Sempre que Ana Paula Tabalipa aparece na TV não dá pra passar despercebida. Seja pela atuação, seja pelo protagonismo que ela dá para qualquer personagem que seja ou simplesmente pela sua beleza. Beleza essa que passa pelo tempo inabalável. Mãe de quatro filho, Ana Paula sempre teve que batalhar muito para conquistar seu espaço e respeito. Superando preconceitos e até violência doméstica. E não por acaso, está aqui de volta à MENSCH. A bela acaba de participar de mais um trabalho na TV, dessa vez como a Ziva, em “Gênesis”. Mas como sempre, puro encanto.
Ana desde nosso último papo em 2018 até aqui, o que mudou na sua vida? Ainda mais com pandemia no meio disso tudo? Tive a experiência de ir ao Marrocos trabalhando e conhecer novas culturas. Ficamos presos por lá por conta da pandemia e foi um momento de interação e sentimentos únicos. Ali, naquele momento, tive a certeza de que havia um propósito na escolha do elenco. Foi um prazer imenso conviver com as mulheres e atrizes dessa nova geração. Elas me sinalizaram e me ensinaram que o mundo está mudando, e que nós mulheres, antes criadas para verem outras mulheres como inimigas, agora estamos mais unidas do que nunca. Foi lindo entender o que é a sororidade.
Voltamos em um voo fretado da Record, eu já com Covid-19, sem saber. O isolamento social não me atingiu em nada. Fiquei com todos os meus filhos e nora em casa, amando estar nesse convívio, diferente de muitas mães que surtaram. A minha vida já é essa, eu com eles, nessa parceria que conseguimos construir. Eles são incríveis! No meio disso tudo, com as gravações interrompidas, tive o privilégio de continuar contratada pela Record, e ainda assinar um contrato como apresentadora do canal Lifetime, graças ao meu querido e amigo diretor, Marco Altberg. Eu realmente fui abençoada nesse momento tão difícil e tenho muita gratidão.
De Malhação, passando por Luna Caliente até chegar em sua participação em “Gênesis” este ano, como avalia sua trajetória. O que mais te marcou nisso tudo? “Malhação” foi a minha escola, meu primeiro trabalho. Não tinha noção de nada, nem se queria ser atriz. Lembro do Roberto Talma abrindo uma folha de papel pardo e desenhando para mim os posicionamentos de câmeras e luz. Ele realmente era diferenciado. Já “Luna Caliente”, eu tinha acabado de fazer 18 anos, minha primeira viagem desacompanhada, tinha que ficar nua, o que foi muito difícil para mim naquela época. Me senti só. Passei por momentos constrangedores e abandonei o set de filmagem, voltando para o Rio de Janeiro por minha conta. Eu não tinha voz, para eles eu era uma menininha começando a carreira e deveria aceitar tudo, coisa que nunca fiz. Hoje, o que aconteceu lá, seria inaceitável. “Gênesis” foi um presente, meu núcleo parecia mais uma companhia de teatro. Nós nos apoiamos, nos escutamos, nos respeitamos e vou guardar cada um dali dentro do meu coração para o resto da vida.
Como atriz, o que ainda falta fazer? Como atriz, sempre vou achar que falta algo. Estou louca para fazer cinema e streaming. Já estou com um projeto para novembro!
E como mulher? Filhos, achamos que não mais né?! (risos) Como mulher, não gostaria que existisse mais esse tipo de comentário. Esse controle sobre os corpos femininos é insuportável. Se não tem filho, a pergunta é: “quando vai ter?”. Se tem, mesmo sem pagarem as minhas contas, se acham no direito de opinar. Como mulher, ainda falta respeito, ainda falta escuta, ainda falta o não julgamento, a equiparidade salarial… Como mulher, a gente ainda tem muito o que caminhar.
Falando em filhos, como foi (e é!) ser mãe de quatro filhos? Por sinal existe ciúmes dos meninos com essa mãe bonita? (risos) Sempre quis ter quatro filhos e sou realizada nesse aspecto. Me orgulho quando olho para eles me ajudando, cuidando da irmã, sendo homens melhores do que os que eu encontrei na vida. Eles respeitam o meio ambiente, respeitam qualquer pessoa deixando ela ser da maneira que ela quiser. São de uma geração que não julga. Acho que ciúme eles têm, mas também entendem que eu mereço ser feliz.
Qual o segredo para uma relação tranquila (se faz parte da realidade) com pais de diferentes filhos? Administrar os pais foi mais difícil do que cuidar das crianças. Hoje não tenho mais esse trabalho.
Como foi administrar a carreira de atriz com o papel de mãe? Acredito que hoje com eles crescidos seja mais tranquilo, mas com eles mais novos não deve ter sido tarefa fácil. Como qualquer mulher que trabalha fora, é uma loucura. Um exemplo é quando um filho se machuca na escola e só ligam para a mãe, como se o nosso trabalho fosse menos importante do que o trabalho de qualquer pai. A tarefa não foi fácil, mas hoje eles são meus, educados por mim, unidos e só me dão orgulho.
Na sua trajetória de relacionamentos encontrou mais homens parceiros que sabiam dividir as funções ou não? Não. Me separando e entendendo que essa cultura machista na maioria das vezes não permite a parceria.
Linda, loira, olhos azuis… já enfrentou o preconceito por acharem que você era mais bonita do que capaz para um papel, por exemplo? Existe um preconceito velado neste sentido? Existe o preconceito e ele não é velado, é claro. Sempre tentei fugir desse estereótipo, já raspei a cabeça em dois trabalhos, usei dreads (que amei) e consegui mostrar ao longo da carreira que tenho capacidade para interpretar qualquer tipo de personagem.
Falando em pandemia e relacionamento, vimos crescentes aumentos de violência doméstica onde o machismo ainda é muito presente. Já teve alguma situação próxima a você onde foi preciso meter a colher? Como enxerga isso? Eu sofri violência doméstica durante um bom tempo, sempre com aquele papinho choroso e um pedido de desculpas de que não ia mais acontecer. Como eu tenho um temperamento forte e falava tudo o que pensava, na rua ninguém desconfiava que ele era um agressor. Nessa época, ninguém metia a colher. Foi muito difícil ter forças para sair desse relacionamento, com certeza se eu não tivesse tido coragem, teria entrado na estatística de feminicídio. Mulheres sempre foram vistas como as causadoras dos problemas dos homens. Essas são marcas insuperáveis e por mais que eu faça terapia, o tempo não volta. É preciso que se entenda: onde existe violência contra a mulher, há sempre uma sociedade marcada pela barbárie.
Você sempre pareceu ser dona do próprio nariz sem dever nada a ninguém. É isso mesmo? Quais suas lutas e as batalhas vencidas? Sempre fui dona do meu próprio nariz, mas aprendi pela dor. A minha luta foi não ter me sujeitado a esse padrão da família hipócrita e moralista que acaba com a autoestima e destrói as mulheres. Eu acredito que venci.
O que realmente tem valor para você? Sou uma pessoa rodeada de amigos queridos nos momentos mais difíceis, talvez essa seja a receita. Amigos nos salvam, nos dão leveza e mostram que a vida é breve.
Em 2008 você posou nua em plenos Arcos da Lapa. Como foi a experiência? O que mais te marcou? Eu escolhi fazer as fotos em cima dos arcos da lapa, só não imaginava que o melhor horário para a luz do fotógrafo seria na hora que os trabalhadores estavam chegando no ponto final do ônibus, atrás de mim. Ainda bem que os celulares da época tinham péssimas câmeras.
Você parece não ter problema com nudez e é bem resolvida com seu corpo. Como cuida dele? Não sou bem resolvida com meu corpo. Não faço nada, mas vou começar a fazer jazz essa semana. Não gosto de academia, me sufoca. Odeio quem corre na praia de manhã cedo, debaixo de sol ou chuva. (risos)
Na hora de relaxar, o que faz sua cabeça? Vinho com meus amigos, porque o amor liberta.
O que homens e mulheres precisam aprender um com o outro? O que falta? Gentileza, se colocar no lugar do outro, a tal da empatia. E mais amor!
Qual seu pecado “favorito”? A que não resiste? Chocolate. Sou chocólatra.
Para conquistar Ana Paula, basta… Ser autêntico, não gosto de máscaras.
Fotos Jô Prazeiro (@joprazeirofotografia)
Styling e direção criativa André de Moraes (@moraesde)
Make Cayque Calado (@cayquecalado)