores ao lado de grandes parceiros. Viajar com o meu trabalho, conhecer novos idiomas, pessoas e culturas é engrandecedor, mas saber que o povo brasileiro vai poder se ver, se sentir representado e se emocionar, é o que faz tudo valer a pena. Mais uma vez, através da minha arte tive provas do que a fé (independente da crença) é capaz de fazer.

Fotos Priscila Nicheli

Styling Samantha Szczerb 

Beleza Luan Milhoranse

Agradecimentos Laghetto Stilo Barra, Nayane e Mazzini