CAPA: ALMÉRIO & MARTINS – INSPIRAÇÃO EM DOSE DUPLA

Fotos Carlos Cajueiro

O talento e referências da cultura pernambucana moldaram esses dois incríveis artistas. Almério, nascido em Altinho, e Martins, natural de Recife, que tiveram suas vidas cruzadas através da música. A paixão que ambos têm pela música é algo fácil de perceber, porque transborda em letras e que são canções que levam multidões a teatros e praças. Inclusive, agora, com maior alcance, graças à trilha sonora da novela Renascer que traz uma musica de cada um deles para deleite do grande público.

E o que a música une ninguém separa. “A primeira vez que encontrei Almério foi na casa do produtor musical e compositor Juliano Holanda. Juliano estava produzindo o segundo disco de Almério e achou importante que a gente tivesse esse encontro”, comentou Martins. A sintonia foi tão grande desde o primeiro encontro que, na sequência, veio um show juntos que se esgotou em poucas horas. “A leveza e a simplicidade dele me comovem! É fácil levar as coisas, pegar a estrada, dividir a vida e o palco com ele! Ele é delicado e gentil, afetuoso sem perder a autenticidade!”, declarou Almério sobre o amigo. Juntos ou mesmo separados, eles têm conquistado uma legião de fãs por onde passam e, em breve, ganharão o mundo com uma turnê pela Europa.

Encarar o sucesso nem sempre é tarefa fácil ou até mesmo, não estamos preparados para ele. No caso de Almério e Martins, não foi diferente. “Penso que sucesso é desde quando você escolhe, se reconhece, e se joga de cabeça nessa imensidão que é viver de música e arte! Desde que você sente que é um caminho sem volta. Ninguém lhe tira isso, nem nada! Esse é o suprassumo, o óleo do sucesso!”, comentou Almério. Já para Martins, que já trabalhava com música há mais de 10 anos, as coisas foram acontecendo gradativamente. “Tive a alegria de passar pelas grandes capitais do Brasil e fui muito bem recebido. Tive diversas canções gravadas por grandes nomes da música popular brasileira – isso é uma vitória, uma realização pessoal. Entendi que a minha canção tem adesão, tem apelo. Sucesso pra mim é isso”. De Ney Matogrosso a Maria Bethânia, já se encantaram com as canções desses dois grandes artistas e, se você ainda não é fã, se prepare – eles ainda vão dar muito o que falar.

Para quem ainda não sabe como foi que os caminhos de vocês se cruzaram?

ALMÉRIO: Eu estava gravando meu disco Desempena em 2015 quando Juliano Holanda, produtor musical do disco, me chamou pra um sarau na casa dele. Lá estavam alguns compositores e, dentre eles, Martins – foi  amor à primeira audição! No outro dia, eu já estava gravando Queria ter pra te dar

MARTINS: A primeira vez que encontrei Almério, foi na casa do Produtor musical e  compositor Juliano Holanda. Juliano estava produzindo o segundo disco de Almério  e achou importante que a gente tivesse esse encontro. Nesse dia, eu apresentei algumas canções do meu repertório e Almério se identificou de pronto.  A partir desse momento, a gente começou a criar uma relação muito bonita, muito verdadeira e até hoje a gente se corresponde.

Além da música, o que mais em comum? O que moveu vocês a esse encontro de almas?

ALMÉRIO: A leveza e asimplicidade dele me comovem! É fácil levar as coisas, pegar a estrada, dividir a vida e o palco com ele! Ele é delicado e gentil, afetuoso sem perder a autenticidade! Super amigo, super parceiro, de ligar e falar por horas. Amo demais!

MARTINS: Para além da música, existe um lugar muito íntimo, específico e bonito que me aproxima de Almério. A expansividade dele me coloca num lugar de extrema beleza. Eu sou tímido e ele é tão somente liberto. Ele expressa a arte dele com muita espontaneidade e eu acho isso a coisa mais linda do mundo.

O quanto o Reverbo é importante na formação de vocês como artistas?

ALMÉRIO: Aprendi muito com a Reverbo – a ouvir mais, compor melhor, cantar também. É uma troca justa. De tanto convivermos, a gente leva e sempre deixa alguma coisa para o outro ou outra artista. 

MARTINS: O Reverbo é um coletivo que abraça diversas linguagens da música pernambucana. Esse  projeto é a reunião de todas as regiões de Pernambuco.  Lá, você encontra artistas da Zona da Mata Norte, do Sertão, do Agreste… Esse projeto foi idealizado por Juliano Holanda e Mery Lemos, figuras importantes para o contexto atual da música de Pernambuco. A minha história com música começa muito cedo, eu sempre tive uma verve musical, sempre estive a serviço da canção, mas posso dizer com muita certeza que, o Coletivo Reverbo me direcionou para o entendimento profissional da minha arte.

Quando perceberam que a chave mudou? Que o sucesso finalmente tinha batido à porta?

ALMÉRIO: Penso que sucesso é desde quando você escolhe, se reconhece, e se joga de cabeça nessa imensidão que é viver de música e arte! Desde que você sente que é um caminho sem volta. Ninguém lhe tira isso, nem nada! Esse é o supra sumo, o óleo do sucesso! Não tem a ver com ser famoso, ou ter mais notoriedade ou mais streaming, ou mais seguidores – tem a ver com a profecia, e missão de alma. Mas, lotar o teatro Guararapes no Recife foi um grande momento! Inesquecível!

MARTINS: Eu trabalho com música há mais de 10 anos. As coisas foram acontecendo gradativamente. Tive a alegria de passar pelas grandes capitais do Brasil e fui muito bem recebido. Tive diversas canções gravadas por grandes nomes da música popular brasileira, isso é uma vitória, uma realização pessoal. Entendi que a minha canção tem adesão, tem apelo. Sucesso pra mim é isso.

O que foi mais difícil no começo e qual a principal barreira vencida ao longo dessa trajetória?

ALMÉRIO: O que foi difícil e ainda é, é mudar algumas estruturas e tecnologias feitas pra impedir nossa música de existir – um sistema que limita nossa arte de florescer, os preconceitos com o artista Nordestino, sobretudo pernambucano, que cai nos mesmos lugares delimitados, do sotaque e regionalismo. Essas caixinhas que nos aprisionam e que sempre querem nos encaixar! Recusar e fugir dessas armadilhas é uma demanda cotidiana! Saber que nossa cultura, na grande maioria das vezes, está nas mãos de gente que não entende de cultura, não tem parâmetros, não tem paixão! Isso dói demais! 

MARTINS: Sobre o início da minha carreira posso dizer que foi um processo natural. Acho que normalizei as dificuldades. A coisa mais complicada foi tentar me impor dentro do universo da música – sobretudo, por ser um artista nordestino. Mas, para, além disso, acho que o nordeste tem uma beleza, um jeito, que não há quem resista. Já tive a oportunidade de apresentar meu trabalho fora do país e, lá, pude certificar que a música desenvolvida no nordeste do Brasil, seduz.

Ambos estão com músicas na trilha sonora da novela Renascer (Globo). Como surgiu o convite e que importância isso tem tido para vocês?

ALMÉRIO: Só por ser na novela Renascer foi incrível. Assisti à primeira versão com meus avós ainda vivos – era outro mundo. A primeira música na novela, a gente nunca esquece. Minha família se reuniu pra assistir como se fosse final de copa do mundo! (risos) Agora, foi um convite feito à gravadora que, de prontidão, enviou a música Quero Você pra direção da novela, mas quem intuiu foi meu produtor, André Brasileiro. Tá sendo uma movimentação linda. É bonito ver as pessoas acessando e se emocionando com sua arte, se motivando, se libertando… O amor liberta! A arte liberta! 

MARTINS: Eu nasci nos anos 90 e acompanhei o momento ouro das novelas. Como  artista, isso é tão somente algo transformador. É uma realização pessoal  ter a minha voz na trilha sonora de uma novela. Tô feliz à beça.

Que referências vocês trazem no trabalho de vocês? E influências?

ALMÉRIO: São muitas referências. Temos uma base sonora e cultural muito rica e importante, de onde nasce tudo, que é cultura popular – nosso olho d’água precioso e inesgotável. Mas, hoje, gosto de destacar essa cena contemporânea de excelentes cantores e cantoras, compositoras e compositores, de grandes e inquietos artistas, de vários seguimentos e estilos, dessa geração, e as novas que já começam a despontar! 

MARTINS: As minhas referências veem da cultura popular. Toco  um instrumento muito especial chamado rabeca. Instrumento muito utilizado nos folguedos da tradição da cultura profunda do Brasil. O movimento mangue beat que aconteceu em Recife nos anos 90 é responsável por tudo isso. Foi  a manutenção de uma linguagem riquíssima. Acredito que a música  brasileira deve muito à expressão da tradição popular. Os artistas que fazem minha cabeça são Caetano Veloso, Alceu Valença, Cordel do Fogo Encantado, Mestre Ambrósio e muitos outros.

Como vocês enxergam a cena musical pernambucana hoje em dia?

ALMÉRIO: Muito instigante e bela, da qual eu bebo e me abasteço. Meus discos são prova disso, tanto no repertório como na sonoridade. Do underground ao pop, da MPB ao brega, do forró ao rock and roll… Da música que nasce com muita criatividade nas periferias de Recife/Olinda. Do brega que virou uma manifestação popular muito forte e bonita! Essa miscelânea de sons e possibilidades que faz de Pernambuco um cenário fértil e muito produtivo. E nosso patrimônio vivo – o frevo, que é nosso e do mundo, nos enriquece e inspira! Convenhamos, a música preta brasileira! 

MARTINS: Há uma competência e exuberância na nova música de Pernambuco. A coisa mais linda é entender que esses novos artistas entendem a importância do movimento da cidade. Pernambuco abraça todas as linguagens musicais e isso, é motivo para festejar. 

De onde vem inspiração e transpiração?

ALMÉRIO: Na existência, quando a simplicidade se apresenta me excita, me impulsiona, me faz transcender! 

MARTINS: A inspiração vem do inconsciente, do momento, do instante. A transpiração é um exercício diário. É preciso estar atento para as novas experiências.

Em breve, vocês seguem para a Europa para uma série de shows juntos. Como anda a expectativa? Pensaram em algo especial para esses shows no exterior?

ALMÉRIO: Na verdade, estarmos juntos levando o nosso show exatamente como ele é – já é muito especial, porque lá é tudo novo! Quero que as pessoas sintam a verdade que mora nesse encontro e em cada canção! 

MARTINS: Já tive a oportunidade de apresentar meu trabalho fora do país com outro projeto que tenho – uma banda ligada à cultura popular. Agora, pela primeira vez estarei ao lado de Almério, divulgando um espetáculo em que  a melodia é o elemento principal e a palavra – a digital do meu país.

Por fim, o que toca na playlist de vocês?

ALMÉRIO: Muuuuuita coisa, mas vou citar meus contemporâneos e minhas contemporâneas. Então, Juliana Linhares, Chico Chico, Joana Terra, PC Silva, Zé Manoel, Agda, Tonfil, Okado do Canal, Zé Ibarra, Caio Prado, Una, Gean Ramos e Martins, claaaaaaro! 

MARTINS: Ouço de tudo, mas há uma prioridade para cada momento. Agora, estou ouvindo um artista de Portugal chamado Salvador Sobral. Estou amando o repertório dele. 

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