CAPA: Rainer Cadete encerra mais um sucesso com “Êta Mundo Bom” e já se prepara para a “Dança dos Famosos”

 

Nascido em Brasília há 29 anos, Rainer Cadete e um ator sem limites e um homem que tem plena consciência do seu papel no mundo, seja como pessoa pública ou simplesmente como pessoa. Versátil, culto e carismático, Rainer faz do seu ofício uma forma de expressar sua visão do mundo e marcar o tempo com sua arte em contar histórias e criar personagens marcantes. Recentemente encerrou sua participação na novela “Êta mundo Bom!”, como Celso, prepara-se para rebolar muito em “Dança dos Artistas” e em breve volta ao teatro com mais um papel marcante. A MENSCH teve o prazer de conversar com esse grande cara pela 2ª vez (a 1ª foi em janeiro de 2014), e a cada nova entrevista mais ficamos fãs. De olho nele!

Rainer, encerrando mais um belo trabalho na TV. Que balanço você faz do Celso de “Êta Mundo Bom!”? Agradeço o elogio de ser mais um belo trabalho. O balanço que faço é que foi um trabalho extremamente positivo. Foi um personagem que me possibilitou ir de um extremo ao outro, de um vilão a herói. E essa curva foi muito interessante de fazer, um exercício muito bom de praticar enquanto ator. E numa novela melodramática, num conceito onde você pode atuar, mesmo. Poder fazer isso no meio do que é a interpretação na TV, onde o que se busca é justamente um “não atuar”, e sim viver tudo de uma forma mais natural. Mas nessa novela nós pudemos “atuar”. Houve essa licença poética para que os personagens fossem interpretados, mesmo, com o grau de alegoria que um personagem pode trazer. Então foi muito interessante mergulhar nessa época e relembrar valores que, às vezes, nos tempos atuais a gente não lembra, assim como a importância do olho no olho, viver um tempo em que a palavra valia muito mais…

 

Quando pensamos que nunca iríamos esquecer o louco Visky de “Verdades Secretas”, você chega com um personagem totalmente diferente e com outro visual. Isso é um presente para o ator e o público. Como foi essa mudança de personagens? Eu venho do teatro, né… Então, lá estamos acostumados a fazer personagens completamente diferentes de si mesmo. Personagens que vão ao encontro de sua desconstrução. Então eu trabalho um desconstruir-se para, a partir daí, construir uma nova personagem com um jeito de andar, olhar, pensar, amar, demonstrar amor diferente de mim. Creio que o grande barato de ser ator é praticar as extremidades, ter todas essas possibilidades como amar sem ter amado, matar sem ter matado… É um grande presente quando um personagem te leva a esses extremos. Eu peço personagens assim ao universo! Gosto de personagens diferentes, mesmo, que ajudam a iluminar lugares diferentes em mim, a ter uma atenção seletiva em relação a determinados assuntos, porque me faz aprender muito. É uma forma de estudar os mistérios da vida, também. O Visky pra mim será inesquecível, assim como Dr. Rafael, de Amor à Vida, que teve um lindo romance com a Linda, uma menina autista que aparentemente não poderia estabelecer relação, mas estabeleceu e tiveram uma linda relação de amor. Assim como o Nuno, que era um bom filho, mas órfão, e que tinha um avô vivo e o sonho dele era encontrar esse avô… Um outro tipo de amor, né?! Todos os personagens que fiz no teatro e no cinema, como um rapaz que nasceu no sertão do Ceará, ou um inconsciente personificado de alguém, e ainda um senhor de 100 anos da Bahia, a Dona Flávia de Nelson Rodrigues… (risos) Então, tudo é possível nessa grande mágica da nossa profissão.

Falando em Visky… deu muito trabalho construir o personagem? Se surpreendeu com ele e a repercussão com o público? O Visky deu muito trabalho de construir, como a maioria dos personagens. Quando eu olho um personagem de frente pela primeira vez, a sensação que eu tenho é que estou diante de um desconhecido e que não sei absolutamente nada sobre aquela pessoa. A partir daí eu vou investigando, de uma forma bem antropológica, até, o universo daquele personagem. E mergulho nesse processo que é muito interessante para a construção, que é quando penso, estudo sobre, me debruço e busco referências. Acho que cresço e aprendo muito nesses processos. O Visky tinha muito forte uma questão física, porque eu tinha que me depilar, emagrecer, manter um peso menor que o habitual e um senso de humor que não era o meu, enfim, foi um desafio bem bacana e que me fez conviver com pessoas inesquecíveis, com as quais eu aprendi muito, como o Mauro Mendonça Filho, Marieta Severo, Drica Moraes… Eu me surpreendi com a repercussão dele com o público, que o aprovou e me deixou muito feliz. Um personagem que tinha um carisma grande e parece que deixava as pessoas mais felizes.  Elas chegavam a mim de uma forma mais aberta. Visky foi uma alegria que passou pela minha vida, e com quem me diverti muito, muito mesmo.

 

Visky também te trouxe dois prêmios de “Melhor Ator Coadjuvante de 2015”. Esperava por tudo isso? Como você encarou isso dos prêmios? Um prêmio pra mim é um reconhecimento de um trabalho, uma identificação com um trabalho. Então isso é muito interessante, saber que fui prestigiado pelo que eu fiz. Como costumo brincar, é como se colocassem uma lente de aumento no meu trabalho, percebendo toda a minha entrega, a minha diversão ao fazer o Visky… Eu me sinto bem, me sinto vivo. Esse reconhecimento passa pelo amor e pelo compromisso que eu tenho com a minha profissão.

Fazer um trabalho de época e um contemporâneo, o que traz de desafios para você? Ambos são grandes desafios, cada um à sua maneira. Um trabalho de época te leva a uma fase que não é a que você viveu. Então você mergulha, vê os filmes daquela época, busca saber qual é a dramaturgia, a música, a literatura, o comportamento, a forma de falar – que, apesar de às vezes ser próxima, já se diferencia muito. Temos uma tecnologia que avançou a passos largos, o que mudou completamente o comportamento das pessoas, assim como a forma de pensar, falar, se comunicar e se relacionar, que é o que vivemos na contemporaneidade. Enfim… São todos desafios. Eu estudo a época e faço o que absorvi. Temos que falar o texto de uma forma bem correta, porque não sei tudo do estudo do autor sobre aquela época, logo é interessante falar como ele propõe. Tenho que ter esse cuidado de falar palavrinha por palavrinha… E se divertir sempre, claro!

 

Você pelo jeito se joga no personagem seja ele como for. Teria algum limite? Até onde um personagem te levaria ou não em sua criação? Algum pudor? Eu me lembro de uma aula que fiz na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras) onde deveríamos apresentar aos demais alunos da turma o nosso pudor. E eu pensei a semana inteira qual seria o meu pudor enquanto ator, enquanto um cara disposto a levar a sério esse ofício. E cheguei à conclusão de que eu não teria nenhum pudor. Então após muitas cenas de pessoas quebrando seus pudores (risos), quando chegou a minha vez de apresentar o meu, fui lá na frente e falei: “Eu não tenho pudores enquanto ator”. Naturalmente o professor disse que eu estava sendo um tanto quanto pretensioso, e isso me fez ganhar uma nota não tão boa (risos). Mas hoje, diante essa pergunta, eu tenho a mesma resposta… Não tenho um limite a partir do entendimento que eu sou ator e quero provocar as pessoas contando as histórias. Provocar e iluminar assuntos que sejam obscuros, levantar questões que ninguém enxerga, dar voz a pessoas que não têm voz, contar uma linda história de amor, emocionar, sorrir, causar embaraço, fazer pensar… Tudo isso me interessa muito e, para isso, não tenho limite, não. Por enquanto, posso dizer que vivi experiências bem interessantes, que ajudam a expandir minha alma.

Com toda exposição que a TV traz, a exposição das redes sociais te agregam como? Lida bem com isso? Algum limite? Eu gosto de manter uma relação próxima com as pessoas que se identificam com o meu trabalho. Então mantenho as minhas redes sociais ativas porque gosto de ver como isso reverbera. Mas a internet deu voz a todas as pessoas, e muitas não colocam seu rosto e seu nome, mas destilam ódio. Eu nunca sofri ataque desses haters, mas sei que sempre tem alguém que quer roubas as imagens das pessoas públicas e criar uma historinha paralela com base na imagem delas, publicando coisas absurdas. Acho que na vida precisamos de filtro em tudo, inclusive na nossa fala. Eu tenho uma carga de trabalho muito pesada, porque gravo o dia inteiro e quando chego em casa ainda tenho que decorar as próximas cenas. Sem contar que tenho que cuidar do corpo, praticando esportes; da mente, lendo alguma coisa interessante, assistindo a peças e filmes; fora a vida pessoal, etc. Isso é fisicamente muito cansativo. E essas pessoas usurpam com muita facilidade todo esse suor que a gente produz trabalhando, e colocam seu nome da forma que bem entendem. Isso me incomoda um pouco, sim. Mas eu tenho um filtro no coração, então na maioria das vezes não fico tão triste com as críticas destrutivas. Já as construtivas são muito bem vindas, são olhares que podem despertar em mim coisas a melhorar. Mas eu mesmo sou meu maior crítico, não sou nem um pouco bonzinho comigo.

E o assédio já aumentou ao ponto de atrapalhar a vida particular? Como se sair bem sem ter fama de inacessível? Eu sempre ajo com o coração. Tento atender todo mundo que me aborda, gosto de dar e receber esse carinho. Acho que me saio bem tendo educação, amor e empatia. Tento me colocar no lugar das pessoas, penso como eu me sentiria se quisesse fazer uma foto com algum artista que gosto… Mesmo assim algumas pessoas não entendem, e querem tirar uma selfie comigo num enterro, por exemplo. Ou durante o almoço, quando estou mastigando; ou quando estou doente, muito mal, no hospital, enfim… Acredito que com educação a gente se sai bem. Mas sempre tem alguém que se sente desprestigiado porque você não o pôde atender. É muito gostoso quando o assédio vem acompanhado de uma abordagem humana, quando é respeitoso e te enxerga como um ser humano, mesmo, sem o simples objetivo de ter a foto pra postar nas redes sociais. Então tento ser muito educado e atencioso. E não deixei de ir a lugar nenhum, não. Não acho que ser reconhecido chegue a atrapalhar a minha vida particular.

Como você lida com a vaidade (física e de artista)? Eu acredito que a vaidade pode ser boa e ruim, como tudo. Boa, no sentido de se perceber como uma máquina e cuidar bem dessa máquina. É como se fosse um carro potente, bonito, funcional e quero saber limpá-lo da melhor forma, farei a revisão no tempo certo, vou manter tudo organizado para que ele mantenha a potência que tem. E também aprender a dirigi-lo de forma astuta. Não é porque ele chega a 200 Km/h que eu preciso andar sempre nessa velocidade. Em alguns momentos terei que andar a 60, 40 Km/h… Às vezes tem um quebra mola e eu preciso diminuir a velocidade, enfim. Essa é a vaidade boa, se enxergar como templo do seu trabalho e cuidar dele, tanto da mente quanto do físico. Acho que a parte negativa é quando você não se conhece. Então eu procuro me conhecer sempre, porque acho que ser artista é um convite a um autoconhecimento sem fim – até porque não tem fim, mesmo, esse processo. Faço terapia há 4 anos. Acho muito importante irmos ao encontro de nós mesmos.

 

E na hora de relaxar, o que faz sua cabeça? Depois de tanto trabalho onde vai relaxar? Eu adoro deitar na minha rede! É muito bom… O mato também é um lugar que me faz ficar muito bem. Sempre que termino um trabalho procuro fazer trilhas, ir a cachoeiras, ficar em silêncio… A natureza sempre revigora minhas energias. Curto muito as cachoeiras da Chapada dos Veadeiros. E viajar, mesmo, porque isso também é muito importante para um artista. Assim podemos ver outros pontos de vista, entender os problemas dos outros, conhecer outras culturas, outras línguas, perceber outras oportunidades de se viver… Isso tudo relaxa a mente e agrega. E estar com a família, também. Visitar as raízes é sempre confortável e muito gostoso.

O que uma mulher precisa ter ou ser para despertar sua atenção? Ah, precisa ser interessante, ter conteúdo, ter o que falar… Me provocar. E o principal: acho que devemos andar perto daquelas pessoas que despertam tudo de bom que tem na gente, todos os sentimentos bons e nobres. Tem pessoas que nos fazem querer ser melhor pelo simples fato de conviver com elas. Acho que essa mulher tem que ter isso, sabe?! Uma certa luz, uma certa familiaridade.

Se despedindo de Celso e seguindo os próximos passos. O que vem por aí que possa nos adiantar? Vêm muitas coisas boas por aí… Teatro, música, cinema, TV, dança… Viva e verás (risos)!

Fotos Ale de Souza / Make Ale de Souza / Styling Ale Duprat