Destemida e aberta às possibilidades que a profissão e sua jornada de vida lhe proporcionam, Ingrid Conte, está no ar em três momentos bem distintos da sua carreira. Com dois personagens de novela no ar, nas tramas “Topissima” e “Gênesis”, na Record, e na recém lançada série “DOM”, na Amazon Prime. E foi de sua personagem Jessika, na série, que veio a ideia desse ensaio para a MENSCH, o pole dance. E não por acaso que no pole dance Ingrid descobriu o quanto se identificava com a prática do pole. O resultado disso você confere aqui nesta bela matéria. E nós ficamos aqui já querendo mais Ingrid no ar em novos desafios.
Você fez um ensaio todo de pole dance, inspirado na sua personagem Jessika na série “Dom”, do Prime Video. Como foi fazer esse trabalho? Como se preparou? Quando eu soube que ia fazer a Jessika e que ela era stripper fiquei muito empolgada!!!! A Jessika é uma personagem deliciosa de se fazer porque me permitiu uma liberdade pra brincar, pra seduzir, pra colocar pra fora um lado mais sexy! Foi libertador! Homens são criados pra aproveitar sua masculinidade ao máximo, enquanto mulheres são tolhidas, porque aprendem desde cedo que o feminino é perigoso! Então fazer essa personagem foi também uma oportunidade de cura, pois me permitiu colocar pra fora todo um erotismo, uma expressão através do corpo, que é socialmente banida do corpo da mulher. Sobre a preparação, eu já me preocupava com minha alimentação e sempre amei fazer atividades físicas, então pra poder me sentir à vontade em cena com o meu corpo, só dei uma atenção um pouco maior a isso! Fiz algumas aulas de pole dance também!
E como foi aprender pole dance? Já tinha feito antes? Eu conheci o pole há 11 anos com a Flavia Rodrigues. Fiz alguns meses de aula na época, mas acabei abandonando pela correria da vida. Quando soube que ia fazer a série, a primeira coisa que pensei foi: “vou falar com a Flávia e pedir pra ela me ajudar com a dança, com a sensualidade”. Fizemos algumas aulas, montamos uma coreografia e isso foi me ajudando a me soltar pra gravar. Me senti tão bem que reacendeu a paixão pelo pole! É engraçado que quando se pensa em pole dance, a primeira coisa que vem à cabeça da maior parte das pessoas é um club de strip, onde mulheres dançam por dinheiro. Essa é só uma parte e é uma visão a partir de um ponto de vista bem masculino! A Flavia me mostrou um mundo muito maior, uma visão de pole como esporte, como arte! Isso me encantou! Acabei de gravar a série, mas continuo fazendo aulas até hoje. E já se vão 2 anos!
Como analisa o crescimento do streaming e da internet para trabalhos artísticos no Brasil? O mercado audiovisual vem se expandindo cada vez mais. Esse movimento já vinha acontecendo, mas com a pandemia, a busca por arte e entretenimento online passou a representar uma das maiores formas de consumo de conteúdo. Já temos a nossa disposição vários produtos nacionais lançados em plataformas de streaming e Dom, por exemplo, foi a primeira série original brasileira lançada pela Amazon! A internet também se apresenta cada vez mais como uma ferramenta incrível e super democrática, onde todo mundo pode se expressar e ter voz! Isso é muito significativo, pois todo esse movimento amplia muito nossas possibilidades de trabalho, não nos deixa tão dependentes das grandes emissoras e produtoras! É maravilhoso tanto pra quem trabalha no mercado quanto pra quem consome, afinal o público passa a ter a sua disposição uma programação cada vez mais diversificada!
Fazer foto em pole dance requer muita força muscular para permanecer parada para o clique. Como foi posar pra esse ensaio pra MENSCH? Conte-nos alguma curiosidade dos bastidores. Sim, fazer os movimentos e “segurar no carão” foi realmente desafiador! (risos). Além disso, os movimentos que foram feitos no ensaio foram limitados por causa da roupa. Pra praticar pole precisamos de pele, o máximo de pele possível, pra ter atrito com a barra e consequentemente, ter sustentação. O tecido da roupa fazia escorregar! Mas apesar disso, o ensaio foi bem tranquilo e prazeroso! A produção é que foi um tanto trabalhosa… A Flavia me emprestou a barra pra levar pro estúdio onde fotografamos e eu contei com a ajuda dos meus pais nisso, que foram lá buscar a barra e levaram até o estúdio!!!! E meus pais têm um carro pequeno, então foi uma missão pra colocar e tirar a barra do carro… e ainda montar!!!!! Eu e Lucio (o fotógrafo) que montamos a barra, fomos aprendendo ali na hora com um vídeo de passo-a-passo que a Flavia mandou! O ditado “quem vê close, não vê corre” nunca se aplicou tão bem! (risos) Mas eu amei o resultado, valeu toda a correria do dia!
Dizem que pole dance aumenta autoestima e segurança na mulher. Isso também aconteceu com você? E como isso se reflete em você? Mais do que uma atividade física, o pole dance é uma jornada de autoconhecimento que faz com que você ganhe ou retome a confiança no seu corpo que foi silenciada ao longo da vida. E sim, de alguma forma, todas nós mulheres, em algum momento da vida, nos diminuímos pra nos encaixar nessa sociedade que é conduzida por padrões masculinos. Existe tanto abuso sexual e emocional no mundo, que fomos fechando o nosso corpo, abafando o feminino, restringindo o erotismo. Além disso, a pressão por estar dentro de um padrão estético faz com que muitas mulheres sintam vergonha dos seus corpos. O pole traz isso! Você vê tantas mulheres maravilhosas, de diferentes idades, diferentes corpos, com diferentes histórias… E que quando estão fazendo aula, estão tão inteiras, sem pudores, sem comparações… daí você nota o quanto à forma que você enxerga seu corpo reflete no seu posicionamento social. E não se trata de se olhar no espelho e se ver sexy, mas sim de encontrar um lugar de conforto e confiança no próprio corpo. Essa confiança, sem dúvidas, fez com que eu me sentisse mais inteira fora das aulas também.
Levou o pole dance para o seu cotidiano? Bom, eu mudei de apartamento porque queria mais espaço pra colocar uma barra na minha sala, pra poder treinar com mais frequência… acho então que sim (risos)
Aliás, existem campeonatos de pole dance. Já chegou a pensar em participar? Sim, existem!!!! São campeonatos regionais, pan-americanos e até mundiais, que tem regras bem exigentes, baseadas nas regras da ginastica artística, rítmica e na patinação artística. Além disso, também existe uma federação internacional desde 2012 que busca reconhecimento perante o comitê olímpico internacional pra que o esporte seja reconhecido como modalidade Olímpica, mas pra que isso aconteça é preciso que cada vez mais pessoas pratiquem o pole esporte, principalmente as crianças. Eu morro de vontade de participar de um campeonato, mas é necessário muita dedicação, muito treino, como qualquer atleta. Brinco com a Flavinha (minha instrutora) que vou largar a carreira de atriz pra virar atleta de pole!!!! (risos)
Durante a pandemia você também gravou a novela “Gênesis”, da Record, e ainda pode ser vista na reprise de “Topíssima”. Como é poder variar em personagens de épocas e estilos tão distintos? Você prefere ou gosta mais do padrão das típicas mocinhas? Tá aí uma das coisas que mais amo no minha profissão: a oportunidade que cada personagem novo me traz de descobrir coisas sobre mim mesma. É terapêutico, é um processo de cura. Tem tanta coisa que ressignifico em mim a partir do estudo de um personagem novo! É uma troca: cada personagem deixa um pouquinho de si e eu deixo um pouco de mim em cada um deles! Eu não tenho preferencias, gosto de personagens complexos, cheios de camadas, com falhas, com buracos emocionais, resumindo, humanos! Quanto mais complexo um personagem, mais me apaixono por ele!
Aliás, você se considera uma mocinha? Bom, me considero humana (risos) Tenho qualidades, defeitos, às vezes me guio pela emoção, às vezes pela razão, tenho meus momentos de lucidez, outros de incoerência… busco me transformar, mas ainda repito alguns padrões que já não fazem sentido pra mim! Mas estou aprendendo a ir cada vez mais fundo, a ter cada vez mais consciência sobre quem eu sou pra poder melhorar como ser humano!
Dizem que vida de ator tem muito glamour; O que é mais difícil na profissão? Gente, me fala onde que está esse glamour que eu ainda não achei nesses anos todos! (risos) Acho que existe uma imagem muito idealizada do que é ser ator. É muito mais desafiador do que parece! Vivemos num país em que cultura e educação enfrentam resistência por provocarem reflexões “fora da caixa”, por ampliarem nossa visão de mundo e por serem as responsáveis por transformações mais profundas na dinâmica social… E não é interessante pra quem tem o poder nas mãos, o estímulo a essa liberdade de pensamento! Ser ator ou artista, de uma forma mais geral, é lidar com toda esse resistência que naturalmente já nos é imposta! E que gera uma série de consequências, como por exemplo, a instabilidade da nossa profissão e a falta de trabalhos remunerados de forma justa.
O que faria se não fosse artista? Eu já passei por outra profissão, sou formada em Ciências Atuariais e larguei pra estudar teatro. E hoje, apesar de todas as dificuldades, não me vejo fazendo outra coisa. Quando a gente aprende a lidar com os momentos de “vácuo” e aceita que essa é uma das realidades da profissão, a gente diminui consideravelmente nosso grau de idealização e frustração. Uma vez estava assistindo uma palestra do Marcos Caruso na qual ele dizia que “vida de ator é aprender a surfar uma onda e voltar pra praia”, porque é isso… Às vezes estamos num trabalho que traz uma série de coisas pra nossa vida e você se torna interessante pra um monte de gente, pro mercado, mas daqui a pouco essa onda também passa e a gente volta pra praia… e é ali onde desenvolvemos nossos projetos, onde buscamos nosso equilíbrio, nosso bem estar, independente dos “holofotes”! Quando ouvi o Caruso, um ator com essa longa estrada que conhecemos, pensei: “É isso! Vou fazer o melhor que posso pra fluir com as instabilidades da profissão!” E isso inclui produzir arte de forma independente e falar sobre as coisas que fazem sentido pra mim, que me alimentam artisticamente! Depois dessa palestra do Caruso, nunca mais pensei em “plano B”! Mentira!!! Até penso! Mas todos eles são ligados a arte, de alguma forma!
Por onde passa a sua vaidade? Como é sua relação com o espelho? Minha relação com a vaidade foi mudando ao longo da vida. Como a maioria das mulheres, buscava me encaixar em padrões socialmente impostos. Já fiz dietas loucas, tratamentos estéticos que me fizeram mal. Mas fui percebendo que essa busca insana por estar num padrão nada mais é do que medo de um julgamento e uma necessidade de pertencimento, de se sentir amada… E nada, nem ninguém pode nos amar mais do que nós mesmas!
O mundo sabe julgar muito bem a mulher que está acima do peso, a mulher que está abaixo do peso, a que tem celulite, a que deixa seus cabelos brancos… ou você é muito isso, ou muito aquilo, ou falta isso, ou falta aquilo… sempre tem um motivo pra te apontarem o dedo! Quando passei a ter consciência disso, minha relação com a vaidade começou a mudar! Hoje me cuido sem exageros, amo fazer atividades físicas, mais pelo bem-estar do que pelo resultado, me preocupo com minha alimentação… gosto de me sentir energizada, fazendo coisas que me tragam entusiasmo pra viver a vida!!!! E quanto mais feliz eu me sinto, mais bonita eu me acho!
O que te conquista? Caráter, honestidade, empatia, bom-humor… Aliás, amo gente boba, gente que não se leva tão a sério, que sabe rir de si mesma, das suas dificuldades e que busca melhorar sempre! Nesse lugar me conecto muito fácil com elas porque é essa a minha busca atual!
Fora do trabalho, onde é possível te encontrar? Coloquei uma rede na minha sala e confesso que tenho passado boa parte do tempo nela lendo livros, vendo filmes e trabalhando no computador!!!! Também me exercito muito em casa, fazendo aulas online. Mas também gosto muito de me conectar com a natureza, então sempre que posso, dou uma escapadinha pra uma cachoeira, uma praia, faço uma trilha.
Nesse período de pandemia, como tem passado o tempo quando não está trabalhando? Tenho aproveitado o isolamento social pra direcionar meu olhar pra muitas coisas que eu queria ou precisava fazer, mas que na correria da vida foram ficando de lado. Comecei a estudar física quântica, li vários livros que estavam acumulando poeira na estante, produzi vídeos em casa, estudei edição, escrevi poesias… A pandemia tem representado pra mim, um período de me arriscar em coisas que achava que não era capaz de fazer, de desconstruir crenças! Por exemplo, tenho violão há 20 anos e depois de algumas tentativas frustradas de aprender, criei uma crença de que não sou boa pra tocar violão. Pensei: a hora de desconstruir isso é agora!!!!! E comecei a fazer aulas e a apreciar meu processo mais do que o resultado! E nessa “brincadeira” já tenho meu show (risos). Já tenho um repertório de músicas que toco pra mim mesma quando quero relaxar! Estão longe de estarem perfeitas, mas se me causam bem-estar, já fico feliz!!!
Quais seus próximos projetos pessoais e profissionais? Quero aproveitar o fim das gravações para desengavetar alguns projetos que ficaram em espera durante esse período. Tenho 2 projetos de teatro que estão sendo revistos em relação ao seu formato, já que com a pandemia, os teatros foram fechados. E as possibilidades de patrocínio também foram drasticamente reduzidas. E em relação a projetos pessoais, agora preciso organizar meu apartamento. Mudei durante as gravações da novela e até agora não tive tempo nem de desencaixotar toda a mudança!!! Então, a curto prazo, meu projeto é organizar minha casinha! Interna e externa!
Fotos @luciolunaphoto
Beleza @marcellamenezes_makeup