SAÚDE: MOUNJARO, O “QUERIDINHO” DA VEZ. MAS SERÁ?

Last updated:

Por Sávio Cardoso

Ele nem chegou a estar disponível nas farmácias do Brasil, mas já virou o novo queridinho dos médicos e, principalmente, dos pacientes. Um medicamento de nome complicado, chamado de Tirzepatida, com nome comercial de Mounjaro, e que sim, tem trazido resultados bem significativos na perda de peso. A ideia é, inclusive, explicar o que ele tem de diferença em relação às concorrentes.

Quando se fala em remédio que ajude a emagrecer, sempre se lançou medicamentos que pareciam ajudar, alguns com propagandas até quase milagrosas, e isso termina gerando sempre uma curiosidade, uma expectativa naquelas pessoas que precisam perder peso. O pior é que muitos desses medicamentos para ajudar no tratamento da obesidade são comprados por conta própria, sem terem sidos prescritos por um profissional, o que chega a ser preocupante. Há pouco mais de 10 anos surgiram os análogos de GLP-1, as famosas canetinhas para obesidade, que, com certeza, você já ouviu falar. Inicialmente uma classe de medicamentos lançada para ser usada no tratamento do diabetes, que depois foi validada como auxiliar na perda de peso.

São substâncias com ação que se assemelha ao funcionamento do GLP-1, que seria um peptídeo semelhante ao Glucagon, produzido no intestino e com receptores específicos. E como esse tipo de medicamento ajudaria no emagrecimento? Ele atua retardando o esvaziamento do estômago, dando maior sensação de saciedade, e essa é provavelmente a sua ação principal. Em segundo plano, de forma menos significativa, atua ainda, no sistema nervoso central, reduzindo o apetite. Questiona-se ainda ações no tecido adiposo, aumentando a termogênese, e também uma ação incretina, aumentando a liberação de insulina.

E o que o Mounjaro traz de novidade? A tirzepatida é um medicamento também com ação inicialmente anti-diabética, mas de ação dupla, por atuar como análogo do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon) e também análogo do GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Ele tem uma base molecular composta por uma estrutura semelhante ao GIP, que foi modificada para ter também afinidade pelo receptor do GLP-1, e isso realmente parece fazer uma grande diferença. A ideia parecer ter sido manter as vantagens de se ter um medicamento análogo ou agonista de GLP-1 e adicionar um parceiro que pudesse contribuir ainda mais no controle do DM2 e do peso. Depois de alguns estudos, a molécula GIP terminou se destacando.

Os resultados referentes à perda de peso e controle de apetite dessa molécula (GIP) de forma isolada até então não eram convincentes, pelo contrário, sempre causaram conflitos. Mas estudos experimentais demonstraram que as duas moléculas (GLP-1 e GIP), quando estimuladas adequadamente e em conjunto, levam a uma maior perda de peso e melhora mais significativa na resistência insulínica.

Dessa forma, esse novo medicamento age estimulando uns receptores que não eram tão estimulados com os medicamentos anteriores, sem deixar de estimular aqueles receptores já estimulados antes e que vinham dando resultados já conhecidos. E essa pequena diferença parece fazer com que os estímulos se somem, se potencializem, dando melhores resultados. Comparando com as canetinhas anteriores, o Mounjaro teve uma média superior de perda de peso nos estudos realizados, chegando a ter relatos de perda semelhante à cirurgia bariátrica.

UTILIZAÇÃO SEM A ORIENTAÇÃO MÉDICA

E na prática clinica, o que temos observado? Com posologia semanal, uso subcutâneo e doses variadas, temos notado perda de peso consideravelmente maior e mais rápida do que com o uso do Ozempic (Semaglutida), por exemplo. Quanto aos efeitos adversos, têm sido semelhantes (náusea, cefaléia, constipação e fadiga), mas com intensidade ligeiramente inferior.

Esses relatos de bons resultados têm feito pessoas correrem às farmácias de países como EUA, Inglaterra, Dubai e Espanha, já que o medicamento ainda não está disponível para compra no Brasil, apesar de já registrado na Anvisa (ainda “on label” apenas para tratamento do diabetes tipo 2). Também temos visto o crescimento de um enorme mercado informal; pessoas que viajam, compram e vendem. É uma prática que infelizmente estimula a utilização sem a orientação médica adequada, que pode gerar erros de indicação, utilização de doses inadequadas e mesmo maior risco de efeitos adversos.

Por fim, é sempre bom lembrar que os medicamentos, quando bem indicados, servem de ajuda, seja contra a fome excessiva, a compulsão, a ansiedade e tudo mais que possa estar facilitando o ganho de peso ou atrapalhando a queima de gordura. Por outro lado, sabemos da influência das questões metabólicas, hormonais e emocionais no desenvolvimento e manutenção da obesidade, mas não podemos esquecer que a principal ferramenta para o emagrecimento sempre foi e sempre será a questão da alimentação, associada a toda uma mudança do estilo de vida, que inclui sono, atividade física, gerenciamento do estresse e os demais pilares. Portando, mesmo diante de indicação e prescrição adequadas desse novo medicamento, é preciso trabalhar a autorresponsabilidade e a mudança de comportamento.