SAÚDE: A QUALIDADE DO SONO E A OBESIDADE

Desde sempre, ainda criança, a gente escuta sobre a importância de dormir cedo e manter um mínimo de horas dormidas por noite. As crianças normalmente acham que dormir é perda de tempo; querem sempre aproveitar mais. Já os adultos, hoje em dia querem dormir e esses já dizem não ter tempo. O modernismo atrapalhou muito a qualidade do nosso sono. A maioria das pessoas tem uma demanda de trabalho que quase não dá conta durante o dia e termina esticando o trabalho à noite, sem falar que grande parte termina levando para a cama o estresse e ansiedade do dia.

O número de pessoas que apresenta alguma dificuldade para dormir só cresce, assim como a prevalência de obesidade só sobe. Existe sim uma relação conhecida entre esses dois problemas. As pessoas que demoram a dormir têm uma tendência ao ganho de peso, mas aquelas que dormem uma quantidade razoável de horas, mas não tem um sono de qualidade, um sono que a gente chama de reparador, essas também são impactadas em relação ao peso. Ter um sono perturbado, inquieto, aquele sono partido, também vai engordar. Hoje se sabe que tão importante quanto dormir de 7-9 horas por dia, é ter uma quantidade adequada de sono profundo. Todo mundo conhece alguém que diz dormir de forma suficiente, mas sempre se queixa de estar cansado no dia seguinte. São aqueles que dormem, mas não descansam.

QUALIDADE E QUANTIDADE DE SONO

E o que acontece com essas pessoas que apresentam sono sem qualidade? Existem algumas vias hormonais e metabólicas que podem estar envolvidas nesta associação entre pouco sono e sobrepeso e obesidade. Durante o sono a secreção de hormônios varia, contribuindo para os ajustes no metabolismo e uma energia equilibrada no nosso corpo. A redução ou privação do sono pode perturbar esse equilíbrio. Sobrepeso ou obesidade geralmente estão associados com uma ingestão de energia maior do que o que se gasta de energia, e dormir pouco favorece esse processo. Quem dorme mal se sente cansado, indisposto, tende a ficar sedentário, ou seja, gasta menos energia. Se sabe também que quem dorme pouco tende a aumentar o consumo energético no dia seguinte; come mais. Alguns estudos chegam a falar em cerca de 500 calorias a mais ingeridas no dia seguinte a uma noite mal dormida. Ocorre ainda uma maior procura por alimentos ricos em carboidratos. Existem dois hormônios que atuam no hipotálamo determinando a quantidade e até de certa forma a qualidade da nossa ingestão alimentar. A leptina, que é responsável por inibir o nosso apetite e nos dar saciedade e a grelina, que estimula o nosso apetite. Ambos são impactados pela falta de sono: a leptina diminui e a grelina aumenta, ou seja teremos mais fome e menos saciedade.

Dormir pouco altera também o ritmo e liberação do cortisol, que é o hormônio do estresse. Observa-se ainda redução na secreção de GH, hormônio do crescimento, maior quantidade de glicose circulante no sangue e redução da sensibilidade à insulina nas células. Desse jeito, existe um claro estímulo ao acúmulo de gordura. Como o cortisol elevado também favorece o catabolismo muscular, além desse estímulo, desse aumento no acúmulo de gordura, quem dorme mal também tende a perder massa magra.

E o contrário, será que funcionaria? Quem dorme adequadamente ou dorme mais teria uma maior chance de perder peso? Infelizmente não existem evidências dessa maior facilidade na perda de peso para quem dorme bem. Mas, ao meu ver, não deixar a qualidade inadequada do sono contribuir para o sobrepeso e a obesidade já é um bom motivo para nos esforçarmos e cuidarmos mais desse pilar tão importante para a saúde que é o sono.

Dormir bem passa por mudanças no comportamento. A grande maioria das pessoas com dificuldades com o sono correm para os medicamentos. Querem algo que resolva a situação por elas e terminam entrando nos remédios como se fosse a grande solução. Defendo que os medicamentos sejam a última opção e não a primeira. E mesmo você que já faz uso de algum medicamento, não ache que seu comportamento não importa. Você também precisa fazer a sua parte, corrigir seus erros e fazer um melhor ajuste na sua noite. O ideal seria você deixar de precisar dos remédios. Muitos deles, inclusive, lhe apagam, lhe colocam para dormir, mas não lhe promovem um sono de qualidade. Ou seja, é como se resolvesse apenas uma parte do problema.