PALADAR: BELO HORIZONTE PARA FAMINTOS

Por Vanessa Lins

Se o Brasil olhasse com mais atenção para Minas Gerais, o mapa gastronômico do País seria diferente. Falaríamos mais das “Gerais”, tanto quanto nos atemos ao Pará e à região Nordeste – duas das maiores potências culinárias da América do Sul, sem exagero. Em recente viagem, pude ver de perto o potencial da cozinha daquele povo. O quanto são orgulhosos da comida doméstica, e como também, de forma impressionante, cria e recria a partir dessas referências ‘de vó’, tão orgulhosamente bradadas por lá. A mesa mineira é uma felicidade do começo ao fim, cheia de rituais gostosos de ver, rica de gosto, textura, e cor. Alguns trabalhos merecem ser visitados. Tem viagem marcada para Belo Horizonte? Não deixe de seguir minhas dicas por lá. Bom apetite! 🙂

COPA COZINHA (@copa_cozinha) foto

Cristina e Júlia são de Bom Despacho. Maíra, de Resende Costa. As três são amigas nascidas no interior de Minas que, na metrópole, dividiam a mesa e a saudade de suas famílias e seus rituais – mesa posta, casa cheia, refeições intermináveis. “O café da manhã emendava com almoço que virava café da tarde e, de repente, estávamos todos jantando juntos mais uma vez”, lembra Maíra. Juntas, deram o start a um dos projetos mais aconchegantes de “Beagá’, a Copa Cozinha. Uma casa com cara de vó, com móveis antigos, pratos de louça pendurados na parede, móveis de madeira escura. A gente faz uma verdadeira viagem no tempo ao entrar na Copa Cozinha. A especialidade das meninas são quitutes mineiros a toda hora – bolo de milho, broa, pão sovado, biscoitinhos frescos. Pode-se pedir um dos combos pré-determinados ou simplesmente escolher item a item e fazer seu momento de guilty pleasure personalizado.

GLOUTON (@glouton) foto

Definitivamente, Leo Paixão (foto) é um ídolo em Belo Horizonte. Bastou uma ida ao Glouton, restaurante principal de cinco casas sob sua assinatura, para presenciar tantos clientes ansiosos por uma selfie e bater um papo rápido com o cozinheiro que ganhou ainda mais projeção nacional quando foi jurado do reality Mestre do Sabor, na Rede Globo, junto a outros gigantes da gastronomia. No Glouton, que acaba de completar 10 anos de trajetória, não é difícil entender o motivo para tanto alvoroço. Paixão agrega sua base clássica aprendida na França ao ‘dedinho de prosa’ típico dos mineiros. De forma objetiva, isso quer dizer que Leo cruza suas formas de fazer comida completamente distintas, resultando em raízes renovadas, porém respeitadas, com uma elegância inegável ao primeiro olhar. Com dois tipos de menu – degustação e à la carte – o Glouton é um restaurante bem cuidado, com enxoval exclusivo e renovado a cada temporada, em que ingredientes tais como língua bovina, couve, abóbora, castanha de caju, tutu e costela de porco brilham sob a intervenção técnica impressionante de Paixão. Aliás, técnica é a assinatura do trabalho desse chef, que se orgulha em reverenciar a cozinha da bisavó Ninita.

PACATO (@pacatobh) foto

Pilotado por Caio Soter e Vitor Veloso, o delicioso Pacato é um presente para o viajante que busca referências do lugar que visita, transformadas e ajustadas pelo olhar contemporâneo. Nome conhecido por outros projetos e premiações, Soter também ganhou notoriedade nacional quando participou o programa Mestre do Sabor, na Globo, em 2020. O restaurante foi eleito “Novidade do Ano” pelo prêmio Melhores do Ano 2022, da revista Prazeres da Mesa. A casa também apareceu na lista dos 100 melhores restaurantes do Brasil, pela Revista Casual Exame.

O menu degustação vigente durante minha visita, chamava-se “Do barro à lama” – inspirado no Vale do Jequitinhonha, e fazia uma reflexão sobre dois aspectos contraditórios da região – a maior riqueza da região, o barro, cujo artesanato característico é reconhecido como patrimônio do estado, e a lama – símbolo da degradação provocada pela atividade extrativista.

O serviço é lindo – todo em barro, em bordados e demais utensílios garimpados na região. O pé na tradição está lá com frango, porco e os vegetais, pão de queijo, biscoito de polvilho, broa de milho, café, raspadinha de cana com óleo de limão capeta e manjericão – o surubim (ou pintado) no vapor em panela de barro, acompanhado de refogado de folhas da horta, broto de samambaia, beldroega. O menu é uma viagem bonita de se fazer.

VALE (MUITO) A PENA!

BIROSCA – Um dos restaurantes mais fofos da viagem. Os salões do casarão em uma esquina do bairro de Santa Tereza acumulam decoração antiga, de geladeira e bibelôs de louça. A cozinha da chef Bruna Martins traz clássicos mineiros em apresentações delicadas. Instagram: @biroscas2

JACINTA – Restaurante de dia, bar dançante à noite. O Jacinta é colorido e divertido. No almoço, peça o feijão tropeiro. Instagram: @queridajacinta

COZINHA TUPIS – Henrique Gilberto é o nome da gastronomia dessa que é uma das melhores opções gastrô do Mercado Novo. Sente ao balcão, consulte o menu do dia, sempre informal e muito, muito saboroso, e perceba que o Tupis preserva a comida do centro da cidade e seus hábitos. O Tupis é do mesmo grupo da Cervejaria Viela, a Distribuidora Goitacazes, o Forno da Saudade e o Juramento 202. Instagram: @cozinhatupis.

MERCADO NOVO – O espaço ganhou ares moderninhos com ateliês de design, marcas independentes e, principalmente, operações de comida e bebida. Alguns dos nomes mais hypados por lá: Gira Vinhos, Lamparina, Copa Cozinha, Jetiboca, A Pão de Queijaria, Cozinha Tupis. Instagram: @velhomercadonovo foto

MERCADO CENTRAL – Principal mercado de Belo Horizonte, melhor lugar para comprar queijos e doce de leite; tem boxes de artesanato e comida típica. Instagram: @mercadocentralbh