PALADAR: Os sabores do “Cá-Já”

O restaurante Cá-Já é o que se chama de sangue novo. Nem havia aberto as portas, no fim de novembro de 2017, e já era motivo de curiosidade entre os recifenses por seus spoilers em rede social. Fato é que a casa do cozinheiro Yuri Machado e da empresária Marina Moneta inaugurou com filas diárias de espera, que continuam meses depois, com clientes ávidos para experimentar pela primeira vez ou repetir a experiência que vai além dos predicados gastronômicos do talentoso chef.

O Cá-Já é diferente. A começar pelo salão principal: um quintal. Aconchegante, arborizado, com mangueira, pitangueira e aceroleira preservadas, uso de madeira e mix de peças que refletem a identidade dos donos – movida por referências familiares e influências trazidas dos trabalhos anteriores. Aliás, o projeto dos arquitetos Alysson Albuquerque e Rodrigo Malvim é muito feliz nessa missão. O ar descolado do restaurante, ambientado em rosa, itens de marcenaria desenvolvidos pela empresa “De madeira sim” e paredes de tijolo aparente, resgatados da construção original da propriedade da década de 1950, flui em harmonia com as peças de arte trazidas da casa dos sócios e de Alan Machado, irmão do Yuri, que prestou consultoria em hospitalidade para o Cá-Já.

A COMIDA

Com a cozinha sob comando de Yuri, 29, a nova casa chama a atenção por nascer absolutamente alinhada com os principais discursos gastronômicos, e de serviço de salão, da atualidade. É possível, pois, enxergar as principais referências afetivas do cozinheiro atreladas ao apuro técnico adquirido em temporadas em grandes restaurantes, principalmente fora do Brasil. Formado em Gastronomia na Universidade Federal Rural de Pernambuco, passou pelo Ponte Nova, no Recife, no D.O.M, em São Paulo, e rodou o Brasil preparando a cozinha para os artistas do Cirque du Soleil. Fora do Brasil, trabalhou no Glasserie (especializado em comida do Oriente Médio), no The Finch, na Casa Mono e no Cosme, todos em Nova York (Manhattan e Brooklyn/EUA), e no El Mercado e Rafael Restaurant, em Lima (Peru).

Mas não somente. Yuri joga os holofotes para insumos que tradicionalmente são considerados de baixa estirpe ou engessados em modos tradicionais de preparo, como o coração de galinha, servido como vinagrete com ervas. O mesmo ocorre com o saramunete: peixe sem valor comercial e culinário no Recife, mas uma iguaria em paragens francesas, brilha em um preparo simples, mas instigante. Faz par com um úmido e picante arroz de moqueca. Siri virou recheio de gorduchos bolinhos fritos, petiscos de primeira ordem. A couve-flor foi transformada em delicada musseline que acompanha o peixe do dia. O rosbife ganhou leitura surpreendente. Uma salada morna com molho à base de shoryu e finalização de ervas. Foi batizado de rosbiche.

MIMOS

Durante o dia, a brigada trata de deixar clientes mais confortáveis distribuindo leques e chapelões, que além de serem úteis para aplacar o calorão recifense, ainda viram motivo para muita foto em rede social. O cuidado se mostra ainda na fila de espera: dudus de fruta (ou dindins) são distribuídos para entreter. Em época de safra, as mangas colhidas lá mesmo são entregues aos clientes como mais uma lembrança, além da gustativa, do quintal mais astral da Zona Norte. Em tempo. O nome do restaurante é inspirado na música “Ca Já” de Caetano Veloso.

SERVIÇO

CÁ-JÁ RESTAURANTE

Endereço: Rua Carneiro Vilela, 648, Aflitos – Recife / PE

@vempracaja