COMPORTAMENTO: “Freud e as Mulheres”

A estréia da nova série da Globo, de título bem peculiar e de extremo interesse masculino, reacende as velhas questões que semeiam discussões entre homens e mulheres ao logo do tempos. Talvez essas questões respondam porque homens e mulheres são tão diferentes e principalmente, no nosso caso, porque elas pensam tão diferentes de nós? Coisas simples, como uma pergunta sobre o que a mulher quer fazer no sábado à noite, vira um diálogo sem fim, ou o clássico feminino que quando elas querem dizer “sim”, dizem “não”, e vice e versa. Vai entender. Se nem Sigmund Freud foi capaz de chegar a uma resposta que satisfizesse a pergunta, por ele um dia levantada: “Afinal, o que querem as mulheres?”, que dirá nós, pobres homens com QI abaixo de Freud. Mas o que pensava “o pai da psicanálise” sobre elas?


Freud era um judeu nascido em 1856 na cidade de Freiberg, que na época pertencia ao Império Austríaco. Era um médico neurologista e fundou a psicanálise numa época em que distúrbios psicológicos eram diagnosticados apenas como loucura ou coisa do demônio. Através da hipnose Freud foi tratando vários casos de doenças da mente e distúrbios. Freud acreditava que a sexualidade e a libido eram a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas. Suas teorias e seu tratamentos foram controversos na Viena do século XIX e continuam a ser muito debatidos até hoje. Suas ideias são frequentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico e médico.

Entre outras preocupações, Freud retomou a discussão da natureza do sexo feminino, abrindo para a então nova ciência do inconsciente, possibilidades ainda inexploradas. Tentou então desvendar a feminilidade, estudar a sua constituição a partir da estrutura edipiana, que constitui um dos pilares da psicanálise. Através da estrutura edipiana, Freud distribuiu as posições do pai, da mãe, do filho e da filha e detalha o papel que cada um aprende a assumir e a sua realidade sexuada ou, a resignar-se a ela, quando se trata da menina. Para ele a lei do pai, ao proibir a posse da mãe, primeiro objeto de desejo, que deverá transferir-se para outra mulher e, no caso da filha, para outro sexo, inaugura o acesso à maturidade e à capacidade do simbólico, através da prova da castração. Assim a posição de cada sexo está ligada à sua configuração morfológica. A menina é diferente do rapaz, sendo inferior a este, privada como está desse pênis que lhe falta, de que tem “inveja” e de que não encontra senão um pálido sucedâneo no clitóris.

O sexo feminino é definido negativamente em relação ao sexo masculino. Tornar-se mulher é aceitar não ser homem, através de um laborioso itinerário. Mas o acesso aos benefícios fálicos, à sublimação, custará caro à menina, sempre mais ou menos levada a escolher entre o prazer e o trabalho, enquanto o rapaz pode harmonizá-los. Ao mesmo tempo em que a psicanálise foi capaz de dar conta do desejo das mulheres, ela permaneceu, até então, impotente perante o seu querer, que não coincide com o seu desejo. Ainda hoje os modelos criados pela psicanálise estão enraizados na cultura ocidental, como a “mãe má” (que não é mais, pessoalmente responsável, no sentido moral da palavra, e sim uma mãe “inadequada“), que ainda é percebida como uma mulher ao mesmo tempo malvada e doente. E conseqüentemente foram aumentados os sentimentos de angústia e culpa maternas no séc. 20. Uma de suas preocupações deslocava-se para o entendimento da psiquê da “mulher normal” ou “feminina” que é definida por Deutsch como uma tríade básica que comporia o psiquismo feminino: a passividade, o masoquismo e o narcisismo.
Desta naturalização das funções do corpo feminino, sobraram poucas alternativas às mulheres. Se o corpo fora feito para gerar filhos, não seria então natural que uma mulher não os tivesse, não os amamentasse, não fosse inteiramente devotada a eles. Logo, foram criados apenas dois modelos rígidos como opção para as mulheres, a que seguia a sua “natureza“, que era naturalmente submissa, devotada, bondosa, comedida, discreta, boa mãe, boa filha, boa esposa, obediente, entre outros e a que não seguia a “natureza” e não era vista com bons olhos pela sociedade. Sendo assim, por tudo isso, mesmo nos dias de hoje em que as mulheres mudaram sua forma de ser e agir, lá no fundo todas as teorias psíquicas sobre a formação da mente feminina ainda refletem em seus atos. Por mais modernas que sejam, eternas questões geradas ao longo dos anos, como por exemplo expor seus desejos e vontades, geram conflitos internos. Inseguranças e julgamentos virão de outras mulheres e delas próprias, por mais que a sociedade tenha evoluído diante da figura feminina. Assim se explica, ou não, questões simples, que na mente feminina muitas vezes geram conflitos e dualidades, como uma simples resposta para o que se deve vestir hoje à noite.
Afinal o que querem as mulheres? Eu responderia que querem ser entendidas, mas acima de tudo, se entenderem consigo próprias. Talvez por isso, não consigamos viver sem elas. Não dá pra ser prático e objetivo o tempo todo. Ter só botão de “on” e “off“.
SÉRIE DA GLOBO
É também com esse intuito, que verei a séria global. Além claro, de ótimos textos saindo da boca de belas deusas do sexo feminino como Maria Fernanda Cândido, Letícia Sabatella, Vera Fischer e a sempre linda, Paola Oliveira. A série, é mais uma obra do ótimo diretor do cinema e da televisão, Luis Fernando de Carvalho, que para levar o clima do bairro carioca aos estúdios da Globo, usou luzes nas cores vermelho, verde e amarelo, sempre em tons saturados, uma das características dos seus trabalhos. É uma mistura entre o HD e a ótica de cinema. “Necessariamente tem de ter um cuidado maior com acabamentos, maquiagens, luz e cenários“, explica Luiz Fernando. O processo de produção começou em fevereiro. E a história não vai responder a pergunta que dá nome à série. “Descobrir o que as mulheres querem é uma tarefa árdua demais. O que uma mulher quer em determinado momento já seria demasiado digno e delicioso“, avalia Michel Melamed, que faz o papel, central, de André. Que na séria, é um jovem estudante de psicologia que teima em responder à questão freudiana. Porém sua dedicação acaba o afastando de sua mulher, uma artista plástica chamada Lívia, vivida por Paola Oliveira e o casamento acaba.

Bibliografia:
– As Mulheres de Freud, Editora Record
– Dossie Freud, Editora Universo dos Livros
– Diário Catarinense, por Vanessa Gandra