Quem nunca ouviu falar no G.I.Joe, Falcon e Comandos em Ação? Pois bem, os Soldados de brinquedos lançados pela Hasbro nos EUA em 1964 e depois lançados no Brasil pela Estrela com o nome de Falcon e depois Comandos em Ação faziam parte de uma equipe tática que defendia o mundo do ataque da organização Cobra, um terrível grupo terrorista e provocou o imaginário masculino infantil por décadas sendo por muito tempo o brinquedo preferido de meninos e meninas também.
Além dos brinquedos, veio a série em desenho animado (no Brasil exibida pela Globo entre 1986 e 1994) e depois um filme em 2009 (G. I. Joe: a Origem de Cobra) e em 2013 (G. I. Joe 2: a retaliação) pra trazer de volta lembranças da infância e cativar novos “seguidores” de uma geração mais atual. Isso tudo pra dizer que brincadeiras de soldados, de estratégias e táticas militares sempre fizeram parte da vida de muita gente há muito tempo (vide os soldadinhos de chumbo!) e que graças ao Airsoft adultos, jovens e também idosos podem continuar a “brincadeira” só que com mais realidade, sendo eles os próprios soldados em cena.
DA GUERRA REAL PARA A GUERRA SIMULADA
O Airsoft é um esporte que simula combates militares e tem sua origem no pós-segunda guerra no Japão. Com a proibição da fabricação de armas, as empresas foram desenvolvendo réplicas que se tornaram ao longo dos anos cada vez mais funcional. O esporte nasceu entre os anos 70 e 80 a partir da aquisição das réplicas por colecionadores e pela indústria cinematográfica. Foi quando perceberam que a partir de tais equipamentos, batalhas poderiam ser simuladas e transformadas em jogos.
Praticado em vários países como Portugal, Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Finlândia, Filipinas, Suíça, Suécia, Tailândia, Noruega, entre outros, o Airsoft chegou ao Brasil e começou a ser divulgado em meados de 2003.
Pela seriedade e segurança a que se propõe o esporte, várias discussões foram levantadas junto a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados para o Airsfot ser reconhecido por este órgão do Governo Brasileiro, até que em 2007 foi lançada a Portaria Nº 006-D LOG (sobre o regulamento do uso dos equipamentos) e em fevereiro o Exército publicou a Portaria 002Co-Log revogando a portaria anterior passando a exigir que as armas de pressão de Airsoft tenham a extremidade pintada de laranja ou vermelho vivo para diferenciá-las das armas de fogo. A partir de então foram surgindo lojas de equipamentos e o esporte foi sendo cada vez mais difundido e apreciado no país tendo conquistado pessoas de diferentes idades e realidades.
O JOGO, OS PRINCÍPIOS E OS VALORES
Como se trata de um jogo que simula combates, além de estimular sentidos como audição, visão e a necessidade de um mínimo de preparo físico, o Airsoft proporciona ainda a disseminação de valores como companheirismo e honestidade.
Para se chegar ao objetivo determinado no jogo, o trabalho em equipe é fundamental, daí a necessidade de união da equipe. Uma vez que suas armas não usam nenhum tipo de tinta ou marcação ao atingir um participante, cabe a ele próprio “se entregar” levantando a mão e gritando “morto!”, por isso a honestidade é um dos pilares dessa modalidade, bem como a confiança de saber que os oponentes avisarão quando forem atingidos. Em contrapartida, algum praticante pouco ético ou que não pense coletivamente, corre o risco de ser expulso da equipe e não mais poder praticar Airsoft.
Com objetivos, metas e regras que devem ser cumpridas é uma atividade de aprendizado que busca o entretenimento, companheirismo e diversão dos participantes sem nenhum propósito de formar militares. O esporte deve ser jogado com seriedade e requer pessoas compromissadas com a ética e principalmente os ideais de honra, respeito pelas leis e a preocupação com a segurança, que são pilares fundamentais da prática desse esporte. É importante ressaltar que a prática de Airsoft tem a ver com desafios, superação, a atividade física, o convívio, o culto da amizade e ajuda mútua entre os seus praticantes.
PRÁTICA NO BRASIL
No Brasil, há diversos grupos praticantes de Airsoft, no Rio de Janeiro conversamos com o pessoal do BFA – Brigada Fluminense de Airsoft e em Pernambuco conversamos com o pessoal do CRATE (Comando de Reconhecimento Avançado e Técnicas Especiais) e o estado conta ainda com o GAPE (Grupo de Airsoft Pernambucano), Airsoft Caruaru, representando o agreste e o Águias de Ferro, da cidade de Cumaru.
A BFA conta com um grupo bem variado tendo famílias inteiras entre os membros mostrando que o esporte não tem limites de idade ou sexo, visto que 10% das praticantes são mulheres. O grande objetivo do BFA é tirar as pessoas da ociosidade em frente ao computador ou TV e trazê-las para um esporte que além de fomentar suas habilidades estratégicas estimula a amizade, o companheirismo e a solidariedade, já que além dos treinamentos e prática em si do jogo há uma engajamento social, promovendo e ajudando em campanhas como a de doação de sangue, recolhimento de donativos, entre outros.
Para se tornar membro da BFA, há várias etapas. Elas devem ser cumpridas no processo de treinamento tornando a pessoa apta para jogar e ser um praticante de Airsoft. O treinamento se divide em três fases: A taverna (1ª fase), treinamento de iniciação do novato (2ª fase) e o treino de nivelamento (3ª fase). A primeira é a parte teórica em que se ensinam basicamente as regras, a conduta e como se comportar durante o jogo. Na segunda já se inicia a parte prática com o manuseio da arma e o tiro em si. A terceira e última fase é uma etapa opcional de aprofundamento, aprimoramento das técnicas e regras aprendidas. É um reforço no treinamento para o iniciante poder vivenciar um pouco do que acontece durante o jogo. A BFA cobra uma taxa de registro chamada CRO (Carteira de Registro do Operador). A CRO é uma carteirinha que contém a identificação do jogador e tem como objetivo organizar o cadastro de pessoas que participam dos eventos. Os jogos têm um custo adicional, que é repassado aos jogadores onde estão incluídos serviços de ambulância (para o caso de acidentes), alimentação, aluguel do campo, patch (uma espécie de souvenir do jogo) e também o material audiovisual com o tema.
O CRATE Existe desde meados de 2009 e foi a primeira equipe a trazer o esporte para Pernambuco e hoje conta com mais de 12 membros atuantes em diversos eventos locais e estaduais. Como cada grupo tem uma forma própria para “recrutar” novos integrantes, o CRATE o faz geralmente promovendo palestras abertas ao público, para mostrar, apresentar e divulgar o esporte, e principalmente atentar para a legalidade e segurança já que se trata de um jogo que envolve armas de pressão. Nas palestras são dadas informações, por exemplo, de como adquirir legalmente os equipamentos.
Em seguida, é aberto um treino para os interessados participarem e a partir daí são selecionados de forma bem criteriosa, com foco na conduta (já que o pilar do Airsoft é a honra) cada novo integrante, “pois como se trata de uma atividade que envolve armas, mesmo que de pressão, todo cuidado é pouco, principalmente com a conduta fora de jogo, por toda essa rigorosidade, hoje não temos problemas com nossos membros”, relata Thiago Tavares da Silva, responsável pelo CRATE. Quanto a taxa de participação no grupo pernambucano apesar de estar prevista no estatuto, eles não costumam cobrar, mas sempre que há algum gasto ou necessita de reposição de peças e equipamentos é rateado por todos.
O DEPOIMENTO DE QUEM PRATICA
Por se tratar de um jogo de batalha com uso de armas, mesmo que seja com munição de borracha, há o receio no senso comum de que atividades como essa possam induzir a violência. A MENSCH ouviu alguns membros do BFA e do CRATE para entender a motivação dos praticantes e o que pensam sobre o Airsoft. É interessante perceber a heterogenia dos jogadores, mostrando o quão é sem fronteiras e limitações de participantes.
Todos são unânimes ao afirmar que os sentidos mais aguçados são a visão e a audição devido à importância de se estar atento à movimentação dos oponentes. As amizades formadas e a descarga de adrenalina costumam relaxar ao final de cada partida. Caso você tenha ficado interessado na prática do Airsoft, os depoimentos abaixo farão você procurar um grupo ao final da leitura.
Eduardo Corrêa tem 31 anos e é designer e chegou ao Airsoft buscando uma alternativa mais séria em relação ao Paintball (outro tipo de esporte que simula batalhas, mas com regras e práticas diferentes do Airsoft). Para Eduardo a grande motivação é estar em um grupo de amigos das mais variadas vertentes sociais e culturais. Segundo ele, praticar Airsfot é mais seguro que futebol, já que se cercam de muita segurança. “O Airsoft é um esporte que incute uma enorme “carga” de responsabilidade ao praticante (não ostentar o equipamento, sempre transportar com o máximo de segurança, saber se comportar perante a uma autoridade policial etc.). Todo fim de jogo, a adrenalina e tensão dão lugar a endorfina e cansaço absoluto, não deixando de mencionar a interação social que temos depois (churrasco, cerveja e conversa jogada fora). Nesses seis anos praticando o esporte, garanto, fiz amigos de verdade”.
Para Fernando Wagner, empresário de 41 anos o Airsoft é a possibilidade de atuar em jogos com alto nível de adrenalina, desenvolvendo o raciocínio estratégico e, de quebra, queimar calorias. Ainda Segundo Fernando “O Airsoft é uma terapia em sua forma mais pura. Ao sair de um jogo de Airsoft, você se sente tão relaxado como se tivesse saído de uma longa sessão de análise ou terapia. Definitivamente é um esporte que estimula a cooperação e respeito, e não a violência.”.
Karen Pinto da Silva é bióloga e tem 24 anos. Já foi praticante de Paintball e hoje está no Airsoft, esporte que adora e costuma indicar para amigos e amigas. A tensão que sente durante as partidas proporciona um aumento da adrenalina no organismo, já que se precisa agir sem errar. Nesse momento é possível desenvolver a agilidade e tática. As percepções se tornam mais aguçadas, fazendo com que se tenha mais atenção e sensibilidade. Sobre o esporte incitar a violência: “De forma alguma o esporte incita a violência, é um momento onde podemos aliviar o stress diário e nos desligarmos dos problemas cotidianos”.
José Vítor, 25 anos, estudante de ciências biológicas, procurou o Airsoft primeiramente pelo interesse em aplicação de táticas e reproduções de estratégias militares, mas hoje o que mais o motiva são as amizades formadas e a diversão proporcionada. Para José Vítor “durante uma partida é muito trabalhado os conceitos de respeito ao próximo e espírito de equipe, sendo assim, tudo isso reflete na sua vida fora de jogo.” Ele também não acredita que o esporte possa tornar alguém violento “nossas regras voltam o comportamento de cada jogador a, principalmente, se preocupar com o adversário e ter ciência de que ele é seu amigo. Essa é a maior responsabilidade de cada jogador em campo. Além das descargas hormonais que ocorrem durante um jogo, que só provocam relaxamento ao término de cada partida. Temos ainda interações sociais após os jogos, como churrascos, bate-papos e afins”.
Thiago Tavares, programador de 28 anos e fundador do CRATE em Pernambuco, coloca que os principais valores dentro de campo são honra, disciplina e companheirismo, por isso, o esporte não é um condutor de violência, pelo contrário.
Equipamentos
Por ter como método simular situações diversas de combate bélico, o Airsoft coloca em uso equipamentos responsáveis por disparar pequenas bolas de plástico (BBS) que medem 6 mm de diâmetro. Tem certa rigidez e não possuem qualquer tipo de corante, tinta, ou sistema de marcação.
Lista básica para quem vai se tornar um jogador de Airsoft:
– Pano vermelho (usado na cabeça para quando a pessoa morrer no jogo)
– Coturno (um tipo de bota mais resistente e própria para terrenos acidentados)
– BDU (Battle Dress Uniform) ou Farda (roupa usada para o jogo)
– Cantil ou Camelback (mochila de hidratação usada durante o jogo)
– Arma de Airsoft legalizada apresentando ponta vermelha ou laranja (modelo AEG ou GBB – se possuir CR (Certificado de Registro)
Os próprios grupos indicam onde adquirir os equipamentos de forma segura e legalizada.
Atenção: Os equipamentos para prática do Airsoft, então, têm a aparência idêntica a de uma arma de fogo real. Entretanto, o mecanismo interno do objeto é completamente diferente, o que afasta a possibilidade de, a partir de uma arma de Airsoft, se converter em uma arma de fogo para uso de munição real, ainda assim, como regra de segurança fora de campo se instrui os esportistas transportar a arma sempre sem bateria, carregador e bem acondicionada, ter sempre a nota fiscal e de preferência uma cópia da portaria 002 colog, que regulamenta a prática.
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– Para quem quiser conhecer sobre a Portaria que regulamenta a prática e venda de equipamentos para a prática de Airsoft no Brasil basta pesquisar por “PORTARIA N º 02-COLOG, DE 26 DE FEVEREIRO DE 2010”.
– Regulamenta o art. 26 da Lei nº 10.826/03 e o art. 50, IV, do Decreto nº 5.123/04 sobre réplicas e simulacros de arma de fogo e armas de pressão, e dá outras providências.
PARA SABER +
BFS: www.bfaonline.com.br
CRATE: www.airsoftpernambuco.com