Infelizmente essa tem sido essa a rotina que brilha os olhos de muitos que lutam contra a obesidade. O uso das famosas canetinhas para emagrecer virou uma febre, a ponto de a produção de uma delas não conseguir suprir o volume de vendas e praticamente sumir das prateleiras das farmácias.
Essa classe de medicamentos, análogos de GLP-1 (um hormônio produzido pelo intestino), atua principalmente retardando o esvaziamento do estômago. Ou seja, é por conta dessa maior sensação de saciedade que quem utiliza termina comendo menos. Sou contra o uso? Não sou. Prescrevo para os pacientes quando julgo necessário. O problema não são esses medicamentos. O problema é a mentalidade de quem usa e, muitas vezes, do próprio médico que prescreve.
São muitos os que têm usado por conta própria ou até receberam a prescrição do medicamento, mas sem nenhuma orientação nutricional minimamente decente. Isso, para mim, mostra que a maior parte da população continua na esperança de “ser emagrecida”, sem buscar um caminho de mudanças comportamentais, cuja consequência seja uma perda de peso sustentável.
Quando se fala em remédio que ajude a emagrecer, sempre se lançou medicamentos que pareciam ajudar, alguns com propagandas até quase milagrosas, e isso termina gerando sempre uma curiosidade, uma expectativa naquelas pessoas que precisam perder peso.
Durante muito tempo as anfetaminas encabeçaram esse movimento. São drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, atuando na redução do apetite, como inibidores mesmo. São medicamentos que possuem efeitos colaterais, dependências. Elas podem até funcionar em casos específicos, entendo suas ações, mas eu mesmo não costumo prescrever ou recomendar. O pior é que muitos desses medicamentos para ajudar no tratamento da obesidade que eu falei são comprados por conta própria (mesmo sendo controlados), sem terem sidos prescritos por um profissional.
Basta alguém referir que teve um bom resultado no processo de emagrecimento, que os amigos e familiares correm para adquirir qualquer medicamento que seja, achando que serve de forma igual para todos e que não possuem efeitos colaterais, o que não é uma verdade.
CAMINHO MAIS CURTO E RÁPIDO
Voltando às canetinhas, algumas semelhantes e com doses mais elevadas já desembarcaram no Brasil e, em breve, chegará outra parecida, com estudo mostrando resultados ainda mais significativos na perda de peso. A diferença?
Os medicamentos vendidos por aqui atuam nos receptores GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon), como eu falei. Esses novos atuarão também nos receptores GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Essa ação conjunta realmente parece oferecer mais resultados no tratamento, o que é positivo, claro. Fico apenas preocupado, ao imaginar a nova corrida às farmácias quando estiverem disponíveis para venda.
Usar qualquer tipo de medicamento para combater a obesidade sem mudar o “mindset” é um caminho fadado ao fracasso lá na frente. Sim, o tratamento da obesidade é complexo; sim, que apareçam medicamentos que tragam cada vez mais auxílio nesse processo de perda de peso… mas que não se deixe de buscar o auxílio necessário para mudar a sua relação com a comida.
Óbvio que quem está acima do peso, quem sofre com a doença, busca alternativas, caminhos mais curtos para tratar a doença, tenta conseguir emagrecer de uma forma rápida e, se puder, de uma forma fácil, melhor ainda. Imagine que os movimentos se somam. Veja que o paciente quer emagrecer, o médico quer oferecer um tratamento que resolva, mas tem ainda a indústria farmacêutica, que quer vender seus medicamentos. Essa é uma verdade dura… Mas é assim que acontece, né? São empresas e pensam primariamente no lucro, nas vendas.
Por fim, é sempre bom lembrar que os medicamentos, quando bem indicados, servem de ajuda, seja contra a fome excessiva, a compulsão, a ansiedade e tudo mais que possa atrapalhar qualquer ponto que esteja facilitando o ganho de peso ou atrapalhando a queima de gordura.
Claro que sabemos da influência das questões metabólicas, hormonais e emocionais no desenvolvimento e manutenção da obesidade, mas não podemos esquecer que a principal ferramenta para o emagrecimento sempre foi e sempre será a questão da alimentação, associada a toda uma mudança do estilo de vida, que inclui sono, atividade física, gerenciamento do estresse e os demais pilares.