ESTRELA: LETÍCIA LIMA, LIVRE, LEVE E LINDA

O que faz uma mulher ser encantadora? Inteligência, humor, beleza, e acima de tudo, um certo desprendimento social para ser quem ela realmente é! Sem medo de julgamentos. Ou seja, ter segurança em quem ela é. É por tudo isso que somos encantados por Letícia Lima. Seja no humor em programas como “Porta dos Fundos” ou “Vai Que Cola”, seja fazendo a bad girl Estela em “Amor de Mãe”, no horário nobre na Globo, Letícia sempre vale a audiência. Ela é livre de rótulos. Já se permitiu namorar a cantora Ana Carolina, já se desafiou atuando tanto na comédia como no drama, e sabe acima que tem momentos de exposição e em outros que servem para conectar consigo mesma. Nessa segunda matéria de capa, a 1ª foi em novembro de 2014, o papo fluiu fácil indo de trabalho a vida pessoal, quarentena, desejos futuros e o que é público ou privado pra ela nesse mundo de lives e likes.

Letícia, você passa a sensação de ser de bem com a vida, leve e divertida. É isso mesmo? Muito obrigada! Eu tento muito levar a vida com leveza, bom humor, esperança. Acho que atualmente ter esperança é o que faz a diferença, né?! A gente precisa acreditar que vamos sair dessa situação. Até porque acreditar nisso é o que nos incentiva a mudar nossa postura e buscar um futuro diferente.

O que te coloca um sorriso no rosto e o que te tira do sério? O salpicão da minha mãe (risos). Grosseria e falta de respeito são coisas que me tiram do sério.

Nos parece que você é de viver momentos zen e ao mesmo tempo ser elétrica, ligada no 220W. (risos) Se sim, quando isso aflora mais? Acho que todos nós precisamos um pouco das duas coisas. Quando estou em um trabalho, sou muito ligada no 220W. Fico muito envolvida, estudo muito, estou sempre muito inteira nos projetos de que participo. Por isso, quando eles acabam, eu gosto de tirar um tempo para me recolher comigo mesma um pouco, para me repensar, me rever, me entender novamente. É um momento em que fico mais reservada. Isso é muito importante para mim porque consigo, assim, me reconectar comigo mesma.

Hoje em dia com tanto julgamento por parte das pessoas, momentos de caos social e de divergência de focos, o que está mais difícil de aturar? Quem quer impor sua visão ou quem acha que apenas sua opinião é a correta. Acho que ninguém sai ganhando nessa queda de braço. Precisamos cada vez mais dialogar para avançarmos.

Você diria que o humor é o melhor caminho para encarar muita coisa hoje em dia? Acho que o humor ajuda. Mas hoje o caminho para encarar muita coisa dia é buscar uma certa tranquilidade para você compreender o que está acontecendo ao redor, perceber como isso te afeta e como você pode fazer a diferença. Vivemos um contexto social que nunca tínhamos experimentado antes. Nunca passamos por uma pandemia dessa proporção. Não temos respostas, apesar de termos muitas perguntas. E nesse mar de dúvidas, eu considero normal que a gente não saiba muito bem para onde caminhar, para onde ir e acaba confuso. É preciso respirar e se dar um tempo.

E como está sendo essa quarentena? Como tem lidado com o isolamento social e uma certa calmaria na rotina? A quarentena está sendo de cumprir o isolamento social. Não considero esse um momento de calmaria na rotina. Tudo que está acontecendo me afeta muito. Não consigo ficar tranquila pensando em tudo isso. Ultrapassamos a marca de 100 mil mortos pela covid-19 no Brasil. Isso é assustador. E estamos vendo uma tentativa de retorno às atividades, sendo que os números ainda continuam altos, tanto de contágio quanto de mortes. Estamos perdidos, sem tantas informações. Há dias especialmente difíceis. O que faço é me respeitar, respeitar meu momento e acolho o que estou sentindo. Costumo dizer que o isolamento me leva por uma montanha-russa de emoções: um dia, você está um pouco melhor, no dia seguinte, é uma sensação completamente diferente. Estou tentando navegar por esses polos, entendendo que tudo bem não estar bem também. Busco aliviar a minha cabeça vendo filme, séries, lendo livros e também fazendo algumas atividades, como cursos de corte e costura e cerâmica. São coisas que sempre quis fazer, mas ainda não tinha tido a oportunidade.

Você estava gravando “Amor de Mãe” com uma personagem que aprontava poucas e boas. Como estava sendo para você? Estela foi uma grande personagem, com uma história muito rica. Fui muito feliz ao interpretá-la. Foi meu primeiro papel dramático em uma novela. Ela é uma mulher muito complexa: ao mesmo tempo que é dona da própria vida, faz as próprias escolhas, tem questões profundas em seus relacionamentos amorosos. Ela desenvolve uma relação de obsessão com a pessoa com quem se relaciona. Encontrar essas sutilezas dela foi um trabalho grande e intenso de pesquisa e composição. Conversei com mulheres que amam demais e também levei algumas questões para minha terapeuta para tentar entender melhor a mente da personagem. E ainda teve uma enorme mudança de visual, que me ajudou muito a entrar na personagem.

E ai, como é para o ator essa parada e depois retomar um personagem depois de um tempo? Acredita que será mais difícil essa retomada do que começar do zero? Qual o desafio disso tudo? Eu já gravei todas as cenas da Estela. Mas acredito que seja um desafio sim porque é preciso encontrar o tom dele de novo. Não acho que seria como recomeçar do zero porque você já conviveu com aquela personagem muito tempo antes, por mais que tenha ficado longe do dia a dia com ele nesses últimos meses.

Falando em desafio, que desafios essa quarentena te provocou? O maior desafio foi respeitar quando eu não estava me sentindo bem. Como falei, é um momento em que vivo uma montanha-russa de emoções. Quando não estou bem, acaba que o movimento inicial é falar que não posso me sentir assim, afinal, reconheço todos os meus privilégios diante dessa situação. Mas é um momento de adversidade muito grande, que mexe muito com a gente, com nossa saúde mental. Então, eu tento respirar e buscar uma maneira de me acolher, de me respeitar.

Ainda sobre os trabalhos, você está com quatro filmes engatilhados para sair. O que pode nos adiantar, o que vem por aí? Sim, tenho quatro filmes já rodados, mas com a pandemia não sabemos ainda quando eles serão lançados. Tem “O pulo do gato”, em que divido a cena com Marcelo Adnet. É uma drama. Estou muito ansiosa para ver o que o público vai achar porque eu e ele interpretamos personagens em que o público não está acostumado a nos ver. Tem também a comédia “Cabras da Peste”, em que contraceno com Matheus Nachtergaele e Juliano Cazarré. Estarei no filme “Quem Vai Ficar Com Mário?”. Eu, Daniel Rocha e Felipe Abib somos o trio protagonista. E tem outro que eu contraceno com o Fábio Porchat.

Você começou no “Porta dos Fundos”, participou de alguns projetos para cinema e TV ligados a humor e passou um bom tempo no “Vai Que Cola”. Ficou com receio de ficar com a imagem ligada à humor? Talvez por isso a Estela esteja sendo bem importante para sua carreira? A Estela foi sim uma grande oportunidade para eu mostrar uma outra faceta minha na TV e fiquei muito feliz com o resultado. O retorno que tive do público foi muito bom e positivo. Não tinha receio de ficar com a imagem apenas ligada ao humor. Eu adoro trabalhar com essa vertente. Queria sim mostrar meu trabalho de outras maneiras, me desafiar enquanto profissional e estava tranquila que esse momento ia chegar. E veio de uma maneira linda, trabalhando uma equipe muito talentosa e incrível, que me ensinou muito, como a Manuela Dias e o José Luiz Villamarim. Meu maior interesse sempre é em trazer boas histórias para o público.

Já sofreu algum tipo de preconceito ou assédio por ser uma mulher bonita, naturalmente sensual, fazendo humor? Ainda vivemos em uma sociedade em que as mulheres estão expostas a diversos tipos de assédio, independentemente de qualquer coisa. Até porque nenhum tipo de assédio se justifica, nenhum tipo de violência contra a mulher tem qualquer justificativa. Já passei uma situação que me deu muito medo, um homem que me perseguia na rua, sabia onde eu morava. Também já passei por uma situação de assédio com um motorista de aplicativo de carro. Contornei isso fingindo que estava falando com o namorado no telefone. Consegui chegar em casa e denunciei no aplicativo.

Muito tem se falado sobre o machismo, masculinidade tóxica… Coisas que vão passando de geração em geração e hoje em dia não cabem mais. Como combater isso? Educando as crianças para que se respeitem mutuamente, para entenderem o espaço do outro, que há limites que precisam ser respeitados nas relações entre as pessoas. É urgente ensinar também que ser menina não é impedimento para nada. Assim como é fundamental falar com meninos sobre emoções, que eles podem chorar, sentir dor, sofrer, ficarem tristes, não saberem o que fazer. Essas emoções são todas humanas, todos passamos por isso. É necessário normalizar que homens as sintam e que eles não são menos homens por isso. Muito pelo contrário, quanto mais em contato com seus sentimentos você estiver, mais autoconhecimento você tem.

Depois que você assumiu publicamente seu relacionamento com Ana Carolina na época sentiu alguma mudança de comportamento por conta disso? Sentiu algum preconceito? Não senti. Foi muito natural para mim tudo e acho que as pessoas refletiram isso.

Acha que para a mulher declarar a bissexualidade é mais fácil do que para o homem? Acho que independentemente de ser homem ou mulher, assumir publicamente qualquer que seja a orientação sexual na sociedade de hoje pode ainda ser muito dolorido.

Você sempre pareceu ser discreta e sem levantar bandeira, mas indiretamente deve ter ajudado a muitas mulheres e assumirem seus desejos. Recebeu muitas mensagens de mulheres em situações parecidas agradecendo a ajuda indireta? Sim, muitas pessoas falaram que se sentiram mais confiantes e à vontade para assumirem suas relações. Isso me deixa feliz porque pode ser um processo delicado e solitário. Saber que pude ajudar de alguma maneira é importante. Acho que cada vez mais temos que ser livres para vivermos a nossa verdade.

Acha importante os artistas assumirem publicamente certos posicionamentos e posturas? Mas como evitar a invasão de privacidade? Acho que é importante você estar à vontade sobre o que quer se posicionar. Se é uma prática sua e faz sentido para você, dou todo meu apoio. Só não apoio ou concordo que haja uma cobrança para que as pessoas se posicionem. Às vezes, é necessário tempo para que a gente possa refletir sobre algum assunto para falar sobre ele. Precisamos ter responsabilidade também sobre o que falamos e como falamos.

Como separar o que é público e o que privado? Cada um tem a sua medida. O que é público é meu trabalho, é o que eu faço. Isso não quer dizer que absolutamente tudo que eu vivo, penso, faço tem necessariamente que ser algo público. Tenho uma vida privada e sei preservá-la assim. Compartilho muitas das minhas reflexões nas redes sociais, que é também o lugar que me permite ter um contato mais próximo com o público. Mas não coloco tudo ali. Assim como acontece com todas as pessoas que usam redes sociais, aquele ali é um recorte da minha vida, é uma parte dela que eu quero dividir, são fragmentos, momentos, memórias. Sinto que meus fãs entendem bem isso. Não sinto que tenho minha privacidade invadida porque há uma relação de muito respeito e cumplicidade entre nós.

Para relaxar nesse momento e ganhar o mundo o que mais deseja? Meu maior desejo é que a gente encontre a vacina e que todos tenham acesso a ela. Gostaria também que o mundo que a gente encontrasse pós-pandemia fosse diferente, com mais igualdade, amor, empatia, respeito e solidariedade.

E para conquistar Letícia? Basta… Inteligência. Fundamental!