COMPORTAMENTO: “HOMEM QUE É HOMEM NÃO CHORA”. SERÁ?

Por Noélli Santiago

Em pleno século XXI, a imagem do homem que suporta todas as dificuldades sem fraquejar parece, ainda, de certa forma, assombrar o imaginário coletivo. Fruto ou não de uma cultura patriarcal, o fato é que esse falso padrão de ideal masculino faz parte de nossa sociedade, pois, percebemos que, até hoje, muitos homens evitam demonstrar o que sentem para não parecerem vulneráveis ou “dar uma de fraco”.

De acordo com uma pesquisa da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), divulgada em 2019, ao longo da vida, a mortalidade é maior entre homens do que entre mulheres e, em geral, a expectativa de vida para os homens é menor em todo o mundo. Em comparação com as mulheres, os homens têm uma taxa de mortalidade por causas externas quatro vezes maior e um risco sete vezes maior de serem vítimas de homicídios. Outro dado revela que a chance de morrer por cardiopatias isquêmicas é 75% maior entre os homens do que entre as mulheres. Além disso, segundo as Estatísticas Mundiais de Saúde da OMS, 97.339 pessoas se suicidaram nas Américas em 2019, sendo que os homens foram responsáveis ​​por cerca de 77% de todas as mortes por suicídio.

As razões pelas quais esses fatores de risco afetam desproporcionalmente os homens estão frequentemente ligadas às formas como a sociedade os educam, dificultando a compreensão quanto às suas reais responsabilidades familiares, profissionais, sociais e até mesmo em relação à sua identidade.

A CORAGEM DE SER IMPERFEITO

O fato do homem não externar suas emoções ou de não reconhecer suas fraquezas, pode desencadear diversos problemas. E quem disse que temos que aguentar tudo? Associar a virilidade e a potência à figura do ‘macho’ que nunca reclama e que está sempre pronto a ir à luta, chega a ser cruel. É preciso tomar consciência para quebrarmos o estigma de que os homens devem ser sempre fortes para enfrentar todas as intempéries da vida. Seja por medo, vergonha ou preconceito, tem coisas que o homem não diz a ninguém, nem para o melhor amigo em uma mesa de bar. Mas, são justamente esses sentimentos negativos, guardados a sete chaves, que vão se acumulando e que acabam sufocando.

A falta de autocuidado e a negligência com a própria saúde física e mental podem ser observadas no modo de agir masculino. É comum existirem homens que não ligam para a aparência e que não buscam ajuda quando precisam. Eles negam ou justificam o mal-estar, acreditando que é assim mesmo. Por incrível que pareça, muitas conquistas chegam através da vulnerabilidade e da aceitação de nossas limitações. Como no livro de Brené Brown, Coragem de ser imperfeito, é no ‘se permitir’ que a coragem aparece.

Sabe-se ainda que as mulheres são estimuladas, desde cedo, a se cuidarem. Por termos um lado maternal, talvez, o ‘tomar cuidado’ seja uma conduta instintiva. A prática preventiva é muito maior no universo feminino, tanto que fazemos, por exemplo, vários exames no ginecologista. Porém, grande parte dos homens dá pouca atenção à saúde, tanto do corpo quanto emocional. Eles vão menos ao médico e costumam reprimir suas emoções, evitando falar sobre o que vai no íntimo.

Nesse aspecto, apesar do homem ter esse histórico de se cuidar menos, tenho notado um aumento progressivo na procura por tratamentos. Ultimamente, atendo mais homens do que antes da pandemia. Isso é sinal de que eles estão, pouco a pouco, quebrando tabus, se libertando de preconceitos, abrindo espaço às descobertas pessoais e a tudo que proporcione bem-estar e mudanças significativas no modo de viver. Tenho pacientes que já perceberam o quanto vale a pena o autoconhecimento, realinharmos os nossos chakras e melhorarmos a nossa frequência vibracional, para ganharmos qualidade de vida. O reequilíbrio energético, nos coloca de volta ao prumo.

A construção social da imagem do homem combativo e indestrutível pode causar uma série de danos. Assim, é necessário mudar os paradigmas. E isso não tem nada a ver com machismo ou feminismo. Não se trata de defender a igualdade de gêneros. Seja homem ou mulher, o importante é reconhecermos que somos todos seres humanos, sujeitos a nos desequilibrarmos em certos momentos. Então, é fundamental contarmos com o apoio da família, dos amigos e dos tratamentos que darão suporte emocional para recuperarmos a estabilidade. Chorar, colocar para fora, extravasando tudo o que nos incomoda, só faz bem.

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