CAPA: IGOR FERNANDEZ E A VIDA DEPOIS DE CARA E CORAGEM

O ator Igor Fernandez acabou de encerrar mais um trabalho, o Lucas da novela (Globo) Cara e Coragem, onde fez de tudo um pouco e se desafiou em novas aventuras pelo personagem, como por exemplo, dançar no ar preso por cordas.  “Tenho paixão por viver vidas que não são as minhas e esse processo da dança vertical me pegou de surpresa”, declarou ele ao longo do nosso papo. Agora, renovado e pronto para um novo trabalho, segue cheio de planos.

Igor, foi difícil desapegar de Lucas nesse final de Cara e Coragem? Acho que o mais difícil é desapegar da rotina, porque era delicioso passar o dia com os amigos trabalhando, rindo e convivendo com uma equipe que foi excepcional do começo ao fim e em toda parte do processo. Mas, tecnicamente falando, algumas características do Lucas ainda vão reverberar na minha vida. O desapego do personagem é um uma questão que todo ator deve passar, porque dedicamos muitos meses estudando e vivendo em uma configuração que não é a nossa, seja o modo de falar, de agir, física e espiritualmente, então sempre fica algum resquício do personagem em nós. Mas a medida que outros trabalhos vão chegando e outros estudos vão aparecendo a gente vai desapegando fisicamente de um personagem para se adequar a algum outro. O difícil nesse processo é saber quem é o Igor no meio dessas personalidades todas, mas confesso que me divirto e aprendo muito com cada desafio que me é dado.

Aliás, dentre os desafios que o personagem te trouxe veio a dança no ar. Foi difícil encarar? Ter trabalhado com circo ajudou nesse aprendizado? Como foi a experiência? Foi uma experiência transformadora, assim como todas as experiências das quais eu preciso encarar pra viver um novo personagem, aliás, é isso que me move como artista e eu adoro falar sobre! Tenho paixão por viver vidas que não são as minhas e esse processo da dança vertical me pegou de surpresa porque eu nunca tinha ouvido falar sobre essa modalidade, inclusive eu pensava que dança vertical era outro nome dado à técnica de tecido acrobático circense. Só que quando eu descobri que “dança vertical” era ficar pendurado em uma parede de 5 ou 10 metros eu confesso que caguei de medo! Mas claro, depois do susto eu encarei com muito amor e muita dedicação o processo inteiro. Essa questão de ser do circo me ajudou porque é importante para o artista ter um corpo preparado para encarar qualquer parada que vier, afinal a gente nunca sabe se um próximo personagem vai ser um atleta ou vai precisar de elasticidade, por exemplo, então o circo me ajudou a ter um corpo preparado para a dança vertical, me ajudou a ter um corpo preparado pro Lucas. Foi um processo delicioso, inclusive perdi o medo de altura durante essa vivência! Esse presente eu vou levar pra vida!

O que fica de mais legal desse trabalho? Todo processo de trabalho marca a gente de alguma forma, seja no profissional ou no pessoal, mas Cara e Coragem foi especial por que me trouxe pessoas que se conectaram comigo de uma forma única, então o que fica de mais legal depois dessa novela e o que eu vou carregar pra vida inteira são as relações que esse trabalho me trouxe. Relações essas que me fizeram crescer como ser humano e enxergar a vida sobre pontos de vista diferentes dos meus. São amizades especiais que chegaram na minha vida e que vão ficar para sempre graças a este trabalho.

Esse foi seu quarto trabalho na TV. Que importância teve e tem para você? Cara e Coragem teve grande importância porque foi o primeiro trabalho onde eu me senti ousado e corajoso o suficiente para propor e executar algumas ideias que passavam pela minha cabeça durante o processo de gravação. Não que eu não tenha me arriscado nos trabalhos anteriores, mas a verdade é que me faltava coragem para fazer além do que estava escrito no papel, de colocar em jogo ideias ousadas e me divertir mais. A partir de agora acredito que os próximos trabalhos também serão assim, mas foi em Cara e Coragem o pontapé inicial da minha “Cara” de pau e da minha “Coragem” de me arriscar como ator e por isso esse trabalho foi tão importante.

E como foi a repercussão nas ruas? Vou começar respondendo de uma escala menor para uma maior, porque nas ruas da minha cidade natal, Cataguases, interior de Minas Gerais, a repercussão foi imensa porque tinha um conterrâneo deles simplesmente atuando ao lado de Taís Araujo, e isso impacta qualquer pessoa, inclusive eu que estava lá trabalhando junto com ela. E de um modo geral o Brasil gosta muito de dar pitaco sobre acontecimentos de novelas, afinal os folhetins ainda seguem sendo nossa maior cultura, então pelas ruas do Rio de Janeiro sempre tinha alguma opinião ou algum conselho de uma pessoa que as vezes me tratava até como se eu fosse o próprio personagem. As pessoas costumam confundir o real com o imaginário, mas no fundo é sempre uma situação engraçada. Tenho pra mim que receber a opinião do público, de quem de fato assiste o que a gente produz, é de grande importância para nós que construímos a narrativa, então toda opinião é e será sempre muito bem-vinda.

Pelo jeito uma das coisas boas que a novela te trouxe foi conhecer melhor Bruno Fagundes. Foi pego de surpresa pelo destino? O destino sempre pega a gente de surpresa, na verdade, desde que a gente esteja aberto e disposto a ser pêgo, por isso todo dia eu abro os olhos de manhã decidido a estar livre e disponível para o que a vida vai me oferecer, e sempre é uma surpresa. E por falar em surpresas eu poderia dar uma lista de pessoas que, além do Bruno, foram maravilhosas e que considero um presente na minha vida, e eu digo “presente” em todos os sentidos da palavra, seja como tempo verbal ou como substantivo, porque ganhar pessoas especiais assim é uma baita de uma surpresa do destino. Eu agradeço por isso!

Agora com o fim da novela o que pretende fazer para relaxar? Pretendo fazer duas coisas: trabalhar mais e viajar. Digo trabalhar porque sou apaixonado pela minha profissão e nada é mais relaxante do que passar meu dia dedicado a ela, mas é claro que eu não posso me esquecer de viajar também! Quem me acompanha nas redes sociais sabe que estar em outros lugares, conhecer pessoas novas, ritmos novos, culinária, histórias e modos diferentes de viver, viajar é uma das coisas que mais me acrescenta enquanto ser humano e me prepara enquanto artista. Então pra relaxar eu pretendo seguir trabalhando muito e viajando o máximo possível.

Aliás, o que te faz relaxar e como costuma recarregar as baterias depois de um longo trabalho? Confesso que tenho certa dificuldade em não estar fazendo nada, quando percebo que há um dia onde eu não tenho nenhum compromisso, seja ele de trabalho ou lazer, eu logo organizo alguma movimentação porque nunca fui de ficar parado. Relaxar pra mim significa estar em alguma atividade que me dá prazer. Viajar, por exemplo, me preenche como ser humano, sempre que estou em viagem eu me conecto com realidades diferentes das minhas, com pessoas que tem uma configuração de vida distinta das quais estou acostumado, e que me fazem perceber que o mundo é diverso e é belo, e são nessas percepções e movimentações onde consigo me encontrar leve e relaxado.

Como lida com a exposição que as redes sociais dão? Até que ponto é legal? Tento lidar da maneira mais fluida e natural o possível, inclusive me policio para não atravessar a linha do que considero ético, porque deixar de ser nós mesmos nas redes sociais não é muito difícil, essa quantidade absurda de informações, fotos, opiniões e filtros faz com que a gente corra cada vez mais rápido para um lugar de perfeição, e este é um lugar falso. Porém o grande fluxo faz com que a gente sinta a necessidade de obedecer esse padrão que é extremamente prejudicial para nós e para a sociedade como um todo. Não sou muito de colocar minha cara nos stories, mas sempre que preciso fazer isso eu gosto de dar uma opinião sincera, sem ensaios e sem produção, para mostrar que a rede social é só uma extensão do meu mundo real e não um lugar utópico e brilhante onde sou perfeito e sei sobre todos os assuntos. Isso seria uma inverdade. E claro, aproveito o meu alcance pra poder colocar em pauta assuntos que considero relevantes para garantir uma sociedade mais igualitária e justa e que respeita as diferenças. Afinal, quando eu faço um storie quem está falando nesse storie é um negro, homossexual, que veio de uma classe financeiramente não favorecida e que agora tem um espaço para difundir o respeito, a boa informação e lutar contra todas as formas de preconceito e violência.

Um personagem dos sonhos seria… Qualquer personagem que me desafie e que seja distante da minha personalidade será um sonho para mim. Eu curto muito ter que fazer uma mudança de visual ou aprender alguma habilidade nova para construir um personagem, gosto do desafio de ter que me esticar para lugares dos quais meu corpo nunca habitou, aprender e observar narrativas e formas de vida únicas, formas das quais eu jamais teria a sensibilidade de pensar sobre elas se um personagem não me colocasse nesses lugares. Ou seja, eu não tenho nenhum personagem específico em mente, mas se um trabalho me desafia a ponto de eu ter que passar dias, semanas ou meses vivendo algo muito diferente do meu cotidiano isso já é um sonho para mim.

Um pecado irresistível… A comida! Sou um grande pecador da alimentação, não resisto a um bolo de chocolate e sinceramente nem tento muito resistir. Comidas salgadas não me chamam muito a atenção, mas os doces me roubam por inteiro e eu adoro ser roubado por eles.

Quais os planos para este ano que pode compartilhar com nossos leitores? Emendei o fim das gravações da novela com as gravações de um longa-metragem que está sendo rodado no Rio de Janeiro. Na mesma semana que terminei as gravações eu iniciei a preparação para este novo papel e vou ficar nesse novo projeto durante todo o primeiro trimestre de 2023, esse é o meu primeiro trabalho deste ano. E para além dos projetos de terceiros, pretendo dar seguimento aos meus trabalhos autorais, tenho muita coisa escrita, peças, projetos de cinema, projetos de fotografia, só que nunca tenho tempo para realizar porque outras produções aparecem primeiro e eu acabo me entregando a elas. Vamos ver se em 2023, além dos trabalhos na TV e no audiovisual em geral, eu também consigo realizar outros assinados por mim, estes são meus planos.

O que você enfrenta na cara e na coragem? Enfrento qualquer coisa que trave a minha alegria de viver e eu falo isso de um lugar muito sério. Sempre tive em mente que o mais importante durante nossa jornada nessa vida é se sentir feliz e confortável o máximo possível. Pra mim essa brincadeira que é “viver” tem que ser prazerosa e eu luto muito pra garantir o meu prazer nesse jogo. Então qualquer entrave, qualquer pedra no caminho que possa desestabilizar a minha paz, eu tento logo resolver para que as energias não fiquem travadas. Dou tchau para gente preconceituosa, pro pessimismo, tento cada vez mais enxergar o mundo sob uma ótica plural e inclusiva e tento também sempre me considerar apenas parte do todo, nem melhor nem pior do que ninguém, e isso me faz encarar os problemas da vida de uma maneira tranquila, com a certeza de que tudo nessa vida passa, inclusive nós, então nada melhor do que encher o coração de felicidade e seguir sempre em frente.

Um desejo para 2023 seria… Meu maior desejo é que todo mundo tenha oportunidades de acordo com suas necessidades, que o mundo seja um lugar de troca, de compartilhamento, e que nós possamos nos reinventar como seres humanos. Desejo que quem precisa de saúde, o tenha, quem precisa de Jobs (como eu rs), o tenha também, desejo que as pessoas possam encontrar facilidades para seus objetivos e que eles sirvam para fazer o bem para a sociedade. Nada melhor do que ver nossos amigos e quem nos rodeia felizes porque estão onde querem estar, tendo o que querem ter sem precisar passar por nenhuma grande dificuldade. Então não vejo um desejo maior para 2023 e os anos seguintes que OPORTUNIDADE.

Fotos Márcio Farias

Assessoria Explane Assessoria