CAPA: NA FÉ COM JOSÉ LORETO

O grande fenômeno de audiência que foi a novela Pantanal fez questionamentos sociais e políticos, elevou os índices de audiência, fez a macharada assumir que também assiste novela e revelou grandes talentos (muitos já veteranos). Como é o caso do ator José Loreto, um cara simples, boa praça e muito talentoso, que interpretou o peão Tadeu. Sua estreia no horário nobre começou em 2012 com o Darkson de Avenida Brasil, quando atraiu os olhares femininos e fez os cuecas de plantão invejarem o cara romântico que conquistou a gata Tessália. Daí em diante nunca mais sua vida foi a mesma. Atleta de judô e fã incondicional dos dias de sol e praia, Loreto agora se prepara para um grande desafio, interpretar o cantor Lui Lorenzo, na novela Vai da Fé que estreia agora em janeiro (Globo). MENSCH conversou com Loreto que falou um pouco da sua trajetória, o divisor de águas que foi o Tadeu e o próximo personagem.    

A vida de ator é uma coletânea de histórias e personagens. Saberia dizer a mais marcante delas até aqui? Aquela que mexeu por dentro e lhe fez repensar sobre algo na vida? Eu não consigo dizer qual personagem ou história foi mais marcante pra mim. Todas mexeram comigo! Cada papel representa um momento de vida. O que eu entrego pro personagem, ele sempre me devolve. A história de cada um me traz uma reflexão, como foi o caso do José Aldo que me fez acreditar que nada é impossível. Todos me moveram, me movem e me tornaram uma pessoa diferente.

Dentre esses diversos personagens podemos dizer que Tadeu de Pantanal foi um marco na sua carreira? Foi difícil desapegar dele? Com certeza, o Tadeu foi um marco na minha vida. Pantanal foi a minha terceira novela das 21h e um sucesso absoluto. Foi muito marcante, principalmente depois de tanto tempo sem trabalhar por causa da pandemia. Foi um marco poder voltar me sentido mais maduro e com um personagem forte dramaturgicamente.

Falando nisso, conte pra gente um pouco da experiência de Pantanal. Sobre a novela e o lugar. Fazer Pantanal foi uma experiência onde a novela e o lugar se misturaram de uma maneira única. No início, tive que ficar dois meses direto por lá e foi um processo importante para eu entender também o protagonismo do lugar – daquele mundo selvagem que faz a gente ter um outro tempo, um outro olhar e uma outra consciência da natureza, de nossa vida e de nosso querer. Foi incrível, foi o lugar onde fiquei mais tempo gravando, longe de casa. Conhecer o Pantanal foi um dos maiores presentes que recebi, ao fazer essa novela.

Sai Tadeu e entra em cena Lui Lorenzo, um vocalista decadente na novela Vai na Fé. O que pode adiantar pra gente desse novo personagem e suas inspirações para ele? Saiu um personagem grandioso e entrou outro muito importante também. O Lui é muito diferente, complexo e cheio de camadas. Ele é o extremo oposto do Tadeu quando falamos de emoções, sentimentos e, principalmente, do lado cultural. Tem sido uma delícia fazer o Lorenzo! Ele é um cantor que já fez muito sucesso e que lotou estádios. Me inspirei na musicalidade do Latino, na dança e sex appeal do Magal, além de outras referências, como Luis Miguel. Claro que foram apenas inspirações para compor um personagem que já tem sua própria história.



Cinema, teatro, TV e prêmios. Foram muitas vidas vividas até aqui, através de personagens variados. O que você almeja ainda para sua carreira? Fazer personagens incríveis, que façam as pessoas refletirem, que transformem e emocionem. Quero divertir e também tocar as pessoas. Esse é o meu desejo enquanto artista, fazer algo que afete, de maneira positiva, o público.

Qual seu ritual para entrar em um personagem, tem algum? Vou me transformando a cada personagem. Um processo é diferente do outro. A atuação tem vários processos e crio de acordo com cada um deles. Meu ritual é a dedicação. Sou muito dedicado. Leio bastante e sempre penso que estou enchendo, cada vez mais, as “minhas gavetas”. Tento sempre aprender ao máximo e, na hora do “gravando”, uso tudo que introjetei em mim para atingir um resultado que seja o mais natural possível.

Além de atuar, quais outras formas de arte lhe atraem, tanto para curtir como para experimentar? Amo a arte de um modo geral. Amo a dança, o canto, artes plásticas… Eu amo qualquer manifestação artística. Gosto de atuar, de escrever, principalmente músicas. Gosto de pintar com a minha filha… Um dia, também quero poder dirigir alguma produção. Também adoro direção de arte. Gosto de tudo que envolve arte, principalmente a arte dramática. Também acho que um artista precisa produzir aquilo que ele quer contar. E estou, a cada dia mais, nesse caminho!

Se considera um cara vaidoso? Do que não abre mão e como se cuida? Me considero um vaidoso com moderação porque não deixo isso reger a minha vida. Depende do momento. Às vezes, quero só me sentir bem, independentemente de estar me sentindo bonito ou não.

Pouca gente sabia até você aparecer tomando injeção, mas você tem Diabetes Tipo 1, descoberta na adolescência, como foi viver esse diagnóstico e como é conviver com a doença? Atrapalha em algo? Sempre fiz questão de levantar a bandeira da diabetes porque a maior causa de problemas entre os diabéticos é a falta de informação. É importante que as pessoas com diabetes saibam que ela podem viver com saúde e que podem fazer de tudo. Tento mostrar que nada me limita por conta da diabetes. Muito pelo contrário, ela me fez ser ainda mais dedicado na busca de um equilíbrio, de uma boa alimentação, de buscar a informação, de fazer exercícios regulares e saber da importância disso. Não é um luxo querer ter saúde, é uma condição para qualquer ser humano.

O que lhe desafia como ator e onde você busca inspiração? Poder fazer um personagem diferente do outro e garantir que cada um seja único, que tenha a sua própria digital. Tento dar o meu máximo na construção de cada personagem e isso, por si só, já é um grande desafio.

Depois de José Aldo, você iria começar a preparação para viver o Casagrande nos cinemas, ou seja, mais um personagem biográfico. O que te atrai nesse mundo da biografia? Amo biografias. Amo ler, assistir… Sempre foi uma das coisas que mais despertou o meu interesse, até mesmo em relação ao cinema que apareceu na minha carreira através dos filmes biográficos. Adoro tudo que é baseado em fatos reais. Apesar disso, como ator, acho um pouco mais complicado dar vida a um personagem real, que existe ou existiu, porque você acaba caindo na comparação do público, ainda mais quando é alguém que tem uma apelo popular muito grande.

Na sua participação no programa Amor & Sexo você, certa vez, comentou que serviu para uma reconstrução como homem. Quebra de tabus. O que mais destaca nesse processo? O que ficou de aprendizado? Entrei no Amor e Sexo aos 27 anos de idade. A partir dali, comecei a me deparar com questões que eu nunca tinha parado para pensar. Talvez, porque antes disso, eu estivesse acomodado em um lugar onde eu não conseguia despertar a minha sensibilidade ou empatia para assuntos tão sérios, relacionados às minorias. Desde o primeiro programa, ao ouvir as questões levantadas pela Fernanda, pela Regina e inúmeros convidados, comecei meu processo de desconstrução abrindo o meu coração com muita sinceridade para mudar algumas formas de pensamento. Amor e Sexo foi fundamental na minha vida e me ajudou muito em um processo brusco de mudança. Foi uma total quebra de tabu. Me tirou a miopia e me fez olhar com mais nitidez para questões que são óbvias na minha vida hoje. Agora, aos 36, ainda me sinto nesse processo de mudança, mas vejo tudo com muito mais clareza e verdade.

Falando nisso, como você enxerga essa masculinidade tóxica hoje em dia? Acho que não existe mais espaço para esse conceito de masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza. É preciso desenraizar, de forma urgente, certos comportamentos para que a gente avance ainda mais nessa questão que é tão estrutural e complexa. Essa mudança também é essencial para uma sociedade menos tóxica e que consiga abrir a sua percepção para outros pontos de vista. Homem chora, sim. E muito!

Zé você parece ser um super pai. Sempre presente e atencioso. O que aprende com sua filha Bella, e que lições pretende passar para ela? Estou aprendendo muito, através do olhar dela. No auge da pandemia, passamos a ter um tempo enorme juntos. Pude ver a Bella aprender uma coisa nova a cada dia. É maravilhoso! Ter esse tempo mais próximo é algo que eu pretendo levar pra sempre. Ela é a coisa que eu tenho de mais importante na minha vida.

Como você se definiria em uma frase? Um homem em constante aprendizado.

entrevista NADEZHDA BEZERRA    

fotos VINÍCIUS MOCHIZUKI 

edição de moda ALÊ DUPRAT

produção de moda KADU NUNES