ENTREVISTA: Gabriel Braga Nunes segue seu talento vivendo grandes personagens‏

Para Gabriel Braga Nunes, nada é mais forte do que a educação, pois com educação e respeito se pode falar mais e ouvir mais. E isso se traduz nesta entrevista, onde ele nos permitiu perguntar e foi mais do que gentil em nos responder. Interpretando o personagem Rodrigo, na novela Amor Eterno Amor, na Rede Globo, Gabriel, diz estar aprendendo cada vez mais a é importância dos pequenos gestos de bem, o valor da gentileza, não se deixar contaminar pelas brutalidades do dia-a-dia e preservar a leveza. Responsável com suas escolhas, busca a melhor oportunidade em cada momento e acaba por ter orgulho do que faz. Com fortes relações familiares, Gabriel, chega aos 40 anos, sem crise, sabendo que esta idade traz o poder do discernimento e a capacidade da realização. Essa entrevista é antes de tudo um belo aprendizado sobre a condição humana.Como e quando você se descobriu como ator? Foi um caminho natural ou tudo foi acontecendo por acaso? Sim, foi um caminho natural, no contexto da educação que tive. Desde muito cedo, adorava peças de teatro infantil e achava muito mágico os espetáculos que meus pais faziam. Mas isso não é regra, pois minha irmã Nina foi educada no mesmo contexto, seguiu outros caminhos e é tão realizada quanto eu. Na adolescência, o contato com jovens estudantes de teatro da Unicamp foi determinante na minha escolha profissional. Admirava a maneira como eles levavam a vida, parecendo pessoas mais livres e mais completas.

 

Sua mãe é atriz e seu pai, diretor de teatro. Foi a sua inspiração para o mundo artístico? Meu pai é rolfista, além de diretor de teatro. Claro que sim, sempre admirei demais o trabalho deles, e a maneira deles enxergarem as coisas. Meus pais até hoje são referências extremamente fortes para mim não só na profissão, mas também na maneira de viver. Estou para conhecer pessoas tão importantes quanto esses dois… Porque o tempo passa, mas a relação com eles não envelhece… ao contrário, se transforma e melhora!Você já foi vampiro, mutante, mafioso… até culminar no inescrupuloso Leo de Insensato Coração, que não tinha pudores ou qualquer noção de ética. E todos caíram no gosto do público. Você tem ideia da razão pra isso ter acontecido? Você está sendo bondoso comigo, obrigado, mas já fiz diversos fracassos também. Eu realmente acredito que qualidade traga sucesso e não gosto de pensar diferente. Mas, na minha área, dependemos sempre de um conjunto de acertos. As circunstâncias do encontro, ou química de equipe, são, de fato, fundamentais. Pode parecer lugar comum, mas não é falsa modéstia, quando ouvimos um ator falando assim.

 

Você tem uma lista de vilões bem maior que a de mocinhos. Prefere os malvados? (risos) Não é verdade. Na ponta do lápis, heróis e vilões estão praticamente empatados, e não tenho preferência. Atores não costumam pensar nesses termos, mas sim, na qualidade dos papéis, na possibilidade que determinado texto nos oferece de viver uma experiência marcante. Nosso trabalho é estudo de comportamento, ética de relação… E, nesse sentido, heróis e vilões tem a mesma importância.Agora na novela Amor eterno amor, o seu personagem era o oposto de tudo isso. É envolvido com questões da espiritualidade e do contato com a natureza. Qual a sua relação com esses temas? Você acha que eles meio que se completam? Esse personagem tem me feito considerar melhor a importância dos pequenos gestos de bem, o valor da gentileza. Não se deixar contaminar pelas brutalidades do dia-a-dia e preservar a leveza podem parecer coisas bobas, mas fazem a maior diferença no fim das contas. Além disso, sempre me senti bem, em contato com a natureza. Desde a mitologia grega, compreendo as crenças baseadas nos fenômenos naturais, pois é forte a sensação de “estar completo”, quando estamos distantes de centros urbanos.
Falando em religião… você já teve passagens pelo Kardecismo, candomblé, xamantismo… até se tornar ateu. Essa passagem por tantas religiões foi uma busca por algo que você talvez não tenha encontrado? Para todo mundo, tem a ver com busca ou encontro. Busca de algo que faça sentido ou encontro de algo fundamental para si. Nos dois casos, tiro o meu chapéu… Só acho feio quando a religião limita a liberdade e a alegria das pessoas, porque lá na frente acaba caindo a ficha de que a vida foi mal aproveitada.E por fim, você crê em que? O que te move espiritualmente? Não creio em nada, a não ser no poder de realização de cada um. Acho essa forma mais bonita de encarar a coisa. Mais real e mais poética, ao mesmo tempo. Creio no acaso, mas isso não significa nada, pois o acaso, ao contrário dos deuses, não depende de ninguém que creia nele. Eu me movo, ele se move e nós nos movemos, foi assim que aprendi. Mas não desconsidero a possibilidade de estar errado, obviamente, e seria muito mágico se eu estivesse, inclusive, (risos)…

Você passou cerca de 5 anos na Record, suas atuações renderam indicações a prêmios, você foi protagonista em várias produções… por que mudar de emissora? Não mudei de emissora, pois nunca pensei em termos dessa ou daquela emissora. O importante sempre foi identificar a melhor oportunidade em cada momento. Isso é o que nos faz acordar cedo e trabalhar bem. Tenho orgulho das novelas que fiz na Record, e hoje vivo um ótimo momento profissional na Globo. Adoro meu personagem atual… Acordo cedo e me sinto bem, a caminho do Projac.

 

Digamos que você voltou para a Globo em “grande estilo” ao pegar um grande personagem de Gilberto Braga e marcar na história das novelas brasileiras. A responsabilidade é maior com isso tudo? Dá uma mexida no ego? Gosto de trabalhar com responsabilidade grande. Rendo melhor assim do que em personagens descartáveis. E não é questão de estilo, ou de “grande estilo”, mas de qualidade mesmo. O Gilberto e o Ricardo escreveram muito bem aquele personagem! Logo que cheguei, pensei: “Tenho aqui algo tão valioso que, se eu não atrapalhar, a coisa tende a dar certo”. E acabou dando muito certo! É claro que foi um grande momento para mim. Se eu fosse mais novo, provavelmente teria abalado estruturas e mexido com ego. Aos 39 anos, me trouxe prazer artístico, empatia com o público, alegria, bons amigos… e um belíssimo contrato! O que eu podia querer mais?Você já teve a fase bicho grilo e já foi 30 quilos mais gordo. Foi uma fase de desconstrução do ego? Foi a fase anti-galã? Engordar, já engordei, mas bicho-grilo, nunca fui. Não teve a ver com anti-galã não… eu estava, inclusive fazendo um galã, um herói, que acabou se tornando um dos personagens mais importantes para mim. Mas estava sobrecarregado de trabalho, e engordei porque, como bom descendente de italianos, nos momentos complicados, me recompenso com comida e bebida. Como era um momento bastante complicado, acabei no moletom! Aliás, eu nunca entendi porque é que todos os super-heróis usam colant! (risos)…

 

Como você lida com o espelho? A vaidade tem que importância para você? Não sei muito sobre o assunto, mas, há alguns anos, uma namorada me fez compreender a associação entre roupa e comportamento, e isso foi bom! Assim como o figurino ajuda o ator, o acerto na escolha da roupa pode melhorar uma situação social, nos fazendo sentir mais “inteiros” ou mais fiéis a nós mesmos. Pode, inclusive, nos ajudar a dizer melhor a que viemos. Antes, isso parecia bobagem, coisa superficial.A gente sabe um monte sobre seus personagens, mas sobre você mesmo, muito pouco. Como lida com o público e o privado sendo uma pessoa pública? Sempre achei mais honesto não mudar. Sempre achei meio babaca aquele cara que muda com a notoriedade. No entanto, algumas mudanças acabam sendo inevitáveis, principalmente porque quase todo mundo muda conosco! Hoje sou mais reservado, e diversas vezes prefiro ficar em casa a ter de lidar com o olhar curioso, mas também impiedoso, das pessoas. Não que eu tenha algo a esconder. Nem que eu não goste de andar por aí e encontrar gente. Muito menos, que eu me sinta especial em qualquer sentido. É vontade de ficar quieto mesmo. Essa noção maluca que o brasileiro tem, de que sorrir e falar com todo mundo é um preço que o ator tem que pagar, acaba exaurindo qualquer um. Com relação à imprensa, são incômodas as aspas publicadas com palavras que não saíram de nossas bocas. Ter de lidar com distorções de significado, má interpretação voluntária, ou mesmo com mentiras, é cansativo para quem preza opinião. Arriscaria dizer que metade do que é publicado não tem a ver exatamente conosco. Mas não reclamo. Não é de hoje que conheço o pacote completo do ofício. Escolhi e sei lidar.

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