CRÔNICAS & INDAGAÇÕES: EU QUERO SER PIPOCA

Eu tenho uma amiga com quem eu tenho as melhores e as mais bizarras reflexões da vida. Outro dia ela chegou falando que teve uma conversa improvável, com um novo conceito antropológico contemporâneo que acredita que pode ser útil. Oi? Foi a única coisa que consegui falar. E aí veio me contar que um colega de trabalho falou que não aguenta gente abacate. “Gente abacate”? Como assim? Perguntou ela. E ele explica: você vai à feira, compra o abacate verde, duro feito pedra, porque nunca tem abacate maduro, leva pra casa, coloca na fruteira e não perde de vista. Lava uns pratos de olho nele. Tá duro. Faz um café sempre atento, dia e noite e continua duro. Prepara o almoço e o bicho lá, do mesmo jeito, um, dois três, quatros dias. Aí você resolve tomar um banho ou tirar um cochilo e quando vai ver, o abacate ficou preto. Assim são certas pessoas, que tem o amadurecimento tardio e excessivo.

Se você prestar atenção verá que existe vários tipos de comida/gente, porque se eu escrever gente comida não vai pegar bem. Eu pensei aqui em uma queijadinha low carb que fiz. Ficou bem bonita, com uma cara ótima, mas a massa ficou seca. Porém, com o tempo você pode ir adequando a receita. Lembrou de alguém? E a pizza de panela? Boa, boa mesmo não é, mas nada que um ketchup picante não salve. Aposto que apareceram algumas pessoas na sua cabeça agora.

Mas, como não trabalhamos com limites, minha amiga foi mais fundo na sua pesquisa e me procurou pra uma conversa improvável, com um novo conceito antropológico contemporâneo que acredita que pode ser útil também, a respeito das pessoas “No Poc”. Sim, isso mesmo. Pessoas “No Poc” Poc de milho de pipoca. É assim: você coloca um fio de óleo na panela, porque eu não tenho pipoqueira, joga o milho dentro, bota uma tampa, baixa o fogo e espera os pocs. Vez por outra mexe a panela e escuta os pocs, que vão diminuindo, diminuindo e param. Aí você abre a panela e vê que ainda tem uma meia dúzia de milho que não estourou e resolve esperar mais um pouquinho no fogo baixo, uma mexidinha e pronto, queimou. Assim acontece com as pessoas “No Poc”, pessoas que você espera uma mudança, uma evolução, uma transformação e nada. O milho queima, não estoura. “No Poc”.

Ultimamente eu tenho lembrado dessa conversa, por perceber sinais de gente desse tipo nas redes sociais. Gente que liga pessoas não a comidas, mais ao constrangimento. Ligam, divulgam e dão risadas da sua vergonha. O escolhido da vez é Fábio Assunção. Não sendo suficiente todos os filmes divulgando episódios humilhantes, Fábio virou meme. Eles expõe nesses memes a sua dependência e nem por um momento pensam que Fábio tem família, mãe, pai, filhos, companheira e como vão se sentir diante disso.

Um dia, esse lugar pertenceu a Heleninha Roitman, personagem vivido por Renata Sorrah em uma novela, mas agora é real. Aliás, nem comentam o trabalho do rapaz que é um excelente ator. Em uma época onde todos cobram empatia, para alguns o que vale é tirar onda sem pensar quem vai atingir e sem entender que o que eles acreditam ser um vício, a Organização Mundial de Saúde trata como doença desde 1967. Fábio é um dependente, é doente e não é a exposição dos seus excessos que vai ajudá-lo a melhorar.

Fábio, como qualquer outro dependente químico, precisa de ajuda e não de julgamento moral e nem de dedos apontando seus erros. E acredito que precisam de ajuda também, essas pessoas que jugam isso engraçado. Falta pensar um pouquinho antes de compartilhar qualquer coisa que possa denegrir ou oprimir alguém. Falta empatia. Falta uma amiga que tenha sempre uma conversa improvável, com um novo conceito antropológico contemporâneo que acredita que pode ser útil. Falta estourar. Falta virar pipoca.

Ok! Vou esperar mais um pouquinho.