ESTRELA: FANTINE THO É MÚSICA PARA OS OLHOS

Ela é uma das Rouge mais queridas, ativamente ligada à música, Fantine Tho está mais gata e inspirada do que nunca. Morando atualmente na Holanda, sempre que pode vem ao Brasil e é puro encanto. Assim como mostrou durante esse arrebatador ensaio exclusivo para nós (e claro vocês!). Batemos um belo papo sobre carreira, vida, yoga, amizade e claro, muita música. Uma matéria para marcar, assim como a trajetória do grupo de girl group mais arrebatador da nossa história.

Fantine, indo lá para o início de tudo… Em 2002 venceu o Popstars e passou a integrar o girl group brasileiro Rouge que terminou sendo um grande sucesso. Você esperava por tudo isso? Como foi para você esse início? Vamos ver o que consigo dizer 20 anos depois sobre o que entendi da experiência que vivemos. Posso falar por mim. Definitivamente não esperava o estouro que foi. Estávamos prontas para fazer um show na praça de alimentação do shopping, com mesas e cadeiras de plástico nos esperando. De repente surgem 10 mil pessoas com cartazes, cartas de centenas de metros, sorrisos maiores que o rosto, olhos brilhando e vermelhos de tanto choro, gritando nossos nomes. Eu fiquei super confusa quando vi meu irmão segurando a multidão para ajudar a gente passar e subir no palco. Meu único pensamento, “Gente! O que aconteceu?!” Zero noção do que nos aguardava.

Me lembro de sentir a vontade de que meus braços fossem maiores para abraçar o mundo, que meu coração fosse maior para conseguir amar mais e só me restou me entregar por inteira no palco a cada show. Amava fazer shows, nasci para isso. Detestava fazer televisão, confesso, tive que aprender. Foi um bom treino de paciência e exercício de gratidão pela oportunidade única. Mas eu só queria saber de cantar e dançar. É minha grande paixão. Mas nenhum trabalho consiste de coisas que só gostamos né? Logo no começo fomos descobrindo como seria nossa dinâmica. O relacionamento entre cada uma de nós. Trabalhando sob pressão foi rápido o processo de conhecer o caráter de cada uma. As manias, os pontos fortes e fracos e como faríamos para conviver com nossas diferenças mantendo o foco em aproveitar bem o trabalho a oportunidade única que recebemos. Escola valiosíssima para a vida.

O Rouge foi a 1a girl band de sucesso, se não a única, do Brasil. Qual o segredo desse sucesso? O segredo do sucesso…interessante, por mais que dissessem que fomos um grupo fabricado, não existe fórmula; sim vários ingredientes. Quatro meses em rede nacional, todos os finais de semana, na época que não existia mídia social e televisão centralizava mais de nossas atenções. O investimento foi alto em um conceito que já estava funcionando mundialmente, mas nada disso teria ido longe se não fôssemos nós cinco. Mulheres guerreiras em toda diversidade. O Popstars virou uma espécie de Avengers, que reúne diferentes figuras de diferentes cantos com super poderes e traumas diferentes que funcionam muito bem juntos. Que lutam pela justiça, o amor com todos seus talentos e limitações, só que sendo gente, sendo humanas, sendo mulheres, trabalhadoras e entregues há algo muito maior que nós mesmas, juntas. Isso é poderoso.

Muita mulher junta, vaidade, TPM, holofotes… era difícil administrar tudo isso (risos)? É difícil administrar diferenças, sendo mulher ou homem. Basta ser humano e estar junto. Já assistiu o documentário dos Beatles? Tensão à flor da pele. Homens. O ser humano tem o potencial ganancioso, competitivo, materialista, vaidoso, agressivo. É vital nos conscientizarmos disso, como humanidade, olha nosso planeta como está. Nós tivemos sucesso administrando nossas dificuldades. Olha tudo que superamos e conquistamos apesar delas. É importante entender que conflito não é nenhum bicho de 7 cabeças. As dificuldades podem apresentar oportunidades, como gerar a inquietude para compor uma música, como foi o caso de “Um Anjo Veio me Falar” e outras versões e originais nos álbuns do Rouge. Aproveitamos o conflito para desenvolver caráter e decidir como nos posicionarmos na hora de tomar decisões para crescer, avançar e nos divertirmos.

Nossa tensão pré e pós menstrual nos proporcionou muita suavidade, parceria, intimidade e inspiração também. A fúria, a paixão, a própria competitividade foram muito bem aproveitadas, na dança, no canto, na entrega nos palcos, na hora de amar. Esta força propulsora feminina que gera vida nos gerou muitos frutos. Por mais que possam pensar, o Rouge nunca foi barranqueiro. Nossa tensão era silenciosa a maior parte do tempo. Tensão acumulada com seu devido tempo de explosão. Cada uma no seu tempo. Talvez teria sido mais saudável discutir com mais frequência e comunicar nossas necessidades. O foco maior estava na oportunidade profissional raríssima à nossa frente e por isso fomos Rouge, mulheres que chegaram muito longe juntas, sim.

O que levou ao fim do grupo foram divergências de pensamentos ou de trilhas para o futuro de cada uma? Da mesma forma que uma série acaba, um musical sai de cartaz, uma novela acaba, o Rouge também fez sua última temporada e cada uma seguiu com sua carreira ou outras vocações. E como alguns filmes, musicais e séries, também fizemos nossas releituras, e reencontros depois que ganhamos a força da nostalgia com o tempo. Fica mais difícil entender, para nós mesmas, inclusive, porque somos um grupo musical, uma banda, e música não tem fim. Só que nós, fomos nossas próprias personagens, nesta história.

Tem bandas que se formam voluntariamente, como os meninos do Jota Quest, que cresceram gradativamente e até hoje estão aí e tem grupos formados, como One Direction e NSync que acabam virando produções mais pontuais; por mais que o tempo de duração não esteja definido, assim como o final de uma novela ou série também não. Alguns têm um final espetacular, outros, decepcionantes. A maioria não passa do piloto. Nós passamos do piloto e tivemos um final mais confuso que “Lost”. Mesmo assim é uma super série. Ou como “Sense8” que ficou caro demais para continuar e só teve fim graças aos fãs. Nossa comemoração de 15 anos foi nessa pegada, foi a demanda dos fãs que animou os empresários e assim fomos comemorar para honrar e celebrar a trajetória que ficou para a história.

Depois veio a carreira solo e novos desafios. Como foi esse período para você? O que foi mais desafiante? O maior desafio foi terminar um trabalho com fama e sem grana. Isso acaba com qualquer ego, então até que foi bom. Eu retomei meu trabalho de antes, tocando música original com meu irmão John, rock. Fizemos alguns shows, mas eu estava cansada da indústria e precisava de um tempo para desacelerar. Aceitar isso foi difícil. Decepcionar meu irmão e ouvir meu coração.

Início de 2018 vocês do Rouge se reuniram novamente para uma breve turnê e lançar um single. Percebeu mudança e amadurecimento entre vocês? Como foi essa breve volta? A breve volta na Fábrica das Estrelas foi uma delícia e aconteceu em função do movimento “Rouge 10 anos” dos fãs. Não teria acontecido se não fosse por isso. O plano era gravar uma música só, mas depois que eu timidamente mostrei um som potencial para a Karin e ela me disse, “não traduziu ainda por quê?!”. Me animei muito. Nada me deixa mais feliz do que colocar todos os problemas de lado, ou justamente, abraçá-lo para fazer música. Definitivamente percebi uma evolução em nossa colaboração e musicalidade. Foi quando minha voz começou a mudar muito também. Fiquei feliz em perceber minha própria evolução. Quando comentaram que estávamos sendo “usadas” para promover um outro grupo eu nem me importei. Rouge é Rouge. Fiquei feliz com nosso reencontro e as novas canções.

O que você guarda pra sempre e o que você prefere descartar desse período com o Rouge? Nossa, que pergunta difícil. Eu vejo o Rouge como um espelho que me mostra do que eu sou capaz, quem eu quero ser, do que eu preciso e quem eu não quero ser. Sou grata a tudo.

Mantiveram amizades? Com quem você se relaciona até hoje? Preciso dizer que o que nós temos vai além da amizade. É cumplicidade. O que nós passamos, só nós sabemos, vai além da formalidade ou convivência. Eu morei com a Aline um tempo, quando ia ao Brasil passava alguns dias na casa dela entre crianças, música, drinks e confidências. Sempre conversei bastante com a Li, e sempre me entendi muito musicalmente com a Karin. A Christine, minha filha, sempre se identificou muito com ela. Quando tinha 4 aninhos dizia passando a mão no cabelo, “mamãe, eu sou a Karin”. Agora amiga, amiga de me relacionar até hoje é a Carol Caminha. Fotógrafa, jornalista que era fã do Rouge. Era. (risos)

Como a música te toca? Quando começou sua relação com ela? A música me catapulta para outra dimensão. É um veículo que me leva para o colo divino, chorar minhas lágrimas, rir, me soltar e agradecer a vida. Tenho algumas lembranças do começo dessa relação. As canções de ninar da minha mãe, que entravam no coração feito mel, Nana Cayme. Minha mãe saindo para o show do Sting e eu sentindo meu coração pular. Meu primeiro e segundo shows, os gênios Ricky Wakeman e Pat Metheny. O piano que ganhei de aniversário de 9 anos. Eu indo à loucura assistindo o filme “Amadeus”, a história de Mozart, me sentindo o próprio. Chorando compulsivamente ouvindo a trilha sonora de Ennio Morricone  “A Missão” no repeat. O medo que sentia ouvindo a trilha sonora do filme E. T. e Tubarão. A certeza de que podia voar quando ouvia a trilha sonora de Super Homem. O sorriso do meu pai quando ele me ouviu cantando Madonna e Daniela Mercury. “A cor dessa cidade sou eu”. Quando a Xuxa pegou um presente da minha mãe em Goiânia. Quando eu comecei a tocar com meu irmão na Guarda do Embaú, para a comunidade do surf que queria curtir rock no carnaval.

Casar, morar no exterior e não mais cantar. O que foi mais duro de se adaptar? Eu viajo o mundo cantando, só não faço mais parte da indústria do entretenimento. É diferente. Eu sempre cantei, e sempre vou cantar. Depois do Rouge estive em grandes palcos em Berlin, na Índia representando o Brasil e a Holanda na conferência internacional das mulheres. Acabei de voltar da Suíça, com convite para Inglaterra, Argentina e Bulgária.  Eu saí do Brasil com 10 anos de idade. Sempre me adaptei rapidamente a novas culturas, gosto de viajar e aprender novos idiomas. Casar para mim é difícil. Me sinto presa e limitada quando estou em um relacionamento. É minha pauta de terapia. Sou aquariana. Amo minha liberdade e solitude e estou para entender como conciliar isso com casamento.

Você casou com o sonoplasta neerlandês Nick van Balen e foi morar nos Países Baixos. Como foi esse período? Quais os desafios e conquistas? O Nick é iluminador. Ele brinca inclusive, quem faz luz é sempre confundido com quem faz som. Quando chegam para ele em shows pedindo para aumentar o volume ele mexe uns botões e pergunta, “melhor assim?” E a pessoa sai feliz, “sim! Bem melhor”, mas ele é da luz.

O Nick e eu não estamos mais juntos. A parte mais difícil foi colocar nossas diferenças de lado para focar no melhor para a Christine. Estamos na mesma página. Ele é paizão, eu posso contar com ele. Não foi sempre assim e ainda é um exercício. Os primeiros anos na Holanda foram os mais difíceis. O idioma é de doer, faz frio, venta muito, tem pouco sol e não tem família. Por outro lado, tem tudo que eu estava buscando. Segurança, estabilidade e fica na Europa, um mundo à parte para conhecer. Aqui encontro muito espaço para crescer pessoalmente, me desenvolver espiritualmente. Sempre que posso volto para o Brasil. É vital e essencial fazer isso.

Você saiu da música, mas ela nunca saiu de você. Como está hoje a sua relação com a música e os palcos? Eu continuo compondo, lancei um álbum de meditação, Pele e Alma, produzido pelo Italiano Alessandro De Rosa, que ironicamente, foi um grande amigo e autor da biografia do meu ídolo de infância, Ennio Morricone. Fui convidada de honra do humanitário Gurudev Sri Sri Ravi Shankar para a conferência internacional das Mulheres. Escrevi o tema musical para o poema de sua irmã que carinhosamente chamamos de Bhanu Didi. O tema se chama “Wonder”.

Estive presente em Berlin na abertura da turnê “Stand for Peace” cantando outro tema para milhares de pessoas e tenho me aventurado, aprendido mais sobre mantras. Recentemente lancei um Bhajan “Gurudev Shankara”. Preces e afirmações que evocam bênçãos de sabedoria e proteção. Estive na Suíça recentemente onde também cantei minhas mais recentes composições durante um curso de meditação guiado por Gurudev para um público internacional. Tenho gravado com Renato Cipriano, que foi produtor musical do Skank. Ele fez um arranjo maravilhoso para um tema que escrevi sobre Ganesh. A hora de lançar ainda vai chegar. Estou em fase de aprendiz, experimentando e tocando ao vivo pelo mundo afora de vez em quando.

E como é Fantine mãe no meio disso tudo? O que a maternidade te ensinou? A maternidade, minha filha, é minha maior prioridade, eu gosto que seja, e que o tempo para si é fundamental para a saúde de todos. A Christine me ensina todos os dias, além do Holandês, sobre paciência, compaixão e a importância da orientação clara. Me ensina a ser clara e cada vez mais verdadeira. A maternidade me ensinou a pedir ajuda, coisa que ainda estou aprendendo. Ser mãe me tornou uma mulher ainda mais determinada a crescer. Fazer o que for preciso para manter um ambiente de paz e harmonia em casa para proteger a inocência da crença. Dizer não para um monte de coisas e gente para poder dizer novos “sims”. Ser mãe me mostrou que eu realmente não sirvo para brincar com a Barbie. Eu durmo no chão. Ser mãe me mostra que a vida passa muito rápido, rápido demais, que realmente é curta, e cada segundo de vida é precioso e é para ser celebrado. Ser mãe me mostrou que eu prezo liberdade acima de tudo. Mais do que carreira e oportunidades e que a verdade é realmente o caminho da liberdade. Ser mãe me mostrou que somos almas únicas neste mundo.

O tempo lhe fez bem e você está mais linda do que nunca. Como se cuida e do que não abre mão em relação à vaidade? Ah, muito obrigada! Eu me cuido com Yoga, meditação, alimento meu espírito com boa companhia e intelecto com cursos, terapia e livros para me libertar do peso do passado e as toxinas do dia a dia. Não bebo, não fumo, nunca usei drogas e fico longe de cirurgia plástica. Eu vejo minhas rugas, meus cabelos brancos, meu corpo mudar e aceito. Mantenho meu espírito de criança, danço, corro, contemplo a natureza e choro quando preciso. Faço tudo de bicicleta, não dirijo há 10 anos. Preciso beber mais água, esqueço. Minha próxima missão é me libertar do vício do açúcar. Sou vegetariana há pouco tempo, quatro anos. Isso também funcionou muito bem para mim. Dou aula de Yoga, fulltime. Compartilho o que eu mesma pratico e preciso receber. Sou um processo em continuo andamento. Não perco tempo tentando fazer o tempo parar. Voo com ele e respiro com o ar. O melhor face lift que tem.

O que uma pessoa precisa ter para atrair sua atenção? Autenticidade. Isso para mim é beleza, inteligência, coragem, presença de espírito, experiência de vida, autoconfiança e um toque de ousadia em um.

O que vem daqui por diante que possa nos adiantar? Big Brother 23. (risos). Estou acompanhando e torcendo muito pela nossa Aline. Quem quiser praticar Yoga comigo, mesmo que nunca tenha praticado, já, já tem novidades.

Manda um recadinho para os fãs que estão adorando te ver aqui neste belo ensaio… Quero te apresentar um belíssimo fotógrafo, Guilherme Lima com quem tive o prazer de fazer este ensaio. Espero que nosso encontro, este ensaio, possa refletir o que tem aí dentro você. Espero que encontre pessoas para celebrar sua beleza, na fase da vida que estiver. Que te enxerguem como você é, na sua forma única. Que sua inocência seja preservada, qualquer peso aliviado e sua beleza exaltada. Que sua expressão seja cada dia mais livre e autêntica.

Foto @guilhermelima

Assist foto @leticia_lavatori

Beleza @tittovidal

Stylist @luanventilari

Video fashion @guilhermelima

Video making off @ricotouro

Apoiadores @estudio_insonia e @manapoke_botafogo