Rainha de bateria da Portela desde 2016, Bianca Monteiro começou a desfilar aos 14 anos como passista. É dançarina, professora de samba no pé e já foi Princesa do Carnaval carioca em 2015/2016. Aos 35 anos, nossa bela musa, de 1,73m, representa muito bem o Brasil através da sua participação em shows e nas aulas de samba que a Portela participa onde quer que seja. Bianca já se apresentou em todo o Brasil e inclusive no exterior, onde participou de uma turnê pelo Japão. De origem humilde, não pensou que fosse se tornar um dos ícones do carnaval carioca, já que as escolas de samba costumam escolher atrizes ou modelos famosas para o posto de rainha. Para Bianca parecia impossível, apesar de ter nascido e crescido no meio do samba. Inspiração para as meninas de Oswaldo Cruz e Madureira, bairro que abriga a Portela, que não perdem nenhum dos movimentos da sua musa durante os ensaios. Os moradores de Madureira e Oswaldo Cruz sentem orgulho dessa rainha da comunidade. Bianca é incansável quando se trata da comunidade. Ela é a idealizadora e coordenadora do projeto social Oficina de Artes Paulo da Portela, que promove a cultura do carnaval, samba, dança, canto, teatro e artes cênicas para a comunidade de Oswaldo Cruz e Madureira.
Quando e como começou seu envolvimento com o samba é o carnaval? Comecei no carnaval com 14 anos, através do meu pai que me levou pra Portela e esse foi o meu primeiro contato com a escola de samba.
Já são sete anos como Rainha de Bateria da Portela, uma das maiores escolas de samba do Rio e a maior campeã dos carnavais cariocas . Como foi sua trajetória no mundo do samba? Você tinha o objetivo de alcançar esse posto? Como você lida com tamanha responsabilidade? O sonho de toda menina passista é virar Rainha de Bateria da sua escola. Ao longo desses anos a gente sempre viu o cargo ser ocupado por celebridades e a gente achava que isso era impossível. Ao mesmo tempo em que achava que não era possível eu acreditava que poderia chegar lá. Mas nunca deixei de acreditar e falei para mim mesma que só ia sossegar quando fosse rainha de bateria e cheguei em 2017 já campeã quebrando um jejum da Portela de 33 anos sem ganhar um carnaval. A força do pensamento e a dedicação no samba é o nosso trabalho é quem nós somos, é quem eu sou. Quando você faz o que você ama, quando você acredita não tem como. Eu fui Princesa do Carnaval em 2015 e 2016, fiz parte da ala de passista e em 2017 tive essa oportunidade de receber esse presente maravilhoso.
Ser conhecida como a Beyonce do samba é, provavelmente, uma honra, mas também uma responsabilidade. Como você lida com isso? Quem não vai ficar feliz né? Ser comparada fisicamente com a Beyonce. É uma diva, uma diva americana que por onde passa deixa a sua marca. Sempre se reinventando, fazendo o seu melhor. Ela é uma das maiores referências que temos de mulher preta atualmente. Sei que é só uma brincadeira, mas é uma honra ser comparada não só fisicamente, mas por toda a história e toda força. Espero ter a sorte dela aqui no Brasil.
A resistência física e emocional necessária para o desfile no sambódromo parece ser muito grande. Como você se prepara para enfrentar a maratona de ensaios, compromissos e eventos da Portela e o desfile? É uma emoção muito grande. Além de eu desfilar no carnaval, eu também trabalho com samba, trabalho com arte da aula de samba, viajando, ministrando palestras. É uma dupla jornada e ainda tenho que cuidar do corpo, me dedicar a manter uma boa alimentação, mas a gente tem vários acompanhamentos médicos, parcerias para manter o corpo como academia e clínicas. São pessoas que contribuem para que uso isso possa dar certo de alguma maneira.
Como você lida com o fato da sua trajetória ser inspiração para tantas outras mulheres? Estou nova ainda no samba. Eu tenho várias referências também no samba, mulheres em quem eu me inspiro todos os dias com suas histórias e sua garra. Porque não é fácil ser mulher sambista, é um campo muito difícil de ser vista e respeitada. As pessoas não vêem nosso trabalho, nosso ofício como uma profissão. Então eu acho que essa resistência é muito grande, mas eu acho que só fortalece a nossa história, a nossa trajetória, tudo aquilo que queremos fazer e ao longo dos anos a gente vai querendo fazer melhor e diferente. Hoje eu tenho um projeto social no qual eu tento resgatar mulheres, não só a autoestima, mas de conhecimento cultural e da sua importância na sociedade como mulher sambista e mulher preta.
Nos conte um pouco sobre o projeto social que você coordena. Como vê a relevância do projeto junto a comunidade? Como eu falei anteriormente, acho que é muito importante a gente estar se reinventando, se reencontrando, naquilo que a gente ama fazer. Tem uma música de Maria Bethânia que diz: Aprender a ler para ensinar aos meus camaradas. É mais ou menos isso, a gente aprende e passa adiante aquilo que a gente sabe e a gente aprende também com as outras pessoas. Então criar e manter o projeto é algo que fortalece. Durante muitos anos eu vi pessoas no nosso lugar, nossos cargos, mas a gente não consegue estar no lugar delas. Então o samba é um lugar múltiplo, é um espaço democrático, é um espaço aberto para qualquer pessoa, porém a gente não tem esse mesmo retorno em outros lugares. A gente não consegue ser sambista e ser chamado para fazer uma novela, pra fazer outras coisas. Então é um espaço muito limitado que nos é possível. Eu criei o projeto onde a gente pode transformar artistas. Artistas completos, que cantam, que dançam para que as pessoas possam conhecer melhor e desenvolver sua arte e seu talento, a sua capacidade. No samba a gente é até mais autodidata, mas eu acho que a gente precisa se dedicar e se aperfeiçoar e ter um comprometimento maior. Porque a gente fala tanto em profissionalização que pra isso acontecer a gente precisa se profissionalizar e o projeto é um incentivo para que a gente comece a sair da nossa zona de conforto e ser visto além, além de somente sambista. Mostrar para as pessoas que somos muito mais que isso.
Como você concilia os compromissos com a Portela e sua vida pessoal? Desfilo há 21 anos e já estou acostumada com essa rotina. Quando você é adolescente, e eu comecei adolescente, você não tem nenhum compromisso a não ser com seus estudos, mas agora é diferente, têm vários outros compromissos como trabalhar. Mas eu consigo conciliar já criei minha rotina no dia a dia, trabalho, faço academia, cuido do meu campo espiritual e do meu carnaval que não pode faltar que é a minha Portela.
Qual a expectativa com o desfile no carnaval de 2024? Um Defeito de Cor é um livro muito relevante que conta uma história fascinante. Como você vê a adaptação dessa obra tão relevante como enredo da Portela? A expectativa é sempre positiva. Fazemos um árduo trabalho para que a escola entre na avenida. A Portela não para. Acaba um carnaval e já inicia o trabalho para o próximo: escolha do enredo, sinopse, escolha de samba, ensaios. Não tivemos nem férias esse ano. É um ano muito importante para a Portela já que esse é o ano do centenário (completou 100 anos em 11 de abril). E agora ganhamos esse presente da Ana Maria Gonçalves que é Um Defeito de Cor e vamos poder contar essa história de Kendhe de Luiza Main e de Luzi Gama. A Portela é uma escola preta, fundada por pessoas pretas, uma história de mulheres, de matriarcas e vamos fazer o melhor e levar esse amor que temos pela história do Brasil, pela nossa história, a história da ancestralidade pra avenida.
Quais suas expectativas para o desfile desse ano? A gente sempre pensa na possibilidade de um novo campeonato. A gente entra no sambódromo campeão, valorizando nosso trabalho que é tão árduo, demanda de muita dedicação e suor, muita emoção envolvida. Sinto que somos merecedores, pois a Portela é a escola maior campeã do carnaval que tem uma comunidade linda e dedicada que merece o campeonato. A expectativa sempre é positiva. A gente nunca pode jogar pra baixo nosso trabalho.
Fotos Marcela Marangoni (@marcelamarangonii) e Johnne (@johnnereal) / Styling Elton Lima (@eltonlimaa_) e Leonardo Thomé (@lleothome) / Agradecimentos @redesportfitnessacademia, @luuddreis, @drapatriciacoelho, @naturativa.farmacia, @lleothome, @eltonlimaa_