CRÔNICAS & INDAGAÇÕES: Amor & sexo

Assistindo às opiniões populares o programa “Amor e Sexo”, fiquei com uma enorme vontade de falar sobre o tema. Esses supostos opostos são recordistas em criar uma dualidade e gerar uma batalha desnecessária. Salvo em uma relação onde se gera o lucro, o sexo não pode ser visto como algo tão antagônico ao amor. Impossível não enxergar no sexo uma manifestação do amor. A entrega, a confiança, a disponibilidade e a generosidade em dar prazer ao outro são qualidades intrínsecas do coração.

Fazer amor é uma expressão absolutamente intelectualizada e que define de forma lúdica o que é uma verdadeira relação sexual. Muitas vezes, a senha e a chave para o verdadeiro encontro é a atração estabelecida. Nada pode ser mais amoroso do que um encontro sexual de verdade e pra valer! Aquele encontro que mais do que unir pele, une almas. Quando isso ocorre é impossível que não exista um sentimento forte diante de tanta intimidade e cumplicidade. O sexo acaba legitimando o amor e vice versa. São parceiros. Uma parceria intuitiva e que por força da natureza e de dogmas culturais se torna vítima de tanta especulação.

O sexo é um visto de entrada, é a permissão para o arsenal de sentimentos se instalarem. É como se o corpo dissesse que estabelecido esse contrato de atração, a ternura, o respeito o carinho podem chegar. Não pode haver nada mais respeitoso e carinhoso do que um sexo bem feito e consentido. Uma entrega explícita de confiança. De nada adianta um casal que se entende, que se respeita se não existe uma forte atração. E nenhuma verdade existe em um casal que transa e não se respeita. Com certeza o amor está falhando em ambos os casos. Sexo e amor se  fundem, se unem no momento em que não é mais possível um viver sem o outro. Quando a cama está bem arrumada e resolvida e o casal sabe marcar bem esse território, uma fortaleza se ergue para combater todos os agentes externos que possam ameaçar a relação.

Quantas belas histórias de amor se iniciam durante um encontro aparentemente sexual? Muitos casais que se conhecem no auge do Carnaval, época em que se busca o prazer apenas, conseguem permanecer juntos anos a fio, pois o código que os uniu foi justamente o da atração. Não quero fazer apologia do sexo como isca do amor. Acredito apenas que o sexo é tão esperto, mas tão esperto que ele pode se disfarçar de um simples tesão para não revelar o grande amor que chegou.

O Amor é humano, o Sexo também. O Amor é teimoso, o Sexo também. O Sexo é o melhor amigo do Amor, na verdade são amantes. Não tem como antagonizar. Formam um belo casal. E nessa união tem que existir cumplicidade. A paixão até pode ter um prazo mais curtinho que o amor, mas essa validade pode ser prorrogada se o amor, o sábio da relação, souber usar de suas habilidades para conquistar diariamente o impulsivo do sexo. Na hora do desespero, quando o amor deseja e invade a cama do sexo, fica evidente como foram feitos um para o outro. Palavras expressam, o corpo reage de forma absurda e tudo que havia de errado se reconecta. Sim, um bom sexo resolve, organiza, reconstrói, dá esperança, revigora e une!!! Isso é amor!!!

Caetano disse com muita propriedade em sua bela canção, Tá Combinado: “Abrirmos a cabeça para que afinal floresça o mais que humano em nós. Então tá tudo dito e é tão bonito e eu acredito num claro futuro de música, ternura e aventura pro equilibrista em cima do muro. Mas e se o amor pra nós chegar, de nós, de algum lugar com todo o seu tenebroso esplendor? Mas e se o amor já está, se há muito tempo que chegou e só nos enganou? Então não fale nada, apague a estrada que seu caminhar já desenhou porque toda razão, toda palavra vale nada quando chega o amor…” Essa letra retrata de forma simples que no início tudo parecia somente sexo e amizade, parecia. O amor e o sexo são especialistas nos disfarces. Tudo é tão sútil nesse assunto que não há lógica e nem matemática que explique. Não há formula, pois tudo é finito e tudo será extinto em algum momento. Se soubermos lidar com isso, as relações se tornarão mais duráveis, por mais paradoxal que isso seja. Estaremos mais relaxados e assim tudo fluirá melhor.

Quando percebo que um casal está em paz, sei que há um forte componente sexual entre eles.

Termino essa crônica citando uma frase do belo soneto 11 de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver…”.

E que a verdadeira temporada de Amor e Sexo, essa que vive em nós, não termine jamais.

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