ENTREVISTA: As revelações e os projetos de Ricardo Macchi

Por Nadezhda Bezerra / Fotos Alan Chaves

Quando se fala em Ricardo Macchi logo nos vem à mente o famoso cigano Igor, personagem da novela “Explode Coração” que revelou Ricardo Macchi para o grande público. E foi graças a esse trabalho que Ricardo viu seu nome e carreira ser criticado pela mídia e público esse mesmo público e essa mesma crítica que anos depois voltou a falar dele e elogiar o comercial da FIAT onde ele contracena com o ator americano Dustin Hoffman. O que se sabe é que todo esse auê em cima do cigano Igor terminou tornando a personagem inesquecível, e por tabela o seu interprete. O que não se sabe sobre Ricardo é o longo período que separa o famoso cigano Igor e o comercial de carros. O grande público não sabe, por exemplo, do engajamento de Ricardo com as causas sociais, trabalho esse que já lhe rendeu um prêmio e tem ajudado a despertar a população para questões importante. Ao conversar com Ricardo Macchi é que se percebe que ele vai muito além de tudo isso. Ricardo com sua simpatia e simplicidade se mostra acima de tudo um ser humano antenado com o mundo e um profissional que leva à serio seu trabalho e se diverte com a mídia. Para ilustrar tudo isso, nosso entrevistado encarnou um mafioso daqueles clássicos e posou para as lentes de Alan Chaves. O resultado de tudo você confere logo a seguir.

Ricardo, como foi seu começo como modelo e como chegou a ser descoberto para trabalhar como ator? Comecei a trabalhar com publicidade aos 15 anos de idade, já havia recebido diversos convites e nunca havia levado a sério ou cogitado encarar as propostas por achar que eram puro assédio sexual. Certa vez, estava em um parque (Parcão, Parque Moinhos de Vento) em Porto Alegre, minha cidade natal, fui convidado para fazer um comercial dirigido por Sérgio Amon, depois, na mesma semana que veiculou, fui chamado para fazer uma campanha de fotos e um desfile. Foi muito rápido. Fui a São Paulo para trabalhar pela primeira vez aos 17, com 18 fiz meu primeiro curso de teatro, em 1988, em Porto Alegre com o professor Zé Vitor Castiel, quando já estava trabalhando no mercado nacional e internacional em “grande estilo”, pois meu primeiro trabalho em Sampa, na L’équipe, foi uma campanha internacional da Levi´s. Depois de muita publicidade, morando na terceira maior cidade do mundo. Resolvi fazer um teste para Blue-Jeans, o Wolf Maia havia colocado anúncio no jornal e soltado na mídia que precisavam de novos atores para a peça, cheguei no Palladium, em são Paulo e já havia 200 atores para o teste. Fui ficando e fui contratado… (curiosamente eu e Marcos Pasquim) em 1991.

Fiz minha estréia, como ator profissional, no teatro Galeria no Rio e fiz a temporada toda em Sampa. Novo contrato e mais uma temporada pelo Brasil. Depois fui chamado pela produção do Hair para fazer o espetáculo, em 1993. Quando terminei a temporada do Hair, fiquei sem trabalho como ator e resolvi trabalhar onde eu havia sido chamado tempos atrás, o convite ainda estava de pé para fazer uma temporada em Milão, pela a Agência Italy Models (maior e melhor agência de modelos do mundo na época), em outubro de 1993. Fui e fiquei dois anos pela Europa “modelando”. Quando em 1995, mês de março, de férias no Rio de Janeiro, depois de uma semana de sucesso na semana “Leslie de Moda”, não queria desfilar, o Sérgio Mattos insistiu para eu ficar, por já ter conseguido desfiles para eu fazer, que eu não pude recusar. Foi o que chamou a atenção da Rede Globo, exatamente uma matéria do Jornal O Globo assinada pela Cristina Franco (“papa da moda no Brasil na época”) me elogiando bastante e me colocando como representante da nova geração de top models brasileiros trabalhando no exterior. Assim, no dia seguinte recebi convite da Rede Globo para fazer um teste para a novela Tropicaliente. Teste feito e nada de resposta… Sete meses depois, de volta ao meu trabalho de modelo na Europa, recebi um telefonema da produtora Mônica, da Globo, para eu fazer um novo teste, pois eu havia sido pré-selecionado para ser protagonista da novela Explode Coração. Voltei fiz novo teste, e fui contratado por seis anos.

Falando em Explode Coração, como é impossível não falar do Cigano Igor, personagem pelo qual você foi duramente criticado na época, que apesar das críticas, é um sucesso até hoje. O que ficou de lição positiva desse tempo? Sei que a mídia pode ser comprada e que existe um abismo entre o que é “vendido” e dito como verdade e o que é a verdade. Pessoas com poder criam “bons atores e boas atrizes”. Eu tenho muita sorte em ter passado pelo o que eu passei, foi a maior prova de que não entrei para nenhuma das “patotinhas “da Globo, nunca corrompi meus princípios e valores. A maior prova que não tive estratégia nenhuma de “blindagem”: estratégias de colocar em um papel pequeno, fácil. Digo isto, pois se eu tivesse estreado fazendo papel de um cara normal… Sem ser um espírito, carregado de mistério, mágoas e ao mesmo tempo ser viril e sensível… Muito complexo para um estreante que não é amiguinho de ninguém! Com autor escrevendo para um ator dentro das suas características, e um diretor dirigindo um ator. Nunca fui dirigido, fui sabotado, estreante protagonista sem ajuda de coach.
Novela das 21 horas… Garoto de 24 anos de idade… Sozinho sem “patotinha” fazendo sucesso e capa de todas as revistas do Brasil e de Portugal… Graças a Deus, ninguém tem nada, NADÍSSIMA PARA FALAR DA MINHA VIDA PESSOAL. SUBI SOZINHO E SEM AJUDA DE NINGUÉM. Fui massacrado pela crítica e sou amado pelo público! Carisma não se compra, assim como consciência, esta é diferente de reputação na mídia, esta, com algum tipo de moeda pode-se comprar. Dormir tranquilo todas as noites sem maconha, antidepressivos, álcool, calmantes e drogas não é pra qualquer um… Sou muito feliz em nunca ter sido dissimulado e não sei ser. Se me chamam vou, se não me chamam não procuro. E assim com esta postura “suicida” levo minha vida no “showbusiness” e no “businesshow”.

O que o grande público não sabe, é do seu grande trabalho na área social com documentários que vão de assuntos referentes a superaquecimento, qualidade do ar, tráfico de animais, Amazônia, áreas de proteção ambiental (APAs) até a Cidade de Deus. O que te motivou a produzir esses trabalhos? Sou inquieto, tenho sede de realizar, amo comunicação, cinema, audiovisual, criar, produzir, e só faço coisas construtivas por achar que o precisamos para o Brasil, inserção de novos valores. Comecei minha primeira produção em 1996, criei um roteiro e produzi uma revista eletrônica de saúde com programa de treinamento físico para todas as idades, dicas de alimentação e suplementação, tudo com assinatura de profissionais das respectivas áreas. Chamei o Luiz Tripolli para dirigir o filme de 35 mm… Depois em 2002 entrei para a educação ambiental, sempre fui naturalista, sem comer carne vermelha desde os 17/18 anos de idade, sempre gostei muito da natureza, da saúde, do esporte, sempre fui contra o álcool, drogas, consumo de gordura, açúcar… Daí para usar isso no sentido de tentar mudar e ajudar pessoas, foi um pulo! Sou megalômano e perfeccionista, um problema, pois não tenho limites para realizar meus projetos. Hoje com a maturidade, reconheço minhas falhas e me junto às pessoas que se tornam o freio. Esse é o segredo de uma “máquina” que cria e acelera e outra com um bom freio para não sair pela tangente. Não falo sobre voluntariado. Falo apenas dos meus documentários, sou muito feliz e não sei como consegui fazer 33 filmes. Mas vou fazer muito mais!

Hoje em dia o que mais te revolta destro desse assunto responsabilidade social e o que você consegue ver como uma mudança de consciência por parte da população e autoridades? O que você diria para as pessoas como uma forma de ajudar a mudar? Responsabilidade Social é para o Primeiro Setor. Apenas uma plataforma que pode gerar lucros ou prejuízos eleitorais, o que importa para o primeiro setor são os votos, as políticas sociais não existem de verdade, são fachadas. No segundo setor é o cumprimento de metas o que vale ou a isenção fiscal ou o financiamento que exige projetos de responsabilidade social. Uma tristeza, nosso maravilhoso país no abandono, um desperdício de recursos nas mãos erradas. Um povo trabalhador criativo e versátil sem exercitar coisas construtivas por falta de acesso e de cultura que insira valores construtivos. Mas tem o terceiro setor fazendo, e tem também o terceiro setor corrupto e roubando… Mas existem exceções em todos os setores poucas, mas existem.
Ano passado você foi premiado com o Troféu JK Categoria Empreendedor da Década pelos 14 anos de atuação nessa área, gerando 33 documentários, tudo isso com recursos próprios. Esse foi o maior retorno que você teve de todo esse trabalho ou teve algo mais gratificante? Gratificante pra mim é ver o resultado em campo, do que a gente faz nesta vida. Eu mesmo não ligo para prêmios ou o que falam na mídia seja em qualquer plataforma, de bom ou de ruim, a mídia não possui moral nenhuma, então pra mim o Brasil de verdade é o que vale, são as pessoas que me falam que eu diretamente ajudei em algo, seja o mais simples como uma mãe me falando que seu filho faz uma higiene bucal boa porque me viu na TV fazendo isso, ou uma mãe que me agradeceu por eu fazer seu filho se alimentar bem e fazer esporte, ou alguém que gosta de ler por me ver falando de um livro. Isso é o que vale nesta vida, ajudar pessoas de verdade a aprender a viver dentro da legalidade e com dignidade. Válido é ajudar a acabar com a erotização infantil, válido é ajudar drogados a se recuperarem, ex-detentos a recuperar a auto-estima e recuperarem suas vidas, construir algo decente… Isso é o que vale, o resto é ilusão.

Este ano você estrelou o comercial da FIAT (clique aqui) ao “lado” de Dustin Hoffman fazendo comparação em relação às carreiras de vocês. Isso mostra uma superação e um bom humor em relação à pressão que você sofreu na época de Explode Coração? Apreendi que contra a mídia não se pode lutar! Então devemos nos juntar ao inimigo e crescer, depois mandamos uma banana, e sem contaminação de ter convivido sem envolvimento, esse é o segredo: conviver sem se envolver, sem se contaminar e não acreditar na vaidade da fama. Somos apenas o que fazemos de verdade, não o que aparece na TV.

Como foi a relação com o ator Dustin Hoffman? E trabalhar com o renomado Fernando Meirelles (diretor do comercial), deu um certo friozinho na barriga? Já fiz mais de trezentas publicidades, nenhuma tão “pesada” quanto esta, já trabalhei com centenas de diretores nestes 26 anos de publicidade e 20 anos de dramaturgia e o Fernando Meireles foi o mais simples e o mais humilde diretor que eu vi na minha vida! O que o faz maior ainda, pois além de talentoso, tem um excelente emocional e um nível grande de realizações, sem precisar ser o que não é! Foi incrível e uma honra fazer este filme. Primeiro porque a Fiat nunca colocaria alguém com arranhão na imagem para representar a marca. Foram 10 meses de negociações e de pesquisas por parte deles. Não tem nem como descrever o Dustin Hoffman. Ele está no patamar mais alto deste planeta, na sua profissão, foi incrível e inesquecível, um grande presente no meu aniversário de vinte anos trabalhando como ator.

Apesar de ter feito outros trabalhos você ficou um pouco fora dos holofotes da mídia. Sentiu falta? Na verdade eu nunca fiquei fora do audiovisual, do que sou apaixonado, sempre estive trabalhando dentro de estúdios. Na Globo de 1995 a 2001, no SBT de 2001 a 2002, na Rede Record de 2004 a 2009, apresentando na Bandeirantes produções regionais produzidas o co-produzidas por mim de 2002 a 2005. E na minha produtora de audiovisual. Nunca estive distante do que amo, na mídia, quando fazemos um grande sucesso, se depois deste grande, não fizermos outro tão grande ou maior, não fizemos nada? Por essas e por muitas outras que considero a mídia uma grande mentira, e como uma grande mentira, não deve abalar a gente. Eu quero viver feliz com minha consciência.

Qual a pior parte de se lidar pro ser um ator conhecido, a cobrança externa ou a cobrança interna? Quando você é mais exigente com você mesmo? Ser figura pública e ter a popularidade é um privilégio. OBRIGADO SENHOR.

Como é sua relação com a imprensa? A Imprensa não é amiga de ninguém. Ela vende produtos. Quem vai dar lucro entra em pauta! Uma relação de simbiose, um precisa do outro, apenas isso, nada mais.

O que é mais admirável nas mulheres? E o que mais pesa para um relacionamento dar certo? O Importante é ser feliz.

Por ter trabalhado como modelo por muitos anos te levou a ser mais vaidoso? O que fez para manter o físico e a saúde? Não fumo, não bebo, não uso drogas, não tomo remédios, não como açúcar, carne vermelha. Pratico esportes diferentes sete dias na semana. Não acredito na mídia, isso é o mais importante. Nem no que falam de bem, nem no que falam de mal.

Quais as expectativas para o lançamento de Surferssauros – Tubarões de Copacabana? Fazer cinema foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida! Aguardo a pós-produção e a distribuição com expectativa de uma criança esperando seu brinquedo no Natal.

Que qualidades um homem deve cultivar e que defeitos deve deixar de lado?  Um homem deve ser íntegro, ter caráter, imprimir nobres valores e nunca desviar da moral. Deve ter coragem e honra, deve ser leal.

Quais seus projetos futuros? Estou lançando uma WEB TV, é a wortex.tv entrará no ar dia 15 de novembro de 2011. Como tenho muito conteúdo gerado por mim mesmo, meus 33 documentários, um monte de gente da área de cultura, moda, saúde, turismo e entretenimento serão meus colaboradores. E muitos canais com conteúdo gerado ao vivo. Com muita dedicação para RESPONSABILIDAE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE em especial.
Que reflexão você faz de tudo isso? Do início da carreira até hoje?
Hoje, com a maturidade, depois de seis anos contratado da Rede Globo, e com a honra de estar no “restrito hall” dos atores que eternizaram personagens neste Brasil, agradeço a minha primeira faculdade de televisão, vejo o quanto aprendi e o quanto sou grato a esta empresa que fez nascer o Ricardo Macchi ator de televisão. Sou sim o “Eterno Cigano Igor” com muito orgulho, com muita dignidade e humildade. Estreei com 24 anos de idade na TV, sem nenhuma experiência e fui julgado sem ser dito que era meu começo e que estava sozinho, como se um estudante de medicina, no seu primeiro dia de aula fosse colocado para fazer uma complexa cirurgia transmitida ao vivo para milhões de pessoas, e de forma insana, este médico, depois de 16 anos fosse julgado e culpado pelo seu primeiro trabalho. E pior depois de estudar e se preparar, depois de ter feito várias cirurgias tão boas ou tão ruins quanto todos, somente a primeira fosse lembrada. Hoje aos 41 anos, faria tudo de novo! Obrigado Rede Globo, esta empresa mudou minha vida pra melhor, muito melhor. Sei que voltarei para Globo, em grande estilo, com maturidade e capacidade para fazer um trabalho à altura de outros atores de talento da casa. Este é meu trabalho e eu não escolhi esta profissão, ela que me escolheu, mas estou certo que nasci para este ofício que me adotou e me criou. “Comi bastante feijão”, cresci e apareci, estou certo que terei meus dias de “bonança” lá dentro. E estes estão guardados e estarão disponíveis em breve. Uma dica para todos: Afastem-se das drogas, do tabagismo, do álcool, tomem distância da “Lei de Gérson” e vamos construir um Brasil que dê certo, com inserção de novos valores na nossa pobre e famigerada cultura brasileira.
Obrigado pelo espaço, espero ter sido útil e que a minha capa contribua para a história da revista MENSCH.
Abraços, Ricardo Macchi
Assista o making of do ensaio com Ricardo Macchi para a MENSCH:
Fotos: Alan Chaves
Coordenação de Produção e Assessoria: Márcia Dornelles – MD PRODUÇÔES http://www.mdproducoes.com/

Styling: Rodrigo Coelho
Make up: G. Junior
Videomaker: Carlos Rodrigues

Ricardo Macchi veste:Colete / Camisa / Gravata / Terno: VR
Chapéu: Denis Linhares
Bengala: Eu Amo Víntage
Locação: GAS & OIL CLOTHING C.O.

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